por Marta Antunes de Moura
Categorizados por Allan Kardec como fenômenos de emancipação da alma, o sono e os sonhos são indicativos de que o Espírito encarnado nunca está inativo, ainda que mantido ligado ao corpo físico pelo perispírito:
Durante o sono, apenas o corpo repousa, pois o Espírito não dorme; aproveita-se do repouso do corpo e dos momentos em que a sua presença não é necessária para atuar isoladamente e ir aonde quiser, no gozo então da sua liberdade e da plenitude das suas faculdades. Durante a encarnação, o Espírito jamais se acha separado completamente do corpo; qualquer que seja a distância a que se transporte, conserva-se preso sempre ao corpo físico por um laço fluídico , que serve para lembrá-lo de retornar a este, desde que a sua presença ali se torne necessária. Somente a morte rompe esse laço.[1]
O resultado imediato do sono é o sonho, conceituado pelos orientadores da Codificação Espírita como “(…) a lembrança do que o vosso Espírito viu durante o sono. Notais, porém, que nem sempre sonhais, porque nem sempre vos lembrais do que vistes ou de tudo o que vistes. (…).”[2]
Todas as pessoas sonham, uma vez que o Espírito continua em plena atividade enquanto o corpo físico dorme. Apenas não se recordam dos acontecimentos ocorridos na outra dimensão da vida: “(…) como o corpo é matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões que o Espírito recebeu, já que tais impressões não chegaram ao Espírito por meio dos órgãos do corpo.”[3]
A relativa liberdade adquirida pelo Espírito encarnado durante o sono apresenta, contudo, algumas características que merecem ser assinaladas.
– Ampliação das faculdades psíquicas: “ (…) Sabei que, quando o corpo repousa, o Espírito tem mas faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire mais poder (…).”[4]
Os sonhos são efeito da emancipação da alma, que se torna mais independente pela suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de clarividência indefinida, que se estende aos lugares mais distantes ou que jamais viu (…).[5]
– O sono é treino para a desencarnação: “O sono liberta a alma parcialmente do corpo. Quando dorme, o homem se acha momentaneamente no estado em que ficará de forma definitiva depois da morte. (…).”[6]
– O sono viabiliza o encontro com entes queridos e com os bons Espíritos
Por efeito do sono, os Espíritos estão sempre em relação com o mundos dos Espíritos (…) O sono é a porta que Deus lhes abriu para entrarem em contato com seus amigos do Céu; é o recreio depois do trabalho, enquanto esperam a grande libertação, a libertação final, que os restituirá ao meio que lhes é próprio.[7]
– O sono possibilita oportunidades de progresso espiritual: “(…) quando dormem, vão para junto dos seres que lhes são superiores; viajam, conversam, conversam e se instruem com eles. Trabalham mesmo em obras que encontram prontas ao morrerem. (…).”[8]
– Pelo sono os Espíritos imperfeitos buscam os seus afins, a eles se integrando
[Os Espíritos](…) vão, enquanto dormem, ou a mundos inferiores à Terra, onde os chamam velhas afeições, ou em busca de prazeres talvez ainda mais baixos do que os que têm aqui; vão beber doutrinas ainda mais vir, mais ignóbeis, mais nocivas do que as que professam entre vós. E o que gera a simpatia na Terra não é outra coisa senão o fato de sentir-se o homem, ao despertar, ligado pelo coração àqueles com quem acaba de passar oito ou nove horas de felicidade ou de prazer. O que também explica essas antipatias invencíveis é o fato de sentirmos intimamente que essas pessoas têm uma consciência diversa da nossa, porque as conhecemos sem nunca as termos visto com os olhos. É também o que explica a indiferença de muitos homens, que não procuram conquistar novos amigos, por saberem que há outros que os amam e os querem. Numa palavra: o sono influi mais do que pensais na vossa vida.[9]
À medida que a pessoa desenvolve a capacidade de lembrar-se dos sonhos — há orientações médicas e psicológicas a respeito —, os sonhos se tornam mais nítidos. Surgem, então, com frequência cada vez maior, os chamados sonhos espíritas, assim denominados pela lucidez e coerência das lembranças. Esta situação é de grande valia para o encarnado, auxiliando-o em seu progresso espiritual.
Os avisos por meio dos sonhos desempenham grande papel nos livros sagrados de todas as religiões. (…) É com frequência a ocasião que os Espíritos protetores aproveitam para se manifestar a seus protegidos e lhes dar conselhos mais diretos. São numerosos os exemplos autênticos de avisos por sonhos; porém, não se deve concluir daí que todos os sonhos são avisos, nem, ainda menos, que tudo o que vê em sonho tem uma significação qualquer. Deve-se incluir a arte de interpretar os sonhos no rol das crenças supersticiosas e absurdas.[10]
Referência Bibliográfica
[1]. KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. Pt. 1, cão. IV, it. 24, pág. 74/75.
[2]. _____. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4ª ed. 1ª imp. Questão 401, pág. 209. Brasília: FEB Editora, 2013.
[3]. ____. Questão 403, pág. 210.
[4]. ____. Questão 402, pág. 207.
[5]. ____. Pág. 209.
[6]. ____. Pág. 208.
[7]. ____. Pág. 209.
[8]. ____. Obras Póstumas. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. Pt. 1, cap. IV, it. 24, pág. 75.
[9]. ____. Pág. 75/76.
[10]. ____. A Gênese. Os Milagres e as predições. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. Cap. XV, it. 3, pág.265.
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