quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O desencarne de Chico Xavier

(…) No Mundo Espiritual, nosso irmão Lilito Chaves veio ao nosso encontro e anunciou o que, desde algum tempo, aguardávamos com expectativa: a desencarnação do médium Francisco Cândido Xavier, o nosso estimado Chico. O acontecimento nos impunha rápidas mudanças de planos, improvisamos uma excursão à Crosta para saudar aquele que, após cumprir com êxito a sua missão, retornava à Pátria de origem.

Assim, sem maiores delongas, Odilon, Paulino e eu, juntando-nos a uma plêiade de companheiros uberabenses desencarnados, rumamos para Uberaba no começo da noite daquele domingo, dia 30 de junho. A caminho, impressionava-nos o número de grupos espirituais, procedentes de localidades diversas, do Brasil e do Exterior, que se movimentavam com a mesma finalidade.

Todos estávamos profundamente emocionados e, mais comovidos ficamos quando, estacionando nas vizinhanças do “Grupo Espírita da Prece”, onde estava sendo realizado o velório, com o corpo exposto à visitação pública, observamos uma faixa de luz resplandecente, que, pairando sobre a humilde casa de trabalho do médium, a ligava às Esferas Superiores, às quais não tínhamos acesso.

Conversando conosco, Odilon observou:

— Embora, evidentemente, já desligado do corpo, nosso Chico, em espírito, ainda não se ausentou da atmosfera terrestre; os Benfeitores Espirituais que, durante 75 anos, com ele serviram à Causa do Evangelho, estarão, com certeza, à espera de ordens superiores para conduzi-lo a Região Mais Alta…

De nossa parte, permaneçamos em oração, buscando reter conosco as lições deste raro momento.

Aproximando-nos quanto possível, notamos a formação de duas filas imensas, constituídas de irmãos encarnados e desencarnados, que reverenciavam o companheiro recém-liberto do jugo opressor da matéria: eram espíritos, no corpo e fora dele, extremamente gratos a tudo que haviam recebido de suas mãos, a vida inteira dedicadas à Caridade, na mais fiel vivência do “amai-vos uns aos outros”. Mães e pais que, por ele haviam sido consolados em suas dores; filhos e filhas que puderam reatar o diálogo com os genitores saudosos, escrevendo-lhes comoventes páginas do Outro Lado da Vida; famílias desvalidas com as quais repartira o pão; doentes que confortara agonizantes em seus leitos; religiosos de todas as crenças que, respeitosos, lhe agradeciam o esforço sobre-humano em prol da fé na imortalidade da alma…

Não registramos nas imediações, é bom que se diga, um só espírito que ousasse se aproximar com intenções infelizes. Os pensamentos de gratidão e as preces que lhe eram endereçadas, formavam um halo de luz protetor que tudo iluminava num raio de cinco quilômetros; porém essa luz amarelo-brilhante contrastava com a faixa de luz azulínea que se perdia entre as estrelas no firmamento.

A cena era grandiosa demais para ser descrita e desafiaria a inspiração do mais exímio gênio da pintura que tentasse retratá-la.

Uma música suave, cujos acordes eu desconhecia, ecoava entre nós, sem que pudéssemos identificar de onde provinha, como se invisível coral de vozes infantis, volitando no espaço, tivesse sido treinado para aquela hora.

Espíritos mais simples que passavam rente comentavam:

— “Este é um dos últimos… Não sabemos quando a Terra será beneficiada novamente por um espírito de tal envergadura”; “Este, de fato, procurava viver o que pregava” “Quem nos valerá agora?”;

“Durante muitos anos, ele matou a fome da minha família… Lembro-me de que, certa vez, desesperado, com a ideia de suicídio na cabeça, eu o procurei e a minha vida mudou”; “Os seus livros me inspiraram a ser o que fui, livrando-me de uma existência medíocre”; “Quando minha avó morreu, foi ele quem pagou seu enterro, pois, à época, éramos totalmente desprovidos de recursos”; “Fundei minha casa espírita sob a orientação de Chico Xavier, que recebeu para mim uma mensagem de incentivo e de apoio”; “Comigo, foi diferente: eu estava doente, desenganado pela Medicina, ele me receitou um remédio de Homeopatia e fiquei bom”…

Os caravaneiros não cessavam de chegar, todos portando flâmulas e faixas com dizeres luminosos; creio sinceramente que, em nosso Plano, jamais houve uma recepção semelhante a um espírito que tivesse deixado o corpo, após finda a sua tarefa no mundo; com exceção do Cristo e de um ou outro luminar da Espiritualidade, ninguém houvera feito jus ao aparato espiritual que se organizara em torno do desenlace de Chico Xavier.

Com dificuldade, logrando adentrar o recinto do “Grupo Espírita da Prece”, reparamos que uma comissão de nobres espíritos, dispostos em semicírculo, todos trajando vestes luminescentes, permanecia, quanto nós mesmos, em expectativa. Odilon sussurrou-me ao ouvido:

— Inácio, estas são as entidades que trabalharam com ele na chamada “Coleção de André Luiz”; são os Mentores das obras que o nosso André reportou para o mundo, no desdobramento do Pentateuco Kardequiano:

Clarêncio, Aniceto, Calderaro, Áulus e tantos outros…

— E aqueles que estão imediatamente atrás? — indaguei.

— São alguns representantes da família do médium e amigos fiéis de longa data.

— E onde estão Emmanuel, nosso Dr. Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo? Porventura, ainda não chegaram?…

— Devem estar — respondeu — cuidando da organização…

Ao lado do seu corpo inerte, nosso Chico, segundo a visão que tive, me parecia uma criança ressonando, tranquila, no colo de um anjo transfigurado em mulher, fazendo-me recordar, de imediato, a imagem de “Pietà”, a famosa escultura de Michelangelo.

— Quem é ela? — perguntei.

— Trata-se de D. Cidália, a sua segunda mãe…

— E D. Maria João de Deus?…

— Ao que estou informado — esclareceu Odilon —, encontra-se reencarnada no seio da própria família.

— E seu pai, o Sr. João Cândido?

— Está em processo de reencarnação, seguindo os passos da primeira esposa.

Adiantando-se, nosso Lilito indagou:

— Odilon, na sua opinião, por que o Chico está parecendo uma criança?

— Ele necessita se refazer, pois o seu desgaste, como não ignoramos, foi muito grande, mormente nos
últimos anos da vida física; nosso Chico carece de se desligar completamente. ..

— Perderá, no entanto, a consciência de si?

— É evidente que não. O seu verdadeiro despertar acontecerá gradativamente, à medida que se recupere da luta sem tréguas que travou… Aliás, a Espiritualidade Superior, nos últimos três anos, vinha trabalhando para que a sua transição ocorresse sem traumas, tanto para a imensa família espírita, que o venera, quanto para ele próprio.

Inúmeras caravanas e representações continuavam chegando, formando extensas filas, que se postavam paralelas às filas organizadas pelos nossos irmãos encarnados, a comparecerem ao velório para render a Chico Xavier merecidas homenagens.

Dezenas e dezenas de jovens formavam grupos especiais que vinham recebê-lo no limiar da Nova Vida, gratos por ter sido ele o seu instrumento de consolo aos familiares na Terra, quando se viram compelidos à desencarnação…

A tarefa de Chico Xavier — explicou Odilon, emocionado — não tem fronteiras; raras vezes, a Espiritualidade conseguiu tamanho êxito no campo do intercâmbio mediúnico… No entanto a força que o sustentava nas dificuldades vinha de Cima, pois, caso contrário, teria sucumbido às pressões daqueles que, encarnados e desencarnados, se opõem ao Evangelho. Chico, por assim dizer, ocultou-se espiritualmente em um corpo franzino e deu início ao seu trabalho, sem que praticamente ninguém lhe desse crédito; quando as trevas o perceberam, já havia atravessado a faixa dos vinte de idade e em franco labor, tendo pronto o “Parnaso de Além-Túmulo”, a obra inicial de sua profícua e excelente atividade psicográfica…

Estávamos todos profundamente emocionados. A multidão, dos Dois Lados da Vida, não parava de crescer e, assim como no Plano Físico os policiais cuidavam da organização, na Dimensão Espiritual em que nos situávamos, Entidades diversas haviam sido encarregadas de disciplinar a intensa movimentação, sem que nenhum de nós se sentisse encorajado a reclamar qualquer privilégio com o propósito de uma maior aproximação. Quase todos nos conservávamos em atitude de profundo silêncio e de reverência.

Os grupos de espíritos que haviam, ao longo de seus 75 anos de labor, trabalhado com o médium, com exceção, evidentemente, daqueles que já haviam reencarnado, se faziam representar pelos seus maiores expoentes no campo da Poesia e da Literatura.

Próximas a Cidália, em cujos braços Chico Xavier descansava, à espera de que o cortejo fúnebre
partisse conduzindo os seus restos mortais, notei a presença de algumas entidades femininas que eu não soube identificar.

— Quem são? — perguntei a Odilon, que era um dos poucos dentre nós com plena liberdade de movimentar-se.

— Aquelas quatro primeiras, são as nossas irmãs Meimei, Maria Dolores, Scheilla e Auta de Souza; as demais são corações maternos agradecidos que, em uma ou outra oportunidade, se expressaram pela mediunidade psicográfica do nosso Chico.

— Quem estará na coordenação do evento? — insisti, ansioso por maiores esclarecimentos.

— O Dr. Bezerra de Menezes e Emmanuel, assessorados diretamente por José Xavier — respondeu.

— José Xavier?…

— Sim, o irmão do médium, que está conduzindo um grupo de espíritos amigos de Pedro Leopoldo e região; quando Chico se transferiu para a cidade de Uberaba, em 1959, os seus vínculos afetivos com a sua terra natal não se desfizeram; os espíritas que constituíram o Centro Espírita “Luiz Gonzaga” sempre se sentiram membros de uma única família.

— E aquele casal mais próximo que, de quando a quando, dialoga com Cidália?

— José Hermínio e D. Carmem Perácio; foram eles que iniciaram Chico Xavier no conhecimento da Doutrina Espírita, doando-lhe exemplares de “O Livro dos Espíritos” e de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”…

Pude perceber, com clareza, que os filamentos perispirituais que uniam o espírito recém-desencarnado ao corpo enrijecido, se enfraqueciam gradualmente; sem dúvida, o médium, assim que se lhe cerraram os olhos físicos, desprendeu-se da forma material, no entanto, devido à necessidade de permanecer durante 48 horas exposto à visitação pública, conforme era seu desejo, exigia que o corpo, de certa forma, continuasse a receber suplementos de princípio vital, evitando-se os constrangimentos da cadaverização. Embora aconchegado aos braços daquela que havia sido na Terra a sua segunda mãe e grande benfeitora, o espírito Chico guardava relativa consciência de tudo…

As expectativas de quase todos, porém, se concentravam sobre aquela faixa de luz azulínea, a qual, à medida que se abeirava a hora do sepultamento, se intensificava; tínhamos a impressão de que aquele caminho iluminado era a passagem para uma Dimensão Desconhecida, para a qual, com certeza, Chico Xavier haveria de ser conduzido.

Dentro de poucos instantes, o silêncio se fez naturalmente maior e um venerável senhor, ladeado por Irmão José e Herculano Pires, este um dos vultos mais importantes da Doutrina nos últimos tempos, assomou discreta tribuna e começou a falar.

— Quem é? Perguntei, à meia-voz…

— Léon Denis — respondeu-me Odilon com um sussurro.

— “Meus irmãos — disse o inesquecível discípulo de Allan Kardec — eis que aqui nos encontramos reunidos, para receber de volta ao nosso convívio, aquele que, uma vez mais, cumpriu exemplarmente a missão que lhe foi confiada pelo Senhor de nossas vidas. Elevemos ao Infinito os nossos pensamentos de gratidão e de reconhecimento, porquanto sabemos das dificuldades que o espírito que moureja na carne enfrenta para desbravar caminhos à Verdade; o nosso amigo e mestre que, após longa e desgastante peleja, agora retorna à Pátria Espiritual, se constituiu num verdadeiro exemplo, não somente para os nossos irmãos encarnados, mas igualmente para os que necessitamos renascer no orbe e, por vezes, nos sentimos desencorajados… (…) Um ciclo se encerra, mas outro deve começar (…)”

Passados alguns instantes da alocução proferida por Léon Denis, perfumada aragem começou a soprar, balsamizando o ambiente. De onde será que provinha aquele suave perfume que, aos poucos, se intensificava, impregnando-nos o corpo espiritual? Tínhamos a impressão de que, caindo de Esferas Resplandecentes, aquele orvalho celeste, constituído de diminutos flocos luminosos, antecedia o momento em que o espírito Chico Xavier seria conduzido à ignota região da Vida Sem Fim.

Quando o fenômeno a que tento me referir se fez mais evidente, algumas explosões começaram a ocorrer na extensa faixa de luz azulínea que, agora, ia mudando de tonalidade, como se um arco-íris se estivesse materializando diante dos nossos olhos.

Gradativamente, cinco entidades foram se fazendo visíveis para nós, tangibilizando-se no pequeno espaço que me parecia reproduzir produzir a abençoada estrebaria em Belém…

Os cinco espíritos, que não posso lhes dizer que tenham assumido forma propriamente humana, foram sendo identificados por nós: eram Bezerra de Menezes, Emmanuel, Eurípedes Barsanulfo, Veneranda e Celina, a excelsa mensageira de Maria de Nazaré.

Diante da estupenda visão, todos sentimos ímpetos de nos ajoelharmos; muitos, efetivamente, se ajoelharam, com os olhos banhados de lágrimas.

Bezerra de Menezes, Emmanuel e Eurípedes Barsanulfo estavam, por assim dizer, mais humanizados, no entanto Veneranda e, especialmente, Celina, nos pareciam dois anjos alados, falenas divinas que se tivessem metamorfoseado apenas para que pudéssemos vê-las… Eu tinha a impressão de estar participando de um sonho que transcendesse a mais fértil imaginação.

Adiantando-se aos demais companheiros, Veneranda, que o tempo todo pairava no ar, começou a orar com sentimento que a palavra não consegue traduzir:

— “Senhor da Vida — exorou, sensibilizando-nos profundamente — aqui estamos para receber, de volta ao nosso convívio, um dos Vossos servidores mais fiéis que, após quase um século de lutas acerbas pela causa do Vosso Evangelho na Terra, regressa ao Grande Lar, com a consciência do dever cumprido.

Que as Vossas bênçãos envolvam o espírito naturalmente exaurido, restituindo-lhe as energias que se consumiram de todo por amor do Vosso Nome entre os homens, nossos irmãos! Que do seu extraordinário esforço não se perca, Mestre, uma única gota de suor, das que se misturaram às lágrimas anônimas vertidas por ele no testemunho da Fé.

Que o trabalho de sua profícua existência no corpo físico continue a ser prodigiosa sementeira para as gerações do porvir, apontando o Caminho para quantos anseiam por seguir os Vossos passos…

Senhor, os que tão-somente agora, depois de séculos e século de sombras, nos convencemos da Vossa magnanimidade, vos agradecemos por não terdes consentido que o nosso irmão sucumbisse diante das provas e, em nada, se afastasse da trajetória que lhe traçaste no mundo — sabemos que, nos momentos mais difíceis, sem que nós mesmos pudéssemos perceber, a Vossa mão o sustentava para que não tombasse sob o peso da cruz que lhe pusestes aos ombros… Nós vos louvamos por terdes realizado nele a obra consagrada do Vosso amor, que, um dia, redimirá a Humanidade inteira. E que, agora, ainda unidos ao espírito companheiro que soube transformar-se em exemplo de renúncia e de sacrifício, de desprendimento e de abnegação, possamos dar sequência à tarefa que iniciastes há dois mil anos, da edificação do Reino de Deus sobre a face da Terra!…

Que a claridade sublime das Altas Esferas não nos faça ignorar os vales de sombras dos quais procedemos e nos quais acendestes, para sempre, a Vossa Luz… Que não nos seja lícito o descanso, enquanto o orbe planetário, onde tantas vezes expiamos as nossas faltas, se transfigure em estrela de real grandeza, a fulgir na glória dos mundos redimidos.

Abençoai, Senhor, os nossos propósitos que são os Vossos e que, hoje e sempre, possamos exaltar-Vos o Nome através de nossas vidas!…”

Terminando de orar, Veneranda e Celina se aproximaram de Cidália, que continuava a aconchegar em seu materno coração o espírito que foi nosso Chico, o qual, de quando a quando, estampava cândido sorriso, como se fosse uma criança participando de um sonho bom do qual jamais ousasse acordar.

O silêncio reinante era de tal ordem, que, aos nossos ouvidos, a voz inarticulada da Natureza nos parecia uma sinfonia; de minha parte, confesso-lhes que eu nunca tinha ouvido a música dos astros e nem podia imaginar que o próprio silêncio tivesse voz.

A faixa de luz azulínea que se transformara num arco-íris ainda se mostrava mais viva, e todos permanecíamos na expectativa do que não sabíamos pudesse acontecer.

Direcionando os sentidos, quis ver, naquela hora, como os preparativos para o féretro estavam desenvolvendo-se no Plano Físico e, justamente, quando começou a ser entoada a canção “Nossa Senhora” e os nossos irmãos começaram a movimentar-se, dando início ao cortejo, uma Luz indescritível, descendo por aquele leque iluminado que ligava a Terra ao Infinito — a faixa de luz que ali se instalara logo após ter sido armado o velório no “Grupo Espírita da Prece” —, uma Luz que, para mim, era muito superior à luz do próprio Sol e que me acionava a memória para a lembrança da visão que Paulo teve do Cristo, às portas de Damasco, repetiu com indefinível ternura:

— “Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.

Aquela Extraordinária Visão, que sequer povoava os meus sonhos mais remotos de espírito devedor, estendeu dois braços humanos reluzentes e, quando notei que o Chico em espírito se transferia dos braços de Cidália para aqueles Braços que o atraíam, digo-lhes que, desde quando fui beneficiado com o laurel da razão, não tenho recordação de jamais ter chorado tanto…

Aquela Luz, que se humanizava parcialmente para que pudéssemos vê-la, estreitou Chico Xavier ao peito e depositou-lhe um ósculo santo na fronte e, em seguida, partiu, levando-o consigo, despedindo-se com inesquecível sorriso dos que continuavam presos ao abismo, sentenciados pelo tribunal da consciência culpada.

Foi Odilon que, depois de muito tempo, conseguiu falar, comentando conosco:

— Eu sempre que lia as páginas do Velho Testamento, ficava intrigado e colocava em questão a narrativa de que o profeta Elias fora conduzido ao céu por “um carro de fogo”… Agora sei que não se tratava de força de expressão ou algo semelhante. (…)

Um grande vazio se fez após e, gradativamente, a faixa de luz foi se recolhendo de baixo para cima, à medida em que o cortejo celestial se retirava.

A praça em que nos havíamos reunido já se encontrava praticamente vazia; diversos grupos, procedentes de várias regiões da Espiritualidade, haviam partido e, agora, os curiosos e desocupados de além-túmulo se aproximavam, como que para vasculhar os espólios do concorrido velório…

Contrastando com a luz do corpo espiritual de eminentes entidades, esses outros nossos irmãos se mostravam opacos em seu novo veículo de expressão, dando-me a impressão de que, embora desencarnados, ainda não tinham logrado completa emancipação; muitos caminhavam sem qualquer desenvoltura, qual se fossem doentes com dificuldade para mudar o passo…

Identificando- nos na condição de adeptos do Espiritismo e amigos de Chico Xavier, começamos a ser abordados por aquelas entidades infelizes que, aos meus olhos, se assemelhavam a sobreviventes onde houvesse sido travada intensa batalha. A grande maioria exibia as vestes em farrapos e, além da obscuridade espiritual à qual já me referi, deixavam exalar de si quase insuportável odor…

— Por favor, auxiliem-nos! — disse-nos um deles, adiantando-se aos demais — Estamos convencidos de que, realmente, o mal não compensa… O que vimos acontecer hoje, aqui…

Olhando-me, significativamente, Odilon comentou:

— Quantas bênçãos a vida e a suposta morte de um verdadeiro homem de bem pode espalhar! Quantos não estarão sendo motivados à renovação íntima, ante o episódio da desencarnação do nosso Chico!…
Ele que, no corpo, descerrou caminhos para tanta gente, ao deixar a vestimenta física, prossegue orientando com os seus exemplos os que se desnortearam além da morte. Faz-me recordar o que disse Jesus, no capítulo 12, versículo 24, das anotações de João: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto”…

(Esta descrição foi realizada pelo Espírito Inácio Ferreira, e está presente no livro “Na Próxima Dimensão”, psicografado pelo médium Carlos Alberto Baccelli.)


Um agradecimento especial (e um pedido de desculpas)

Quero vir à público saudar, com infinita emoção e Amor no coração, minha companheira de Vida Terrena, minha namorada e irmã de jornada nesta existência, meu foco de Amor e Luz, Luciana Bizarri, que passa por momentos difíceis desde que seu Pai e sua Mãe, num intervalo de apenas 4 meses, retornaram à Pátria Espiritual, e pelas importantes contribuições dela à este humilde e abandonado blog. Peço para que orem por ela e por seus entes queridos, Eli Bizarri e Denise Rustice Bizarri, e que o seu coração de filha seja confortado com o bálsamo das palavras Daquele que sempre nos consola nas horas de angústia:

"Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve".

Eu amo você, Lu, meu Amor, minha eterna companheira, para sempre.


***

Peço desculpas também a todos os leitores e seguidores deste blog pela falta de constância e comparecimento ao "Entendendo A Doutrina Espírita". Aos poucos, com o tempo, iremos retomar à atividade habitual.


Obrigado pela compreensão


Fernando Romano Menezes

sábado, 20 de junho de 2015

Sobre homens e lobos

marcus-braga

De chapeuzinho vermelho aos três porquinhos, o lobo sempre representou o perigo, a agressividade, a animalidade. Como uma antítese de seu primo domesticado, o cão, figura este animal nas florestas sombrias das lendas, atacando aos incautos que nestas se aventuram.
O lobo vem a se fundir com o ser humano no mito do lobisomem, analisado com maestria por Luís da Câmara Cascudo no seu clássico “Geografia dos mitos brasileiros” (Editora Global, 2002), que trata da lenda de Licaon, rei de Arcádia, que ao tentar matar seu hóspede, Zeus, e recebe como castigo do senhor do Olimpo a sua transformação em um lobo.
As tipologias do homem lobo chegam até a Roma, com as suas festas cultuando o Deus lobo, as lupercais, e daí para a Europa, chegando ao Brasil e a América do Norte pelas vias da colonização, povoando causos e filmes de diversas matizes, no homem que diante da lua cheia se transforma em um híbrido de homem e lobo, carregando uma maldição, um castigo divino, vinculado no Brasil, em especial, a atuações morais, como as relações impuras e o sétimo filho homem de uma mesma família.
André Luis, na obra “Libertação”, psicografia de Chico Xavier, apresenta a licantropia como processo de mutação do períspirito com fins de penalização em um tribunal das trevas, provocado pela ação hipnótica de um algoz, fazendo daquele desencarnado um ser similar a um lobo, pelo menos no seu aspecto espiritual exterior.
Revelando, em um sentido punitivo, a verdadeira natureza daquele espírito, o potencial hipnótico faz com esses espíritos se apresentem animalizados, em casos comuns também nas mesas mediúnicas, como tratado por Hermínio Miranda no seu “Diálogo com as sombras” (Editora FEB).
O lobo figura, assim, como um arquétipo de nossa animalidade, da violência interior do ser humano, que se manifesta como fardo, revelando quem realmente somos, a feição do lobisomem das lendas que nos assustavam nos tempos juvenis, alternando-se entre a humanidade e o seu lado selvagem.
A sentença latina “Homo Homini Lupus”, que significa que “o homem é o lobo do próprio homem”, foi popularizada pelo filósofo inglês Thomas Hobbes, revelando a descrença do pai do Leviatã no homem e na sua natureza, descrença esta corroborada por Sigmund Freud, revelando o conflito da agressividade latente do ser humano e o seu desejo de paz, como dilema fundamental da existência humana.
No contexto espírita esse conflito é entendido como o atavismo que arrastamos de nosso passado reencarnatório, o homem velho, confrontado com o sentimento renovatório do homem novo, que busca a luz. Alternamos, ainda hoje, na crença no ser humano e a sua potencialidade, contrastado na decepção com o homem egoísta e interesseiro de situações reais.
Em tempos de radicalismo, de desejos de ódio e vingança públicos, esse lobo suplanta o ser humano, o racional, o sentimental, em espetáculos de violência e animalidade, nos quais alimentamos esse animal, de forma controlada, mas que por vezes nos escapa as mãos.
Assim, nos encontramos, jornadeiros da evolução, homens sonhadores, castigados pelo fardo de sua natureza lupina, nos surpreendendo a cada noticiário, com mostras de superação e fraternidade, e abismados com crimes hediondos, que nos fazem descrer, pela sua violência, na nossa natureza como espíritos eternos, criados por Deus.
E nessa luta caminhamos, pelo fio da navalha, combatendo a cada dia, a cada ação, o nosso lobo interior. Esse lado primitivo que nos cobra um preço se não o mantemos domado, utilizando a mesma expressão de Kardec, quando este se refere as más inclinações.
Devemos, assim, temer os lobos da floresta negra de nosso ser? Jesus nos disse que nos enviava como ovelhas em meio a lobos rapaces, mas que somente lobos caem em armadilhas de lobos. A nossa fraqueza em dominar nossas tendências nos torna presa fácil das armadilhas expiatórias, dolorosas, mas que nos conduzem a melhoria, pela dor e não pelo amor. Temer, apenas o mal que temos em nós mesmos, como assevera o espírito de André Luiz.
As lendas romanas falavam que o homem que se transformava em lobo, se passados dez anos sem cometer atos violentos, retornava a sua natureza humana, livre da maldição, ilustrando que é possível, na luta diária e persistente, vencer a animalidade inata com o desejo de angelitude. Dia a dia, pedra a pedra, construímos o homem novo!
Mas, para isso, precisamos do auxílio, da palavra amiga, da instituição religiosa e por vezes, do profissional especializado. Sem apoio, torna-se complexo romper o espírito violento como válvula de escape aos nossos conflitos, como forma rápida e simples de resolução de problemas, como combustível de nossa ação mais diretiva, necessária nas medidas exatas.
Não se trata de apologia a implosão interior, do silêncio que se converte na neurose e na somatização por meio da doença, mas sim da valorização da resolução de problemas pelo diálogo, com firmeza, substituindo as explosões de fúria que emergem de nosso lobo interior. A repressão, não. A educação, sim!
Não neguemos o lobo…Saibamos lidar com ele, como símbolo de força e de determinação, com carinho e a paciência que se domestica uma fera, mas com a consciência de sua natureza, como sabem bem os domadores de animais selvagens.
Não existe no mundo real o lobisomem encarnado. Existe sim o homem, lobo do próprio homem, artífice de seus males, construtor de seus avanços, e as armadilhas jogam sobre ele mecanismos que o auxiliam a domesticar esse lobo, que carrega pesaroso em seu coração, atormentando-o ao romper a capa de homem com um uivo sibilante.
O Livro dos Espíritos diz que distamos dos animais o equivalente ao que distamos de Deus (Pergunta 597). Seres híbridos, saídos das fraldas da consciência, lutamos para construir em nós a paz que desejamos para o mundo, nesse chamado planeta de provas e expiações, que pleiteia a regeneração.
A doutrina espírita, com a sua função libertadora de consciências, investida das palavras do meigo nazareno, nos dá pistas de como vencer, no esforço cotidiano do convívio com o próximo, a nossa animalidade latente, para que o exterior reflita o que somos, ou pelo menos o que desejamos ser, espíritos imortais, irmanados pelo amor.
Marcus Vinicius de Azevedo Braga

terça-feira, 5 de maio de 2015

domingo, 26 de abril de 2015

Frase do dia

Alma corajosa não é aquela que se dispõe
 a revidar  golpe recebido e sim
aquela que sabe desculpar e esquecer.

Emmanuel

terça-feira, 21 de abril de 2015

segunda-feira, 30 de março de 2015

Cientistas comprovam a Reencarnação Humana


Desde que o mundo é mundo discutimos e tentamos descobrir o que existe além da morte. 
Desta vez a ciência quântica explica e comprova que existe sim vida (não física) após a morte de qualquer ser humano. 
Um livro intitulado “O biocentrismo: Como a vida e a consciência são as chaves para entender a natureza do Universo” “causou” na Internet, porque continha uma noção de que a vida não acaba quando o corpo morre e que pode durar para sempre. 
O autor desta publicação o cientista Dr. Robert Lanza, eleito o terceiro mais importante cientista vivo pelo NY Times, não tem dúvidas de que isso é possível. 
Além do tempo e do espaço Lanza é um especialista em medicina regenerativa e diretor científico da Advanced Cell Technology Company. No passado ficou conhecido por sua extensa pesquisa com células-tronco e também por várias experiências bem sucedidas sobre clonagem de espécies animais ameaçadas de extinção. 
Mas não há muito tempo, o cientista se envolveu com física, mecânica quântica e astrofísica. Esta mistura explosiva deu à luz a nova teoria do biocentrismo que vem pregando desde então. O biocentrismo ensina que a vida e a consciência são fundamentais para o universo.

É a consciência que cria o universo material e não o contrário. 
Lanza aponta para a estrutura do próprio universo e diz que as leis, forças e constantes variações do universo parecem ser afinadas para a vida, ou seja, a inteligência que existia antes importa muito. Ele também afirma que o espaço e o tempo não são objetos ou coisas mas sim ferramentas de nosso entendimento animal. 
Lanza diz que carregamos o espaço e o tempo em torno de nós “como tartarugas”, o que significa que quando a casca sai, espaço e tempo ainda existem.

A teoria sugere que a morte da consciência simplesmente não existe. Ele só existe como um pensamento porque as pessoas se identificam com o seu corpo. Eles acreditam que o corpo vai morrer mais cedo ou mais tarde, pensando que a sua consciência vai desaparecer também. Se o corpo gera a consciência então a consciência morre quando o corpo morre. Mas se o corpo recebe a consciência da mesma forma que uma caixa de tv a cabo recebe sinais de satélite então é claro que a consciência não termina com a morte do veículo físico. Na verdade a consciência existe fora das restrições de tempo e espaço. Ela é capaz de estar em qualquer lugar: no corpo humano e no exterior de si mesma. Em outras palavras é não-local, no mesmo sentido que os objetos quânticos são não-local.

Lanza também acredita que múltiplos universos podem existir simultaneamente. 
Em um universo o corpo pode estar morto e em outro continua a existir, absorvendo consciência que migraram para este universo. Isto significa que uma pessoa morta enquanto viaja através do mesmo túnel acaba não no inferno ou no céu, mas em um mundo semelhante a ele ou ela que foi habitado, mas desta vez vivo. E assim por diante, infinitamente, quase como um efeito cósmico vida após a morte.


Vários mundos

Não são apenas meros mortais que querem viver para sempre mas também alguns cientistas de renome têm a mesma opinião de Lanza. 
São os físicos e astrofísicos que tendem a concordar com a existência de mundos paralelos e que sugerem a possibilidade de múltiplos universos. 
Multiverso (multi-universo) é o conceito científico da teoria que eles defendem. Eles acreditam que não existem leis físicas que proibiriam a existência de mundos paralelos.

O primeiro a falar sobre isto foi o escritor de ficção científica HG Wells em 1895 com o livro “The Door in the Wall“. Após 62 anos essa ideia foi desenvolvida pelo Dr. Hugh Everett em sua tese de pós-graduação na Universidade de Princeton. Basicamente postula que, em determinado momento o universo se divide em inúmeros casos semelhantes e no momento seguinte, esses universos “recém-nascidos” dividem-se de forma semelhante. Então em alguns desses mundos que podemos estar presentes, lendo este artigo em um universo e assistir TV em outro.

Na década de 1980 Andrei Linde cientista do Instituto de Física da Lebedev, desenvolveu a teoria de múltiplos universos. Agora como professor da Universidade de Stanford, Linde explicou: o espaço consiste em muitas esferas de insuflar que dão origem a esferas semelhantes, e aqueles, por sua vez, produzem esferas em números ainda maiores e assim por diante até o infinito. No universo eles são separados. Eles não estão cientes da existência do outro mas eles representam partes de um mesmo universo físico.

A física Laura Mersini Houghton da Universidade da Carolina do Norte com seus colegas argumentam: as anomalias do fundo do cosmos existem devido ao fato de que o nosso universo é influenciado por outros universos existentes nas proximidades e que buracos e falhas são um resultado direto de ataques contra nós por universos vizinhos.


Alma

Assim, há abundância de lugares ou outros universos onde a nossa alma poderia migrar após a morte, de acordo com a teoria de neo biocentrismo.

Mas será que a alma existe? Existe alguma teoria científica da consciência que poderia acomodar tal afirmação? 
Segundo o Dr. Stuart Hameroff uma experiência de quase morte acontece quando a informação quântica que habita o sistema nervoso deixa o corpo e se dissipa no universo. 
Ao contrário do que defendem os materialistas, Dr. Hameroff oferece uma explicação alternativa da consciência que pode, talvez, apelar para a mente científica racional e intuições pessoais. 
A consciência reside, de acordo com Stuart e o físico britânico Sir Roger Penrose, nos microtúbulos das células cerebrais que são os sítios primários de processamento quântico. Após a morte esta informação é liberada de seu corpo, o que significa que a sua consciência vai com ele. 
Eles argumentaram que a nossa experiência da consciência é o resultado de efeitos da gravidade quântica nesses microtúbulos, uma teoria que eles batizaram Redução Objetiva Orquestrada. 
Consciência ou pelo menos proto consciência é teorizada por eles para ser uma propriedade fundamental do universo, presente até mesmo no primeiro momento do universo durante o Big Bang. “Em uma dessas experiências conscientes comprova-se que o proto esquema é uma propriedade básica da realidade física acessível a um processo quântico associado com atividade cerebral.” 
Nossas almas estão de fato construídas a partir da própria estrutura do universo e pode ter existido desde o início dos tempos. Nossos cérebros são apenas receptores e amplificadores para a proto-consciência que é intrínseca ao tecido do espaço-tempo. Então, há realmente uma parte de sua consciência que é não material e vai viver após a morte de seu corpo físico. 
Dr. Hameroff disse ao Canal Science através do documentário Wormhole: “Vamos dizer que o coração pare de bater, o sangue pare de fluir e os microtúbulos percam seu estado quântico. A informação quântica dentro dos microtúbulos não é destruída, não pode ser destruída, ele só distribui e se dissipa com o universo como um todo.” 
Robert Lanza acrescenta aqui que não só existem em um único universo, ela existe talvez, em outro universo. 
Se o paciente é ressuscitado, esta informação quântica pode voltar para os microtúbulos e o paciente diz: “Eu tive uma experiência de quase morte”.

Ele acrescenta: “Se ele não reviveu e o paciente morre é possível que esta informação quântica possa existir fora do corpo talvez indefinidamente, como uma alma.” 
Esta conta de consciência quântica explica coisas como experiências de quase morte, projeção astral, experiências fora do corpo e até mesmo a reencarnação sem a necessidade de recorrer a ideologia religiosa. A energia de sua consciência potencialmente é reciclada de volta em um corpo diferente em algum momento e nesse meio tempo ela existe fora do corpo físico em algum outro nível de realidade e possivelmente, em outro universo.
E você o que acha? Concorda com Lanza? 
Grande abraço! 

Indicação: Pedro Lopes Martins
Fonte: http://us8.campaign-archive1.com/?u=f50461c962aca1b3e0e942ade&id=58815b63ab