quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ler Matéria - Revista RIE Hipnotismo e Espiritismo

Cairbar Schutel

Publicado na RIE em setembro de 1934

O magnetismo tem exercido há centenas de anos uma tarefa preparatória à ciência do futuro.
Recebido com admiração por uns, repudiado por outros e cerceado por muitos como monopólio do sobrenaturalismo, ele tem resistido às mais duras imprecações, às mais clamorosas injustiças e o sofisma de seus princípios já estão cimentados em milhares de fatos que ilustram as páginas da História.
Por fim, a ciência oficial teve que lhe fazer bom acolhimento, não deixando, entretanto, de crismá-lo com o nome de hipnotismo.
O hipnotismo tem, apesar disso, sido transviado do seu fim providencial, limitando-se os doutos a aconselhar a sua aplicação nas doenças nervosas, cuja etiologia lhes é desconhecida.
É verdade que alguns clínicos ilustres, e, dentre estes, dois distintos professores da Escola de Medicina de Toulon, constataram e publicaram muitos casos de cura de fleimões, artrites, dermatoses, úlceras e até de tuberculose por meio do magnetismo.
Mas um papel importante que o magnetismo exerceu foi o de anestésico quando ainda não se tinha descoberto o clorofórmio e o éter.
O Dr. Gilles de la Tourette diz que: “Antes da descoberta de Morton e Jackson (1847) os doente eram, pode-se dizer, dissecados vivos; o cirurgião precisava operar com muita rapidez o que não garantia o sucesso da operação. Compreende-se então o entusiasmo que acolheu um método que permitia operar sem dor e se poder crer que a magnetização devia ser tentada antes de cada operação”.
Inúmeras operações foram assim realizadas sem que os pacientes acusassem a mínima dor. Em Cherbourg, Loysel fez a extirpação de um tumor na região mastóidea a uma senhora de trinta anos. E em seis meses consecutivos este cirurgião praticou doze operações. Cloquet extirpou um carcinoma do seio de uma mulher adormecida por Chapelain. Braid também, a título de experiência, fez diversas, inclusive extrações de dentes, durante o sonambulismo artificial. Ward, na Inglaterra, amputou a coxa de um indivíduo mergulhado em hipnose e três anos depois foram feitas mais três operações do mesmo gênero.
Hammond, Towsler, Kiaro, Guerineau, Broca, Follin, Ribaud e outros também praticaram diversas operações sob a influência da anestesia magnética ou hipnótica.
Mas o cirurgião que apresenta maior estatística é Esdaile, que dá conta de seiscentas operações feitas durante o sono hipnótico no Mesmeric Hospital, do Canadá.
Estes fatos nos vêm demonstrar a poderosa ação do hipnotismo nos dois Psiquismos — o consciente e o inconsciente.
Transcrevemo-los propositalmente para que eles se tornem conhecidos de muitos doutos que se emparedaram na negação sistemática quando querem negar o magnetismo assim como o Espiritismo.
Mas como explica a ciência oficial, tão esquisitos fenômenos, inclusive o de curas testemunhadas e constatadas pelos professores da Escola de Toulon? Ao que nos consta, apesar das origens do magnetismo se perderem na noite dos tempos, os tratados oficiais e oficiosos se limitam ao relato e coordenação dos fenômenos, sem nos esclarecer mais sobre tão transcendente questão.
Chegou, porém, a hora de termos uma compreensão melhor dos fatos, desde que orientados pela teoria espírita; estudemo-los desapaixonadamente e submetamo-los a uma crítica severa, mas inteligente.
Sabe-se agora que os fenômenos magnéticos ou hipnóticos podem ser comprovados no organismo do indivíduo ou fora dele. Os fenômenos orgânicos, como anestesia, hiperestesia, catalepsia, letargia, bem como os histéricos, se prendem à impotência diretriz e perceptora do psiquismo superior, ou seja, do ser subconsciente, que é, em parte, exteriorização do organismo. A sensibilidade que desaparece da superfície do corpo e dos órgãos dos sentidos é trasladada aos polos e às linhas de exteriorização, nomeadas pelo Dr. De Rochas. Isto faz ver que a sensibilidade pode se exercer sobre um ponto qualquer da radiação periorgânica pelo fato de todos os sentidos normais se condensarem no sentido único no perispírito ou organismo subconsciente, que é o “corpo imperecível” do ser pensante, como já tivemos ocasião de lembrar no caso do Dr. Velpeau, cuja paciente exteriorizou-se a ponto de se transpor a outra casa através de obstáculos materiais, enquanto seu corpo físico sofria uma intervenção cirúrgica. Neste caso se observa mais: dois fenômenos absolutamente diferentes, comprovados, um no organismo, outro fora do organismo, que não têm absolutamente explicação, a não ser pela teoria espírita. Os fenômenos orgânicos são devidos à impotência diretriz e perceptora da subconsciência superior, ou do psiquismo superior que está exteriorizado, e os fenômenos fora do organismo são os produzidos por esse mesmo ser exteriorizado.
Conclui-se de tudo isso que o Indivíduo não é somente o que aparenta exteriormente, nem o produto das forças nêuricas e cerebrais, como afirma a ciência oficial, materialista em seus princípios. “A consciência normal neste plano de vida, como diz o Dr. Geley, deve ser o resultado da colaboração de ambos os psiquismos no qual o superior desempenha o papel de diretor e centralizador.” E assim como o ser exteriorizado, narrado pelo Dr. Velpeau, pôde condensar todos os seus sentidos num sentido único e dar conta do que se passou à distância do seu corpo somático, vivendo independente desse corpo; é de se prever, com boa lógica e sólidos fundamentos, que, quebrado o fio que o ligava ao corpo, com ação da morte, mantivesse ele sua existência integral e ainda com faculdades superiores àquela que manifestava quando adstrito a referido corpo.
E sobre esta afirmação os fatos observados nestes últimos tempos vêm autorizar perfeitamente a nossa tese, salientando ainda uma vez a teoria espírita como a única explicativa de todos os fenômenos psicológicos que a fisiologia clássica não pode explicar.
Como se vê, o Espiritismo abre um campo novo à ciência, oferecendo-lhe pérolas de raro valor. Os médicos muito lucrariam se, desprendendo-se dos dogmas e dos mistérios da ciência oficial, viessem conosco cavar este terreno prodigioso, onde o aurífero filão se estende, prodigioso, em camadas superpostas, capaz de enriquecer a todos que o procurem com esforço e abnegação.
Finalmente, nós concluímos com Aksakof:
“O hipnotismo é a cunha que forçará as barreiras materialistas da ciência para fazer penetrar nelas o elemento suprassensível ou metafísico. Ele já criou a psicologia experimental e acabará fatalmente por compreender os fatos do Animismo e do Espiritismo, os quais, por sua vez, terminarão na criação da metafísica experimental, como predisse Schopenhauer.”

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