sexta-feira, 14 de junho de 2013

Um dia de Buda

MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com

Brasília, DF (Brasil) 
 

 

Um dia de Buda
 
Fruto de um acidente doméstico, Aristeu teve parte de seu corpo queimado. Foi grande a dor na hora e insuportável depois, entre bolhas e o medo da infecção e do estigma das cicatrizes.
Aristeu, que levava uma vida pacata e tranquila, se viu às voltas com os efeitos daquele acidente doméstico, que mobilizou família e amigos na assistência ao bom companheiro. Após o atendimento emergencial, restou a ele dar continuidade ao seu tratamento em um hospital especializado em queimados, onde, dia sim e dia não, ele seguia o rito de pomadas e de unguentos, na troca de curativos sob o olhar atento dos profissionais de saúde.
Na fila de espera, na antessala dos ambulatórios, Aristeu observava atentamente que havia casos piores que o seu. De cada dor, de cada caso narrado, descobria o sofrimento de seu irmão desconhecido, que ele ignorava no conforto do seu lar, vendo o mundo e suas agruras apenas pela tela da televisão.
Assim seguiu o tratamento de Aristeu, que tratou seu corpo e a sua alma, que foi se iluminando à medida que via, no olhar do seu irmão, dor maior do que ele jamais imaginava sentir. Nas queimaduras cicatrizadas nasceu uma nova pele. No seu espírito, regenerado, nasceram novas convicções e visões de mundo.
*
Assim, nos isolamos do mundo, longe de suas realidades, e quando o destino nos empurra para fora dos muros de nossos palácios, nos defrontamos com a doença, a morte, a pobreza e toda sorte de provações.
A ideia de nos pouparmos do mundo, de seus desafios, nos impede de crescer. Preferimos o paraíso da redoma, crer que o mundo seja uma propaganda de refrigerantes, com jovens sorridentes, para se debulhar em lágrimas nos dramas das telenovelas, concluídos com um apertar de botões.
O mundo não e só dor e sofrimento... O mundo não é só alegria esfuziante... O mundo é um mosaico de histórias e desafios, de sorrisos e lágrimas, que nos conduzem a um processo de amadurecimento como Espíritos, na bendita escola que chamamos de planeta Terra.
Negar a dor do próximo não nos isenta do compromisso com os nossos irmãos. A chaga mais proeminente nos dias de hoje, o individualismo, nos leva ao isolamento em castas econômicas, nas quais ignoramos os desafios alheios e deixamos de aprender com isso.
Essa discussão nos conduz a uma profunda reflexão, de como conduzimos nossos trabalhos assistenciais na seara espírita. Que indicadores estabelecemos para classificar esses trabalhos como satisfatórios? Seria a quantidade de bolsas distribuídas? O volume de recursos arrecadados? Será que esquecemos nesse sentido o valor da troca, do olhar, do abraço? A importância do trabalho no bem está no aprendizado profundo do abraço que damos no nosso irmão em dor!
Em hipótese alguma defendo aqui o turismo da caridade, emblemático na visita às comunidades cariocas pelos estrangeiros, como um safári da pobreza. Defendo a nossa interação interventiva e pessoal no trabalho do bem, de forma a falarmos e ouvirmos, nas visitas a hospitais, orfanatos, asilos e toda sorte de instituições que concentrem pessoas necessitadas, tanto quanto nós necessitamos de ouvir aquela palavra de resistência e luta, diante das provas mais agudas, que virão, ou que nos atormentam.
Sidarta Gautama, o Buda, criado no luxo e na opulência, teve a sua iluminação ao sair de suas suntuosas dependências para encontrar as dores humanas. Aristeu também nasceu de novo, reformulando a sua disposição diante da vida. De cada experiência, de cada dor, colhemos o aprendizado, mas ofertamos também a palavra amiga e o sorriso de esperança, em um exercício permanente de amor, na interação com o próximo.
A nossa iluminação se faz quando rompemos as paredes que nos isolam do mundo, no encontro do próximo. Às vezes, precisamos de dias de Buda para refletir sobre essa realidade. Precisamos trabalhar o nosso coração, torná-lo robusto no amor, um exercício que se faz no encontro com o outro, na alegria e na tristeza. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Frase do Dia


"Veja o que você quer, realmente.
A procura da luz inclui o combate à sombra ".




Emmanuel

fonte: http://www.universoespirita.org.br/frases0305/0313.htm

sábado, 9 de março de 2013

Perante Jesus

Elucidações de Emmanuel
Ano 6 - N° 302 - 10 de Março de 2013
 

Perante Jesus

“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens.” — Paulo. (Colossenses, capítulo 3, versículo 23.)

A compreensão do serviço do Cristo, entre as criaturas humanas, alcançará mais tarde a precisa amplitude, para a glorificação dAquele que nos segue de perto, desde o primeiro dia, esclarecendo-nos o caminho com a divina luz.
Se cada homem culto indagasse de si mesmo, quanto ao fundamento essencial de suas atividades na Terra, encontraria sempre, no santuário interior, vastos horizontes para ilações de valor infinito.
Para quem trabalhou no século?
A quem ofereceu o fruto dos labores de cada dia?
Não desejamos menoscabar a posição respeitável das pátrias, das organizações, da família e da personalidade; todavia, não podemos desconhecer-lhes a expressão de relatividade no tempo. No transcurso dos anos, as fronteiras se modificam, as leis evolucionam, o grupo doméstico se renova e o homem se eleva para destinos sempre mais altos.
Tudo o que representa esforço da criatura foi realização de si mesma, no quadro de trabalhos permanentes do Cristo. O que temos efetuado nos séculos constitui benefício ou ofensa a nós mesmos, na obra que pertence ao Senhor e não a nós outros. Legisladores e governados passam no tempo, com a bagagem que lhes é própria, e Jesus permanece a fim de ajuizar da vantagem ou desvantagem da colaboração de cada um no serviço divino da evolução e do aprimoramento.
Administração e obediência, responsabilidades de traçar e seguir são apenas subdivisões da mordomia conferida pelo Senhor aos tutelados.
O trabalho digno é a oportunidade santa. Dentro dos círculos do serviço, a atitude assumida pelo homem honrar-lhe-á ou desonrar-lhe-á a personalidade eterna, perante Jesus Cristo.

Do cap. 57 do livro Pão Nosso, de Emmanuel, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.


fonte: http://www.oconsolador.com.br/ano6/302/emmanuel.html

Entrevista: Walkiria Ank

GUARACI DE LIMA SILVEIRA 
glimasil@hotmail.com
Juiz de Fora, MG (Brasil)

  Walkiria Ank: 
“Este é o momento propício para a semeadura da Doutrina Espírita nos Estados Unidos”
Membro da Sociedade Espírita Renovação, situada no estado americano da Geórgia, a palestrante mineira, radicada há sete anos nos Estados Unidos, fala sobre a atuação do movimento espírita na nação americana

Walkiria Claudia Mendes Silva Ank (foto) é natural de Belo Horizonte-MG. Aos dezessete anos conheceu a Doutrina Espírita, adotando-a como filosofia de vida. Professora, transferiu há sete anos sua residência para os Estados Unidos. É membro da Sociedade Espírita Renovação em Carrollton, na Geórgia,  onde  exerce  as  funções  de  passista,
esclarecedora e palestrante. Soma hoje dezessete anos de atividades doutrinárias. Possui um carisma que encanta e um sorriso que nos faz acreditar sempre nas propostas esclarecedoras e confortadoras da Doutrina Espírita quando sobre ela discorre.

Walkiria concedeu-nos a entrevista seguinte. 
Fale-nos do seu início nas atividades doutrinárias nos Estados Unidos.
A princípio procurei pela internet uma Casa Espírita mais próxima e encontrei a Christian Spiritist Community of Atlanta (CECA), na cidade de Mableton, a 40 minutos de minha casa, numa região onde moram muitos brasileiros. Passados 3 anos, fui convidada a ministrar uma palestra na Renovation Spiritist in Atlanta (SER). Naquela fase a CECA estava com poucas propostas de estudos e me via desejosa de mais estudos, o que a Sociedade Espírita Renovação (SER) me proporcionou. Não posso deixar de mencionar que a CECA já retomou o processo de estudos e que tenho imensa gratidão àquela Casa que me recebeu e me orientou muito para o trabalho que hoje desenvolvo na SER. 
As propostas espíritas são bem recebidas nos Estados Unidos?
Diferente do Brasil, onde a Doutrina Espírita é confundida com as religiões afrodescendentes, muitos a identificam aqui com o Espiritualismo e o Esoterismo. Mas temos observado que não é essa gama de pessoas que nos procuram, até porque, de uma forma ou de outra, já se sentem mais em paz e menos materialistas. Ao contrário do que pensávamos, são os descrentes das religiões tradicionais é que nos procuram. Decepcionados com respostas vazias ou dogmáticas, não encontrando o consolo para suas aflições, encontram na Doutrina Espírita princípios e leis superiores, revelações e conceitos novos do Universo, dos homens e dos Espíritos, objetivando suas vidas e explicando suas dores e sofrimento. 
Fale-nos sobre a Sociedade Espírita Renovação.
A Renovation Spiritist Society, ou Sociedade Espírita Renovação (SER), é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 17 de janeiro de 2007, com o propósito de divulgar o estudo e a prática Espírita codificada por Allan Kardec, considerando o seu triplo aspecto (ciência, filosofia e religião) e servir à Humanidade. Nosso propósito é colocar em prática o Evangelho de Jesus e espalhar os ensinamentos dos Espíritos de Luz. A SER é particularmente devotada ao estudo da Doutrina Espírita e à sua aplicação no dia a dia. 
Existem palestras públicas? Como são realizados os estudos no Centro?
As palestras públicas têm uma particularidade: são realizadas aos domingos, pois os americanos não concebem a ideia de um contato com Deus que não seja nas manhãs de domingo. Temos então duas palestras simultâneas nas manhãs de domingo: uma em português e uma em inglês, acompanhadas pela Evangelização infantil e seguidas pelo passe e água fluidificada. Os estudos em português são realizados basicamente aos sábados. 
Como são formatados os estudos?
O iniciante começa com Noções Básicas e Reforma Íntima. O segundo módulo, O Livro dos Espíritos e o passe, onde o estudante já pode iniciar-se no trabalho propriamente dito. O terceiro módulo, O Evangelho segundo Espiritismo e Corrente Magnética, e o quarto módulo, O Livro dos Médiuns. O quinto módulo, O Céu e o Inferno e Diálogo com as Sombras, saindo desse grupo os possíveis esclarecedores. O sexto módulo: A Gênese e o Manual da Psicografia, de onde sairão os possíveis psicógrafos. O sétimo módulo: Triagem, Fluidoterapia e Ectoplasmia. Esses mesmos estudos são oferecidos aos americanos às quartas-feiras, o que condiz na cultura deles com o dia de Estudos Bíblicos. 
Pode explicar o que é “Corrente Magnética”?
Corrente Magnética é onde os trabalhadores que afloraram a mediunidade iniciam-se nos trabalhos mediúnicos. 
Os estadunidenses participam ativamente desses encontros?
Em nossa casa, particularmente, temos três americanos que concluíram esses estudos e trabalham assiduamente, temos dois americanos em processo de estudo e um casal de hispânicos e dois americanos frequentando. 
Como eles reagem a partir do contato com a Doutrina Espírita?
Os americanos que nos chegam vêm por meio de amigos ou cônjuges brasileiros. Estamos ainda muito no início desse trabalho junto aos americanos. Mas nosso projeto é ambicioso, na reforma de nossa nova sede construímos uma sala espaçosa para as palestras e aulas em inglês, que serão filmadas e divulgadas em nosso site www.atlantaespirita.com com o objetivo de levar o Consolador aos nossos irmãos americanos. A cidade de Atlanta possui apenas três Casas Espíritas, porém em outros estados a Doutrina Espírita tem alcançado um número expressivo de americanos espíritas. Posso citar Nova Jersey, Boston, São Francisco e principalmente a Flórida, onde muitas casas espíritas foram abertas pelos irmãos hispânicos e brasileiros. 
Existem outras instituições espíritas vinculadas ao seu trabalho? Quais?
Trabalhamos em conjunto com Christian Spiritist Community of Atlanta (CECA). Nosso trabalho basicamente com a casa citada é no planejamento e na execução dos Congressos Espíritas em Atlanta, dos quais já houve 5 edições, todas na cidade de Marietta, forte núcleo de brasileiros na Geórgia, sempre no mês de agosto. Nesse trabalho contamos com expositores brasileiros e americanos residentes em outros estados da América do Norte, e com alguns palestrantes vindos diretamente do Brasil. 
Fale-nos sobre o grupo de trabalhadores espíritas que sustentam essas atividades.
O grupo que dirige nossa casa é formado a partir do estatuto que a maioria das casas ligadas à FEB adota. Compõe-se de cinco diretores, que se revezam de dois em dois anos. No momento os diretores são: Gerval Silva, Fátima Connighton, Marcelo Lima, Robinson Viera dos Santos e Sônia Souza. Quanto à sustentação financeira, os associados contribuem com pequeno valor fixado ou importância superior.  
Vocês fazem eventos promocionais para arrecadar verbas?
Fazemos de dois em dois meses um almoço, que foi nomeado de Dia do SER, onde praticamos uma confraternização com todos os frequentadores, estudantes, trabalhadores e amigos e assim somamos esforços financeiros e fraternos. Tivemos a nossa terceira edição de baile e jantar dançante temáticos, que foram de grande sucesso. Nesses eventos recebemos uma média de 150 pessoas, o que resultou na possibilidade da compra de nossa casa. 
Sempre a literatura espírita está presente nas instituições em que trabalha?
Sim, todos os nossos trabalhos estão fundamentados na Codificação e nas obras complementares. Nosso maior problema está em adquirir novos livros. Aproveitamos a ida de amigos ao Brasil ou compramos por meio de alguns sites. 
Já existem distribuidoras de livros espíritas nos Estados Unidos?
Existe uma pequena distribuidora em Boston, que nos auxilia a adquirir alguns livros. Mas acredito fundamentalmente que nosso maior problema está na falta de livros espíritas traduzidos para o inglês. 
Há procura de irmãos de outras nações aí radicados para os estudos da Doutrina?
Como disse, nossa casa ainda é muito nova, apenas 5 anos de existência, mas, pelos relatos de companheiros espíritas de outros estados, vemos que o movimento é grande entre os irmãos hispânicos.  
O número médio de frequentadores das reuniões e/ou estudos gira em torno de quantas pessoas?
Em nossa Casa nas reuniões públicas temos uma média de 40 pessoas, nos grupos de estudos atualmente temos 25 alunos. Temos uma expectativa que a partir do ano que vem, com o espaço maior, possamos abrir novos cursos. 
Como surgiram as Casas Espíritas em que você atuou ou atua?
A Christian Spiritist Community of Atlanta (CECA) nasceu no pequeno apartamento da senhora Maria Cansado, com alguns filhos e amigos. Hoje tem sede própria e desenvolve um belo trabalho. A Sociedade Espírita Renovação (SER) nasceu em um porão cedido pela senhora Margarida Bezerra e amigos, e agora já se estabelece com sede e um número expressivo de trabalhadores e atividades em prol da humanidade levando a todos o estudo, e o consolo da Doutrina dos Espíritos. 
A terapia espírita por meio dos passes e da água fluidificada, bem como a conversa fraterna, é bem aceita e procurada pelos estadunidenses?
Nossas sextas-feiras são dedicadas exclusivamente a esse trabalho: o tratamento espiritual, por meio de passes, água fluidificada, conversa fraterna, 30 minutos de estudo sobre reforma íntima e, quando necessário, o atendimento pelos nossos mentores. Nesse dia especificamente contamos em média com 20 pacientes, se assim pudéssemos chamá-los.  
Como é a proporção entre brasileiros e os demais?
Sempre contamos com um número maior de brasileiros do que americanos ou hispânicos, por enquanto. 
Fale-nos de suas perspectivas quanto ao futuro do Espiritismo nos Estados Unidos e no mundo como um todo.
Há duas vertentes a respeito das perspectivas futuras do Espiritismo aqui nos Estados Unidos. Alguns dizem que o trabalho de Divulgação do Espiritismo será feito pelos nossos filhos, porque nós não nascemos aqui e não falamos tão fluentemente a língua inglesa. Nossos filhos, que são fluentes no idioma e se aculturam melhor à sociedade americana, terão maior facilidade e mais argumentação que nós. Existe, porém, uma outra vertente que diz não, que não podemos esperar, temos a base e as ferramentas no hoje. Eu acredito que as duas vertentes se complementam. A expansão do Espiritismo de forma mais evidente talvez só aconteça quando nossos filhos estiverem à testa do Movimento. Mas temos um trabalho de fundação muito importante, até porque somos nós as bases dos nossos filhos, integrando-os nos fundamentos da Doutrina. 
Em sua opinião, a Doutrina Espírita poderá expandir-se nos Estados Unidos?
Sim. Acredito que gradualmente os fundamentos racionais da Doutrina e o consolo que ela proporciona ganharão espaços nos corações, não só dos americanos, mas do homem em si, que cada vez mais procura explicações para suas aflições e questionamentos. 
Agradecemos muitíssimo sua participação e pedimos que nos deixe suas palavras finais.
Nosso imenso agradecimento pelo interesse da revista O Consolador pelos nossos humildes serviços no continente americano. Acredito que estamos no momento propício para a semeadura da Doutrina Espírita nos Estados Unidos, mas não temos pretensão nenhuma de sermos os grandes desbravadores da Doutrina Espírita. Somos apenas semeadores que nosso Pai Celestial vai encarregando, por meio de nosso Governador Jesus, de preparar as bases e fundamentos e fazendo as pontes necessárias para que esses  Espíritos, ora encarnados como americanos, possam receber essa mensagem de forma receptiva e assim dar seguimento à evolução do nosso planeta.

fonte: http://www.oconsolador.com.br/ano6/302/entrevista.html

Quo Vadis?

MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com

Brasília, DF (Brasil) 


 

Quo Vadis?

De colega do movimento espírita, recebi de presente de aniversário certa feita o DVD do Filme “Quo Vadis?”, de 1951, épico do diretor Mervin LeRoy, baseado em livro de Henryk Sienkiewicz. O filme tem como personagem principal meu homônimo, Marcus Vinicius, o que motivou o referido presente.
Trata-se de um filme épico de uma beleza ímpar e que traz em seu nome uma expressão latina que vem do Novo Testamento (João, 16:5), na fala de Jesus: "E agora vou a aquele que me enviou; e nenhum de vós outros me pergunta: Aonde vais?". “Quo Vadis?” é “Aonde vais?” e o título do filme advém de uma cena onde o Tribuno Marcus Vinicius se encaminha para sair de Roma e Pedro, o apóstolo, faz a pergunta título, relembrando seu compromisso com a causa do Cristianismo.
Inicio este artigo com a referência a esse brilhante filme para provocar a reflexão sobre uma máxima espírita, que é o “Conhece-te a ti mesmo”, frase entalhada no templo de Delfos, na Grécia antiga, e citada na pergunta 919 de “O livro dos Espíritos”. A reflexão proposta é que o “Conhece-te a ti mesmo” pode trazer em si uma dose de determinismo. Sou assim, nasci assim, eu sou sempre assim... - na frase imortalizada da modinha para Gabriela, de Dorival Caymmi.
Penso que nas nossas reflexões diárias, olhando o teto antes de dormir, devemos transcender o “Conhece-te a ti mesmo”, estático e introvertido, e adotar o “Quo Vadis”. Sim, importa avaliarmos ao final de cada dia o que estamos nos tornando, que decisões temos adotado que têm nos levado a determinadas atitudes.
As tendências não são coisas estáticas, deterministas. São forças pujantes e construídas ao longo de nossas encarnações na interação com a vida encarnada e desencarnada. A vontade nos diz para onde vamos a cada dia, frente aos desafios, construindo a nossa encarnação, lutando com as tendências herdadas e sonhando com a melhora futura, perguntado cotidianamente pelo Cristo: “Quo vadis?”.
A cada decisão nos tornamos o homem novo que o Cristo espera de nós ou perpetuamos o homem velho, empedernido nas estagnações. Conhecer a ti mesmo, mapear o que somos, demanda algo mais no processo evolutivo, a força e a coragem para transformar nossas tendências nas atitudes desejadas.
A evolução não se faz no mundo contemplativo e sim na luta diária com os nossos irmãos encarnados, aprendendo a amar e demonstrando a lição aprendida. Assim, o criminoso aprende a virtude e o vilão se converte em herói, nas pequeninas mudanças de atitudes que nos conduzem a momentos de inflexão, das transformações relevantes, onde somos chamados a subir mais um degrau da evolução.
Nas orações noturnas, no momento em que sopesamos o dia, pensemos nos caminhos adotados, até onde eles nos levarão, dado que, se o que somos é o nosso passado, o que seremos no futuro depende das decisões no nosso presente. Não nos iludamos! Cada reencarnação é uma aposta de Deus em nós, na nossa capacidade de superar a nossa inferioridade e de avançar mais rápido pelas decisões certas, ou mais lento pelas decisões erradas.
Importa-nos a coragem para encarar de frente as nossas tendências e sobre ela trabalharmos. Fugir disso pode ser se afogar no mar de nossas dificuldades. Muitos anseiam descobrir seu passado reencarnatório para ficarem ali, admirando suas faltas, esquecidos de que a vida nos impele a avançar, a partir do ponto em que nos encontramos.

fonte: http://www.oconsolador.com.br/ano6/302/marcus_braga.html 
        

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Oração do Perdão


EU PERDÔO

Pai, quando eu for chamado para junto de Ti, quero partir com o coração aliviado de qualquer sentimento menor que possa reter-me ao vale de lágrimas onde me encontro hoje.
Ah, Meu Deus, que nada do que já vivi e ainda vivo seja obstáculo à minha felicidade amanhã!...
Quando eu me for, quero alçar vôo como fazem as aves que planam livres por sobre as misérias humanas, e que não pousam no chão senão para buscar o alimento que as mantém fortes nas alturas!...
Quando meus olhos se cerrarem à ilusão da carne, é de minha vontade que eu me distancie do mundo com a leveza das almas experimentadas na forja das provas árduas, sem que o peso dos sentimento menores impeça meu anseio anseio de libertação!
Desejo, Pai, libertar-me, sendo fiel à Tua lei de amor e de perdão!
Eu compreendo que a Terra é a escola onde Tu nos prepara para a angelitude!...
Eu compreendo que o sofrimento é a lição que nos faz avançar para a glória ou estacionar na senda de novas e mais dolorosas provas!...
Eu compreendo que tudo é seleção: os laços, a estrada, os acontecimentos...
De minha atitudes colherei bem ou mal; com minhas decisões talharei o que serei amanhã. Alegrias infinitas ou sofrimentos sem conta nascem unicamente de meus atos, a revelia do que os outros me fazem ou deixam de fazer....
Por isso, Pai, conduz meu pensamento de tal sorte que, quando chegar minha hora, nada do que vivi possa retardar-me o passo ou prender-me outra vez ao sombrio grilhão da dor. De todos os momentos experimentados, que eu carregue comigo apenas aqueles que me proporcionaram coisas úteis e felizes. Que os infortúnios e mágoas do passado não sejam mais peso em meu coração a impedir a realização dos mais ardentes anseio de felicidade e sublimação!...
As lágrimas que me fizeram verter - eu perdôo.
As dores e as decepções - eu perdôo.
As traições e mentiras - eu perdôo.
As calúnias e as intrigas - eu perdôo.
O ódio e a perseguição - eu perdôo.
Os golpes que me feriram - eu perdôo.
Os sonhos destruídos - eu perdôo.
As esperanças mortas - eu perdôo.
O desamor e a antipatia - eu perdôo.
A indiferença e a má vontade - eu perdôo.
A desconsideração dos amados - eu perdôo.
A cólera e os maus tratos - eu perdôo.
A negligência e o esquecimento - eu perdôo.
O mundo, com todo o seu mal - eu perdôo.
A partir de hoje proponho-me a perdoar porque a felicidade real é aquele que nasce do esquecimento de todas as faltas!... No lugar da mágoa e do ressentimento, coloco a compreensão e o entendimento; no lugar da revolta, coloco a fé na Tua Sabedoria e Justiça; no lugar da dor, coloco o esquecimento de mim mesmo; no lugar do pranto coloco a certeza do riso e da esperança porvindoura; no lugar do desejo de vingança, coloco a imagem do Cordeiro imolado e o mais sublime dos perdões... Só assim, Pai, se um dia eu tiver que retornar à carne, poderei me levantar forte e determinado sobre os meus pés e não obstante todos os sofrimentos que experimentar, serei naturalmente capaz de amar acima de todo desamor, de doar mesmo que despossuído de tudo, de fazer feliz aos que me rodearem, de honrar qualquer tarefa que me concederes, de trabalhar alegremente mesmo que em meio a todos impedimentos, de estender a mão ainda que em mais completa solidão e abandono, de secar lágrimas ainda que aos prantos, de acreditar mesmo que desacreditado, e de transformar tudo em volta pela força de minha vontade, porque só o perdão rasga os véus sombrios do  ressentimento e da revolta, frutos infelizes do egoísmo e do orgulho, libertando meu coração no rumo do bem e da paz, do amor verdadeiro e da felicidade eterna!
Assim seja!
(Psicografia Instituto André Luiz, 08.03.2003)

fonte: http://www.institutoandreluiz.org/oracao_diaria_especial_eu_perdoo.html

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

NOS PASSOS DE JOANA D’ARC EM ROUEN- por Francisco Souto Neto


NOS PASSOS DE JOANA D’ARC EM ROUEN
por Francisco Souto Neto


Folha do Batel Ano 4 – Outubro 2002 – Nº 36
Diretor-presidente: José Gil de Almeida

Capa:



Página 4:



NOS PASSOS DE JOANA D’ARC EM ROUEN
Francisco Souto Neto

No ano de 1431 a cidade francesa de Rouen, na Normandia, litoral norte da França, testemunhou o martírio de Joana d’Arc, queimada viva na fogueira da praça do Vieux-Marché, acusada pela Igreja Católica de heresia e bruxaria.

A caça às bruxas

No final da Idade Média, a crença na bruxaria generalizou-se e tomou vulto na Europa, notadamente na Alemanha, França, Espanha, Inglaterra e Escócia, quando a chamada Santa Inquisição da Igreja Católica – que de “santa” nada tinha – se instalou nos referidos países. A acusação e a perseguição às supostas bruxas foram sistemáticas e violentas. Tal perseguição foi realizada pelos “Tribunais da Inquisição” nos países católicos, e pela justiça civil nos países protestantes, mas o processo penal era o mesmo em ambos os casos: confissões arrancadas pela tortura e morte na fogueira.
O iluminismo do fim do século XVII e do século seguinte, passou a não permitir a perseguição judiciária por causa das superstições populares ou pseudo-científicas. A última queima de uma bruxa na Europa aconteceu em 1782, no cantão suíço de Glarus. Os arquivos dos tribunais foram pesquisados por historiadores, como o norte-americano Charles Henry Lea, no final do século XIX, muitas vezes acusados de exagero. Mas pesquisas mais modernas confirmam os resultados encontrados por Lea e outros: o número de vítimas condenadas à fogueira, do fim do século XV ao fim do XVIII, pode ser avaliado em nove milhões de pessoas.

A torre e a fogueira

No ano passado, viajando pela Normandia com meu amigo Rubens Faria Gonçalves, hospedamo-nos em Rouen no Hotel Le Morand, que data do século XVII. Tínhamos feito a reserva com meses de antecedência, e o Monsieur Letrate, proprietário do hotel, reservou-nos um espaçoso apartamento no terceiro andar, de cuja janela podíamos avistar, a apenas uns cem metros de distância, a sinistra Torre de Joana d’Arc, onde a heroína da França foi torturada e violentada antes de ser mandada para a morte na fogueira.

Da janela do nosso apartamento no Hotel Le Morand,
avistamos a sinistra torre na qual Joana d'Arc foi torturada
antes de ser mandada para a morte na fogueira.

Fomos conhecer a antiga construção e subimos pelos mesmos degraus já desgastados pelos séculos, galgados pela menina frágil condenada pela ignorância, obscurantismo e pequenez mental dos religiosos, numa mesma época em que os arquitetos erguiam extraordinárias catedrais.

Visitamos a prisão de Joana d'Arc na Torre.
Jardim de acesso.

Porta de entrada à Torre.

   
Rubens Gonçalves na escada que
leva ao alto da Torre de Joana d'Arc.

Logo dirigimo-nos à Place de Vieux-Marché (Praça do Velho Mercado), onde Joana d’Arc encontrou sua morte dolorosa. Aproximamo-nos do local e fiquei muito impressionado ao ver que aquela parte da praça é pedregosa, quase sem grama, mas o exato lugar da fogueira está coalhado de petúnias em três tons de vermelho que, ao vento, parecem chamas movimentando-se. É de arrepiar.
Embora a morte de Joana d’Arc tenha ocorrido há exatos 571 anos, não há dúvidas quanto ao local exato, porque uns metros além do ponto onde morriam as vítimas da Inquisição, estão as ruínas do “mur par-feu” (muro pára-fogo) que tinha a função de evitar que o vento propagasse as fogueiras humanas. O jardim, de formato circular, porém irregular, é como que contido pelas ruínas do muro. Ao lado está o “pilori” (pelourinho), onde os condenados esperavam sua hora para morrer na fogueira. Bem ao centro do jardim, uma placa diz: “LE BÛCHER – Emplacement où Jeanne d’Arc fut brûleé le 30 Mai 1431 (A FOGUEIRA – Lugar onde Joana d’Arc foi queimada em 30 de maio de 1431”. Em frente à “fogueira” há uma cruz na altura de um prédio de uns cinco andares. Ao fundo de tudo, localiza-se a Église de Jeanne d’Arc, uma igreja de meados do século XX, moderna e esquisita por fora, contrastando com a antiguidade de Rouen.


A placa indica "Le Bûcher" ("A Fogueira"), local que
provocou tanto sofrimento. As petúnias simulam as chamas 
onde Joana d'Arc e milhares de outros foram supliciados.

Rubens Gonçalves ao lado do pelourinho, onde os
condenados esperavam a hora de morrer na fogueira.

Praça do Velho Mercado. Souto Neto pisa sobre ruínas
das casas que ali existiram no tempo em que Joana d'Arc
morreu, no começo do século XV.

O Velho Mercado funciona num dos lados da praça a que dá o seu nome, porém seu teto é moderno, da mesma idade da igreja, mas muito criativo porque faz lembrar gigantescas labaredas. A praça é cheia de restaurantes, gente passando com seus cachorros, barracas com vendas de flores... uma verdadeira festa alheia aos dramas e martírios que ali ocorreram no passado.
Todos os dias passávamos pela “fogueira” e nos detínhamos um pouco. Eu ficava quase hipnotizado vendo as chamas – as flores – bruxuleando ao vento. O passado torna-se ali quase palpável, quase concreto. Ver tal jardim foi uma das mais marcantes impressões de todas as coisas que vi e senti em muitas viagens à Europa.

A catedral de Rouen

A catedral é de tirar o fôlego pela beleza da fachada e das suas torres do gótico flamejante. Ela é quase um delírio dos arquitetos medievais que, em diferentes épocas, realizaram as múltiplas torres desiguais. Sua flecha central é altíssima, gigantesca. Meu companheiro de viagem observou que aquela mistura de tantas torres de diferentes formatos e alturas na fachada retilínea, chegava a ser uma confusão. Estava certo. Concordei e disse-lhe brincando: “Sim, é um forrobodó arquitetônico”. Contornamos a catedral, procurando pela famosa fachada oeste, a preferida de Monet, tantas vezes retratada pelo velho mestre impressionista. Monet tinha razão por preferir aquela fachada, harmoniosa, de extraordinário rendilhado e magnífica rosácea. O interior do templo não é menos fantástico. Um dos destaques, visto somente com visitas guiadas, é o túmulo onde está enterrado o coração de Ricardo Coração de Leão.

Fachada retilínea da monumental e imensa Catedral de Rouen, 
obra-prima da Arte Gótica, com suas extraordinárias,
 desiguais e altíssimas torres rendilhadas.

Rubens Gonçalves na fachada oeste da Catedral
de Rouen, que é uma entrada lateral.

Souto Neto na fachada oeste, que era a preferida
de Monet, e que foi por ele inúmeras vezes retratada.

Após quatro dias de permanência em Rouen, deixamos a cidade rumo a Strasbourg. Antes do embarque, porém, voltamos por alguns instantes à Praça do Velho Mercado. Ao passarmos pela fogueira de Joana d’Arc ficamos, novamente, por uns instantes, como que hipnotizados, vendo as labaredas ao vento...
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