quarta-feira, 27 de junho de 2012

Um minuto com Chico Xavier



JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DE PAULAdepaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, Paraná (Brasil)


Após o lançamento de seu primeiro livro mediúnico, Parnaso de Além-Túmulo, Chico passou a ser visado pelos críticos literários. Alguns, sem nenhuma piedade o criticando; outros, analisando com mais justiça, até tentando achar uma justificativa para tantos poetas já mortos trazerem trabalhos inéditos com todos os detalhes que os caracterizavam quando entre os encarnados. O fato é que foram momentos muito difíceis para o médium mineiro que de Emmanuel, seu guia espiritual, só recebia exortação à confiança nos amigos do invisível e a lembrança de que sofrendo se aprende.
Um desses críticos, não menos severo, teve a oportunidade de acompanhar um trabalho psicográfico de Chico. Ouçamos a história narrada por Ubiratan Machado em seu livro Chico Xavier, uma vida de amor (editado pelo IDE, de Araras, SP).
A 30 de julho de 1937, Chico teve a oportunidade de exibir seus dons de psicografia a Agripino Grieco. Católico convicto, admirador da Igreja e de seus grandes santos, Grieco era também um crítico implacável, não deixando passar ocasião para fazer uma frase sarcástica, ou apenas irônica. Temor de certos escritores que só ajeitavam o nó da gravata diante daqueles espelhos de aumento.
Naquela data, Chico encontrava-se em casa do professor Cícero Pereira, à Rua Bonfim, 360, em Belo Horizonte, quando foi procurado por um amigo, Bady Curi. Este disse que Agripino Grieco estava à sua espera, pois desejava vê-lo em atividade psicográfica. Chico ponderou que não se devia forçar ninguém a acreditar nos fenômenos mediúnicos. Mas o amigo insistiu tanto, que a recusa se tornou impossível.
Com a mesma habilidade, os amigos de Chico seduziram o crítico e o encontro deu-se num Centro na capital mineira. Salão lotado. Grieco sentou-se ao lado do médium, que não lhe deu impressão de inteligência fora do comum. “Um mestiço magro, meão de altura, com os cabelos bastante crespos e uma ligeira mancha esbranquiçada num dos olhos”, observou.
O orientador do trabalho solicitou que Grieco rubricasse vinte folhas de papel destinadas à escrita do médium. Logo, “com uma celeridade vertiginosa”, o lápis de Chico deslizou pelo papel, “com uma agilidade que não teria o mais desenvolto dos escrivães de cartório”.
À medida que as folhas iam sendo preenchidas, sempre em grafia legível, o crítico ia verificando o conteúdo da mensagem. Primeiro, surgiu um soneto atribuído a Augusto dos Anjos. Em seguida, antes mesmo que o médium concluísse a crônica e apusesse a assinatura do Espírito, Grieco já percebera “que estavam em jogo, bem patentes, a linguagem e o meneio de ideias peculiares a Humberto de Campos”.
Entrevistado por jornais mineiros, Grieco não escondeu seu aturdimento, respondendo com toda honestidade: “Se é mistificação, parece-me muito bem conduzida. Tendo lido as paródias de Albert Sorel, Paul Reboux e Charles Muller, julgo ser difícil (isso o digo com a maior lealdade) levar tão longe a técnica de pastiche. Não sei como elucidar o caso. Fenômeno nervoso? Intervenção extra-humana? Faltam-me estudos especializados para concluir”.
A entrevista de Grieco teve intensa repercussão, mas crítico e médium nunca mais se viram, cada um seguindo seu rumo.

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