domingo, 20 de dezembro de 2020

Espiritismo e respeito à diversidade humana

 

Em tempos que nos pedem reflexão e consciência sobre o preconceito, a Doutrina Espírita nos traz palavras esclarecedoras para o nosso trabalho de autoaperfeiçoamento e convivência pacífica. Ante a lição de que somos todos irmãos, celebremos a diversidade humana com respeito e fraternidade, com a riqueza das palavras a seguir.

“Allan Kardec encontrou, nos princípios da Doutrina Espírita, explicações que apontam para leis sábias e supremas, razão pela qual afirmou que o Espiritismo permite “resolver os milhares de problemas históricos, arqueológicos, antropológicos, teológicos, psicológicos, morais, sociais, etc.” (Revista Espírita, 1862, p. 401).

De fato, as leis universais do amor, da caridade, da imortalidade da alma, da reencarnação, da evolução constituem novos parâmetros para a compreensão do desenvolvimento dos grupos humanos, nas diversas regiões do Orbe.

Essa compreensão das Leis Divinas permite a Allan Kardec afirmar que:
[…] o Espiritismo, restituindo ao Espírito o seu verdadeiro papel na Criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, faz com que desapareçam, naturalmente, todas as distinções estabelecidas entre os homens, conforme as vantagens corporais e mundanas, sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos de cor. (Revista Espírita,1861,p. 432.)

Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que prime, em lógica, ao fato material da reencarnação. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade. (A Gênese, cap. I, item 36, p. 42-43. Vide também Revista Espírita,1867, p. 373.)

Nós trabalhamos para dar a fé aos que em nada creem; para espalhar uma crença que os torna melhores uns para os outros, que lhes ensina a perdoar aos inimigos, a se olharem como irmãos, sem distinção de raça, casta, seita, cor, opinião política ou religiosa; numa palavra, uma crença que faz nascer o verdadeiro sentimento de caridade, de fraternidade e deveres sociais. (KARDEC, Allan. Revista Espírita de 1863 – 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. – Janeiro de 1863.)” (1)

“Em diversos pontos de sua obra, o codificador Allan Kardec se refere aos Espíritos encarnados em tribos incultas e selvagens, então existentes em algumas regiões do Planeta, e que, em contato com outros polos de civilização, vinham sofrendo inúmeras transformações, muitas com evidente benefício para os seus membros, decorrentes do progresso geral ao qual estão sujeitas todas as etnias, independentemente da coloração de sua pele. […]

Na época, Allan Kardec sabia apenas o que vários autores contavam a respeito dos selvagens africanos, sempre reduzidos ao embrutecimento quase total, quando não escravizados impiedosamente. É baseado nesses informes “científicos” da época que o Codificador repete, com outras palavras, o que os pesquisadores Europeus descreviam quando de volta das viagens que faziam à África negra. Todavia, é peremptório ao abordar a questão do preconceito racial:

O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XVII, item 3, p. 348.) […]

Feitas essas considerações, é lícito concluir que na Doutrina Espírita vigora o mais absoluto respeito à diversidade humana, cabendo ao espírita o dever de cooperar para o progresso da Humanidade, exercendo a caridade no seu sentido mais abrangente (“benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas”), tal como a entendia Jesus, nosso Guia e Modelo, sem preconceitos de nenhuma espécie: de cor, etnia, sexo, crença ou condição econômica, social ou moral. “ (2)

(1) NOTA EXPLICATIVA na Revista Espírita de 1859, mês de dezembro.
(2) KARDEC, Allan. Obras póstumas.


Fonte: FEB.

Liberdade e Responsabilidade

Marta Antunes de Moura

Liberdade significa o direito de agir segundo a própria vontade ou livre arbítrio, desde que pessoas ou instituições não sejam prejudicadas. Daí os orientadores informarem, em O Livro dos Espíritos, que não existe liberdade absoluta, mas relativa: “[…] porque todos precisais uns dos outros, tanto os pequenos como os grandes.” Complementam esse pensamento ao afirmarem que o limite da liberdade individual está restrito à liberdade do outro: “[…] Desde que dois homens estejam juntos, há entre eles direitos a serem respeitado e, portanto, nenhum deles gozará de liberdade absoluta.” Mesmo a liberdade de pensar que, no primeiro momento, nos dá sensação de ser ampla e infinita, percebemos que os nossos pensamentos fazem vinculações com outros pensamentos, pelos processos naturais das afinidades e sintonias, condições que podem ampliar, ou não, o grau da nossa liberdade.

A adequada compreensão desse teor de ideias ensina-nos como agir corretamente nos diferentes níveis do relacionamento humano: familiar, profissional, social, institucional, religioso etc., visto que a liberdade de pensar, falar e agir, além de ser restritiva em si mesma, desencadeia consequências, boas ou más, no tempo e no espaço, pois, como esclarece o lúcido benfeitor Emmanuel, o pensamento é produto do ser pensante, da sua mente:

A mente é o espelho da vida em toda parte.
[…]
Nos seres primitivos, aparece sob a ganga do instinto, nas almas humanas surge entre as ilusões que salteiam a inteligência, e revela-se nos Espíritos aperfeiçoados por brilhante precioso a retratar a Glória Divina.
Estudando-a de nossa posição espiritual, confinados que nos achamos entre a animalidade e a angelitude, somos impelidos a interpretá-la como sendo o campo de nossa consciência desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar.
Definindo-a por espelho da vida, reconhecemos que o coração lhe é a face e que o cérebro é o centro de suas ondulações, gerando a força do pensamento que tudo move, criando e transformando, destruindo e refazendo para acrisolar e sublimar.

O atual estágio evolutivo da humanidade terrestre demonstra que o indivíduo já possui um certo domínio sobre os seus atos instintivos e que a sua inteligência está mais aperfeiçoada, decorrente da aquisição de conhecimentos intelecto-morais ao longo das experiências reencarnatórias e nos estágios ocorridos no plano espiritual. Assim, já não se justifica o desconhecimento da utilização de certos princípios, sobretudo os de natureza moral e ético, que regulam as relações interpessoais ─ definidas como a forma de nos relacionamos com o próximo.

Tudo isso nos conduz à certeza de que a liberdade de agir, por mais insignificante que seja a sua manifestação, apresenta consequências, a curto, médio e longo prazos. Surge, então, a necessidade premente de agir com responsabilidade.

A noção de responsabilidade está apoiada nos preceitos éticos e morais que a sabedoria do Evangelho de Jesus sintetiza em suas lições, das quais extraímos apenas dois ensinamentos para a nossa reflexão imediata:

O primeiro é: […] Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento, e com toda a tua força. E o segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior do que este […]. Marcos, 12: 29-3.
Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas. Mateus, 7: 12.

Revela um certo grau de maturidade espiritual, o indivíduo que estabelece como norma comportamental associar a liberdade com a responsabilidade, antes de tomar qualquer decisão. Essa forma de agir, moralmente correta, representa o que se conceitua como liberdade de consciência ─ essa voz íntima, lúcida e mansa, que a providência divina marcou todos os seres humanos para auxiliá-los a evoluir. 

A liberdade de consciência nos transforma em pessoas melhores, aptas a pôr em prática a lei de justiça, amor e caridade: “[…] A liberdade de consciência é uma das características da verdadeira civilização e do progresso.” 
A benfeitora Joanna de Ângelis revela o segredo dos bons relacionamentos, a partir de conhecida história popular:

Uma velha fábula conta que, numa já remota era glacial, os porcos-espinhos sentiram-se ameaçados de destruição pelo frio que reinava em toda a parte. Por instinto, uniram-se e conseguiram sobreviver em razão do calor que irradiavam. Não obstante, pelo fato de estarem próximos, uns dos outros, passaram a ferir-se mutuamente, provocando reações inesperadas, quais o afastamento deles. Como consequência da decisão, todos aqueles que se encontravam distantes passaram a morrer por falta de calor. Os sobreviventes, percebendo o que acontecia, reaproximaram-se, agora, porém, conhecedores dos cuidados que deveriam manter, a fim de não se magoarem reciprocamente. Graças a essa conclusão feliz, sobreviveram à terrível calamidade. 

Joanna acrescenta, como conclusão: “Trata-se de excelente lição para uma feliz convivência, um produtivo relacionamento […].”




REFERÊNCIAS 
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 9. imp. Brasília: FEB, 2020. Q. 825, p. 357.
Q. 826, p. 357.
XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 19 ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. 1, p. 9.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 9. imp. Brasília: FEB, 2020. Q. 837, p. 360.
FRANCO, Divaldo Pereira. Despertar do espírito. Por Joanna de Ângelis. 4 ed. Salvador: LEAL, 2000. Cap. Relacionamentos humanos, 135-136.
136.

Fonte: Site da FEB.

Relembrando Nicette

 



quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Uma nova pandemia, conhecida como Coronavírus

Marta Antunes de Moura


A Doutrina Espírita ensina que a felicidade humana está na razão direta do cumprimento da Lei de Deus, Lei Natural ou Lei da Natureza, que “é eterna e imutável como o próprio Deus”1. O nosso desafio é, pois, conhecer as leis divinas que, a despeito de estarem inscritas na consciência2, nem sempre conseguimos identificá-las ou compreendê-las, em razão da nossa notória imperfeição espiritual.

Essa imperfeição apresenta a dificuldade de ainda não sabermos distinguir o bem do mal, cujo aprendizado somente é adquirido ao longo das reencarnações sucessivas e dos subsequentes estágios no plano espiritual. Desenvolvido o necessário discernimento entre o que é bom e o que é ruim, de acordo com esta orientação: “O bem é tudo o que é conforme a Lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta […]”3, passamos a agir de acordo com os princípios da moral, entendida como sendo “[…] a regra do bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observação da Lei de Deus. O homem procede bem quando faz tudo pelo bem de todos, porque então cumpre a Lei de Deus.” 4 Fazer tudo pelo bem dos outros é a linha mestra do aprendizado intelecto-moral que impulsiona o ser imortal aos píncaros evolutivos. É a regra de ouro, assim anunciada pelo Cristo: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois essa é a Lei e os Profetas.” 5

Como os processos de melhoria espiritual exigem dedicação, esforço e persistência, ou seja, “suor e lágrimas”, o grande empreendimento do indivíduo transformar-se em pessoa melhor se faz por meio da superação das provações existenciais, que se revelam cada vez mais desafiantes à medida que surgem novos aprendizados. As provações fazem parte da caminhada evolutiva da vida, que transcorre, naturalmente, nos dois planos existenciais, que lembram uma corrida de superação de obstáculos. É, pois, equívoco acreditar que ocorrências provacionais, como os flagelos destruidores, naturais ou provocados, sejam catalogados como castigo ou punição divina. Quem assim pensa tem de Deus uma ideia antropomórfica (forma ou características humanas – Dic. Aurélio) e se fundamenta em preceitos teológicos arcaicos, visto que Deus, como ensinou Jesus à samaritana, “Deus é Espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade” (João, 4:24). É desse modo que Ele é nosso Pai e Criador: “Deus é soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores como nas maiores coisas, e essa sabedoria não permite que se duvide nem da sua justiça, nem da sua bondade.” 6

As catástrofes e doenças que atingem a Humanidade ao longo da história da civilização sempre resultaram (e resultam) em perdas e sofrimentos de diferentes gradações. No momento atual, estamos, no planeta, sob o peso de uma pandemia, o coronavírus. É comum, então, diz Allan Kardec, ouvir-se a voz geral de que “[…] são chegados os tempos marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão dar para a regeneração da Humanidade. Em que sentido se devem entender essas palavras proféticas? […].” 7 Indaga ele, que prossegue em suas análises ao afirmar:

Tudo é harmonia na Criação; tudo revela uma previdência que não se desmente nem nas menores, nem nas maiores coisas. Temos, pois, que afastar, desde logo, toda ideia de capricho, por ser inconciliável com a Sabedoria Divina. Em segundo lugar, se a nossa época está designada para a realização de certas coisas, é que estas têm uma razão de ser na marcha do conjunto. 8

O Codificador complementa as suas sábias ideias com estas ponderações:

Isto posto, diremos que o nosso globo, como tudo o que existe, está submetido à lei do progresso. Ele progride fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem, e moralmente, pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Esses dois progressos se realizam paralelamente, visto que a perfeição da habitação guarda relação com a do habitante. Fisicamente, o globo terrestre tem sofrido transformações que a Ciência tem comprovado e que o tornaram sucessivamente habitável por seres cada vez mais aperfeiçoados. Moralmente, a humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que o melhoramento do globo se opera sob a ação das forças materiais, os homens concorrem para isso pelos esforços da sua inteligência. Saneiam as regiões insalubres, tornam mais fáceis as comunicações e mais produtiva a terra. 9

As enfermidades e as catástrofes ambientais ─ terremotos e maremotos, ciclones e furações, tempestades e enchentes, seguidas de secas severas, deslocamento de placas tectônicas e geleiras, ataques de meteoros e meteoritos, são cometimentos usuais. Não restam dúvidas de que são ocorrências de caráter verdadeiramente destruidor, ceifando milhões de vidas, mas que, com o desenvolvimento da inteligência e da moralidade, serão cada vez mais amenizadas.

O caráter avassalador das doenças manifesta-se sob três aspectos: pandêmico, epidêmico e endêmico. Diz-se pandemia quando uma doença infecciosa se espalha por diversas localidades do mundo, atingindo países e continentes.10 Exemplo: O coronavírus, cujo agente infeccioso é um vírus denominado Covid-19 em que Covid = Corona Virus Disease (doença do coronavírus), enquanto 19 se refere ao ano de 2019, quando os primeiros casos ocorridos em Wuhan, na China, foram divulgados publicamente pelo governo chinês, no final de dezembro. O vírus é SARS-CoV-2 (um coronavírus). Epidemia indica ocorrência de doença em área geográfica mais circunscrita. “O número de casos que indica a existência de uma epidemia varia com o agente infeccioso, o tamanho e as características da população exposta, sua experiência prévia ou falta de exposição à enfermidade e o local e época do ano em que ocorre.”11 Exemplo: Dengue é uma doença epidêmica no Brasil, de predominante ocorrência nos meses de verão, provocava por um vírus transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti. Endemia, por sua vez, “é a presença continua de uma enfermidade ou de um agente infeccioso em uma zona geográfica determinada.” 12 Exemplo: malária, cujo agente infecioso é um parasito da família Plasmodium. A Região Amazônica brasileira é considerada a área endêmica do país para malária, com 99% dos casos autóctones.

Uma pandemia acontece quando ocorre a associação de três fatores: a) aparecimento de uma nova doença ou variedade (mutação) da forma de uma doença se expressar); b) o agente possui elevado poder de virulência – refere-se à gravidade de uma doença ocasionada por um agente infeccioso; c) o agente infectante apresenta elevado poder de transmissão entre os humanos. É o caso da Covid-19.

Cientistas, acadêmicos e profissionais da saúde se unem no mundo inteiro, cada vez mais, em busca de soluções contra as enfermidades infeciosas e transmissíveis que, se antes demoravam décadas para serem solucionadas ou administradas, agora as pesquisas e soluções alcançam meses. Ante esse esforço comum, muitas doenças graves são controladas ou até erradicadas. A varíola, por exemplo, popularmente conhecida como “bixiga”, foi erradicada do planeta desde 1980, com a campanha de vacinação em massa. Entretanto, a doença atormentou a Humanidade por mais de três milênios. A cólera, outra doença persistente em vários países teve uma ação epidêmica em 1817, matando centenas de milhares de pessoas. É doença provocada pela bactéria Vibrio cholerae, que retornou com força no final do século passado sendo, porém, logo contida. Da mesma forma, a peste bubônica, uma doença que ocorre desde a Antiguidade, ainda persiste nos dias atuais, pois o agente etiológico, a bactéria Yersinia pestis, sofre mutações ocasionais. Acredita-se que 40 a 50 milhões de pessoas tenham morrido no mundo da pandemia da gripe espanhola, provocada pelo vírus da influenza que, entre 1918-1920 teria infectado 500 milhões de pessoas, um quarto da população mundial, aproximadamente. A despeito dos intensos esforços dos cientistas, e no Brasil se destaca o notável trabalho do médico Carlos Chagas, a vacina só foi produzida em 1944.

Essa visão panorâmica dos processos de melhoria espiritual que o ser humano enfrenta, em decorrência de tragédias e catástrofes que atingem a Humanidade, é consequência natural da Lei do progresso, que o faz evoluir intelectual e moralmente. Nada tem de punitivo nem reflete “ação demoníaca” como querem certas interpretações religiosas, que chegam até em falar no juízo final, perante o qual os habitantes da Terra serão submetidos a um último julgamento (juízo final ou fim do mundo), caracterizado pela separação “dos bodes e das ovelhas” (Mateus, 25:31-46). Trata-se , obviamente, de metáfora que indica o resultado das mudanças que a Humanidade terrestre vivencia durante a era da transição, necessárias para que possa viver em outro nível evolutivo, o da era da regeneração, cujo lema será “um só rebanho e um só pastor” (João, 10:10) e apenas uma bandeira estará tremulando em todas as regiões da Terra: Fora da caridade não há salvação.

Emmanuel esclarece que é “possível, porém, avançar mais longe, além da letra e acima do problema circunstancial de lugar e tempo. Mobilizemos nossa interpretação espiritual” 13, instrui o solícito benfeitor. O momento atual exige de cada um de nós uma certa dose de reflexão e discernimento, agindo com prudência no pensar, falar e agir, como também aconselha Emmanuel:

É indispensável procurar o Amigo Celeste ou aqueles que já se ligaram, definitivamente, ao seu amor, antes dos períodos angustiosos, para que nos instalemos em refúgios de paz e segurança.

A disciplina, em tempo de fartura e liberdade, é distinção nas criaturas que a seguem; mas a contenção que nos é imposta, na escassez ou na dificuldade, converte-se em martírio.

O aprendiz leal do Cristo não deve marchar no mundo ao sabor de caprichos satisfeitos e, sim, na pauta da temperança e da compreensão. 14

O pensamento é força criadora. Se desejamos saúde, é indispensável que nossos pensamentos sejam predominantemente saudáveis. Se desejamos o bem, é imprescindível não somente falar no bem, mas pensar no bem e agir no bem. Somente quando percebermos, em cada criatura humana, verdadeiramente, nosso irmão ou irmã, estaremos imunizados contra as agressões viróticas, que começam nos pensamentos em desarmonia. Cuidemos, sim, dos nossos corpos, usando máscara ao sair de casa, lavando bem as mãos e rosto com sabão, higienizando os objetos que tocarmos… Enfim, seguindo com rigor as recomendações dos profissionais de saúde. Mas acima de tudo, mantenhamo-nos em paz e em harmonia com todos os seres da criação, a começar pelo nosso próximo, reflexo do que somos e do que lhe fazemos. E não nos esqueçamos, jamais, de que Deus, como Pai amoroso, sempre age em prol do nosso bem, seus filhos imortais que vivem e evoluem entre dois mundos, o físico e o espiritual.

REFERÊNCIAS


KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 9. imp. Brasília: FEB, 2020. q. 615, p. 283.


Id., q. 621, p. 285.


Id., q. 630, p.288.


Id., q. 629, p.287.


BÍBLIA DE JERUSALÉM. Coordenadores da edição em língua portuguesa: Gilberto da Silva Gorgulho; Ivo Storniolo e Ana Flora Anderson. Diversos tradutores. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2019. Evangelho segundo Mateus, 7:12, p. 1715.


KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2019. cap. II, it. 14, p. 51.


Id., cap. XVIII, it. 1, p.343.


Id., it. 2, p. 343.


Id., p. 344.


MINISTÉRIO DA SAÚDE. FUNDAÇAO NACIONAL DE SAÚDE. Guia de vigilância epidemiológica. Centro Nacional de Vigilância Epidemiológica. Brasília: 1994. p. 357.


Id., p.354.


Id., p.363.


XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. 15. imp. Brasília: FEB, 2020. Cap. 66, p. 145.


Id., p. 146.


Fonte: FEB.

Projeto de Vibrações da FEESP

 

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Fonte: FEESP.

Cinco possíveis efeitos da Covid-19 na prática espírita


Por Marcus Vinicius de Azevedo Braga, no blog da ABPE.

Muito se fala que o mundo não será mais o mesmo após a incidência da pandemia do novo corona vírus (que ocasiona a Covid-19) e muito se especula sobre os cenários, o que enseja um exercício de como seriam também os possíveis efeitos desse evento global sobre as práticas das casas espíritas, o que se tentará construir nesse singelo artigo.


A primeira suposição é de que seremos menos tolerantes com as mensagens apócrifas. Sim, vivemos uma profusão de mensagens qualificadas como Fake News nas redes sociais, na qual não se sabe o que é mentira ou meia verdade, e esse movimento influenciou também um sem número de mensagens psicografadas com informações que não fazem sentido, confundindo o público que se declara espírita em meio a tanta desinformação, o que gerou, inclusive, notas de esclarecimento de federativas.


Entretanto, uma percepção crescente no enfrentamento à Covid-19 é de que a desinformação alimenta o vírus, o que ensejou movimentos das pessoas, temerosas, por combater informações sem lastro, com mecanismos de verificação e um aumento de busca pela imprensa mais tradicional, para se informar e assim melhor se prevenir, em um movimento que se espera que contamine também os circuitos de informações espíritas, para que estas, mesmo de origem mediúnica – e que contraponham os protocolos oficiais – sejam combatidas.


Espera-se também que haja um maior exercício da solidariedade na prática espírita, pois o cenário atual e futuro aponta para efeitos funestos do isolamento, da doença e da crise econômica relacionada, de forma que herdaremos um mundo mais desigual em termos sociais, e com acentuação dos problemas.


Tal cenário pode provocar um resgate de nossos trabalhos de caráter assistencial, um tanto esquecidos das pautas espíritas, sem a adesão de novos voluntários, preteridos em função de outras pautas, mas que pela emergência dos problemas, podem trazer à baila novas frentes, inclusive em associação a outras denominações, nas chamadas redes assistenciais.


Apenas a título ilustrativo, uma breve consulta ao Periódico Reformador no ano de 1918, no meio da gripe espanhola, mostra na edição de maio de 2018, pp.349 e 384, como as casas espíritas se engajaram no atendimento assistencial aos afetados pela pandemia, o que demonstra como as nossas práticas são influenciadas por eventos dessa natureza.


O terceiro ponto que se antevê é o aumento (sim, ainda mais) da internet no movimento espírita. Essa quarentena ampliou sobremaneira o uso de lives, áudios compartilhados, podcasts e ainda fomentou a inovação de práticas e ações, de forma que as atividades doutrinárias migraram para o ambiente virtual, e aqueles que resistiam a usar essas facilidades, cederam pela força das circunstâncias.


Acredita-se também que na volta paulatina a normalidade, teremos um movimento menos presencial, com mais estruturas no mundo virtual, e isso se relaciona também com o quarto cenário previsto, de um espiritismo mais intimista, com menos caráter de massa.


Sim, pois ainda teremos restrições de aglomerações por um tempo. O retorno não será uma mudança de chave e sim uma volta gradual, com direito a recaídas, e muito, muito receio de todos, em especial no que se refere ao convívio. E tal condição inibirá os popularizados mega eventos que tem caracterizado o movimento espírita recentemente, prestigiando ações menores, nas próprias casas, frequentadas por pessoas que todos conhecem e já convivem, como um mecanismo de proteção sanitária que se observará no mundo fora da casa espírita e que se refletirá nela também.


Com isso, a impessoalidade dessas casas espíritas enormes, com pessoas que não se conhecem, e esses eventos de maior porte, congregando multidões, vai dar espaço a uma vivência mais fraterna, resgatando práticas de convívio um tanto esquecidas, que se combinadas com um mundo mais conectado, vai mudar em muito a nossa forma de interagir como movimento.


Por fim, pode parecer ingenuidade, mas é crível que esse movimento todo vá fortalecer o interesse nos aspectos científicos do espiritismo. Simples, pois a crise da Covid-19 se dá em uma batalha campal entre o pensamento científico, com método e evidências, com o mundo da pós verdade e o pensamento mágico, no qual o negacionismo e as soluções mirabolantes são confrontadas por opiniões sustentadas em pesquisas, e a ciência tem, no mundo todo, se fortalecido como forma de interpretação da realidade e que dá respostas convincentes ao mal que ronda as famílias.


A Covid-19 nos convidou a olhar a realidade dos fatos, o mundo real, pois é nesse mundo que estão seus efeitos. Nos instou a viver no mundo, sem ser do mundo. E a entrar nesse mundo, mesmo que trancado dentro de casa, e nesse sentido, o espiritismo lastreado no método kardequiano se apresenta como fonte segura nessa selva louca e desvairada que nos encontramos.


Pode parecer um excesso de otimismo essa visão dos possíveis efeitos da Covid-19 no movimento espírita, mas é só observar o cenário da sociedade, e o que virá, para entender como isso se refletirá na nossa prática. O historiador Leandro carnal, em entrevista televisiva no dia 26/03/2020, aponta que a peste negra forneceu os elementos para o renascimento, após o extenso período da Idade Média, e que a gripe espanhola se refletiu na preocupação com a saúde pública, reforçando que crises auxiliam a revisão de paradigmas, em especial no caso da Covid-19, que abala o cotidiano de todos nós, de uma forma que nenhuma das gerações encarnadas viveu.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Aniversário de Chico Xavier é comemorado com exposição virtual para quem está em casa

Conteúdo que tem fotos do médium e mensagem psicografada são do Memorial que fica em Uberaba. Ideia da exposição surgiu a partir da necessidade do isolamento social por causa da pandemia do coronavírus.



Por G1 Triângulo e Alto Paranaíba

02/04/2020 13h30 Atualizado há um dia

Para comemorar o aniversário de Chico Xavier, celebrado neste dia 2 de abril, o Memorial Chico Xavier, em Uberaba, lançou uma exposição virtual. A ideia surgiu a partir da necessidade do isolamento social por causa da pandemia do coronavírus.

O vídeo, que reúne várias fotos de Chico com uma mensagem positiva de esperança psicografada pelo médium a partir do mentor Emmanuel, foi publicado nesta quinta-feira.


“É uma singela homenagem deste que foi uma das maiores lideranças da humanidade e que esse exemplo nos inspire a manter a nossa esperança principalmente em um momento tão difícil como agora”, comentou o coordenador do Memorial, o museólogo Carlos Vitor de Souza.


Chico Xavier

Francisco Cândido Xavier completaria 110 anos em 2020. Ele nasceu em Pedro Leopoldo, mas morou em Uberaba de 1959 até a morte, em junho de 2002. Até hoje, a figura do médium é associada a mensagens de fé, amor e esperança, obras de caridade e divulgação da doutrina espírita mundo afora.

Ele é considerado um dos maiores médiuns da história, com intensa dedicação à psicografia. Expoente da Doutrina Espírita no Brasil, lançou mais de 400 livros espíritas e cedeu os direitos autorais de todas as obras para instituições de caridade.


Chico Xavier foi indicado ao prêmio Nobel da Paz na década de 1980 e foi eleito O Maior Brasileiro de Todos os Tempos em 2012.

"Não há problema que não possa ser solucionado pela paciência"
— Chico Xavier


Fonte: G1