quinta-feira, 2 de julho de 2009

Ler Matéria - Revista RIE

Geratrizes da obsessão
Octávio Caúmo Serrano

O Espiritismo, doutrina que define com clareza e naturalidade a existência do mundo espiritual, adverte-nos sobre a existência de processos obsessivos que prejudicam a saúde e o pensamento da pessoa que é por eles assediada.
O quadro de perturbação tem origem em diferentes situações. Às vezes vem de eras remotas, quando esses espíritos, o encarnado e o desencarnado, tiveram sérios desentendimentos que geraram mágoas profundas e desejo de vingança. Isso ocorre também de encarnado para desencarnado, de encarnado para encarnado e de desencarnado para desencarnado. Afinal, a atitude é resultado de uma inteligência. E ela é atributo do espírito, em qualquer estado que se encontre.
Outras vezes, vem desta mesma encarnação, provocada por alguém a quem ofendemos e que deixou este mundo com ódio de nós, sentindo-se inconformado com algo que o prejudicou no convício que teve conosco. Muitas vezes nem sabemos que o fizemos. Mas o outro registrou.
Há situações, também, que a obsessão se dá porque certo espírito “não vai com a nossa cara”, para usar expressão popular. Porque fazemos um trabalho pelo bem e ele não quer o bem de ninguém, porque temos já alguma evolução que nos confere pequena luz e ele tem dificuldade de contato conosco, ou outros diferentes motivos, o que geralmente é impossível definir.
Neste comentário, porém, queremos dizer que não é difícil nos livrarmos desses obsessores. Basta viver de maneira cristã e eles, por menos que simpatizem conosco, nada poderão contra nós. Mas há obsessores mais difíceis de serem vencidos e nem mesmo imaginamos os males que nos fazem. Dividiríamos em duas categorias: os de natureza social e os de natureza moral ou espiritual.
Com relação aos primeiros, eles têm origem na maneira desregrada de administrar a vida, quando gastamos além do que podemos, devemos e necessitamos, abusando do cartão de crédito, do cheque predatado, das prestações quilométricas, basicamente. Impossibilitados de cumprir o compromisso assumido, somos tomados de desânimo ou revolta. No entanto, a culpa é exclusivamente nossa.
Ao falar dos obsessores de natureza moral ou espiritual, vemos que nossas quedas se relacionam à falta de fé. Demonstramos que ela enfraqueceu quando sentimos tristeza, mágoa, insatisfação diante da vida. Parece que ninguém gosta de nós, que somos sempre injustiçados, que só recebemos da vida a ingratidão. No entanto, não percebemos que nosso melindre, suscetibilidade própria dos inseguros, gera ciume e leva-nos a prejulgar e cometer grandes equívocos, tudo com prejuízo para nós mesmos, apesar de tentarmos apontar culpados para a nossa infelicidade.
O atraso e as doenças que esse comportamento provoca causam-nos mais danos que os supostos espíritos que estariam nos assediando. Não descartamos que uma parte vem dos espíritos inferiores, mas como somos também um deles, estabelecemos com muita facilidade uma sintonia negativa. E quando nossa fé vacila abrimos as portas para que os obsessores se apoderem de nossa mente e nos causem efetivo mal-estar, ao embaralhar as nossas ideias. Obsessor sintoniza facilmente com espírito trevoso e não suporta quem busca iluminar-se. A luz incomoda o espírito das trevas.
Vivemos uma crise internacional, nascida da supervalorização do mundo material, onde uns ficam atrelados aos outros. A economia americana, que sempre foi frágil, porque a quantidade de dólares que circula no mundo não tem o devido lastro que a garanta, agora está vivendo o tempo da verdade. E, o que é pior, leva com ela uma coleção de descuidados que fazem do dinheiro a coluna mestra para uma vida tranquila. Imaginam que o dinheiro abre caminho para a felicidade. Quando percebem o equívoco entram em pânico e passam a pensar de forma equivocada.
A primeira coisa que o industrial faz é despedir funcionários para que sobre mais dinheiro. Não percebe que o desempregado é um cliente a menos para o consumo dos bens que ele produz. Se não diretamente, pelo menos de forma indireta. Todos os que produzem alguma coisa são também clientes, em outros ramos.
O mesmo faz o governo com o salário dos aposentados. Se pagasse o que é justo, todos teriam um bife a mais para comer e poderiam comprar o remédio que o SUS nunca tem para distribuir. Devolveriam em impostos o que recebem como proventos. E até fazer algum turismo, mesmo que modesto, um direito do velho que trabalhou pela riqueza do nosso país e hoje vive na marginalidade e no esquecimento.
Está faltando mais equilíbrio e menos ganância na sociedade. Quando houver comedimento, menos ostentação, menos vaidade e falso status pelo frágil poder artificial que os homens julgam possuir, todos poderão viver com menos, agastar-se menos e voltar os olhos para os mais desgraçados que, em vez de bandidos ou párias sociais, serão irmãos na jornada desta encarnação. Enquanto todos não forem felizes, ninguém poderá sê-lo contemplando a desgraça alheia. Não podemos saborear tranquilamente nossa comida preferida tendo à frente uma criança espumando de fome.
Por isso, as geratrizes da obsessão são o desregramento, o desinteresse, a omissão, a falta de amor, a presunção e a falsa convicção de que podemos tudo, ainda que atropelemos os direitos do semelhante.
Os espíritos nos perturbam, mas nós mesmos nos incomodamos muito mais. Sofremos mais com a autoagressão do que com o assédio que vem dos espíritos!
Devemos ir ao Centro, tomar passes, fazer tratamento espiritual; é muito importante. Mas se não organizamos nossa mente, não vivermos tendo o Evangelho como norma de conduta, estaremos perdendo o nosso tempo enquanto nos iludimos na espera de milagres que jamais acontecerão.
Faça o teste, mude a sua vida e seja feliz. Só assim a felicidade será deste mundo!

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