sábado, 30 de maio de 2009

A PROTEÇÃO DE SANTO ANTÔNIO

Conta-nos venerando amigo que Antônio de Pádua, no luminoso domicílio
do plano superior, onde trabalha na extensão da glória Divina,
continuamente recebia preces de pequena familia dos montes italianos.
Todos os dias, era instado a prestar socorros e enlevava-se com as
incessantes manifestações de tamanha fé.
O admirável taumaturgo, por vezes, nas poucas horas de lazer,
recreava-se anotando o registro dos petitórios, procedentes daquele
reduzido núcleo familiar. Sorria, encantado, relacionando-lhes as
solicitações. O grupinho devoto suplicava-lhe a concessão das melhores
coisas. Lembrava-lhe o nome, a propósito de tudo. Nas enxaquecas dos
donos da casa. Nos sonhosdas filhas casadouras. Nos desatinos do rapaz.
Nos sapatos das crianças.
O santo achava curiosa a repetição das rogativas. Variavam de
trimestre a trimestre, repetindo-se, porém, cronologicamente. Assim é
que determinava aos colaboradores o fornecimento de recursos sempre
iguais, de conformidade com as estações. Dinheiro e utilidades, socorro
e medicação, alegria e reconforto.
Reproduziam-se os votos, na atividade rotineira, quando Santo Antônio
reparando, mais detidamente, as notas de que dispunha, verificou,
surpreso, que aquele punhado de crentes confiantes não apresentara,
ainda , nem um só pedido de trabalho. O protetor generoso meditou,
apreensivo, e como a devoção continuasse, fresca e ingênua, por parte
dos beneficiários, deliberou visitá-los pessoalmente.
Expediu aviso prévio e desceu, no dia marcado, para verificações
diretas. Desejava inteirar-se de quanto ocorria.
De posse da notificação, celestino, inteligente cooperador espiritual
dele, veio esperá-lo, não longe da residência humilde dos camponeses.
O iluminado solicitou notícias e o companheiro de boas obras
respondeu, respeitoso.
— Em breve, sabereis tudo.
Com efeito, daí a momentos penetravam em pequeno recinto rural, uma
casa antiga, um jardim abandonado, um quintal escarpado entregue ao
mato inútil e um telheiro a ruir, fingindo estábulo, onde uma vaca
remoía a última refeição.
Entraram.
Na sala, em trajes domingueirosde regresso da missa, um casal de
velhos ouvia a conversação dos filhos, um jovem robusto, duas moças
casadeiras e duas crianças.
Santo Antônio abençoou o quadro doméstico, observando que a sua
efígie era guardada carinhosamente por todos. As impressões verbais
eram intercaladas de louvores ao seu nome. De instante a instante,
assinalava-se o estribilho:
— Graças a Santo Antônio!
Voltando-se para o cooperador atento, o pretigioso amigo celeste
pediu esclarecimentos quanto aos serviços do grupo. Foi informado,
então, de que nenhum dos membros daquela comunidade possuia trabalho
certo, convenientemente remunerado. Celestino, aliás, terminou sem
circunlóquios:
— O pessoal gira em torno de uma vaca, que torno participante de
vossas bênçãos.
— Como? — indagou o santo, admirado.
— O pai, que se diz doente, angaria capim, de modo a alimentá-la. As
Jovens ordenham-na duas vezes por dia. O rapaz conduz o leite à vila
para vender. Bolinha, a vaca protetora, sai do quintal somente cinco
dias por ano, quando passeia junto a rebanho próximo. é obrigada a
fornecer seis a oito litros de leite, em média diária, e um bezerro
anualmente. A dona da casa envolve-a em atmosfera de doce agasalho e os
meninos escovam-na cuidadosamente. Apesar disso, porém, vive abatida,
entre as cercas do escarpado curral. Sabendo nós quanto amor consagrais
a esta granja, repartimos com a humildade vaquinha as dádivas
incessantes que vossa generosidade nos envia. Desse modo,
garantimos-lhe a saúde e o bem-estar, porquanto, se a produçao dela
cair, que sucederá aos vossos despreocupados devotos? Bolinha é tudo o
que lhes garante o pão e a vestimenta de hoje e de amanhã.
Antônio dirigiu-se ao estábulo, pensativo...
Acariciou o animal heróico e voltou ao interior.
Na palestra intima, animada, ouvia-se, de momento a momento:
—Louvado seja Santo Antônio!
—Viva Santo Antônio!
—Santo Antônio rogará por nós!
De permeio, sobravam queixas do mundo.
O advogado celestial, algo triste, convidou o companheiro a
retirar-se e acrescentou:
— Auxiliemos positivamente esta família tão infeliz.
Antônio acercou-se da vaca, levantou-a, e sem que bolinha percebesse
guiou-a para alto, de onde se contemplava enorme precipício. Do cimo, o
santo ajudou-a a projetar-se rampa abaixo. Em breves segundos a vaca
não mais pertencia ao rol dos animais vivos na Terra.
Ante o colaborador assombrado, explicou-se o taumaturgo:
— Muitas vezes, para bem amparar, é imprescindivel retirar as escoras.
E voltou para o Céu.
Do dia seguinte em diante, as orações estavam modificadas. Os
camponeses fizeram solicitação geral de serviço e, com o trabalho digno
e construtivo de cada um, a prosperidade legítima lhes renovou o lar,
carreando-lhes paz, confiança e júbilos sem-fim...
Quantos Benfeitores Espirituais são diariamente compelidos a imitar,
no mundo dos homens encarnados, a proteção de Santo Antônio?

IRMÃO X
(Retirada do Livro "Luz Acima" Psicográfia de
Francisco Cândido Xavier edição FEB.)

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