domingo, 5 de março de 2017

O filho pródigo e a lição do Amor Maior

Ainda não conseguimos perdoar profundamente e nos felicitarmos com o resgate do outro.

A Parábola do Filho Pródigo é uma das mais intrigantes do Evangelho. Quando mais jovem, não conseguia entender aquela situação que premiava um irresponsável arrependido em detrimento de um dedicado e confiável filho. Certamente, muitos hoje ainda se espantam e se perguntam como podia Jesus chancelar tamanha injustiça, apesar de guardarem para si essa profana opinião.

Esse tema é incômodo, pois fala de nós mesmos, da nossa visão do mundo e da espiritualidade. Como toda parábola evangélica, é um mecanismo de autoconhecimento e de revelação sobre quem a interpreta. Mostra como a nossa visão ainda é carente de amor, de um amor maior, que perdoa profundamente e se felicita com o resgate do outro, humano, independentemente do caminho por ele adotado.

Um amor que vê a todos como irmãos. Um amor maior que ainda estamos distantes de vivenciar, vendo na justiça e no mérito instrumentos de exclusão, quando o Cristo nos ensina que a finalidade da criação é a sublimação dos espíritos e não apenas vencer.

A estrada da evolução não é uma corrida de carros na qual buscamos o troféu da primeira colocação. A caminhada é em rede, crescendo e aprendendo juntos como irmãos, ao seu tempo. Assim, como integrantes dessa geração espiritual, crescemos rumo ao amor maior. Levantando um aqui, sendo acolhido ali, todos alistados na longa trajetória direcionada à luz.

A frase do pai ao final da parábola: “Entretanto cumpria regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu irmão era morto e reviveu, estava perdido e se achou”, é a chave do entendimento de como funciona a misericórdia divina, pois a redenção, o resgate, é a vitória aos olhos da vida espiritual. Tudo é prova, tudo é desafio, e crescemos em cada uma delas com nossos irmãos, e não solitários como se estivéssemos no cockpit de um carro de corrida.

Em tempos de egoísmo galopante, de exaltação da competitividade diante da cooperação, e de uma maximização do mérito como resolução de todas as questões, pela falta de percebermos esse amor maior, vemos ainda como não desvendada a parábola do filho que dilapida sua parte dos bens, mas que pela dor encontra o crescimento. O outro filho evoluiu pelo amor. Talvez em outras lutas, que virão, o papel dos filhos se inverta.

Nós, espíritas, que pela letra de Kardec entendemos Deus como infinitamente justo e bom, temos nessa parábola uma visão harmonizada com esses entendimentos, para que tenhamos uma visão da justiça e do mérito que considere o amor como mola mestra da vida. Fugir disso é o olho por olho que Jesus, pelas suas próprias palavras, indicou como inadequado para os novos tempos chegados. E isso tem mais de dois mil anos!

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com

Fonte: https://www.oclarim.org/oclarim/materias/5159/jornal/2017/Marco/o-filho-prodigo-e-a-licao-do-amor-maior.html

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