domingo, 9 de dezembro de 2018

Kardec esclarece: Influência Moral dos Médiuns, parte 1



QUESTÕES DIVERSAS

DISSERTAÇÃO DE UM ESPÍRITO SOBRE A INFLUÊNCIA MORAL


226. 1. O desenvolvimento da mediunidade se processa na razão do desenvolvimento moral do médium?

— Não. A faculdade propriamente dita é orgânica, e portanto independente da moral. Mas já não acontece o mesmo com o seu uso, que pode ser bom ou mau, segundo as qualidades do médium.

2. Sempre se disse à mediunidade é um dom de Deus, uma graça, um favor divino. Porque, então, não é um privilégio dos homens de bem? E porque há criaturas indignas que a possuem no mais alto grau e a empregam no mau sentido?

— Todas as nossas faculdades são favores que devemos agradecer a Deus, pois há criaturas que não as possuem. Podias perguntar porque Deus concede boa visão a malfeitores, destreza aos larápios, eloqüência aos que só a utilizam para o mal. Acontece o mesmo com a mediunidade. Criaturas indignas a possuem porque dela necessitam mais do que as outras, para se melhorarem. Pensas que Deus recusa os meios de salvação dos culpados? Ele os multiplica nos seus passos, coloca-os nas suas próprias mãos. Cabe a eles aproveitá-los. Judas, o traidor, não fez milagres e não curou doentes, como apóstolo? Deus lhe permitiu esse dom para que mais odiosa lhe parecesse à traição.

3. Os médiuns que empregam mal as suas faculdades, que não as utilizam para o bem ou que não as aproveitam para a sua própria instrução, sofrerão as conseqüências disso?

— Se as usarem mal, serão duplamente punidos, pois perdem a oportunidade de aproveitar um meio a mais de se esclarecerem. Aquele que vê claramente e tropeça é mais censurável que o cego que cai na valeta.

4. Há médiuns que recebem comunicações espontâneas, quase freqüentemente, sobre um mesmo assunto, tratando de certas questões morais, por exemplo, relativas a determinados defeitos. Terá isso algum fim?

— Sim, e a finalidade é esclarecê-los a respeito do assunto constantemente repetido, ou corrigi-los de certos defeitos. É por isso que a uns os Espíritos falam sempre do orgulho, a outros da caridade, pois somente a insistência poderá por fim abrir-lhes os olhos. Não há médium empregando mal a sua faculdade, seja por ambição ou interesse, ou prejudicando-a por um defeito essencial, como o egoísmo, o orgulho, a leviandade, e que não receba de tempos em tempos alguma advertência dos Espíritos. O mal é que na maioria das vezes ele não a toma para si mesmo.


Observação de Kardec: Os Espíritos dão lições quase sempre com reserva, de maneira indireta, para deixarem maior mérito aos que as aproveitam. Mas são tais a cegueira e o orgulho de certas pessoas, que elas não reconhecem nas lições recebidas. E ainda mais: se o Espírito lhes dá a entender que se referem a elas, zangam-se e chamam o Espírito de mentiroso ou de atrevido. Bata isso para mostrar que o Espírito tem razão.

5. Ao receber lições de sentido geral, sem aplicação pessoal, o médium não age como instrumento passivo ao serviço da instrução dos outros?

— Quase sempre esses avisos e conselhos não são dirigidos a ele, mas a outras pessoas que só podemos atingir através da sua mediunidade. Mas ele também, se não estiver cego pelo amor próprio, deve tomar a sua parte. Não penses que a faculdade mediúnica seja dada apenas à correção de uma ou duas pessoas. Não. O objetivo é maior: trata-se da Humanidade. Um médium é um instrumento que, como indivíduo, importa muito pouco. Por isso, quando damos instruções de interesse geral, utilizamos os que nos oferecem as facilidades necessárias. Mas podes estar certo de que chegará o tempo em que os bons médiuns serão muito comuns, para que os Espíritos bons não precisem mais se servir de maus instrumentos.

6. Se as qualidades morais do médium afastam os Espíritos imperfeitos, porque um médium dotado de boas qualidades transmite respostas falsas ou grosseiras?

— Conheces todos os segredos da sua alma? Além disso, sem ser vicioso ele pode ser leviano e frívolo. E pode também necessitar de uma lição, para que se mantenha vigilante.

7. Por que os Espíritos superiores permitem que pessoas dotadas de grande mediunidade, e que poderiam fazer muito bem, se tornem instrumentos do erro?

— Eles procuram influenciá-las, mas quando elas se deixam arrastar por um mau caminho, não as impedem. É por isso que delas se servem com repugnância, porque a verdade não pode ser interpretada pela mentira.(1)

8. É absolutamente impossível receber boas comunicações por um médium imperfeito?

— Um médium imperfeito pode às vezes obter boas coisas, porque, se tem uma boa faculdade, os bons Espíritos podem servir-se dele na falta de outro, em determinada circunstância. Mas não o fazem sempre, pois quando encontram outro que melhor lhes convém, lhe dão preferência.


Observação de Kardec: Deve-se notar que os Espíritos, ao considerarem que um médium deixa de ser bem assistido, tornando-se, por suas imperfeições, presa de Espíritos enganadores, quase sempre provocam circunstâncias que revelam os seus defeitos e o afastam das pessoas sérias, bem intencionadas, de cuja boa fé poderiam abusar. Nesse caso, sejam quais forem as suas faculdades, nada se tem a lamentar.

9. Qual seria o médium que poderíamos considerar perfeito?

— Perfeito? É pena, mas bem sabes que não há perfeição sobre a Terra. Se não fosse assim, não estarias nela. Digamos antes bom médium, e já é muito, pois são raros. O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes.


Nenhum comentário: