sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ler Matéria - Jornal O CLARIM

Aclaração doutrinária
Cairbar Schutel

Publicado em 20 de fevereiro de 1926

A luta movida, à surdina, pelos espiritualistas contra o Espiritismo, graças às resoluções do Alto, explodiu francamente para que tanto espiritualistas como espíritas definam as suas posições e entrem francamente no campo da liça.
“Não se pode servir a dois senhores; é impossível — ‘o ser’ e o ‘não ser’ ao mesmo tempo. Em política, principalmente na política dos nossos tempos, o indivíduo pode ser até tudeiro”. O mesmo não acontece em princípios que arrimam a individualidade e fazem-na convergir para o Ideal.
É na base que a crença se arrima, como os edifícios nos seus alicerces: levantados sobre a rocha se mantêm incólumes a despeito de todas as adversidades; mas construídos na areia movediça ruem por terra às primeiras torrentes ou às primeiras rajadas.
Quer isto dizer que as bases fundamentais do Espiritismo não são as mesmas que as bases fundamentais do Espiritualismo.
Expliquemos melhor.
Espiritualismo é um termo, uma expressão genérica que abrange todas as “religiões e filosofias” do passado, do presente e do futuro opostas ao materialismo, mas que têm por base a crença que existe alguma coisa mais do que a matéria, sem determinar por meio de fatos positivos o que é essa coisa.
Espiritismo é um vocabulário criado especialmente para designar a crença que tem por princípio, por fundamento a existência dos Espíritos e sua comunicação com o mundo visível.
O Espiritualismo sendo, como dissemos, uma expressão genérica, a sua significação (note-se a sua significação) resume e abrange todas “religiões” que creem existir alguma coisa mais que a matéria.
O Catolicismo, o Protestantismo, o Judaísmo são espiritualismos.
O ocultismo, a teosofia, assim como o Bramanismo e o Budismo são espiritualismos.
O islamismo e todas as religiões antigas são espiritualismos.
Os princípios básicos dessas seitas, são fundados em concepções abstratas.
Nenhuma delas demonstra a sua doutrina com fatos.
O Catolicismo, o Protestantismo, que são reproduções do Judaísmo e do Samaritanismo, proclamam a teoria angélico-diabólica quando explicam os fenômenos psíquicos.
O ocultismo, a teosofia, complementos do Bramanismo e do Budismo adotam a teoria gnômica (fadas, silvanos, duendes, gnomos, diabretes etc.) para explicar tais fatos.
O islamismo, como também as demais religiões, mutatis mutandis são partidárias do angelo-diabolismo, como o proclamam o Catolicismo e o Protestantismo.
Todas essas “religiões” têm a sua construção filosófica, com pontos de contato entre uma e outra, como é o natural, visto que nenhuma delas poderia excluir do seu código a caridade e o bem, princípios estes que o Espiritismo proclama como meio de salvação.
O ocultismo e a teosofia, a seu turno, mantêm, como o Espiritismo, a pluralidade das existências corpóreas.
Esta qualidade de vistas não autoriza, entretanto, a fusão do Espiritismo com estas últimas doutrinas, assim como a proclamação da Lei do Amor, abraçada por católicos e protestantes, budistas e teosofistas, não une estas crenças numa única crença.
Cada uma delas mantém o seu princípio; logo estão divididas, como se verifica, cada qual com sua igreja, seu culto, seu ritmo, sua filosofia, seus adeptos, seu céu, seu inferno, seus anjos, seus demônios, seus incubos e sucubos, gnomos, cascões etc.
Elas só fundem na palavra espiritualismo, porque espiritualismo é o vocábulo que designa todas elas.
Em face dessa multiplicidade de religiões, todas se dizendo espirituais e contradizendo-se umas às outras, sem nenhuma resolver o problema da Vida e a demonstração da Imortalidade, foi que Allan Kardec, de acordo com as inspirações do Espírito de Verdade, para evitar confusões, escolheu um vocábulo novo — ESPIRITISMO — para intitular a Doutrina por ele codificada, coordenada; Doutrina que nenhuma participação tem com nenhuma delas, nem com o Espiritualismo.
Os fatos espíritas são demonstrações da sobrevivência, da imortalidade; não são conjecturas metafísicas, concepções abstratas de fadas, duendes e cascões ou elementares vagabundos.
O Espiritismo erguido sobre esses fatos, ocorridos em todas as épocas e países, ergue o seu grande monumento que abrange a ciência, a filosofia e a moral, ou seja, a religião, cujos conhecimentos são progressivos e não estacionários como acontece aos dogmas do Espiritualismo.
Acresce ainda uma nota interessante: O Espiritismo não é uma derivação de qualquer religião sacerdotal, não é uma concepção pessoal; o mesmo não acontece às doutrinas Espiritualistas.
Por todos estes motivos que procuramos explicar, ao alcance de todos e por muitos outros que constataremos ainda, o Espiritismo não se pode aliar a partido religioso algum.

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