domingo, 6 de maio de 2012

O Auxílio Mútuo


Diante  dos  companheiros,  André  leu  expressivo  trecho  de  Isaías  e  falou,  comovido,
quanto às necessidades da salvação.
Comentou Mateus os aspectos menos agradáveis do trabalho e Filipe opinou que é sempre muito difícil atender à própria situação, quando nos consagramos ao socorro dos outros.
Jesus ouvia os apóstolos em silêncio e, quando as discussões, em derredor, se enfraqueceram, comentou, muito simples:
— Em  zona montanhosa,  através  de região  deserta,  caminhavam  dois  velhos  amigos,
ambos  enfermos,  cada  qual  a  defender-se,  quanto  possível,  contra  os  golpes  do  ar  gelado,
quando foram surpreendidos por uma criança semimorta, na estrada, ao sabor da ventania de
inverno.
Um deles fixou o singular achado e clamou, irritadiço: — “Não perderei tempo. A hora
exige cuidado para comigo mesmo. Sigamos à frente”.
O outro, porém, mais piedoso, considerou:
— “Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade”.
— “Não posso — disse o companheiro, endurecido —, sinto-me cansado e doente. Este
desconhecido seria um peso insuportável. Temos frio e tempestade. Precisamos ganhar a aldeia
próxima sem perda de minutos”.
E avançou para diante em largas passadas.
O viajor de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o menino estendido, demorou-se
alguns minutos colando-o paternalmente ao próprio peito e, aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora menos rápido.
A chuva gelada caiu, metódica, pela noite a dentro, mas ele, sobraçando o valioso fardo,
depois de muito tempo  atingiu a hospedaria do povoado que buscava. Com enorme surpresa
porém, não encontrou aí o colega que o precedera. Somente no dia imediato, depois de minuciosa procura, foi o infeliz viajante encontrado sem vida, num desvão do caminho alagado.
Seguindo à pressa e a sós, com a idéia egoística de preservar-se, não resistiu à onda de
frio que se fizera violenta e tombou encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao
congelamento,  enquanto que  o  companheiro, recebendo,  em troca,  o suave  calor  da  criança
que sustentava junto do próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, guardando-se
indene de semelhante desastre. Descobrira a sublimidade do auxílio mútuo... Ajudando ao menino abandonado, ajudava a si mesmo avançando com sacrifício para ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços da senda, alcançando as bênçãos da salvação recíproca.
A história singela deixara os discípulos surpreendidos e sensibilizados.
Terna admiração transparecia nos olhos úmidos das mulheres humildes que acompanhavam a reunião, ao passo que os homens se entreolhavam, espantados.
Foi então que Jesus, depois de curto silêncio, concluiu expressivamente:
— As mais eloqüentes e exatas testemunhas de um homem, perante o Pai Supremo, são
as suas próprias obras. Aqueles que amparamos constituem nosso sustentáculo. O coração que
socorremos  converter-se-á agora  ou mais tarde  em recurso  a nosso favor. Ninguém  duvide.
Um homem sozinho é simplesmente um adorno vivo da solidão, mas aquele que coopera em
benefício do próximo é credor do auxílio comum. Ajudando, seremos ajudados. Dando, receberemos: esta é a Lei Divina.

Espírito: Neio Lúcio
Livro: Jesus no Lar
Psicografado por Chico Xavier

Nenhum comentário: