domingo, 30 de agosto de 2009

Teatro Operarios do palco

Adaptação e Direção: Marco Nicolatto

O espetáculo "O Amor Jamais Te Esquece" é um romance épico que retrata, entre outras emoções, o Amor de Jesus por Pilatos, antes e após o drama da crucificação.

Você já deve ter ouvido falar de um Jesus Filho de Deus, traído, crucificado, revolucionário ou governador da Terra. Não perca a oportunidade de encontrar-se com o Jesus seu amigo, que te conhece pelo nome.

Sinopse


Neste empolgante romance épico, Lucius remete-nos aos luminosos momentos vividos pela humanidade ao tempo de Jesus, envolvendo o drama de Pilatos após a crucificação e personagens como o senador Públio Lentulus, sua esposa Lívia, Zacarias, Fúlvia, entre outros. Através desta história surpreendente, não só por seu conteúdo como também por uma encenação dinâmica e criativa, o espectador sentirá que, apesar de todas as nossas quedas e erros, o Amor nunca nos abandona ao desamparo, ajudando-nos a sair dos abismos escuros aonde somos projetados por nossa própria ignorância.

MÚSICA pela vida Elba Ramalho canta contra o aborto


A 3ª Marcha Nacional da Cidadania pela Vida, acontece hoje, 30 de agosto, às 15 horas, no Eixão Sul - altura da SCLS 208, Brasília (DF). Lenise Garcia, presidente do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida - Brasil sem Aborto, declarou que o objetivo do evento é “reunir milhares de pessoas para celebrarmos juntos o dom da vida e dizer não ao aborto”. No final da marcha a cantora Elba Ramalho fará um show beneficente. Neste ano, diversas oficinas culturais foram realizadas pelo Projeto Cultura, Cidadania e Vida: Exposição Pela Vida Pela Paz - Galeria de Arte, no CasaPark, com obras doadas por artistas plásticos do Distrito Federal. Apresentação do grupo musical GAN, com o espetáculo Vida. Workshop "A contribuição da arte na Valorização da Vida e na construção de uma Cultura da Paz". Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto: e-mail pelavidapelapaz@gmail.com, celular (61) 8117-9107 com Jaime Ferreira Lopes. (MÁRCIA CRISTINA DE ALMEIDA)

BEZERRA fala do Além Divaldo Franco foi o intermediário da mensagem

Estamos sendo convocados pelos Espíritos nobres para ser os lábios pelos quais a palavra de Jesus chegue aos corações empedernidos.
Estamos sendo convocados para ser os braços do Mestre, que afaguem, que se alonguem na direção dos mais aflitos, dos combalidos, dos enfraquecidos na luta.
Estamos colocados na postura do bom samaritano, a fim de podermos ser aquele que socorra o caído na estrada de Jericó da atualidade.
Nunca houve na história da sociedade terrena tantas conquistas de natureza intelectual e tecnológica!
Nunca houve tanta demonstração de humanismo, de solidariedade, tanta luta pelos direitos humanos!
É necessário, agora, que os cristãos decididos arregacem as mangas e ajam em nome de Jesus.
Em qualquer circunstância, que se interroguem: - em meu lugar que faria Jesus?
E, faça-o, conforme o amoroso Companheiro dos que não têm companheiros, faria.
Filhos da alma!
Estamos saturados de tecnologia de ponta, graças, à qual, as imagens viajam no mundo quase com a velocidade do pensamento, e a dor galopa desesperada o dorso da humanidade em desalinho.
O Espiritismo veio como Consolador para erradicar as causas das lágrimas.
Sois os herdeiros do Evangelho dos primeiros dias, vivenciando-o à última hora.
Estais convidados a impregnar o mundo com ternura, utilizando-vos da compaixão.
Periodicamente, neste planeta de provas e expiações, as mentes em desalinho vitalizam microorganismos viróticos que dão lugar a pandemias destruidoras.
Recordemo-nos das pestes que assolaram o mundo: a peste negra, a peste bubônica, as gripes espanhola, a asiática e a deste momento de preocupações, porque as mentes dominadas pelo ódio, pelo ressentimento, geram fatores propiciatórios à manifestação de pandemias desta e de outra natureza.
Só o amor, meus filhos, possui o antídoto para anular esses terríveis e devastadores acontecimentos, desses flagelos que fazem parte da necessidade da evolução.
Sede vós aquele que ama.
Sede vós, cada um de vós, aquele que instaura o Reino de Deus no coração e dilata-o em direção da família, do lugar de trabalho, de toda a sociedade.
Não postergueis o dever de servir para amanhã, para mais tarde.
Fazei o bem hoje, agora, onde quer que se faça necessário.
As mães afro-descendentes, as mães de todas as raças, em um coro uníssono, sob o apoio da Mãe Santíssima, oram pela transformação da Terra em Mundo de Regeneração.
Sede-lhes filhos dóceis à sua voz quão dócil foi o Crucificado galileu que, ao despedir-se da Terra, elegeu-a mãe do evangelista do amor, por extensão, a Mãe Sublime da Humanidade.
Muita paz, meus filhos.
Que o Senhor de bênçãos nos abençoe.
O servidor humílimo e paternal de sempre. (Bezerra DE MENEZES)

Lindo!!!!dIZEM QUE ATÉ O aTOR QUE FEZ O dR. bEZERRA O cARLOS vEREZA, disse que nas filmagens do filme Bezerra de menezes ele ( o atror) sentiu a presença do dr. bezerra

Orai e Vigiai Orai e Vigiai: Prece Diante da Manjedoura

Visão Social Tema: Visão Social: Aniversário do Dr°. Bezerra de Menezes

No dia 29 de agosto, nasceu o homem que dedicou a sua vida em prol da caridade: Bezerra de Menezes.

O Livro dos Espíritos Tema: O Livro dos Espíritos: Variedades de raças humanas

As diferenças físicas existentes entre as pessoas de diversas raças ainda nos intrigam. A Doutrina Espírita vem nos ensinar que essas diferenças são consequências do meio onde vive a criatura.

Visão Social Tema: Visão Social: Festa de São João

A festa junina é tipicamente nordestina, cheia de dança, comida e muita diversão. Mas o que significa a fogueira de São João?

FELIZ ANIVERSÁRIO DR. Bezerra de Menezes!!!!!!

BEZERRA


Cristãos Decididos

…Estamos sendo convocados pelos Espíritos nobres para ser os lábios pelos quais a palavra de Jesus chegue aos corações empedernidos. Estamos sendo convocados para ser os braços do Mestre, que afaguem, que se alonguem na direção dos mais aflitos, dos combalidos, dos enfraquecidos na luta.

Estamos colocados na postura do bom samaritano, a fim de podermos ser aquele que socorra o caído na estrada de Jericó da atualidade. Nunca houve na história da sociedade terrena tantas conquistas de natureza intelectual e tecnológica!

Nunca houve tanta demonstração de humanismo, de solidariedade, tanta luta pelos direitos humanos!

É necessário, agora, que os cristãos decididos arregacem as mangas e ajam em nome de Jesus.

Em qualquer circunstância, que se interroguem: - em meu lugar que faria Jesus?

E, faça-o, conforme o amoroso Companheiro dos que não têm companheiros, faria.

Filhos da alma!

Estamos saturados de tecnologia de ponta, graças à qual, as imagens viajam no mundo quase com a velocidade do pensamento, e a dor galopa desesperada o dorso da humanidade em desalinho.

O Espiritismo veio como Consolador para erradicar as causas das lágrimas.

Sois os herdeiros do Evangelho dos primeiros dias, vivenciando-o à última hora.

Estais convidados a impregnar o mundo com ternura, utilizando-vos da compaixão.

Periodicamente, neste planeta de provas e expiações, as mentes em desalinho vitalizam microorganismos viróticos que dão lugar a pandemias destruidoras.

Recordemo-nos das pestes que assolaram o mundo: a peste negra, a peste bubônica, as gripes espanhola, a asiática e a deste momento de preocupações, porque as mentes dominadas pelo ódio, pelo ressentimento, geram fatores propiciatórios à manifestação de pandemias desta e de outra natureza.

Só o amor, meus filhos, possui o antídoto para anular esses terríveis e devastadores acontecimentos, desses flagelos que fazem parte da necessidade da evolução.

Sede vós aquele que ama.

Sede vós, cada um de vós, aquele que instaura o Reino de Deus no coração e dilata-o em direção da família, do lugar de trabalho, de toda a sociedade.

Não postergueis o dever de servir para amanhã, para mais tarde.

Fazei o bem hoje, agora, onde quer que se faça necessário.

As mães afro-descendentes, as mães de todas as raças, em um coro uníssono, sob o apoio da Mãe Santíssima, oram pela transformação da Terra em Mundo de Regeneração.

Sede-lhes filhos dóceis à sua voz quão dócil foi o Crucificado galileu que, ao despedir-se da Terra, elegeu-a mãe do evangelista do amor, por extensão, a Mãe Sublime da Humanidade.

Muita paz, meus filhos.

Que o Senhor de bênçãos nos abençoe.

O servidor humílimo e paternal de sempre,

Bezerra

Mensagem psicofônica recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, ao final da conferência pública em torno da maternidade, realizada no Grupo Espírita André Luiz, no Rio de Janeiro, na noite de 13 de agosto de 2009.


29 DE AGOSTO DE 2009

FELIZ ANIVERSÁRIO DR. Bezerra de Menezes!!!!!!


domingo, 23 de agosto de 2009

Bezerra de Menezes Um historiador na Corte de D. Pedro II

Luciano Klein Filho

A faceta de Bezerra de Menezes como historiador é muito pouco conhecida. Seus biógrafos aludem superficialmente a ela sem entretecerem maiores considerações. Não sabemos ao certo as razões que motivaram o futuro Médico dos Pobres a tornar-se um historiador, especialista no gênero biográfico,1 interessado em pesquisar e escrever sobre a trajetória existencial de alguns de seus contemporâneos, engajados nas atividades políticas do Brasil do século XIX. As biografias de sua lavra começaram a ser escritas em 1856, ano no qual concluiria a Faculdade de Medicina. Ao contrário, porém, do que asseveram alguns pesquisadores, o jovem estudante mostrava-se interessado pelas questões políticas sociais de seu tempo. A primeira biografia de sua autoria, escrita no ano de 1856, foi um tributo à memória de Estêvão Ribeiro de Rezende (1777-1856), o Marquês de Valença, desencarnado naquele mesmo ano. Era um opúsculo homenageando esse vulto do Império por quem Bezerra nutria certa admiração. Foi lançado com o título O Marquês de Valença: esboço biográfico.2

No ano seguinte, em 1857, prosseguiria com suas pesquisas historiográficas, escrevendo outros trabalhos sobre vultos ligados à política de seu tempo. Seus escritos foram, originalmente, lançados em fascículos. Eram encomendados pelo desenhista e retratista francês Sebastião Augusto Sisson.3 No ano de 1859, Sisson os enfeixou no primeiro de dois volumes lançados com o título Galeria dos Brasileiros Ilustres: os contemporâneos. O trabalho de Sebastião Sisson, conforme os dizeres constantes da folha de rosto, apresentava

[...] retratos dos homens mais ilustres do Brasil, na política, ciências e letras desde a guerra da independência até os nossos dias, copiados do natural e litografados por S. A. Sisson, acompanhados das suas respectivas biografias, publicadas sob a proteção de Sua Majestade o Imperador.

Impressa em dois volumes, o primeiro lançado em 1859 e o segundo em 1861, pela Typ e Const. J. Villeneuve & Comp., do Rio de Janeiro.4 O período no qual Adolfo Bezerra de Menezes redigiu esses esboços biográficos foi correspondente aos anos de sua iniciação na carreira médica, quando também publicou, em 1856, a tese que defendera, para concluir seus estudos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 24 de novembro daquele ano.5 Este foi um período prolífero e de grande produtividade intelectual do jovem esculápio. No ano da publicação de O Livro dos Espíritos, em 1857, ele se candidatou para ser membro titular da Academia Imperial de Medicina, tomando posse em 1º de junho daquele ano. Em 1859, tornou-se redator dos Anais Brasilienses de Medicina, da Academia, atividade que exerceria até meados de 1861. Passou, também, a colaborar na Revista da Sociedade Físico-Química. Em 1858, integrou o Corpo de Saúde do Exército, chegando a disputar uma vaga de lente substituto da Seção de Cirurgia da Faculdade de Medicina. Nesse tempo, foi, ainda, nomeado assistente de Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, considerado o patriarca da cirurgia brasileira, assumindo a patente de 2º cirurgião-tenente do Exército. Como historiador, Bezerra deixa transparecer sua honestidade quanto às dificuldades enfrentadas em suas pesquisas, tendo a humildade de reconhecer lacunas existentes em seu trabalho, encomendado, certamente às pressas, pelo artista francês. Na biografia do Visconde de Maranguape, diz-nos:

[...] Seria talvez preferível, em vista da completa deficiência em que estamos de maiores dados para a confecção de um trabalho que possa mais tarde servir de base a uma biografia completa [...].

Os perfis biográficos de Bezerra, redigidos num estilo peculiar, característico da época, retratavam aspectos principais da vida de políticos de nomeada. Alguns deles ainda estavam encarnados, tendo, eles próprios, enviado ao pesquisador subsídios para a composição de seus perfis. Além de Bezerra, outros escritores como José Martiniano de Alencar,Manoel José de Araújo Porto Alegre (Barão de Santo Ângelo), Irineu Evangelista de Sousa (Barão de Mauá), Antônio Ferreira Viana, entre outros, colaboraram na composição da coletânea organizada por Sisson. Nessa coletânea Sisson não cita os nomes dos autores, o que levou Tancredo de Barros Paiva a tentar identificá-los em seu dicionário de pseudônimos, publicado em 1929.6 Segundo Tancredo, Bezerra escreveu 17 biografias. São elas: Marquês de Valença (uma versão mais resumida do opúsculo anteriormente mencionado), Bernardo de Souza Franco, Cândido Batista de Oliveira, Conde de Irajá, Eusébio de Queirós, José Clemente Pereira, José Maria da Silva Paranhos, Marquês de Abrantes, Marquês de Olinda, Marquês de Monte Alegre, Visconde de Abaeté, Visconde de Caravelas, Visconde de Maranguape, Visconde de Sapucaí, Visconde de Uruguai, José Bonifácio de Andrada e Silva e D. Pedro II. Mas o dicionarista João Velho Sobrinho acrescenta à relação a biografia do Visconde de Itaboraí, aventando, porém, a possibilidade de que a biografia de José Bonifácio poderia ter sido escrita por Antônio Ferreira Viana. Finalizando este artigo, chamamos
a atenção para a maneira como o historiador Bezerra de Menezes descreve D. Pedro II. Não obstante ter enfocado nuanças de sua carreira política, preocupa-se em ressaltar a feição caritativa do soberano, demonstrando a grandeza dessa alma que, à semelhança de seu biógrafo, veio à Terra para o desempenho de especial missão na Pátria do Cruzeiro. Atentemos para a narrativa de Bezerra nos dois últimos parágrafos:

A bolsa do nosso Imperador abre-se sempre ao pobre que lhe suplica uma esmola. Milhares de famílias de servidores do Estado dirigem fervorosas súplicas ao Onipotente pela conservação da vida daquele que por meio de pensões lhes mitiga os sofrimentos que infelizmente ainda hoje cabem às mulheres e filhas dos homens encanecidos nos serviços da pátria. Nos dias de epidemia, vai consolar em sua choupana o filho ingrato da fortuna que se estorce de dor no seu leito de palha; visita os diferentes hospitais, e ordena que parte de sua insignificante dotação seja distribuída pela classe pobre.

Mortes prematuras

Richard Simonetti

Quando a morte ceifa nas vossas famílias, arrebatando, sem restrições, os mais moços antes dos velhos, costumais dizer: Deus não é justo, pois sacrifica um que está forte e tem grande futuro e conserva os que já viveram longos anos cheios de decepções; pois leva os que são úteis e deixa os que para nada mais servem; pois despedaça o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que era toda a sua alegria.
Humanos, é nesse ponto que precisais elevar-vos acima do terra-a-terra da vida, para compreenderdes que o bem, muitas vezes, está onde julgais ver o mal, a sábia previdência onde pensais divisar a cega fatalidade do destino. Por que haveis de avaliar a justiça divina pela vossa?
Podeis supor que o Senhor dos mundos se aplique, por mero capricho, a vos infligir penas cruéis? Nada se faz sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo tem a sua razão de ser. Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos advêm, nelas encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e os vossos miseráveis interesses se tornariam de tão secundária consideração, que os atiraríeis para o último plano.


Temos aqui o início de uma manifestação do Espírito Sanson, recebida na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, presidida por Allan Kardec. Consta do capítulo V, item 21, de O Evangelho segundo o Espiritismo, sob o subtítulo “Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras”.
Se estabelecêssemos uma gradação para as dores morais que afligem os seres humanos, certamente a mais intensa, mais angustiante, seria a da mãe que vê um filho partir prematuramente, nos verdes anos da infância, no despertar da adolescência, no entusiasmo da juventude.
O grande lenitivo está na fé, concebendo o elementar: Deus sabe o que faz. Significativo exemplo está na famosa expressão de Jó, o patriarca judeu, que após morrerem não um, mas todos os seus filhos, sete varões e três mulheres, e perder todos os seus haveres, ele, que era muito rico, proclamou, convicto (Jó, 1-21):


Deus deu, Deus tirou! Bendito seja o seu santo nome.

O problema é que raros têm fé legítima. Cultivam precária confiança, que não resiste aos embates da adversidade. Por isso, muitas mães, debruçadas sobre o esquife de um filho que resumia suas alegrias e esperanças, indagam angustiadas: – Por que, Senhor? Por que fez isso comigo? O que fiz para merecer esse castigo?!
Esse questionamento não é bom, porquanto conduz facilmente ao desespero e à revolta, que apenas multiplicam angústias, sem chance para a consolação. A vida torna-se um fardo muito pesado quando nos debatemos ante o inexorável. Matematicamente falando, acrescentamos dores à alma, quando subtraímos a fé.

Um confrade, espírita da velha guarda, homem lúcido e inteligente, costumava dizer: – É preciso ter sempre um pé atrás, não apenas em relação à nossa morte, mas, também, quanto à morte de um ente querido, particularmente um filho.
Parecia adivinhar que seria chamado a esse testemunho, porquanto um filho, jovem inteligente e empreendedor, com brilhante futuro pela frente, faleceu repentinamente. E o nosso companheiro deu testemunho de que estava preparado, tanto ele quanto a esposa, comportando-se com muita serenidade e equilíbrio, a imitar o exemplo de Jó. Esse pé atrás na vida, para não se desequilibrar diante da morte, equivale a fortalecer a nossa fé, transcendendo a mera crença com o conhecimento da realidade.
É importante conceber que Deus existe; que seus desígnios são sábios e justos; que Ele trabalha sempre pelo nosso bem, mesmo quando males aconteçam; que seu olhar misericordioso está sobre nós. Nem sempre, porém, será o bastante. Para que a nossa fé ultrapasse os limites da mera crença, adquirindo consistência para resistir aos embates da vida, é fundamental que se estribe no conhecimento. Em relação às mortes prematuras, somente a Doutrina Espírita, a nos oferecer uma visão objetiva do mundo espiritual, pode nos consolar de forma perfeita, sem dúvidas, sem vacilações, mostrando-nos por que ocorrem.


À luz abençoada da Doutrina Espírita, podemos considerar o assunto em vários aspectos:

Aborto. Por que mulheres que anseiam pela maternidade experimentam sucessivas frustrações? Geralmente estamos diante de problemas cármicos, a partir de comprometimentos em existências anteriores.
A causa – quem diria! – é o mesmo aborto. Não o espontâneo, mas o induzido. A mulher que se recusa ao compromisso da maternidade, expulsando o filho que estagia em seu corpo, às portas da reencarnação, comete uma autoagressão. Produz desajustes em seu perispírito, o corpo espiritual, em área correspondente à natureza de seu delito. Em vida futura, mais amadurecida, a ansiar pela maternidade, terá problemas. Grávida, não conseguirá segurar a gestação do filho que anseia, na mesma proporção em que expulsou, outrora, filhos de seu seio.
O problema pode estar, também, no reencarnante. Se foi um suicida, traz sérios comprometimentos perispirituais que poderão repercutir no corpo em formação, a promover o aborto. Fracassos sucessivos, tanto da gestante quanto do reencarnante, os ensinarão a valorizar e respeitar a vida.

Infância. Às vezes consuma-se a reencarnação, não obstante os problemas do Espírito de passado comprometedor, mas de forma precária. Vulnerável a males variados, em face da debilidade orgânica, logo retornará à Espiritualidade. André Luiz reporta-se a um suicida, que se matou ingerindo veneno, no livro Entre a Terra e o Céu, psicografia de Francisco Cândido Xavier. Em nova existência, saúde frágil, desencarnou aos sete anos.
Um mentor espiritual explicou que aquela breve experiência na carne fora sumamente útil ao Espírito, livrando-o de parte de seus desajustes, e que ele deveria reencarnar em breve, na mesma família, já em melhores condições.

A morte prematura pode ser, também, um convite ao cultivo de valores espirituais. No livro Atravessando a Rua, comento a experiência de um casal que reencarnou com a tarefa de cuidar de crianças, numa instituição assistencial. No entanto, envolvidos pelos interesses imediatistas, ambos andavam distraídos de sua missão. Então, um mentor espiritual que os assistia, preocupado com sua deserção, reencarnou como seu filho. Foi aquela criança maravilhosa, inteligente, sensível, que faz a felicidade dos pais, que passam a gravitar em torno dela.
Consumando a intenção de despertar os pais, ele desencarnou na infância, deixando-os desolados, desiludidos, deprimidos. Encontraram lenitivo a partir do momento em que se entregaram de corpo e alma a crianças num orfanato, exatamente como fora planejado. O mentor viera apenas para ajudá-los a corrigir o desvio de rota.

Fica a pergunta, amigo leitor: O que acontece com o Espírito na morte prematura? Normalmente, um retorno tranquilo. O que dificulta nossa readaptação à pátria espiritual é o apego à vida física, os comprometimentos com a ambição, as paixões, os vícios... O Espírito literalmente entranha-se na vida física, o que lhe impõe sérias dificuldades, até mesmo para perceber sua nova condição. Já o jovem nem sempre tem esses comprometimentos. É alguém que desperta para a vida, que ainda não se envolveu. Será logo acolhido e amparado pelos mentores espirituais, por familiares desencarnados.


O grande problema dos que partem nessa condição é a reação dos que ficam. Desespero, revolta, rebeldia são focos pestilentos de vibrações desajustadas, que atingem em cheio o passageiro da Eternidade, causando- lhe aflições e desajustes, já que nos primeiros tempos de vida espiritual tende a permanecer ligado psiquicamente à família. E o que é pior – na medida em que os familiares insistem nas lembranças, quando a desencarnação ocorreu em circunstâncias trágicas, induzem o Espírito a reviver, em tormento, todas aquelas emoções. Há uma mensagem famosa de uma jovem que desencarnou no incêndio do Edifício Joelma, psicografada por Francisco Cândido Xavier, dirigida à sua mãe.
Após dizer-lhe que fora muito bem amparada e que sua morte atendera a compromissos cármicos, pediu à mãe que não ficasse recordando do incêndio nem a contemplasse, na tela de sua mente, morrendo queimada. – Cada vez que a senhora me vê assim, é assim que me sinto.

O final da mensagem de Sanson é bastante significativo e deve merecer nossa reflexão:

Em vez de vos queixardes, regozijai-vos quando praz a Deus retirar deste vale de misérias um de seus filhos. Não será egoístico desejardes que ele aí continuasse para sofrer convosco? Ah! essa dor se concebe naquele que carece de fé e que vê na morte uma separação eterna. Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo.
Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus. Vós, que compreendeis a vida espiritual, escutai as pulsações do vosso coração a chamar esses entes bem-amados e, se pedirdes a Deus que os abençoe, em vós sentireis fortes consolações, dessas que secam as lágrimas; sentireis aspirações grandiosas que vos mostrarão o porvir que o soberano Senhor prometeu. (
Op. cit., cap. V, item 21.)

Pressentimentos Pressentimento é uma vaga intuição das coisas futuras

Conta-se que Francisco de Assis, notável missionário cristão da Idade Média, estava tratando de seu jardim, quando um amigo se aproximou, perguntando-lhe: – Francisco, o que você faria se soubesse que iria morrer hoje? Ao que ele teria respondido, com a maior naturalidade: – Continuaria a fazer o que estou fazendo: cuidando do meu jardim! Será que nós, diante de um pressentimento sombrio ou ditoso, cultivaríamos a mesma serenidade de um Francisco de Assis?
É possível conhecer o futuro?
O pressentimento, a premonição, a precognição, a presciência, o presságio, são diferentes palavras utilizadas para designar um só fenômeno: o conhecimento do futuro, que repousa sobre “um mesmo princípio: a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria”.Revista espírita: jornal de estudos psicológicos, ano 8, p. 282, jul. 1865. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006." class="tooltip">1 O conhecimento do futuro depende da elevação dos Espíritos que, muitas vezes, apenas o entreveem, “porém nem sempre lhes é permitido revelá-lo2 ao homem (Espírito encarnado), porquanto “a certeza de um acontecimento venturoso o lançaria na inação. A de um acontecimento infeliz o encheria de desânimo. Em ambos os casos, suas forças ficariam paralisadas”.3
Logo, “em princípio, o futuro lhe é oculto e só em casos raros e excepcionais permite Deus que seja revelado”,4 com o objetivo de facilitar “a execução de uma coisa, em vez de estorvar, obrigando o homem a agir diversamente do modo por que agiria, se lhe não fosse feita a revelação”.5
Muitos creem que a existência física é regida por um determinismo ou fatalidade irrevogável, e que, independentemente de como agirmos, ninguém escapará do destino que lhe está reservado. Um pouco de reflexão sobre o assunto, entretanto, é suficiente para afastar tal ideia. Ensina o Espiritismo que a fatalidade6 existe unicamente pela escolha que o Espírito faz, ao encarnar, desta ou daquela prova física. Elegendo-a, institui para si uma espécie de destino, que é o resultado da posição em que vem a achar-se colocado, como homem, na Terra “nas funções que aí desempenha, em consequência do gênero de vida que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou missão”.7
Por conseguinte, não se pode dizer que tudo já está predeterminado em nossas vidas. Assim fosse, seríamos meros autômatos e de nada adiantaria nosso esforço para nos melhorar, de forma que tanto o que fizesse o bem, quanto o que fizesse o mal, teriam a mesma compensação ou o mesmo futuro, o que estaria em desacordo com a Justiça Divina incorruptível. A fatalidade a que todos estamos submetidos, sem exceção, é a morte física: chegado esse momento, de uma forma ou de outra, dela não podemos nos esquivar,8 contudo, “nunca há fatalidade nos atos da vida moral”,9 porque somos senhores, por nossa vontade, de ceder ou não às tendências inatas que trazemos de encarnações pretéritas e às influências de outros Espíritos. O resultado da má utilização do livre-arbítrio é que retardará o nosso progresso, protelando o encontro com a Verdade, mas todos chegaremos lá, muitas vezes pela dor, que é um aguilhão a nos impulsionar à correção de nossas imperfeições e a nos mostrar o roteiro de nossa emancipação espiritual.
Considerando a margem de liberdade que o Criador nos confere, dentro de suas leis imutáveis, para exercitarmos o livre-arbítrio e as faculdades, não há incoerência alguma em dizer que somos responsáveis pelo nosso passado e os artífices de nosso futuro.
Quanto mais evoluído o Espírito – encarnado ou desencarnado –, melhores condições tem de prever o futuro, baseado na experiência acumulada dos fatos do passado e na análise dos acontecimentos do presente, considerando que, à luz do princípio de causa e efeito, tudo o que fazemos acarreta resultados que se projetam no tempo. Por isso, “o futuro não é surpresa atordoante. É consequência dos atos presentes”.10
Ao ensino dado em O Livro dos Médiuns, os benfeitores acrescentam que os pressentimentos são uma espécie de mediunidade:

O pressentimento é uma intuição vaga das coisas futuras. Algumas pessoas têm essa faculdade mais ou menos desenvolvida. Pode ser devida a uma espécie de dupla vista, que lhes permite entrever as consequências das coisas atuais e a filiação dos acontecimentos. [...]11

Ou ainda:

São recordações vagas e intuitivas do que o Espírito aprendeu em seus momentos de liberdade e algumas vezes avisos ocultos dados por Espíritos benévolos.12

Capa


O fato de um pressentimento não se confirmar nem sempre significa que se estava enganado a respeito das premonições, visto que as ações dos Espíritos (encarnados ou desencarnados), antes de ocorrerem, são concebidas na mente, cujos pensamentos são captados por determinadas pessoas, durante o sono, por meio dos sonhos, ou durante a vigília. No entanto, pode haver desistência da ação planejada, por parte do agente, ou é possível haver alguma circunstância que o impeça de concretizar seu desejo.
Isto é,

[...] como a sua realização [da ação planejada] pode ser apressada ou retardada por um concurso de circunstâncias, este último [o médium ou vidente] vê o fato, sem poder, todavia, determinar o momento em que se dará. Não raro acontece que aquele pensamento não passa de um projeto, de um desejo, que se não concretizem em realidade, donde os frequentes erros de fato e de data nas previsões. 13

Por isso, devemos desconfiar de mensagens proféticas que anunciam precisamente, com data e hora marcadas, o acontecimento de coisas fantásticas.
Sendo assim, o pressentimento nada tem de sobrenatural, posto que “se funda nas propriedades da alma e na lei das relações do mundo visível com o mundo invisível, que o Espiritismo veio dar a conhecer”.14 Kardec traz um interessantíssimo exemplo de pressentimento.
Trata-se de uma carta, dirigida ao Codificador, pela Senhora Angelina de Ogé, que foi avisada, com seis meses de antecedência, sobre a morte de seu genitor. Eis algumas considerações dadas a respeito deste caso pela Sociedade Espírita de Paris:

“O Espírito do pai dessa senhora, em estado de desprendimento, tinha um conhecimento antecipado de sua morte e da maneira por que ela se daria. Sua vista espiritual abarcando um certo espaço de tempo, para ele é como se a coisa estivesse presente, embora no estado de vigília não lhe conservasse qualquer lembrança. Foi ele próprio que se manifestou à sua filha, seis meses antes, nas condições que deviam se produzir, a fim de que, mais tarde, ela soubesse que era ele e que, estando preparada para uma separação próxima, não ficasse surpreendida com a sua partida. Ela mesma, como Espírito, tinha conhecimento disto, porque os dois Espíritos se comunicavam em seus momentos de liberdade. É o que lhe dava a intuição de que alguém devia morrer naquele quarto. Essa manifestação ocorreu igualmente com o objetivo de fornecer um assunto de instrução a respeito do conhecimento do mundo invisível”.15

O progresso intelecto-moral confere ao ser humano maior amplitude de percepção sobre as coisas, à semelhança de uma pessoa que, situando-se no topo de uma montanha, de posse de um potente binóculo, pode prever algum acontecimento em certo trecho da estrada, que não é dado a outro descortinar, se estiver em plano mais baixo, por falta de uma visão panorâmica do que se passa à sua volta.
Não sem razão, o Codificador destaca:

O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias; a eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela, não há começo, nem fim: tudo lhe é presente.16


Kardec, lembrando a forma misteriosa e cabalística de certas predições antigas, de que Nostradamus é o exemplo mais completo, ressalva:

[...] Pela sua ambiguidade, elas se prestam a interpretações muito diferentes, de tal sorte que, conforme o sentido que se atribua a certas palavras alegóricas ou convencionais, conforme a maneira por que se efetue o cálculo, singularmente complicado, das datas e, com um pouco de boa vontade, nelas se encontra quase tudo o que se queira.17


Na atualidade, porém, as previsões dos Espíritos “são antes advertências, do que predições propriamente ditas e quase sempre motivam a opinião que manifestam, por não quererem que o homem anule a sua razão sob uma fé cega e desejarem que este último lhe aprecie a exatidão”.17
A perplexidade de muitas pessoas ante os fenômenos relacionados com o futuro, entre eles o pressentimento, demonstra o quanto o homem ainda desconhece a sua própria natureza espiritual. O Espiritismo veio projetar luz sobre esta questão, trazendo a chave para o seu entendimento: “o estudo das propriedades do perispírito”.18
Se há um determinismo, na acepção absoluta da palavra, este é o determinismo do progresso, para a felicidade de todos nós. Mesmo que façamos mau uso do livre-arbítrio, fatalmente, mais cedo ou mais tarde, nos arrependeremos, expiaremos e repararemos nossos erros,19 motivo por que sempre estaremos jungidos ao resultado final estabelecido pelo Criador, que instituiu a Lei Maior de que “o bem é o fim supremo da Natureza”,20 o que implica na acepção de que “determinismo e livre-arbítrio coexistem na vida, entrosando-se na estrada dos destinos, para a elevação e redenção dos homens”.21

1869 – Os primeiros meses sem Allan Kardec

Adilton Pugliese

O retorno inesperado do Codificador do Espiritismo à Pátria Espiritual, com o rompimento súbito de um aneurisma, na manhã de 31 de março de 1869, em sua residência, na Rua Sainte-Anne, 59, em Paris, provocaria excepcionais providências emergenciais por parte dos seus sucessores. O acontecimento fundamental previsto, naquele dia do desenlace, eram os preparativos da mudança de endereço residencial do mestre. Antes de desencarnar, Allan Kardec havia planejado cuidadosamente os motivos daquela alteração de domicílio, quando previra descentralização e sistematização das atividades. Assim, produzira um documento aviso que seria publicado na primeira página da Revista Espírita de abril de 1869, informando: a) que o escritório de assinaturas e de expedição da Revista seria alterado para a sede da Livraria Espírita, Rua de Lille, no 7: b) que a sede da redação da Revista e o seu domicílio pessoal seriam transferidos para a Avenida e Villa Ségur, no 39, atrás dos Inválidos.
Existia, assim, um Plano de Trabalho, de conteúdo dinamizador, para os anos futuros, o qual teve que ser revisto pelos continuadores da missão do Codificador, sobretudo pelos dirigentes da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE), também conhecida como Sociedade Espírita de Paris ou Sociedade de Paris. Allan Kardec planejara, por exemplo, o Projeto de Comunidade Espírita, em sua propriedade particular, na Villa Ségur, idealizado em 1862 e que visaria “facilitar a tarefa do seu sucessor”.1 Ficamos a imaginar o impacto daqueles primeiros dias sem a presença física do Codificador.Ausente o líder, o presidente da Organização, todos certamente estavam dominados pela perplexidade, pela insegurança quanto ao porvir. São vários os registros, na História, de Instituições ou de Comunidades que se extinguiram em decorrência do desaparecimento prematuro, inesperado, do seu principal dirigente, sobretudo quando estratégias não foram estabelecidas, quanto aos tempos futuros, visando a perenidade da obra.
Os sucessores do Codificador tinham conhecimento da missão prevista para o Espiritismo, consoante mensagem obtida em Marselha, através do médium Sr. Jorge Genouillat, em 15 de abril de 1860, quando a Entidade comunicante, que se assina Um Espírito, declara:

O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra. Ele [...] restaurará a religião do Cristo [...]. Extinguirá para sempre o ateísmo e o materialismo [...].2

Igualmente sabiam a respeito da “Influência do Espiritismo no Progresso”, e que ele se tornaria “crença geral” e marcaria “nova era na história da humanidade”, conforme exarado na questão 798 de O Livro dos Espíritos.3 Eram assim imensos os desafios para manter a chama do Consolador prometido por Jesus e acesa por Allan Kardec. Assim, Kardec, sabendo das consequências que o seu retorno repentino e ausência direta poderiam causar, naquele momento crucial, manifesta-se na SPEE, por considerar, sobretudo, os planos de trabalho cogitados para o futuro, metas a concretizar e a consolidar. No decorrer do mês de abril de 1869, suas comunicações foram transmitidas a vários médiuns e reunidas numa única mensagem, divulgadas na Revista Espírita de maio daquele ano.
Dita o Codificador, dirigindo-se aos seus amigos e companheiros dos primeiros momentos do advento do Espiritismo:

Como vos agradecer, senhores, pelos vossos bons sentimentos e pelas verdades expressas com tanta eloquência sobre os meus restos mortais? [...] Que não seja Paris, que não seja a França o teatro de vossa ação; vamos a toda parte! [...] Sede confiantes em vossas forças: elas produzirão grandes efeitos se as empregardes com prudência; sede confiantes na força da ideia que vos une, pois ela é indestrutível. [...] Coragem, pois, e esperança. Esperança!... [...]4

Em junho de 1869 a Revue publica nova comunicação do Codificador, no capítulo Dissertações Espíritas, intitulada “O exemplo é o mais poderoso agente de propagação”, obtida em 30 de abril daquele ano. Em seus comentários, após as saudações afetuosas, informa que na última sessão, quando fora evocado, não atendera porque “estava ocupado alhures”, esclarecendo:

Nossos trabalhos como Espíritos são muito mais extensos do que podeis supor e os instrumentos de nossos pensamentos nem sempre estão disponíveis.
Tenho ainda alguns conselhos a vos dar quanto à marcha que deveis seguir perante o público, com o objetivo de fazer progredir a obra a que devotei a minha vida corporal, e cujo aperfeiçoamento acompanho na erraticidade.5 (Grifo nosso.)

Em seguida, exorta:

O que vos recomendo principalmente e antes de tudo, é a tolerância, a afeição, a simpatia de uns para com os outros e também para com os incrédulos.5 (Grifamos.)

Essas comunicações devem ter sido um bálsamo, um estímulo aos sucessores do mestre, a exemplo do Sr.Muller, do Sr. Levent (vice-presidente da SPEE), do amigo Alexandre Delanne,do jovem Camille Flammarion, de Bittard (Gerente da Livraria) e do Sr.Malet (que seria o novo presidente da SPEE), dentre outros. Antes dessas comunicações, os componentes da Comissão que dirigia a SPEE se reuniram, em 9 de abril de 1869, com a seguinte justificativa:

Em face das dificuldades surgidas com a morte do Sr.Allan Kardec, e para não deixar em suspenso os graves interesses que ele sempre soube salvaguardar, com tanta prudência quanto sabedoria, a Sociedade de Paris foi levada, no mais curto prazo, a se constituir de maneira regular e estável, tanto para as providências junto às autoridades, quanto para tranquilizar os espíritos timoratos sobre as consequências do acontecimento imprevisto que, repentinamente, feriu toda a grande família espírita.6


Durante o encontro, é apresentado pelo vice-presidente Levent o novo presidente da SPEE, sucessor de Allan Kardec, o Sr. Malet, que “reúne todas as grandes qualidades necessárias para assegurar à Sociedade uma direção firme e sábia”.7 Levent enfatiza em seu discurso a dedicação do Codificador, que dirigira a SPEE desde a sua fundação, declarando:

Esperemos que tão nobre exemplo não seja perdido; que tantos trabalhos não fiquem estéreis e que a obra do mestre seja continuada; numa palavra, que ele não tenha semeado em terra ingrata.7

Em seguida, apresenta duas metas indispensáveis para a nova gestão:

[...] 1º a mais completa união entre todos os societários; 2º respeito ao programa novo que o saudoso presidente, na sua solicitude esclarecida e em sua lúcida previsão, tinha preparado há alguns meses e publicado na Revista de dezembro último [1868].7

Esse programa faz parte do documento intitulado “Constituição do Espiritismo”, considerado o canto do cisne, de “reflexões e inspirações do Codificador”8, que “resultou de plano concebido pelo menos oito ou nove anos antes de 1869”,8 e que em dezembro de 1868 foi publicado com “cortes e acréscimos”. Mais tarde, em 1890, esse documento seria inserido no livro Obras Póstumas, por Pierre Gaëtan Leymarie. Compulsando a Revista Espírita de 1869, observaremos, no período de abril a dezembro daquele ano, metas concretizadas pela nova gestão pós-Allan Kardec, e outros acontecimentos ocorridos em face de sua desencarnação:

• A expedição da Revista Espírita é transferida para a sede da Livraria Espírita, à Rua de Lille, no 7;9
• O escritório da redação da Revue Spirite e o domicílio pessoal do casal Allan Kardec passam para a Avenida e Villa Ségur, no 39, atrás dos Inválidos;9
• A SPEE faria as suas sessões, provisoriamente, no mesmo local da Livraria;9
• São realizadas reuniões da nova gestão, através da Comissão Central, visando “não deixar um só instante a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas sem direção legal, aceita e reconhecida”;10
• Posse dos sete componentes da nova diretoria para o período 1869-1870, composta pelos Srs. Malet, Levent, Canaguier, Ravan, Desliens, Delanne e Tailleur, sob a presidência do primeiro;
• Doação à Caixa Geral do Espiritismo, pela Sra. Allan Kardec, Amélie Boudet, do “excedente dos lucros provenientes da venda dos livros espíritas e das assinaturas da Revista, bem como das operações da Livraria Espírita”,11 mediante condições expressas no documento de cessão;
• Em julho informa a concretização da 11a edição de O Livro dos Médiuns e a 4a edição de O Céu e o Inferno;12
• Em agosto, a Revista informa a “Constituição da Sociedade Anônima sem fins lucrativos e de capital variável da Caixa Geral e Central do Espiritismo”, 13 consoante ato de 3 de julho de 1869, idealizada pela Sra. Allan Kardec e formada com o concurso de mais seis outros espíritas. No ato constitutivo a descrição do objetivo da nova Sociedade: “[...] tornar conhecido o Espiritismo por todos os meios autorizados pelas leis”.13 A iniciativa foi alvo de calorosas felicitações e grande satisfação por parte de correspondentes e dos espíritas em geral – destacaria o exemplar da Revue do mês de setembro de 1869;14
• Em setembro, anuncia a Revista a demissão do Sr.Malet, a pedido, da presidência da SPEE;15
• Em dezembro, é publicada matéria acerca da “Sessão Anual Comemorativa dos Mortos”, realizada em 1o de novembro de 1869, sobretudo em especial reconhecimento à memória de Allan Kardec.16

Depreende-se, assim, que foram intensas as atividades daqueles “espíritas da primeira hora do Espiritismo”, nos instantes desafiadores da nova fase que experimentaria o Movimento Espírita nascente nas terras da França, mas cujo campo de atuação seria o mundo! A esses pioneiros certamente muito devem os primeiros desbravadores do Espiritismo no Brasil. A todos eles nossas homenagens.

Joana D'Arc Por Ela Mesma



Livro psicografado por Ermance Dufaux, moderna edição da Petit Editora em linguagem atualizada, é um marco na história do Espiritismo. Publicado em Paris, em 1855 - dois anos antes do lançamento de "O Livro dos Espíritos" -, é obra de inestimável valor, um clássico que resgata a memória daquela que foi a heroína da França, médium que, entre outras percepções, era capaz de profetizar acontecimentos.
Toda a verdade sobre seus feitos heróicos, sua origem, suas idéias, sentimentos, alegrias e sofrimentos estão retratados neste livro. É Joana D'Arc de corpo inteiro, que se desvela diante do leitor, sem esconder nenhum detalhe de tudo que lhe aconteceu durante sua breve existência, inclusive as visões e os diálogos com os benfeitores espirituais que a assistiram. Foi por intermédio da médium Ermance Dufaux que Joana manifestou-se. Na "Revista Espírita" (Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira), de 1858, Kardec refere-se à mediunidade da jovem: "Embora a faculdade da senhorita Dufaux se preste à evocação de qualquer espírito, de que nós mesmos tivemos provas nas comunicações pessoais que ela nos transmitiu, sua especialidade é a História".

Trecho do livro:
"Essa negociação logo começou a se arrastar; por um lado, o conde de Ligny não conseguia se decidir a me entregar aos meus inimigos e aos carniceiros da Inquisição; por outro lado, Carlos VII tentava obter, junto ao duque de Borgonha, uma autorização para pagar meu resgate. Esses atrasos aumentavam ainda mais o ódio de meus inimigos, que o descarregavam em todos os que se interessavam por mim, mesmo nos que guardavam um silêncio prudente. Uma bretã, chamada Pierrone, foi queimada por ter afirmado que eu era boa e que tudo o que eu fazia era bem feito, aos olhos de Deus. Para que fosse punida com alguma aparência de justiça, alegou-se que ela havia blasfemado, dizendo que Deus lhe aparecia freqüentemente, vestido com uma longa vestimenta branca, coberta por uma túnica vermelha. Mesmo que ela estivesse cometendo o delito de mentir, bastaria que fosse internada em um hospício.
O conde de Ligny começou a vacilar; só foi contido pelos apelos de sua mulher, que se jogou a seus pés, por diversas vezes, para lhe suplicar que não me enviasse para a morte. Apesar dos cuidados que minhas nobres hospedeiras tomavam para me esconder as notícias, eu não deixava de tomar conhecimento delas. O que me causava mais sofrimento era estar impossibilitada de socorrer Compiègne. O desejo de levantar o cerco à cidade fora um dos maiores motivos de minha tentativa de evasão do castelo de Beaulieu. Meus inimigos se aproveitavam de minhas preocupações. Os guardas me davam, todos os dias, falsas informações, dando conta de derrotas dos franceses, ou de novas desgraças que teriam se abatido sobre eles. Vendo como isso me afligia, um deles chegou ao ponto de me dizer que todos os habitantes de Compiègne, a partir da idade de sete anos, seriam massacrados. Essa notícia me provocou uma dor tão grande que quase enlouqueci; muitas vezes eu gritava, em minha perturbação e agitação: Como Deus deixaria perecer as boas pessoas de Compiègne, tão fiéis a seu mestre?
A notícia de que eu fora vendida aos ingleses acabou por me fazer perder a cabeça. Decidi que iria tentar de tudo para não cair nas mãos dos inimigos, o que me deixaria completamente sem esperanças de socorrer os habitantes de Compiègne. Minhas santas protetoras tentaram, em vão, acalmar meu nervosismo. Só me restava uma oportunidade de escapar, mas era arriscada: teria que me atirar do alto da torre onde estava encerrada, que não tinha menos de 30 metros de altura. Não me ocorreu, entretanto, o pensamento de que eu pudesse me matar, ou mesmo me ferir. A execução desse projeto era bastante difícil para mim, vigiada como era. São Miguel, Santa Margarida e Santa Catarina, principalmente, fizeram de tudo para que eu mudasse de idéia. Santa Catarina me dizia, quase todos os dias, que não seria preciso que eu saltasse; que Deus viria me ajudar, assim como aos habitantes de Compiègne. Eu lhe respondi que, já que Deus iria socorrê-los, eu queria estar lá.
- Joana - respondeu ela -, é preciso que tu suportes com paciência o que acontecerá; tu não serás libertada antes que vejas o rei-menino da Inglaterra.
- Pois é - respondi eu. - Mas eu não quero vê-lo, nem cair nas mãos dos ingleses.
Quando chegou o momento propício, encomendei-me a Deus e a Nossa Senhora; fechei os olhos e tomei impulso. Primeiro, senti que percorria o espaço com rapidez; depois, tive a impressão de que minha queda se tornava mais lenta, como se braços estivessem me sustentando. Entretanto, quando toquei o solo, minha cabeça bateu com força contra uma pedra; a dor que senti me fez desmaiar. Os guardas acorreram; vendo-me imóvel, pensaram que estava morta. Logo recobrei os sentidos e lhes perguntei, completamente atônita, por que eu estava lá. Eles me disseram que eu tinha me jogado da torre. Perdera completamente a memória do que ocorrera.
Enquanto me desesperava por estar impossibilitada de correr em socorro dos habitantes de Compiègne, escutei a voz de Santa Catarina, que me dizia:
- Joana, tem coragem! Tu ficarás boa e o povo de Compiègne será socorrido.
Mas essa promessa não foi o suficiente para me tranqüilizar sobre o destino dos moradores daquela fiel cidade; fiquei tão abalada pela minha impotência em ajudá-los que passei três dias me recusando a ingerir qualquer tipo de alimento.
Minha desobediência às determinações dos santos me causava muito desgosto. Santa Catarina, vendo que eu lamentava amargamente esse erro, disse-me que me confessasse e pedisse perdão a Deus. Obedeci. Ela me garantiu que Deus tinha me atendido e que, até a festa de São Martinho, do inverno, Ele socorreria os habitantes de Compiègne.
Minhas boas amigas, a senhora de Beaurevoir e a senhorita de Luxembourg, não me abandonaram; cercaram-me de cuidados constantes e não demorei a me restabelecer completamente. Uma nova provação me aguardava: teria que deixar essas amigas tão queridas, que Deus me concedera durante meu infortúnio. O momento do adeus foi muito doloroso; parecia a nós três que aquela seria a última vez em que nos veríamos na terra; um vago pressentimento me fazia temer infelicidades mais terríveis; mas a religião me deu apoio. Deixei-as levando no coração a esperança de revê-las em uma vida melhor.
Fui levada a Arras, lugar onde os oficiais nomeados pelos conselheiros do rei-menino deveriam me buscar. Logo me conduziram ao castelo do Crotoy, na Picardia. Lá fui tratada com muito mais rigor do que em Beaurevoir; mas também tive o consolo de uma amizade: um padre de Deus, homem cheio de mérito e virtudes, estava preso na mesma prisão. Era Nicolas Quenville, chanceler da igreja de Amiens, doutor em direito canônico e direito civil. Quase todos os dias, ele celebrava a santa missa em uma sala do calabouço que tinha essa finalidade. Como era muito devota, eu assistia sempre a essa missa e recebia quase todos os dias os sacramentos da eucaristia. Os santos me apareciam sempre, especialmente São Miguel. Ele fizera para mim diversas previsões a respeito da França; eu repetira a Carlos VII as que lhe diziam respeito, em particular. Todas se cumpriram. Os santos também me haviam feito grandes revelações sobre o duque Charles d'Orléans, então prisioneiro na Inglaterra; disseram-me, entre outras coisas, que seu filho único, que nasceu muitos anos após minha morte, subiria ao trono depois do neto de Carlos VII, e que sua memória seria venerada entre os franceses. Outras revelações importantes me foram feitas naquela época; mas repeti-las seria uma divagação inútil e tediosa.
Enquanto definhava resignadamente em uma triste prisão, as promessas de meus celestes protetores se realizavam: os franceses obtiveram diversas vitórias e Compiègne fora libertada. Gourmay-sur-Aronde, Pont-Sainte-Maxence, Longueuil e muitas outras cidades haviam permanecido sob domínio francês. Meus inimigos me ocultavam cuidadosamente essas notícias; mas os santos as contavam para mim e eu sentia mais alegria do que se tivessem anunciado minha libertação. Poton de Xaintrailles e seus bravos companheiros terminavam minha obra com dignidade, graças à sua bravura e à proteção dos Céus. Mas os ingleses me viram como a causadora de suas derrotas e sua raiva contra mim aumentou. Em altos brados, até os soldados mais rasos exigiam minha morte. Embora fosse sua prisioneira, eles me temiam tanto que se recusavam a participar de qualquer incursão, pensando que, enquanto eu vivesse, só poderiam obter derrotas.
Os ingleses subalternos se comportavam como tiranos em relação aos franceses, que suportavam o jugo com impaciência. Tiravam as mulheres de seus maridos e as filhas, de seus pais; subtraíam de infelizes pais de família, muitas vezes, os frutos de seu trabalho, para dissipá-los em orgias. Nada se podia comparar à horrenda miséria dos franceses. Muitos procuravam no suicídio um remédio para os males, que eram mais terríveis que a morte. Mas, em sua grande maioria, tornavam-se escravos dóceis e covardes aduladores de seus cruéis perseguidores. A Universidade de Paris, que tantas vezes dera exemplos de sabedoria, era então composta inteiramente por esse tipo de gente. Essa instituição escreveu duas cartas no dia 2 de novembro; uma delas, dirigida a Pierre Cauchon, bispo de Beauvais, lamentava a lentidão deste, dizendo-lhe que, se ele tivesse agido com a presteza necessária, meu processo já teria começado; e que, longe disso, eu ainda nem estava em suas mãos. A carta terminava lhe fazendo um convite para me julgar em Paris. A outra missiva era destinada ao menino-rei, ou seja, aos seus conselheiros. Tinha por finalidade convencê-los a me entregar ao bispo de Beauvais e à Inquisição. O duque de Bedford e o cônsul inglês esperavam que essa medida jogasse sobre a nação francesa a desonra pública de uma morte que, afinal, seria útil aos interesses ingleses.
Novos reveses vieram agravar minha situação, aumentando o terror supersticioso de meus inimigos. Decidiram então me transferir para Rouen, onde estavam o rei-menino e seus conselheiros. Durante a viagem de Crotoy até a capital normanda, fizemos algumas paradas. Na última delas, enquanto me preparava para montar no cavalo, um inglês que estava perto de mim, achando que eu não montava com rapidez suficiente, deu-me um golpe de lança na parte do corpo que entra em contato com a sela. Embora o ferimento não fosse profundo, não deixou de me provocar dores insuportáveis.
Fui encarcerada na grande torre do castelo de Rouen. Haviam forjado, para mim, uma espécie de gaiola de ferro, dentro da qual me puseram. Fiquei em um espaço bastante estreito; puseram-me uma grossa corrente no pescoço, outra na cintura e outras nos pés e nas mãos. Teria sucumbido a esse terrível infortúnio se Deus e minhas santas protetoras não tivessem me trazido consolo. O anjo Gabriel, o mesmo que anunciou à Virgem Maria sua divina missão, veio me visitar diversas vezes. Nada pode descrever a tocante solicitude e o incrível conforto que me deram. Morrendo de fome, vestida pela metade, cercada de imundícies e machucada pelos ferros, eu tirava da religião a coragem para perdoar meus carrascos.
A duquesa de Bedford, irmã do duque de Borgonha, logo soube como eu estava sendo tratada; tocada pela piedade, tanto se aplicou em meu favor junto ao duque, seu marido, que fui transferida para um aposento bastante amplo, iluminado por uma janela que se abria para um campo. Minha situação foi um pouco amenizada. Durante o dia, eu era acorrentada pelos pés; mas as correntes eram bastante longas para me permitir andar um pouco na cela. Durante a noite, eu era presa pelos pés por um par de correntes presas firmemente em uma grande peça de madeira. Outra corrente era posta ao redor de minha cintura; de tal forma que eu não podia me mover. Cinco ingleses, escolhidos entre as camadas mais baixas da população, foram encarregados de me vigiar. Três deles dormiam de noite em minha cela, enquanto os dois restantes vigiavam a porta. Diariamente, atormentavam-me com as injúrias mais sórdidas; divertiam-se me acordando durante a noite, dizendo-me que eu iria morrer e que iriam me conduzir à fogueira. Apesar disso, eu não conseguia acreditar que os ingleses quisessem me matar, pois não cometera nenhum crime que pudesse me valer a pena capital. Achava que me devolveriam em troca de dinheiro; e que, se eu ainda não estava livre, era porque Carlos VII não terminara as negociações pelo meu resgate.
Eu era extremamente casta, mas essa virtude foi para mim uma fonte de novas provações. Meus guardas, sabendo que detestava os maus costumes, divertiam-se repetindo canções obscenas e trocando palavras indecentes. Não satisfeitos com as palavras, tentaram por diversas vezes me violentar. Isso acontecia tanto por vontade deles mesmos quanto por obediência ao bispo, que lhes prometera uma grande recompensa se conseguissem tirar minha virgindade. Caso tivessem conseguido, Cauchon poderia facilmente obter minha condenação como bruxa. A salvação do gênero humano saíra de uma virgem. Acreditava-se quase universalmente, no mundo cristão, que Satã nutria pela mulher imaculada uma aversão insuperável e respeitosa, o que tornava essa qualidade incompatível com a magia e a bruxaria. Certa vez, os guardas foram tão longe que, se o conde de Warwick, atraído por meus gritos, não tivesse vindo em meu socorro, eu estaria perdida. Graças a este senhor, os guardas foram trocados por outros, que me respeitaram mais. Os perigos desse tipo, que eu correra desde que saíra do castelo de Beaurevoir, fizeram-me sentir um profundo reconhecimento por minhas santas protetoras. Com meus trajes de homem, ficava menos expostas às indignidades. Se tivesse cedido à insistência das senhoras de Beaurevoir, ao sair da casa delas, teria perdido a segurança que agora me davam essas roupas.
Algumas pessoas vinham me observar, embora isso fosse um favor dificilmente concedido; o que era uma felicidade para mim, pois as perguntas de uns, as zombarias de outros e a curiosidade de todos, juntamente com uma enorme indiferença, eram-me extremamente penosas. Nas grandes desgraças, o isolamento é uma graça que todos os desafortunados sabem apreciar. Pelo menos podemos chorar à vontade, sem medo de olhares indiscretos e indiferentes.
Meu processo custou muito dinheiro aos ingleses; além da enorme soma que gastaram para me obter, pagaram todas as custas; fizeram também pagamentos consideráveis a todos os que nele tomaram parte.
O bispo não podia exercer seu poder na diocese de Rouen sem o consentimento do capítulo investido da autoridade arquiepiscopal, já que a sede de Rouen ainda não fora ocupada. Então solicitou a autorização aos religiosos, que obteve sem dificuldade. Os documentos que lhe concediam território e jurisdição para instruir meu processo em toda a região da diocese foram redigidos prontamente.
Os documentos promulgados pelo menino-rei surgiram logo depois. Em seu nome, os conselheiros autorizavam que eu fosse levada a julgamento. Mas enquanto concediam ao bispo de Beauvais o direito de instruir o processo, juntamente com a Inquisição, davam a entender que só me entregavam à justiça eclesiástica com certa repugnância. Os conselheiros se reservavam o direito de contestação, em nome do jovem Henrique, caso eu não fosse condenada à morte. Com isso, não restava para mim nenhuma oportunidade de salvação.
Cauchon tomou todas as precauções para seguir escrupulosamente os procedimentos utilizados pela Inquisição, de modo que o julgamento que iria presidir usufruísse da mesma validade infalível. Para isso, julgava indispensável a presença do inquisidor; portanto, envidou todos os esforços para convencê-lo a tomar parte no processo. Mas se ele desejava ardentemente que o irmão Jacques Graverand estivesse entre os juízes, este não desejava de forma nenhuma figurar no caso. Presentes, promessas, até ameaças de morte, nada foi poupado para vencer seus escrúpulos; por bem ou por mal, ele teve que se envolver em meu processo. Para a diocese de Rouen, ele indicou Jean Le Maistre, um dominicano, a quem não agradava muito a missão que lhe fora confiada. Ele levantou milhares de obstáculos e conseguiu participar apenas como testemunha e douto consultor. Mais tarde, entretanto, teve que aceitar o papel de juiz.
O bispo de Beauvais realizou uma conferência com oito doutores diplomados e mestres em ciências humanas, para combinar as primeiras medidas a serem tomadas. Jean Le Maistre não participou; no entanto, figurou como juiz no processo verbal dessa sessão. Nela foram levantados todos os detalhes necessários sobre minha pessoa, sobre minha captura e sobre meus pretensos crimes. Foram lidas todas as formalidades que diziam respeito ao meu processo, tais como os documentos que o autorizavam e as permissões territoriais concedidas ao bispo de Beauvais. Após a exposição de motivos da conferência, o bispo instruiu os colegas sobre as informações que já existiam sobre mim e, de comum acordo, decidiram que coletariam novas informações, mais amplas e precisas. Procedeu-se, então, à eleição dos oficiais do tribunal e ao estabelecimento de todas as preliminares do processo.
Quase todos os doutores sugeriram que eu deveria ser transferida, conforme o costume, para uma prisão eclesiástica; mas o bispo fez pé firme e declarou que não seria ele quem iria me tirar do castelo de Rouen. Essa resposta provocou muitos murmúrios. Mas Cauchon tomou tanto conhecimento do descontentamento dos doutores consultados quanto de minhas reclamações.
Numa segunda sessão, realizada em sua casa, o bispo leu o processo verbal da assembléia anterior e, em seguida, distribuiu aos conselheiros e aos juízes assistentes as informações obtidas a meu respeito, tanto em Domrémy quanto em Vaucouleurs, assim como nos lugares mais freqüentados por mim.
Tinham lhe informado que eu era boa filha, casta, modesta, paciente, moderada, prudente, muito meiga, trabalhadora, temente a Deus, e que gostava de cuidar de doentes; que era bem-educada, de acordo com meu nível social, e dotada de boas maneiras; que eu tinha uma conversa tranqüila e honesta; que nunca praguejava, que obedecia aos meus pais e que procurava a companhia das mulheres e moças mais virtuosas; que quando terminava os trabalhos domésticos, que me ocupavam desde o nascimento até a época em que deixei a região, em vez de perambular pelas ruas ou ir dançar com as outras jovens, eu ia me ajoelhar na igreja para rezar, com reverência e fervor; que eu era tão tímida que a menor palavra me perturbava; e tão caridosa que, freqüentemente, repartia meu pão com os pobres; enfim, tão hospitaleira que meu pai, muitas vezes, teve que usar de sua autoridade para me impedir de ceder meu leito a pobres desabrigados; que assistia regularmente às missas e recebia os sacramentos com a disposição de uma boa cristã; minhas ocupações, diziam, eram as de todas as crianças do vilarejo: o trabalho de colheita, juntamente com os outros moradores, e os cuidados com a casa, divididos com minha mãe e minha irmã. Meus divertimentos eram tão inocentes quanto minhas ocupações. De vez em quando, fazia peregrinações e acendia velas diante das imagens de Nossa Senhora e dos santos. No verão, trançava guirlandas de flores com minhas amigas, para decorar as capelas campestres. Costumava, também, ir com minhas amigas cantar sob a árvore das fadas; era uma grande faia, de notável beleza, que ficava próxima a uma fonte. Já falei dela no começo deste relato. A árvore servia de ponto de reunião para todo o povoado; moças e rapazes iam dançar lá, acompanhados de seus pais; lá fazíamos refeições campestres, alegradas pelos trovadores itinerantes ou pelas histórias contadas pelas boas mulheres do vilarejo; os castelãos de Domrémy não deixavam de se misturar a esses folguedos. Catherine de la Roche, senhora de Domrémy, esposa de Jean de Boulermon, sempre comparecia, acompanhada de suas filhas. Nas procissões, os galhos da árvore venerável, repletas de guirlandas, transformavam-se em um pequeno santuário florido, onde era depositada a imagem do Salvador do mundo.
Não havia nisso nada de repreensível. Cauchon decidiu então falsificar os depoimentos que compunham a investigação, que transmitiu à assembléia da maneira que achou melhor."