MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)
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A classificação apresentada por Allan Kardec em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, acerca dos mundos habitados, nos apresenta as facetas coletivas, agregadas ao processo de evolução, destacando, entre outras características, que no mundo de regeneração predomina a ideia do bem. Mas, para desejar, é preciso ter uma ideia do que é esse bem. Amadurecer a ideia do bem é parte do avanço da humanidade... Trabalhar a consciência do que se deseja como mundo de regeneração faz parte do ingresso de entrada nesse novo contexto.
Ainda que a evolução seja um continuum, como a vida encarnada, ela tem ciclos, momentos de transição em que esse processo atinge ápices. Apesar dessas demarcações, a nossa percepção da melhora por vezes é prejudicada, por se fazer de forma isolada, descontextualizada.
Assustamo-nos, boquiabertos, com os espetáculos de violência, tão temidos pelas gerações atuais. Passam despercebidos os avanços ocorridos no campo da extinção do preconceito e da escravidão, os progressos na promoção da equidade e do respeito e, ainda, a valorização crescente do conhecimento e dos direitos. Falamos do individualismo, esquecendo este como uma consequência da autonomia de determinados grupos, que acabam por precisar menos do próximo, o que gera a oportunidade do aprendizado de amar sem precisar do outro.
O predomínio do bem será denotado pela prevalência do diálogo, da valorização da liberdade e da igualdade associadas à ideia de fraternidade, e ainda, da reconceituação do prazer. Sim, o prazer precisa ser revisto no contexto de uma época de regeneração, como instrumento de progresso, proscrito em outras épocas, mas necessário, como força a ser educada no processo de evolução do Espírito encarnado. Para entender o bem, é preciso entender o conceito de bom, do que valorizamos como coletividade e quais serão esses valores em um contexto de transição.
O prazer valorizado como produto, como objeto de troca e opressão nos jogos de poder, causa tristeza e vício. Como disfunção que mistura o prazer com a dor, em um engano fantasiado de glória, pelo consumo superficial de coisas e pessoas, em um vórtice insaciável, mais focado na opinião dos outros do que na comunhão de almas. Transformado em mercadoria, o prazer se sobrepõe ao diálogo e ao convívio, elementos essenciais na relação de amor com o próximo, ideia já asseverada por Jesus.
Na regeneração, é preciso transcender o conceito de prazer, agregar ao seu significado consensuado à visão da confiança mútua, do respeito e da riqueza dos sentimentos, para ser um prazer para mais além. O prazer, entendido de forma unânime como uma coisa boa, demanda comedimento para não se converter em fonte de decepção e sofrimento, passando de benefício a instância de resgate.
A luta pelo prazer, como desejo individualista, desconsidera as potencialidades desse instrumento valioso para o crescimento do Espírito, bem como a importância do gozo dos bons momentos que importam não só pelo “o que fazemos” e sim pelo “como fazemos” e “com quem fazemos”. O prazer sem pensar no outro, nas consequências e nas interações é raso e nos empurra ao ciclo interminável de busca pelo prazer, qualificado pela quantidade.
A regeneração demanda reflexão, uma visão integrada e global que nos permita enxergar traços de onde queremos chegar na jornada do Espírito encarnado e, ainda, avaliar as potencialidades das situações presentes e como aproveitá-las nessa caminhada. Exemplificado por uma breve análise do prazer neste artigo, fica claro que outros sentimentos trazem em si o gérmen de construção de um mundo melhor, necessitando de reflexão sobre as disfunções de que eles têm sido vítimas, na visão de que regenerar é melhorar, é uma arte, diante dos desafios do mundo real.
Nota do Autor:
Este artigo é uma síntese autoral das discussões realizadas nas oficinas com jovens, conduzidas por Alberto Almeida (PA) e Janine Mattar/Frederico Pifano (ES) no âmbito do 2° Congresso Espírita do Distrito Federal, realizado este ano em Brasília-DF.
Fonte: http://www.oconsolador.com.br/ano6/274/marcus_braga.html
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