terça-feira, 12 de outubro de 2010

O divórcio e as emoções

José Luiz Condotta

Para reportar sobre o divórcio, obrigatoriamente, tem-se que considerar o casamento, definido como a união solene entre duas pessoas de sexos diferentes, com legitimação religiosa e/ou civil (1) e algumas das bases de sua sustentação.
Casamento: valores, responsabilidades, amor e sexo
Para Kardec (2): “o casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna”. Emmanuel (3) reporta que “o matrimônio na Terra é sempre uma resultante de determinadas resoluções, tomadas na vida do Infinito, antes da reencarnação dos espíritos, razão pela qual os consórcios humanos estão previstos na existência dos indivíduos, no quadro das provas expiatórias, ou no acervo de valores das missões que regeneram e santificam”. Isso está concordante com que André Luiz (4) diz: “ninguém se reúne em casamento humano, no mundo, sem o vínculo do passado, e esse vínculo, quase sempre, significa débito do Espírito ou compromisso vivo e delongado no tempo”. É uma nova etapa na vida e deve ser encarado como uma experiência para adquirir valores que, de modo algum, são produtos ou imposições de ordem social, mas, sim, frutos da manifestação do espírito, para se adaptar às leis da vida. O engrandecimento do espírito está na direta razão da ampliação e compreensão desses valores, adquiridos nas diferentes fases da vida.
O casamento é também um ato de responsabilidade e esta é imperiosa, implica o interesse, o desejo, a vontade, os valores e as ações do ser encarnado, num encadeamento que deve ser positivo.
O balaústre principal do matrimônio é o amor, que pode ser definido como a somatória de todos os sentimentos que estruturam o pensamento para a liberação de uma energia, a guiar para o sentido do bem e a dirigir para as formas superiores da vida. Não se pode confundir o amor com o sexo. Este é apenas uma função construtora do comportamento, resultante das forças que atuam sobre ele que, se não forem as do amor, não visam o bem, e passa a ser experienciado como algo não construtivo para o espírito que, na sua marcha evolutiva, terá que se corrigir. No casamento, o sexo deve ter o sentido de troca, positiva e duradoura, de sensações (da matéria) e vibrações fluídicas (do espírito), acasaladas sempre com o sentimento do amor. É o corpo e a alma indissociáveis, mas equilibrados. André Luiz (5) nos enriquece, quando diz: “o instinto sexual não encontra a alegria completa senão com outro ser que demonstre plena afinidade, porquanto sobre a liberação de energia, do ponto de vista emotivo, solicita compensação de força igual, na escala das vibrações magnéticas”.
Entendemos, assim, que o amor e o sexo são energias que entram na associação dos seres humanos, são faculdades do espírito e devem ser vividas com responsabilidade, segundo os valores que dirigem o espírito às conquistas superiores.
O matrimônio deve ser, para os cônjuges, um equilíbrio das forças do corpo e das forças da alma. No mundo materialista, adquirir esse equilíbrio tem sido difícil para a maioria, pois, ora a parte física fala mais alto, ora a parte espiritual reclama a ausência dessa união, através da própria consciência, ao acusar tal desequilíbrio. Diante dessa desarmonia, faltará a solidariedade fraterna, citada por Kardec.
Divórcio e a Saúde Emocional
Divórcio significa a dissolução do vínculo matrimonial (1). Para Kardec (6): “é a lei humana que tem por objeto separar legalmente o que já, de fato, está separado”.
Na prática psiquiátrica de longos anos, notamos que os casamentos constituídos, que não consideraram os ensinamentos da Lei do Amor, por qualquer motivo, ocorrendo à deserção de um, ou dos dois cônjuges, do dever a cumprir, foram fontes de intensos sofrimentos, chegando a ocasionar sérios distúrbios emocionais. São os chamados casamentos infelizes. Quanto aos divórcios, observamos que ocorreram por consórcios realizados visando fatores desfavoráveis, tanto materiais como espirituais (catalogados assim, quando o médico tem uma visão espiritista).
Como fatores materiais, os mais comuns são: interesses pessoais, independência do jugo paterno, instabilidade financeira, atração física somente, agressões, infidelidade, doenças e outros. Dentre os fatores espirituais, e podemos chamá-los de psicoespirituais, numeramos: a imaturidade, necessidade de afirmação, instabilidade e doença emocional, falta de senso moral, falta de conhecimento e seguimento das leis de Deus. Ressaltamos que o orgulho, a vaidade, a prepotência e o egoísmo imperaram dentro de todos esses fatores.
Nem todo casal passa por perturbações significativas, frente à separação, quando a encaram de forma responsável e com a consciência das suas próprias limitações e condições biopsicoespirituais; mas, o divórcio foi a causa de sérios distúrbios emocionais em um ou nos dois cônjuges, mais comumente naquele que não desejava o rompimento.
Os sintomas psicopatológicos foram os mais variáveis. Sobressaíram os depressivos, onde a tristeza e a baixa autoestima, associados a outros sintomas negativos, mostraram todo o sofrimento da alma, pela insegurança, desesperança, perda da fé, desconfiança, angústia, culpa, mágoa, arrependimento, raiva, vingança e a falta do perdão. Não raramente defrontamos com ideias suicidas.
Os sintomas apareceram, em alguns casos, também no cônjuge que pediu a separação, quando se arrependeu do ato cometido; comumente, sintomas depressivos, decorrentes da culpa e arrependimento.
Além dos cônjuges, muitos filhos de casamentos desfeitos também sofreram os seus efeitos e os transtornos apareceram em larga escala e estavam diretamente ligados com a idade. Os mais comuns: baixo rendimento escolar, insegurança, ações violentas, delinquência, vícios, depressão e isolamento. Dificilmente uma criança ou adolescente mostraram a capacidade para entender o ocorrido, evidentemente por lhe faltar maturidade.
Para os sintomas intensos, tornou-se necessário o tratamento psicofarmacológico, para amenizá-los. Combatemos os efeitos (sintomas), mas não a causa (o que provoca os sintomas). Para o tratamento da causa, procuramos levar o indivíduo a reconhecer que o seu sofrimento decorre de uma situação construída com a sua participação. Procurar, na psicoterapia, ajudá-lo nessa conscientização e rever suas atitudes perante a vida, os seus valores, as responsabilidades, os sentimentos e suas imperfeições, e como contribuíram para o seu divórcio. Numa etapa seguinte, já com um ajustamento da visão sobre a situação, levá-lo a programar uma nova forma de viver (reprogramação), a partir das recordações experienciadas e agora aprendidas.
Visão da Doutrina Espírita
A Doutrina Espírita não vê o divórcio contrário à lei de Deus, mas como uma lei humana, que é aplicada quando os cônjuges desconsideraram a lei divina, transgrediram-na, deixaram de cumprir as promessas e faltaram com a responsabilidade, dentro daquilo que escolheram, pelo livre-arbítrio. Assim, os envolvidos terão débitos, como acontece para todo ato irresponsável praticado na vida.
André Luiz (7) nos ensina: “os matrimônios terrestres se efetuam na base de programas de trabalho previamente estabelecidos, seja em questão de benefício geral ou de provas legítimas, mas o divórcio é dificultado, nas esferas superiores, por todos os meios lícitos; contudo, em muitos casos é permitido e prestigiado...” Reporta, ainda, André Luiz (4): “o homem e a mulher podem provocar o divórcio e obtê-lo, como sendo o menor dos piores males que lhes possam acontecer... Ainda assim, não se liberam da dívida em que se acham incursos, cabendo-lhes voltar ao pagamento respectivo, tão logo seja oportuno”.

Bibliografia
1- Minidicionário Aurélio.
2- Kardec. A. O Livro dos Espíritos.167ª ed. Araras: IDE,2006.
3- Xavier F.C. (Espírito Emmanuel). O Consolador. 28ª ed. FEB, 2008.
4- Xavier F.C. (Espírito André Luiz). Ação e Reação. 27ª ed. FEB, 2006.
5- Xavier F.C., Vieira W. (Espírito André Luiz). Evolução em Dois Mundos. 24ª ed. FEB,2006.
6- Kardec A. O Evangelho segundo o Espiritismo.17ª ed. São Paulo: Lake,1978.
7- Xavier F.C. (Espírito André Luiz). Sexo e Destino. 32ª ed. Rio de Janeiro: FEB,2007.

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