terça-feira, 2 de novembro de 2010

O poder da palavra e a arma infalível do amor

Jaime Facioli

Não há como negar, no mundo globalizado, já alcançado pelos filhos de Deus, caminho que percorremos com sofreguidão, seguindo os ditames da Lei de Evolução. Utilizamo-nos das palavras, como veículo poderoso de convencimento de outrem, para que comunguem nossos pontos de vista. Inquestionavelmente, o poderoso meio de comunicação pela palavra serve aos despropósitos daqueles cujo caráter não ascendeu à elevação moral anelada pelos candidatos à bem-aventurança dos puros de coração. Usam-na para ferir, escrachar, injuriar e mascarar as intenções das pessoas, carregando o veneno mortal da desdita naquele que faz mau uso desse instrumento. Certamente, essa é uma das razões de se encontrar, no livro Seara dos médiuns, pelo Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, ed. Feb e, no cap. 14 desse livro, intitulado A carta de Tiago, encontra-se o escólio das três questões que não têm volta: a flecha lançada, a palavra falada e a oportunidade perdida. Pronunciada a palavra e, no sentido lato, também o pensamento, não há maneira de fazer com que ela ou ele retornem. É indispensável pensar muito bem, antes de nos pronunciarmos a respeito de um tema, pois, não podendo fazer com que a palavra volte ou nosso pensamento retroceda, teremos que responder pela nossa ação. Indubitavelmente, é a palavra que reflete, de forma segura, o nível moral em que nos encontramos. Com a palavra se propagam as boas obras e se acende a esperança, nos corações amorosos, despertando a fé. Ao fortalecer a fé vacilante, sustenta-se a paz e, concomitantemente, se má empregada, serve para alimentar o vício e a delinquência. Utilizando a palavra, o professor eleva a mente dos seus aprendizes às culminâncias do saber, ensejando aos seus discípulos descortinarem o mundo belo, colorido e consentido. Usando do verbo, o malfeitor arroja infindável número de vítimas do não vigiar, do não orar e do não ter olhos para ver, para o fosso do crime. Conversando, a mãe educa e dulcifica o filho, apontando-lhe os caminhos da honra e do dever. Com a palavra, maus líderes editam leis espúrias, conduzem os povos às guerras cruentas, permitindo que a boca escancarada da morte ceife vidas preciosas. Na contrapartida do exercício do livre-arbítrio, os bons governantes, sinceramente preocupados com seus comandados e responsabilidades, elaboram discursos de paz e se esforçam por concedê-la. O Divino Rabi da Galileia falou, e o Evangelho surgiu como a Boa Nova que todos aguardavam, sofridos e desalentados. Antes d’Ele, a fim de preparar os caminhos, uma voz se ergueu desde o deserto até as margens do rio Jordão, pregando um novo tempo. Um tempo em que as veredas do Senhor seriam aplainadas, e os homens poderiam ouvir o doce cântico de um Rabi. Nas tardes quentes, nas noites amenas, Jesus serviu-Se da palavra para ensinar as verdades do Pai que está nos céus, para manifestar a Sua vontade generosa e curar enfermos. Com Seu verbo e sua logística incomparável, salvou da morte, por apedrejamento, uma mulher que se equivocara, esquecendo dos seus deveres de esposa. Serviu-Se da palavra e pediu perdão ao Pai para os que O crucificaram e, com a palavra da fé, entregou-Se a Deus. O apóstolo Paulo, pela palavra consciente e esclarecedora, levou as boas novas do Reino de Deus a lugares inimagináveis. O Messias deixava-Se inflamar pela inspiração dos céus, que Seu verbo convertia multidões. Gandhi serviu-se da palavra, para convidar a todos os seus irmãos da Índia a se unirem pelo mesmo ideal; seguindo os passos de Jesus, elegeu a não violência como forma de vencer as cizânias da vida. Martin Luther King Jr. Discursou, em nome da paz, desejando que brancos e negros se sentissem irmãos. Quando a guerra civil devastava o solo americano, o Presidente Lincoln usou da palavra de bom ânimo, para levantar a moral dos soldados abatidos pelas derrotas e pelo abandono que acreditavam sofrer. O verbo é sempre a manifestação da inteligência sadia ou enferma. É a base da escrita. E, toda vez que utilizamos a palavra, semeamos bênçãos ou espalhamos tempestades. Desse modo, ainda que trevas e espinheiros se alonguem junto a nós, governemos a emoção e pronunciemos, sempre, a palavra que instrua, console, ajude ou santifique. Aprendamos a calar toda frase que destrua, porque toda palavra que agride é moeda falsa, no tesouro do coração. Sobre o poder da palavra e a forma de combatê-la, há uma história popular que dulcifica os corações amorosos e nos torna cada vez mais sensíveis ao amor, sublime amor. Conta-se que, certo dia, um homem revoltado criou um poderoso e longo pensamento de ódio, colocou–o numa carta rude e malcriada e mandou-a para seu chefe da oficina de onde fora despedido. O pensamento foi vazado em forma de ameaças cruéis. E, quando o diretor do serviço leu as frases ingratas que o ofendiam, acolheu-as, desprevenidamente, no próprio coração, e tornou–se furioso, sem saber a razão. Encontrou, quase de imediato, o subchefe da oficina e, a pretexto de enxergar uma pequena peça quebrada, desfechou sobre ele a bomba mental que trazia consigo. Foi a vez de o subchefe tornar-se neurastênico, sem se dar conta do motivo. Abrigou a projeção maléfica no sentimento, permaneceu amuado várias horas e, no instante do almoço, ao invés de alimentar-se, descarregou na esposa o perigoso dardo intangível. Tão só por ver um sapato imperfeitamente engraxado, proferiu dezenas de palavras chulas; sentiu-se aliviado, e a mulher passou a asilar no peito a odienta vibração, em forma de cólera inexplicável. Repentinamente transtornada pelo raio que a ferira e que, até ali, ninguém soubera remover, encaminhou-se para a empregada que se incumbia do serviço de calçados e desabafou. Com palavras indesejáveis, inoculou-lhe no coração o estilete invisível. Agora era uma pobre menina quem detinha o tóxico mental. Não podendo despejá-lo nos pratos e xícaras ao alcance de suas mãos, em vista do enorme débito em dinheiro que seria compelida a aceitar, acercou-se de velho cão, dorminhoco e paciente, e transferiu-lhe o veneno imponderável, num pontapé de largas proporções. O animal ganiu e disparou, tocado pela energia mortífera e, para livrar-se desta, mordeu a primeira pessoa que encontrou na via pública. Era a senhora de um proprietário vizinho que, ferida na coxa, se enfureceu, instantaneamente, pela vibração amaldiçoada, possuída pela força maléfica. Em gritaria desesperada, foi conduzida a certa farmácia; entretanto, deu-se pressa em transferir ao enfermeiro que a socorria a vibração indesejada. Crivou-o de xingamentos e esbofeteou-lhe o rosto. Rapaz muito prestativo, de calmo que era, converteu-se em fera verdadeira. Revidou os golpes recebidos com observações ásperas e saiu, alucinado, para sua residência, onde a velha e devotada mãezinha o esperava para a refeição da tarde. Chegou e descarregou sobre ela toda a ira de que era portador. – Estou farto! – bradou. – A senhora é culpada dos aborrecimentos que me perseguem. Não suporto mais esta vida infeliz. Fuja da minha frente. O rapaz fez mau uso da palavra e pronunciou nomes terríveis. Blasfemou, gritou colérico, qual louco. A velhinha, porém, longe de agastar-se, tomou-lhe as mãos e disse-lhe, com naturalidade e brandura: – Venha cá, meu filho. Você está cansado e doente. Sei a extensão de seus sacrifícios por mim e reconheço que tem razão para lamentar-se. No entanto, tenhamos bom ânimo. Lembremo-nos de Jesus. O uso que O Divino Jardineiro fez das palavras dulcificadas. Afinal, tudo passa, na Terra. Não nos esqueçamos do amor que o Mestre nos legou. Abraçou-o, comovida, e afagou-lhe os cabelos. O filho demorou-se a contemplar-lhe os olhos serenos e reconheceu que havia, no carinho materno, tanto perdão e tanto entendimento que começou a chorar, pedindo-lhe desculpas. Houve, então, entre os dois, uma explosão de íntima alegria. Jantaram felizes e oraram, em sinal de reconhecimento a Deus. A projeção destrutiva do ódio morrera, ali, dentro do lar humilde, diante da força infalível do sublime amor.

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