quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ler Matéria - Revista RIE

Quando o lar não é refúgio
Ricardo Orestes Forni

“A paisagem social da Terra se transformaria imediatamente para melhor se todos nós, quando na condição de espíritos encarnados, nos tratássemos, dentro de casa, pelo menos com a cortesia que dispensamos aos nossos amigos.” – André Luiz.

Compare essa afirmativa de André Luiz com o seguinte trecho da reportagem da revista VEJA, edição 2105, de 25 de março de 2009: “A família e a própria casa são a maior proteção que uma criança pode ter contra os perigos do mundo. É nesse ninho de amor, atenção e resguardo que ela ganha confiança para lançar-se sozinha, na idade adulta, à grande aventura da vida. Mas nem todas as crianças com família e quatro paredes sólidas em seu redor são felizes. Em vez de contarem com o amor de adultos responsáveis, elas sofrem estupros e carícias obscenas. Em lugar do cuidado que a sua fragilidade física e emocional requer, elas são confrontadas com surras e violência psicológica para que fiquem caladas e continuem a ser violadas por seus algozes impunes. No vasto cardápio de vilezas que um ser humano é capaz de perpetrar contra um semelhante, o abuso sexual de meninas e meninos é dos mais abjetos – em especial quando é cometido por familiares. Para nosso horror, essa é uma situação mais comum do que a imaginação ousa conceber. Estima-se que, no Brasil, a cada dia, 165 crianças ou adolescentes sejam vítimas de abuso sexual. A esmagadora maioria deles, dentro de seus lares.”! (destaque nosso)
E o mundo, segundo André Luiz, se transformaria imediatamente para melhor se nos tratássemos dentro do lar com a cortesia com que tratamos os amigos! Se essa não é a única explicação para o mundo de violência em que vivemos, com certeza é uma das parcelas preponderantes para a situação atual de desamor na Humanidade.
Se fizermos um cálculo baseado na informação dessa reportagem de que aproximadamente 165 crianças por dia são vítimas de abuso sexual, no final do mês teremos quase cinco mil crianças desestruturadas em sua parte material e espiritual. Se estendermos esse cálculo para o ano todo, encontraremos quase 60.000 doentes emocionais comprometendo a psicosfera do planeta em que habitamos. Se multiplicarmos esse número pelos anos que se sucedem podemos entender como o “organismo” da Humanidade está impregnado de pessoas infelizes, vítimas do seu próximo, que passam a se transformar em células enfermas a promover a doença do ódio, do desamor, da indiferença, que se multiplicam nas mais diversas faces de agressividade que turvam o direito a um mundo melhor.
Ensina André Luiz no livro Sinal Verde que cada pequenino, conquanto seja, via de regra, um espírito adulto, traz o cérebro extremamente sensível pelo fato de estar reiniciando o trabalho da reencarnação, tornando-se, por isso mesmo, um observador rigorista de tudo o que você fala ou faz.
Imaginem então o que esse Espírito, que voltou para aprender o exercício do Bem, que é um observador rigoroso do que falamos ou fazemos, quando recebe dentro do próprio lar uma agressão desse nível, o que poderemos esperar dele em termos de decepção para com o seu semelhante? Se recebe no início de sua jornada neste mundo toda a insegurança gerada pelo desrespeito profundo de quem deveria proporcionar-lhe toda a segurança, em quem mais confiar?
Conforme segue ensinando André Luiz, a casa não é apenas um refúgio de madeira ou alvenaria, é o lar onde a união e o companheirismo se desenvolvem.
Como ensinam os Espíritos, por mais sofisticada que seja uma construção, se nela não existir o Amor aí teremos sempre uma casa, mas nunca um lar. A ausência desse Amor ensinado por Jesus, onde um deve fazer ao outro o que gostaria de receber para si, é a grande causa de todos os males que entristecem a sociedade. Da mesma forma como alguém atropela indiferentemente um animal numa via pública como se passasse sobre um caixote de papelão vazio, pessoas existem que atropelam o seu semelhante dentro da casa que não conseguiu transformar-se em um lar. Isso nos remete a uma pequena estória que lemos certa ocasião onde um amigo perguntava para o outro se ele realmente o amava. Diante da resposta afirmativa do interpelado, o amigo perguntou então que tipo de dor ele estava sentindo. O outro, espantado, respondeu que não podia saber qual o tipo de dor ele sentia porque isso era razão de foro íntimo. Recebeu, por consequência, a seguinte conclusão: Então você não me ama, porque quem realmente ama sabe o que dói no ser amado.
Não só ainda não sentimos a dor do nosso próximo como ainda somos capazes de nos transformarmos na causa dessa dor. O primeiro e o maior de todos os mandamentos ainda se encontra desrespeitado em nossa caminhada rumo à perfeição.

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