
Considerações doutrinárias sobre o Espírito Napoleão I
Informação reveladora que consta na 1ª edição de “O Livro dos Espíritos”
Estudando as páginas históricas da 1ª edição de Le Livre des Esprits, Livro-Luz lançado pelo ilustre Codificador, em Paris, no sábado, 18 de abril de 1857, encontramos uma valiosa e reveladora informação na Nota XVII de Allan Kardec à questão nº 500, colocada no final dos originais franceses à página 170, traduzindo, em seguida, o último parágrafo, diretamente do francês ao português (o apócope de santo, são, está com minúscula no original francês e de igual maneira o traduzimos):
NOTA XVII DE KARDEC À QUESTÃO nº 500
(...) “Vários Espíritos participaram simultaneamente destas instruções, às quais assistiam, tomando alternadamente a palavra e falando cada um deles em nome de todos. Entre os que animaram personagens conhecidos, citaremos João Evangelista, Sócrates, Fénelon, são Vicente de Paulo, Hahnemann, Franklin, Swedenborg, Napoleão I; outros que habitam as mais elevadas esferas (...).” (Grifo nosso.) (1)
Prestemos muita atenção no último nome: Napoleão I, seguido do número romano (I) que indica o título de imperador dos franceses, cujo governo a História registrou entre os anos 1804 e 1815, período conhecido como o Primeiro Império Francês. (2)
Trata-se do célebre general Napoleão Bonaparte (Ajaccio [Ilha da Córsega], França, 15/08/1769 – Ilha de Santa Helena, Inglaterra, 05/05/1821), que, após os lamentáveis dias do Terror da Revolução Francesa, teve como missão, segundo o Espírito Irmão X,(3) preservar a integridade do território francês (ante a invasão das potências estrangeiras contrárias à República e face à guerra civil na França) para o nascimento de Hippolyte Léon Denizard Rivail que, em 1857, adotaria o pseudônimo de Allan Kardec – o ínclito Codificador do Espiritismo –, o Espírito de escol escolhido por Jesus para trazer à Terra o Consolador Prometido.
Após preservar com sucesso militar as fronteiras francesas e consolidar as conquistas democráticas da 1ª República Francesa (direitos do homem e do cidadão etc.), o general Bonaparte deixou-se levar pela ambição e vaidade, invadindo com seus exércitos outras pátrias (Espanha, Rússia, Áustria, Bélgica etc.), coroando-se imperador dos franceses em 1804, esquecendo a grande tarefa de colocar em prática os ideais da Revolução de 1789: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Napoleão é derrotado primeiramente em 1814, pelos países aliados – Rússia, Áustria e Inglaterra – que tomaram Paris, repondo no trono o rei francês Luís XVIII (irmão de Luís XVI, morto na guilhotina), período conhecido como a Primeira Restauração.
Pelo Tratado de Fontainebleau, Napoleão Primeiro é exilado na Ilha de Elba, donde foge no ano seguinte, retomando o poder imperial, período denominado na História como Os Cem Dias (de 20 de março a 22 de junho de 1815). Após ser vencido definitivamente pelo general inglês Wellington na batalha de Waterloo (Bélgica), em 18 de junho de 1815, Napoleão I é novamente exilado, agora na distante Ilha de Santa Helena, onde desencarnará em 1821, após 6 anos de duro exílio. Esta segunda abdicação de Napoleão faz retornar ao trono o já citado Luís XVIII, período designado como a Segunda Restauração dos Bourbons.
Certamente muito terá pensado Napoleão durante aqueles largos anos no desterro, imposto pela Coroa Britânica. Após ter conquistado muitas terras e povos, e dominar uma grande parte da
Europa, o antigo general deve ter amargado um triste fim como soldado vencido, na estreita visão dos homens, mas com certeza essas horas foram abençoadas para as necessárias e urgentes reflexões do seu Espírito irrequieto.
Considerando que Napoleão I desencarnou em 1821, e sendo que a 1ª edição de O Livro dos Espíritos foi publicada em 1857, Bonaparte teve vários anos (aproximadamente 36) para renovar-se espiritualmente e para volver em si, como se diz na linguagem evangélica, e participar das instruções da Espiritualidade, segundo consta nas páginas históricas da mencionada 1ª edição: (1) Os Espíritos também nos informam que Napoleão foi a reencarnação de Alexandre Magno (356 a.C. – 323) e de César (100 a.C. – 44), os quais, com suas conquistas militares, como célebres generais, mudaram a história política e geográfica da Humanidade.
ESPÍRITO NAPOLEÃO, O DIPLOMATA
A Revista Espírita de setembro 1859, no artigo intitulado: Conversas familiares de Além-Túmulo – O general Hoche (4), nos proporciona a respeito outra importantíssima e reveladora informação dada pelo Espírito Hoche, general que, quando encarnado (1768-1797), era contemporâneo de Napoleão.
Após a evocação de Allan Kardec, o histórico diálogo com o Espírito Hoche se desenvolve em torno da Guerra de Itália (1859, 2ª guerra de independência italiana). O ilustre Codificador pergunta ao Espírito Hoche, através da médium Sra. J...:
O GENERAL HOCHE
(Sociedade – 22 de julho de 1859)
(...) 3. Dissestes a ela que estáveis acompanhando as operações militares da Itália; isso nos parece natural. Poderíeis dizer-nos o que pensais a respeito?
R. – Elas produziram grandes resultados. No meu tempo combatíamos mais longamente.
4. Assistindo a essa guerra, nela desempenhais algum papel ativo?
R. – Não, simples espectador.
5. Como vós, outros generais do vosso tempo lá estiveram convosco?
R. – Sim, bem o podeis imaginar.
6. Poderíeis designar alguns?
R. – Seria inútil.
7. Dizem que Napoleão I achava-se presente, no que não temos dificuldade em acreditar. À época das primeiras guerras da Itália ele era apenas general. Poderíeis dizer-nos se nesta ele via as coisas do ponto de vista do general ou do imperador?
R. – De ambos, e ainda de um terceiro: do de diplomata. (...) (Grifo nosso.)
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, diplomata é aquele que exerce a diplomacia, que é a ciência, a arte e prática das
relações internacionais entre Estados, na hábil negociação dos problemas e das questões diversas entre países em litígio.
Portanto, todo bom diplomata tem como objetivo precípuo chegar ao justo entendimento entre os indivíduos e as nações que eles representam, sendo embaixadores da paz. Então, o Espírito Napoleão I dedicava-se agora à árdua tarefa da diplomacia entre as pátrias e os seus filhos. Antes, como general e imperador, tinha o objetivo de dominar os povos pela força. Agora era a vez da força das idéias e dos ideais superiores que, desde a Espiritualidade, o seu Espírito, renovado pelo sofrimento moral, desejava conclamar os homens à Liberdade, à Igualdade e principalmente à Fraternidade, sendo que este último ideal não fora atingido pela citada Revolução.
Sabemos da extrema prudência e sabedoria de Allan Kardec, virtudes demonstradas em muitas oportunidades no decorrer da sua vida apostólica. Se o insigne Codificador retirou o nome de Napoleão I da 2ª e definitiva edição de Le Livre des Esprits, deve haver tido suas profundas razões, por motivos óbvios e porque, ademais, o estatuto da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas impedia que a atividade política partidária fizesse parte da mesma, por ser uma Sociedade de caráter apolítico.
Não esqueçamos o contexto histórico. O sobrinho de Napoleão I estava no poder político francês à época da Codificação. Tratava-se de Charles Louis Napoléon Bonaparte (Paris, França, 20/04/1808 – Chislehurst [Kent], Inglaterra, 09/01/1873), que, após ser escolhido presidente da França em 1848, traiu os ideais republicanos tornando-se em 1852, imperador dos franceses, com o nome de Napoleão III, inaugurando um novo período chamado Segundo Império Francês, que teve seu desfecho em 1870, ao perder a guerra franco-prussiana.
No final dos Prolegômenos da 2ª e definitiva edição de O Livro dos Espíritos, constam os seguintes nomes no último parágrafo, página XLIII dos originais franceses:
“São João Evangelista, santo Agostinho, são Vicente de Paulo, são Luís, O Espírito de Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, etc., etc.” (5)
O nome de Napoleão I foi retirado dessa lista, assim como o de Hahnemann, sendo adicionados os Espíritos Santo Agostinho, São Luís, O Espírito de Verdade e Platão. Na 1ª edição (com 501 questões e três partes) constam 8 nomes, seguidos pelo pronome indefinido outros, indicando portanto “outros [Espíritos] que habitam as mais elevadas esferas”.
Na 2ª e definitiva edição (com 1019 questões e quatro partes) constam 10 nomes, seguidos das importantíssimas abreviaturas etc. etc., que indicam que mais Espíritos participaram das instruções da Espiritualidade, e temos a certeza de que Napoleão I e Hahnemann se encontram entre eles, assim como tantos outros numes anônimos.
Com as considerações doutrinárias deste artigo, tivemos o intuito de registrar mais uma importante individualidade que fez e que faz parte dos anais da Espiritualidade: o Espírito Napoleão I.
Referências:
(1). KARDEC, Allan. Le Livre des Esprits. 1ª edição, 176 páginas. Paris: E. DENTU, 18/04/1857. Palais Royal, Galerie d'Orléans, 13. Tradução de Enrique Eliseo Baldovino do último parágrafo da p. 170.
(2). KARDEC, Allan. Revista Espírita: Periódico de Estudos Psicológicos. CEI: 2009, ano II. Julho de 1859, traduzida do francês ao espanhol por Enrique E. Baldovino, junto das pesquisas extraídas das notas do tradutor 153 e 231 sobre o Espírito Napoleão I e o general Hoche, respectivamente.
(3). XAVIER, Francisco C. Cartas e Crônicas. Pelo Espírito Irmão X. 8ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991. Cap. 28 (Kardec e Napoleão), pp. 121-127.
(4). KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. Ano II. Setembro de 1859. 4ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, pp. 364-368.
(5). KARDEC, Allan. Le Livre des Esprits. 2ª edição, inteiramente refundida e consideravelmente aumentada, 475 páginas. Paris: DIDIER ET Cie, 1860. Palais Royal, Galerie d'Orléans, 31. Reprodução fotomecânica pelo IDE, edição da FEB, Rio de Janeiro, 1998.
Alexandre, César, Napoleão. Eh, que espírito, hein? Parece que não vai sossegar enquanto não dominar o mundo inteiro... não aprende!!!
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