domingo, 31 de maio de 2009

Criacionismo, Evolucionismo e Espiritismo - Ler Matéria - Revista RIE

Eliseu Mota Júnior

Neste ano de 2009 a comunidade científica comemora o bicentenário do nascimento de Charles Robert Darwin (12/02/1809-19/04/1882), e o sesquicentenário da primeira edição de seu livro A origem das espécies, ocorrida em 24 de novembro de 1859. Por causa dessas efemérides, renasceram os debates em torno do criacionismo e do evolucionismo, as duas principais teorias sobre a criação do universo. Por isso, faremos uma pequena síntese de cada uma delas e daremos uma visão espírita desse importante assunto.
O criacionismo, embasado na Gênese bíblica, sustenta que, cerca de quatro mil anos antes da era cristã, Deus criou o mundo em seis dias, na seguinte ordem: a luz (primeiro dia); o firmamento (segundo dia); a terra, as plantas, as ervas e as árvores frutíferas (terceiro dia); o Sol, a Lua e as estrelas (quarto dia); os animais marinhos e as aves (quinto dia); os animais domésticos, os répteis, os animais selvagens, o homem e a mulher (sexto dia). E, havendo Deus terminado a criação, no sétimo dia descansou de sua obra.
Charles Darwin foi o primeiro cientista a oferecer uma alternativa a esse relato bíblico da criação. Observando plantas e animais numa viagem de cinco anos ao redor do mundo, ele concluiu que a evolução explica a diversidade dos seres vivos, tendo como base a chamada seleção natural, teoria segundo a qual os integrantes das diferentes espécies competem reciprocamente na luta pela vida, saindo vencedor aquele que apresentar qualquer variação de habilidade mais vantajosa. Em suma, os mais fracos perecem e os mais aptos sobrevivem, legando à sua descendência as variações benéficas. No tocante à origem do homem, os evolucionistas sustentam que a transição entre o reino animal e a espécie humana foi feita através dos primatas e dos homens pré-históricos. Estão de acordo em que o homem e a família dos macacos se separaram a partir de um antepassado comum.
Uma visão espírita livre de preconceitos pode aceitar o evolucionismo e a teoria cosmogônica do “big bang”, segundo a qual tudo começou a partir da singularidade, um minúsculo átomo energético que sofreu uma expansão súbita e originou o universo, há mais ou menos dezoito bilhões de anos. Antes do “big bang” havia uma espécie de “campo quântico inicial”, onde a noção de materialidade não tem sentido, pois não existia traço algum do que seja material. No instante primordial ocorreu uma transferência de energia extremamente elevada, que permitiu a criação do átomo primitivo. E isto num contexto onde o espaço e o tempo ainda não têm existência física. A “grande explosão ou expansão” inicial poderia ter sido caótica, desordenada, mas os componentes desse universo nascente obedecem a uma ordem rigorosa desde a fase inicial, como se o homem tivesse nascido em um universo feito para ele, intencionalmente construído na sua medida por uma inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, a que o Espiritismo denomina Deus.
Atualmente os cientistas constataram a existência de um fenômeno de ordem subjacente, que conduz inelutavelmente ao surgimento da vida. Com efeito, eles lembram que a desordem não é um estado natural da matéria, mas um estado que precede a emergência ou a eclosão de uma ordem mais elaborada. Ficou demonstrada a existência de uma espécie de trama contínua que une o inerte, o preexistente e o vivo, a matéria tendendo a se estruturar para se tornar matéria viva. A Doutrina Espírita esclarece que Deus criou o espírito (princípio inteligente do universo) e a matéria, os quais, unidos por um agente intermediário, originaram a criação, cujo ápice é exatamente a vida.
De fato, na lúcida visão de Léon Denis, “não sendo a vida mais que uma manifestação do espírito, traduzida pelo movimento, essas duas formas de evolução são paralelas e solidárias. A alma elabora-se no seio dos organismos rudimentares. No animal está apenas em estado embrionário; no homem, adquire o conhecimento, e não mais pode retrogradar. Porém, em todos os graus ela se prepara e conforma o seu invólucro. As formas sucessivas que reveste são a expressão do seu valor próprio. A situação que ocupa na escala dos seres está em relação direta com o seu estado de adiantamento” (Depois da morte, pp. 132-l33). Em outras palavras, “a alma dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem”.
Em síntese, ao mostrar que “fé raciocinada só o é aquela que enfrenta a razão face a face em todas as épocas da humanidade”, o Espiritismo é o único elo capaz de uni-las, porque sem ele “a ciência continua manca e a religião prossegue na sua cegueira”, como diria o cientista Albert Einstein.

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