quinta-feira, 3 de junho de 2010

O SUDÁRIO DE TURIM - FENÔMENO PARA-NORMAL ?

Sylvio Ourique Fragoso





Parte I



Todos, certamente, já ouviram falar do "Santo Sudário", guardado na catedral de São João Batista, em Turim, Itália. Embora sempre pairassem dúvidas sobre sua autenticidade, é absolutamente certo que, pelo menos a partir do século XIV, a relíquia vem sendo conservada como sendo a mortalha que, comprada por José de Arimatéia, envolveu o corpo de Jesus ao ser levado à sepultura.

A maior parte dos dados que aqui ventilaremos consta do livro "O Santo Sudário" de Ian Wilson, publicado pela Melhoramentos e cuja leitura gostaríamos de recomendar a todos. Ali o autor apresenta uma síntese das pesquisas científicas feitas sobre o Sudário, até 1978, e mais o notável retrospecto histórico que realizou, a começar das referências evangélicas (Mt. 27,59; Mc. 15,46; Lc. 23,53) até novas notícias do Sudário no ano 30 DC, seguindo daí pelos séculos afora, culminando pelas pesquisas recentes, onde até o instrumental altamente sofisticado da NASA entrou em jogo. Com muito trabalho de pesquisa e muitos golpes de sorte (ou, mais provavelmente, muita ajuda do Alto) pôde esse autor seguir a trajetória da relíquia até o século XIV, quando o Sudário passou a pertencer, por doação, à Casa de Savóia, a quem ainda pertence.

O espaço de que dispomos não nos permite acompanhar todo o notável retrospecto histórico realizado. Entretanto, essa pesquisa e principalmente os minuciosos dados que a análise científica do tecido puderam acumular, fazem admitir como inconteste que o Sudário de Turim seja de fato o lençol que amortalhou Jesus. As evidências são tantas, que o Dr. John Robinson, um dos pesquisadores, afirmou que a questão se invertera, de forma que quem duvidar da autenticidade do Sudário é que deverá apresentar provas que justifiquem sua descrença.

O Sudário consiste em um tecido de linho, sem emendas, de 4,30m de comprimento por 1,10m de largura. Nele está impresso em sépia monocromática a imagem dupla de um corpo de homem, frente e dorso, em oposição pela cabeça. Essa figura, muito débil, é melhor percebida quando observada à distância. De perto, seus contornos se esbatem e ela praticamente desaparece.

A dupla imagem formada explica-se pelo fato de ter sido o corpo que ela retrata, depositado de costas sobre o tecido, que foi depois dobrado por sobre a cabeça, até cobrir os pés. A coloração da imagem lembra aquelas marcas que um ferro de passar, muito quente, deixa sobre um pano branco. É extraordinário notar que essa imagem está impressa em negativo, de sorte que nos negativos fotográficos ela aparece, com toda a clareza, em positivo.

As análises científicas realizadas descartam a possibilidade daquela imagem ter sido obra de algum artista do 14º século, como se dizia que era. Não há pigmentos de nenhuma espécie no Sudário. Ademais, quem no século XIV, teria noção de um negativo fotográfico? E ainda que a tivesse, como faria ele para "pintar" em negativo? Considere-se ainda que o Homem do Sudário está nu, coisa que certamente nenhum artista sacro, à época, se atreveria a fazer ao retratar Jesus. E depois, a exatidão dos dados anatômicos, a perfeita direção de cada gota de sangue, os mil detalhes retratados com absoluta perfeição, fariam desse artista um gênio superior a quantos se conhecem.

Seria longo descrever todas as técnicas usadas nas pesquisas feitas sobre o Sudário. Especialistas de renome mundial em vários ramos da ciência foram convocados. Fizeram análise química, análise tecnológica da contextura do tecido, microscopia de elétrons, palinologia, análise termográfica, microanálise e micro-sondagem, epidiascopia, espectrometria de massa, microdensitometria, análise da imagem pelo Sistema VP-8 de Interpretação, análise físico-química, análise arqueológica, antropométrica, antropológica, médica, patológica, e não sei que mais.

Vejamos em resumo, o resultado de apenas algumas dessas pesquisas, em especial as conclusões das autoridades médicas.

O Sudário de Turim mostra, sem dúvida, a imagem de um homem morto. E mais, morto pelo processo da crucificação. Sua altura é de 1,81m. Seu peso, cerca de 77 Kg. Seu tipo racial, o mediterrâneo clássico. Esse homem usava barbas, repartidas ao meio e cabelos longos, até um pouco abaixo dos ombros. Contava mais de 30 e menos de 45 anos. Tinha o corpo sólido e bem proporcionado. A única assimetria está no ombro direito, mais baixo que o esquerdo, aparentemente por ter sofrido uma deslocação ao ser crucificado. Há evidências de que os dois braços não formaram o mesmo ângulo na cruz, tendo o direito sofrido uma contração que o fez ser pregado com a mão bem mais próxima à cabeça, enquanto que o esquerdo ficou estirado completamente.

Embora o corpo todo apresente sinais evidentes de ter sido barbaramente castigado, nenhum osso do Homem do Sudário foi quebrado. O septo nasal sofreu um desvio, com ruptura do tecido cartilaginoso, provavelmente em decorrência de uma pancada no rosto. Há intumescência de ambas as sobrancelhas. A pálpebra direita está rasgada. Há também um grande inchaço sob o olho direito. O nariz está inchado. Há um ferimento triangular na face direita, talvez decorrente de uma bofetada desferida por alguém que usasse um anel. A face esquerda está túrgida. O lado esquerdo do queixo está bastante inchado.

O Homem do Sudário sofreu, além disso, violenta flagelação, da qual só escaparam a cabeça, os antebraços e os pés. As marcas da flagelação formam grupos de três, cada uma com 4cm de comprimento e atingem principalmente as costas. O número de chicotadas que o Homem do Sudário recebeu não pôde ser contada com exatidão, mas foi entre 90 e 120. As correias dos chicotes usados eram guarnecidas com bolas geminadas de metal, e essas bolas é que formaram as marcas de 4cm. O instrumento empregado na flagelação foi facilmente identificado. Trata-se do flagrum romano. Exemplares autênticos encontrados em Pompéia coincidem exatamente com as marcas deixadas no Homem do Sudário. A análise demonstrou também que os flageladores foram dois, postados por trás da vítima, um à esquerda, outro à direita. O da direita era mais alto e ao ferir fazia com que o chicote atingisse também as pernas e o peito do condenado.

O Sudário mostra com clareza, e isto é notável, que o homem que nele esteve envolto recebeu, sobre a cabeça, uma "coroa" de espinhos. Essa coroa não era como mostram os quadros sacros e o cinema. Tratava-se de uma espécie de capacete, um entrançado de espinhos que perfurou também o alto da cabeça, além da testa, da nuca e dos lados, provocando abundante sangramento.

Em ambos os ombros, por sobre as marcas da flagelação, há evidências de novos ferimentos. Ambas as áreas apresentam grandes escoriações causadas pelo atrito de um objeto pesado, que friccionou uma região já machucada da pele. São, sem dúvida, os ferimentos causados pelo carregar da cruz. O Sudário mostra que aquele homem não carregou toda a cruz, mas apenas o patibulum, o travessão horizontal. Mais uma vez a imagem do Sudário confirma um detalhe histórico e desmente as criações dos artistas, pois realmente, ao tempo de Jesus, o condenado à crucifixão era forçado a carregar o braço da cruz pelas ruas. O poste vertical, o stipes, já estava geralmente afixado no lugar do suplício.

O travessão que o Homem do Sudário carregou em seus ombros pesava cerca de 45 Kg. Parece que houve dificuldade no percurso, pois há escoriações bastante sérias em ambos os joelhos, sugerindo algumas quedas, sendo que o joelho esquerdo apresenta enorme contusão.

São bem evidentes as marcas da crucificação. E aqui novamente a imagem do Sudário desmente as artes e encontra pleno apoio na realidade, conforme as pesquisas científicas recentemente realizadas com cadáveres vieram a demonstrar. É o que veremos a seguir.

abril/1981.



O SUDÁRIO DE TURIM

FENÔMENO PARANORMAL ?

Parte II

A imagem do Sudário mostra que os cravos não foram afixados nas palmas das mãos, e sim junto à dobra principal do pulso. Os cravos passaram entre os ossos, afastando-os sem quebrá-los, exatamente no chamado "espaço de Destot". Os carrascos deveriam saber, por experiência, que ali os cravos facilmente atravessariam os tecidos e encontrariam resistência bastante para que o corpo se mantivesse dependurado. De fato, experimentos mostram que quando os cravos são pregados nas palmas das mãos, fazem com que elas se rasguem pelo peso do corpo, que então se despenca. Um detalhe a mais: passando pelo "espaço de Destot" os cravos atingem o nervo mediano e assim os músculos dos polegares fazem com que eles se encolham junto às palmas. Ora, é exatamente assim que estão os polegares do Homem do Sudário. Que artista, no século XIV, teria tal conhecimento de anatomia, caso a imagem do Sudário fosse uma falsificação?

O Homem do Sudário teve ainda os pés atravessados por um único cravo, que passou entre os ossos metatársicos, tendo, na crucificação, o pé esquerdo ficado sobre o direito.

Finalmente, ao lado direito da imagem vê-se uma grande chaga, de forma elíptica, com 3,4 cm de comprimento por 1 cm de largura. As dimensões dessa chaga correspondem exatamente às medidas da lancea romana, conforme se constata pelos exemplares autênticos ainda existentes. Esse ferimento encontra-se entre a 5ª e a 6ª costelas, e a 6,3 cm da linha central do tronco. O fluxo de sangue que verteu dessa chaga correu para baixo e é visível, no Sudário, por 15 cm. A direção do sangue prova que a vítima recebeu o lançaço quando ainda estava na cruz. Mas há um segundo fluxo sangüíneo que mostra que a ferida voltou a sangrar quando o corpo foi depositado no Sudário. Ambos os fluxos aparecem misturados a um fluido claro que brotou do mesmo ferimento. Isto vem em apoio ao descrito no Evangelho de João, que afirma que do ferimento produzido pela lança em Jesus, saiu sangue e água. Esta "água" os primeiros pesquisadores do Sudário julgaram ser o serum do pericárdio. A hipótese mais aceita hoje, porém, é de que a flagelação sofrida pelo Homem do Sudário tenha produzido um acúmulo de fluido sangüíneo na cavidade pleural. Segundo o Dr. Anthony Sava, a violenta flagelação no tórax poderia determinar grande acúmulo desse fluido. Nas experiências que realizou, o material recolhido de cadáveres não se coagulara, tendo tomado uma coloração vermelho escura, coberta por um fluido leve e claro. Ainda conforme o Dr. Sava, se a lança tivesse perfurado o lado esquerdo do peito, quase nenhum líquido teria vertido, pois o ventrículo desse lado fica praticamente vazio após a morte, enquanto que a aurícula direita se enche de sangue. Ora, um ferimento profundo no local indicado pela imagem do Sudário, provocaria a saída de uma espessa base de "células" sanguíneas e depois, quando seu nível baixasse, do líquido claro, acumulado pelos traumatismos sofridos.

A Ciência responde

Há uma pergunta que a ciência hoje pode responder: de que morriam os condenados à cruz?

Quando uma pessoa acabava de ser crucificada, seu rosto ficava inicialmente vermelho, pelo esforço que o próprio peso determinava, sendo esse rubor logo substituído por grande palidez. Em seguida, como a posição dificultava sobremaneira a respiração, o rosto acabava por assumir uma coloração violácea. Cerca de onze minutos após a crucificação, a pressão arterial ficava reduzida à metade. A perda de sangue e a respiração muito acelerada, acarretavam grande sede.

Quando o crucificado conseguia descarregar o peso do corpo sobre os pés, a pressão arterial podia subir um pouco. A grande dor que isto acarretava, contudo, não permitia ao condenado manter esse apoio e logo o peso era sustentado de novo pelos pulsos. Parece claro, então, que os crucificados permaneciam nesse movimento de vai-e-vem, à procura de um alívio que não achavam. Provam-no os ossos gastos no lugar dos cravos, encontrados em antigos cemitérios.

Os romanos, quando viam que um condenado à cruz demorava muito a morrer, quebravam-lhe as pernas, ou melhor, as rótulas. Impossibilitando dessa forma de se apoiar nos pés, o condenado tinha a pressão arterial cada vez mais baixa, a respiração cada vez mais dificultada e a irrigação sangüínea cada vez mais deficiente, até que a morte sobreviesse. No caso do Homem do Sudário, tal como ocorreu com Jesus, não houve necessidade de quebrar-lhe as rótulas. A violenta taquicardia acarretou-lhe a morte por insuficiência cardíaca.

Mas por qual processo aquela imagem misteriosa pôde ser impressa no linho, em negativo, mas com tamanha clareza a ponto de permitir uma autópsia como se o cadáver que ele conteve estivesse presente à mesa de um legista?

Impressão através da irradiação

Ao contrário do que se poderia imaginar, a imagem do Sudário não se formou por impregnação de sangue, suor, nem de qualquer essência colocada sobre o cadáver. A imagem está "impressa" exatamente como se do cadáver uma irradiação se desprendesse, "fotografando" o corpo no tecido. De fato, a imagem do Sudário foi criada à distância e não pelo contato direto com o corpo, pois há tons levemente graduados na imagem, conforme a distância em que os vários pontos do tecido ficaram em relação ao modelo, quando o cadáver foi nele depositado. Foram tomadas medidas exatas sobre a distância perpendicular entre o tecido e o corpo em todos os pontos. Há uma correspondência matemática entre a intensidade da imagem e aquela distância. A homogeneidade desses dados evidencia um processo, estranho, sim, mas cientificamente mensurável de formação da imagem, provando que ela se formou por forma de "irradiação" que, partindo do corpo, tenha impressionado todo o tecido.

A imagem impressa lembra uma crestadura provocada pelo calor. Sua cor sépia parece resultar do 1º estágio do processo de oxidação, que antecede a queima. Os experimentadores conseguiram criar marcas semelhantes às do Sudário expondo um pedaço de linho às irradiações de um objeto de metal bastante aquecido. Entretanto a análise espectroscópica mostra que todas as partes do corpo impresso no Sudário, seja sangue, cabelos ou pele, acusaram a mesma intensidade de cor comparada com as densidades neutras, mostradas pela exploração do microdensitômetro. Só as imagens do sangue são ligeiramente mais avermelhadas. De qualquer forma, como um corpo morto poderia produzir calor suficiente para crestar o tecido, e de forma tão controlada que pôde criar uma imagem com todos os seus detalhes e sem nenhum dano ao linho? A conclusão a que os cientistas estão chegando é que teria ocorrido uma espécie de brilho termonuclear, algo semelhante ao acontecido em Hiroshima quando da explosão da bomba atômica. Naquela cidade o brilho da bomba foi tamanho que em alguns locais deixou as sombras produzidas por sua luz. No telhado do edifício da Câmara do Comércio ficou retratada a torre do próprio edifício. Um pintor sobre uma escada teve sua imagem impressa numa parede e um carroceiro que passava perto da ponte do Museu da Ciência e Indústria permaneceu, como sombra, no momento em que ia chicotear o seu cavalo. Claro que na imagem do Sudário, o processo que crestou o tecido foi muito mais controlado. Teria ocorrido com o Sudário uma "explosão" de enorme intensidade e curtíssima duração, que agiu com a mesma intensidade para cima, para baixo e para os lados. Os cientistas falam em uma "fotólise do brilho" que terá durado um milissegundo. Ian Wilson admite que o Sudário mostre um verdadeiro "instantâneo" da Ressurreição.

Brilho termonuclear

Podemos imaginar que o brilho termonuclear que marcou o tecido tenha determinado ou ocorrido simultaneamente à desmaterialização do corpo de Jesus, o que justificaria o fato do túmulo ter sido encontrado vazio naquele memorável domingo. Segundo Mateus (28-2,3) teria havido um terremoto que fez com que os guardas do sepulcro ficassem desacordados. Claro que esse "terremoto" só ocorreu junto ao próprio túmulo, pois nem as mulheres que para lá estavam se dirigindo, àquela hora, notaram o fenômeno. Depois disso, tudo que foi visto na sepultura foi o Sudário e "outros panos", como narram os evangelistas. O Sudário de Turim mostra que o corpo nele envolvido fora atado por panos no queixo, nos pulsos e nos tornozelos.

Mas se o Homem do Sudário é Jesus, por que teria Ele querido deixar retratada a Sua imagem? Seria por considerar os "Tomés" dos tempos futuros? É certo que mais de um cientista adotou o cristianismo após o exame do Sudário, mas essa razão, conquanto significativa, não nos parece suficiente. Motivos mais profundos existirão.

De qualquer forma, o Sudário existe. Atravessou os séculos, escapando a inundações, incêndios, perseguições, roubos, ambições. O Sudário existe, apesar dos homens. Aquele semblante, sereno e majestoso, não obstante ferido e ensangüentado, parece nos questionar a todos, vindo do fundo dos séculos. A impressão que se tem ante aquela imagem é que ela, mais que aos olhos, fala-nos à consciência. Talvez para dizer-nos:

- "Eu estive no mundo e não fui reconhecido".

Ou então indagando:

- "Aonde vais?"

maio/1981

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