por Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Essa indagação inicial remete à ideia de que a escolha acertada é puramente racional, descontextualizada, mas percebe-se que as nossas escolhas são fruto de um longo processo, imerso nas teias da reencarnação, com dependência da trajetória e forças atávicas que arrastamos, e que fazem com que a escolha pelo caminho do bem não seja apenas um momentâneo querer, mas um esforço e luta constante.
1- Meu sonho de moço
Na juventude, tem-se o momento da vida no qual alimentamos a ideia de um mundo melhor, no qual o nosso potencial fraterno floresce, necessitando ser regado para se manter na existência. Por isso a beleza e a importância dos trabalhos com a juventude espírita.
Mas esse desejo de um mundo melhor vai se enfraquecendo, no contato com a realidade, com as dificuldades da vida, carecendo da visão da reencarnação, que nos permite entender que esses avanços se dão de forma lenta e gradual, com avanços que por vezes parecem atrasos. A esperança precisa ser cultivada.
2- O caminho do bem
Por isso, o caminho do bem é a porta estreita, mais difícil, posto que ainda estamos em um estágio evolutivo atrasado, na faixa das provas e expiações, e por vezes subestimamos o estágio evolutivo da raça humana encarnada, e nos surpreendemos do que ainda somos capazes.
Para o caminho do bem, é preciso viver no mundo sem ser do mundo, compreendendo os contextos nos quais os avanços são possíveis, e como eles podem se dar. Mas como saber se estamos no caminho do bem? A regra áurea de Jesus, de fazer ao próximo o que se deseja a si mesmo é uma boa medida, no sentido de que nos insere no mundo, em um esforço evolutivo que é pessoal, mas que depende dos outros.
3- As pedras que arrastamos
Mas seguir por essa porta estreita é difícil, pesaroso, e não é um ato de momento. É um processo, que gera tensões entre o nosso sonho de moço e a realidade espiritual em que nos encontramos.
Apesar da carne não ser fraca, e sim o espírito, não podemos desprezar as forças da matéria a nos acorrentar. São muitos os chamamentos, o homem velho que habita em nós, rodeado de antigos amigos e hábitos que nos pressionam continuamente sobre o que devemos fazer.
Como dito por Paulo de Tarso na sua Carta aos Romanos, “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo”, e nessa tensão vem a culpa, o sentimento de inferioridade que nos congela nesse processo evolutivo.
4- Não olhar para trás
Jesus deu a senha ao asseverar que “todo aquele que pega na charrua e olha para trás não serve para o reino de Deus”. Nesse sentido, é preciso nos lembrar de nossa dimensão humana, e sem heroísmos ou ídolos de pés de barro, percebermos os avanços realizados e que a própria consciência do nosso estado evolutivo já é progresso.
Ficar preso aos fracassos tem o potencial de estagnar a nossa caminhada, nas teias do remorso. Para isso temos a bênção do esquecimento, o reinício pela nova encarnação, para começar de novo, sem, no entanto, partir do zero.
O que nos impede de escolher o amor é o nosso passado, que compõe o nosso eu. É também a nossa culpa, paralisante. E a nossa falta de compreensão de que o caminho é longo, com flores e pedras, e que se faz passo a passo, nas sucessivas vidas, na longa jornada da evolução. (1)
(1) Artigo oriundo da palestra proferida em abril de 2018 no evento “Praça florida de livros”, em Petrópolis-RJ.
Fonte: O Consolador
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