quinta-feira, 3 de junho de 2010

FENÔMENOS MEDIÚNICOS NA VIDA DOS SANTOS

Sylvio Ourique Fragoso



Parte VII



Santa Thereza de Jesus

Deixando de falar de suas visões, Thereza de Jesus descreve também fenômenos de levitação que apresentou em momentos especiais, que chamou de "arroubamentos". Diz ela:

"(...) no arroubamento não há meio de resistência (...) e é tal sua violência que muitas vezes queria eu resistir e empregava todas as minhas forças, especialmente algumas vezes, que se dava o fato em público (...) algumas vezes se me erguia todo o corpo (...) outras vezes, como começasse a ver que o Senhor ia fazer o mesmo, sendo uma delas na ocasião em que se achavam senhoras das principais famílias (...) deitava-me no chão e chegava a suspender-me o corpo (...)".

Santa Thereza chegava a pedir a Deus que a livrasse do que denominou de "mercês que produzissem sinais exteriores", porque, dizia, estava "já cansada de andar com tanta fama".

Mais adiante a santa descreve com pormenores as sensações que experimentava durante as levitações. Leiamo-la:

"É certo que quando queria resistir, parecia que debaixo dos pés me levantavam forças tão grandes que não sei com que compará-las, tal a impetuosidade com que isto se dava".

Houve ocasiões em que, mesmo com muito medo, Thereza de Jesus não opôs resistência:

"(...) eu confesso ainda o grande, enormíssimo temor que senti no princípio e que causa o fato de se ver assim levantar um corpo da terra, pois não se perdem os sentidos, apesar de levar o espírito o corpo consigo, e isto se dá com grande suavidade, uma vez que não haja resistência de nossa parte".

O fenômeno de levitação, embora menos freqüente que outros que temos aqui estudado, tem sido constatado ao longo dos tempos, entre todos os povos.

Consta que Simão, o Mago, depois de ter se elevado do solo perante Nero, despencou do ar, fraturando uma perna.

Sulpício Severo fala de um "possesso" que se elevou ao ar à simples aproximação das relíquias de São Martinho.

Quando Juliano, o Apóstata, era iniciado nos Mistérios de Diana, em Éfeso, seu iniciador se elevou pelos ares, juntamente com o iniciando.

Delacour fala de um índio de 19 anos que foi alçado até o teto de uma igreja, onde teria permanecido, sem apoio algum, por cerca de meia hora.

Calmeil (De la Folie) fala de um convento em Uvertat onde, no século XVI, após um jejum austero mantido na quaresma, as freiras passaram a crises convulsivas, sendo algumas arrastadas pelo chão como se puxassem pelas pernas, outras subiam em árvores, de onde desciam de cabeça para baixo, enquanto que outras ainda tinham seus corpos elevados no ar, caindo depois pesadamente. Quase todas sentiam, nesses momentos, uma sensação de queimadura ou formigamento nos pés.

Lembrar-se-ão os leitores que Thereza de Jesus dizia que "debaixo dos pés se levantavam forças tão grandes" que ela não sabia com que as comparar.

A experiência de Dunglas Home é célebre, e dela foi feito um relatório para a Sociedade Dialética de Londres. Esse famoso médium teve seu corpo levantado do solo, saiu flutuando no ar por uma janela do aposento onde estava, entrou por outra, e foi conduzido até uma cadeira onde se sentou. Eis como ele descreve suas sensações:

"Durante essas elevações ou levitações, nada sinto de particular em mim, exceto a sensação do costume, cuja causa atribuo a uma grande abundância de eletricidade nos meus pés (...)".

A sensação nos pés, então, parece ser freqüente em quem experimenta esse tipo de fenômeno.

São muitas as explicações sobre o mecanismo da levitação. O Dr. Fugairon, considerando a repulsão que se exerce entre o ar eletrificado e as pontas de um torniquete fixado sobre o condutor de uma máquina elétrica, julga não ser impossível que uma pessoa perelectrógena, posta em pé sobre um piso mau condutor, possa produzir um fluxo elétrico tal que a eleve do solo.

Outra hipótese, considerando o corpo dos animais como sendo diamagnético, e agindo a Terra como um ímã, explica a levitação como decorrente de uma identidade de polaridade, atingida pelo estado de transe, que provocaria a repulsão dos corpos.

Os experimentos de Crawford (Mecânica Psíquica) demonstram que nos fenômenos de levitação de objetos há uma expansão ectoplasmática (pseudópode) que, saindo do médium, colhe o móvel elevando-o; quando o objeto a ser levantado é muito pesado, o pseudópode ectoplásmico apoia-se no chão e dobrando-se em L, impulsiona o móvel para cima, como o faria uma alavanca. Não é impossível, então, que nos fenômenos de auto-levitação a extensão ectoplasmática, firmando-se no solo pela sua extremidade mais distante do corpo do médium, eleva-o no ar onde o sustenha pela sua outra extremidade, que está em contato íntimo com a organização mediúnica.

Se a expulsão do ectoplasma, nessas ocasiões, se fizer pelos pés, talvez consigamos explicar as sensações que Thereza de Jesus, as freiras de Uvertat e Dunglas Home experimentaram.

De qualquer forma, deve-se lembrar que, considerando em si mesmo, um corpo só é pesado quando se acha na vizinhança de outro, que o atraia. Se de alguma forma a atração gravitacional puder ser anulada, os corpos deixarão de ter peso, pois que este não é uma propriedade que possuam, na verdade. Como bem argumenta Carl Du Prel, é a nossa linguagem que transforma o fato da atração passiva em uma propriedade dos corpos, colocando nestes a causa do peso, que reside fora deles.

Qualquer que seja a mecânica, porém, o certo é que a levitação não é privativa dos santos, ocorrendo igualmente com os chamados "possessos", com heréticos, com índios, com histéricas e com bruxos, o que basta para demonstrar que o fato, conquanto extraordinário, não pode ser considerado milagroso, ao menos no sentido que dão à esta palavra as religiões organizadas.

No Brasil, o médium Mirabelli ficou famoso por suas levitações, de que há fotografias. Consta que também o Pe. José de Anchieta teria levitado algumas vezes e nos registros hagiológicos, parece que ninguém conseguiu exceder a São José de Cupertino, pelos espetaculares vôos que realizava, chegando algumas vezes a carregar consigo pessoas às quais se agarrava, com o medo que a experiência lhe causava.

Não sabemos se os pedidos de Thereza de Jesus para que lhe fossem suprimidos os dotes que produzissem "sinais exteriores" foram atendidos.

Esperemos ao menos que lhe tenham servido para manter o Espírito em elevação, a exemplo do que ocorria com seu corpo enfermo e alquebrado.

janeiro/1980

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