Octávio Caúmo Serrano
Devemos orar toda manhã, ao iniciar novo dia.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 2, comunicação de 1862, em Bordeaux, na França, o Espírito Monod orienta-nos que o primeiro dever da criatura humana, ao despertar, deve ser proferir uma prece. Adverte que não se refere às preces mecânicas que habitualmente fazemos, com receitas padronizadas, mas a prece nascida do coração.
Qual seria, cabe perguntar, a finalidade da oração, já que a maioria ora para pedir e não para agradecer? E muitos alegam que é desnecessário orar porque Deus conhece as nossas necessidades?
A proposta é que analisemos a ventura que vivemos, no momento do despertar, para dar graças ao Pai, por tanta generosidade. Quando estamos bem, não percebemos as dores alheias, até um dia sermos a manchete.
Devemos agradecer, porque acordamos. Muitos se deitam e, vítimas de mal súbito, não despertam. Se nós estamos de novo acordados é motivo para agradecer.
Devemos ser gratos, porque dormimos. Para quem acredita que esse é um ato comum, lembramos que milhões de pessoas sofrem de insônia crônica, e muitas chegam a depender de medicação para dormir. Se nós podemos ter uma noite de sono natural, devemos ser agradecidos por essa ventura. Há pessoa que nem dormem. Conheci um senhor com cinquenta anos de idade que não dormia havia dezoito anos. Deitava, repousava e levantava. Mas não dormia! Só um exemplo.
Devemos analisar que não sofremos qualquer problema, durante a noite, e despertamos saudáveis como deitamos. Muitos têm AVCs, problemas com a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono – a grave doença do ronco –, infartos, etc., durante a noite. Mais uma razão para orarmos em agradecimento.
Agradeçamos, também, pela cama macia que nos abrigou durante a noite. Quando o colchão está vencido, reclamamos de dores nas costas. Portanto, quanto ele está novo, agradeçamos pelo conforto. Bom lembrar dos que dormem pelas ruas ou nos barracos, tendo, como cama, uma folha de papelão.
Normalmente, após despertar, tomamos banho. Água sadia, chuveiro, sabonete cheiroso, espelho para enfeitar-se e pentear-se, toalha felpuda limpa. Considere que há quem não tenha nada disso e tome banho no rio, no albergue, de caneca, ou, ainda, fique sem ele, por falta de condições. Então, em sua oração matinal, agradeça também pelo conforto do seu quarto de banho. E também por poder tomar banho sozinho, sem a ajuda de um enfermeiro ou parente... Nem todos podem!
Depois, uma primeira refeição nos espera, logo pela manhã. O desjejum, com café, leite, sucos, frutos, queijos, frios. Para os que imaginam que isso é natural, porque o fazem automaticamente, não esqueçam dos que não têm o que comer e começam a passar fome, desde a hora em que despertam. A fome de hoje é apenas mais um capítulo da novela da fome dos capítulos anteriores. Acordam, já pensando em qual lata de lixo vão procurar comida ou em que esquina vão pedir a moeda para o café na padaria. Dê graças a Deus pela sua primeira refeição. Uma grande maioria nem tem água tratada; tomam água poluída, retirada de córregos e lameiros!
Logo depois, muitos vão para o trabalho ou para a escola. Na garagem, há um carro à disposição. E quem não tem carro, pode ir até a esquina e pegar um ônibus, um trem, um metrô e ser transportado até o destino. Se você se sente infeliz por depender de condução pública, apertada, lembre-se dos que moram nos sítios, nos sertões e que caminham quilômetros para estudar ou trabalhar, a pé, em lombo de burro ou caminhão pau-de-arara.
Se saímos de casa para a escola ou para o trabalho, é porque temos a possibilidade de frequentar uma escola, o que não é privilégio de todos. Igualmente, se vamos para o trabalho, agradeçamos por ter um emprego. Ainda que não seja o que desejamos e reclamemos que nos pagam menos do que valemos, é bom considerar que muitos gostariam de estar no nosso lugar, mesmo sem ganhar fortuna. Sejamos gratos a Deus pelo emprego que lhe oferece.
As razões para orar em agradecimento surgem, nas nossas vidas, a cada minuto. E, após a meditação sobre cada um de nossos momentos felizes, aprendamos a dizer a Deus o nosso obrigado, de forma curta, gentil e sincera, sem longas e complexas fórmulas de rezar. Basta dizer “obrigado, meu pai, pelo dia que começa” e, depois, repetir “obrigado, Senhor, pelo dia que vivi, pelo bem que fiz, pelo mal que não cometi e pelas lições que pude aprender e ensinar”. E também, Senhor, pelo lar, pela comida e pela família, porque muitos gostariam de ter uma família e não têm. Agradecer por tudo o que recebemos e pedir apenas força, paciência e aceitação.
O Espírito Monod nos diz, ainda, que não é preciso cair de joelhos ou exibir-nos publicamente, mas que devemos cuidar do cumprimento de nossos deveres, sem exceção, de qualquer natureza que sejam, porque isto é a verdadeira prece.
Pede, ainda, que analisemos, quando conseguimos evitar um acidente, ou dele fomos poupados e, digamos, apenas: “Seja Bendito o Senhor!” E que, quando cometemos um erro, mesmo que seja simples equívoco, nascido do orgulho ou do egoísmo, que tenhamos a grandeza de dizer “perdoai-me e dai-me força para não falhar novamente”.
As atitudes acima independem das preces mais formais que fazemos, à noite e pela manhã, porque deve ser a prece de todos os instantes; devemos cultivar o hábito do agradecimento permanente, sem reclamar de nada, enquanto nos transportamos, comemos, trabalhamos, porque estabelecemos uma sintonia permanente com o Pai Divino, do qual somos filhos diletos e de quem Ele cuida com carinho e interesse. E Deus se agrada mais dos que são agradecidos que dos ingratos. Estes, normalmente, precisam da dor para aprender.
Temos de orar, de forma espontânea, para o fortalecimento espiritual, com a mesma naturalidade e apetite com que nos alimentamos para ter corpo sadio. De nada adianta estar forte e saudável, mas infeliz e inconformado. Corpo e alma são dois importantes departamentos do homem encarnado, e é preciso cuidar de ambos.
Agradecemos pela orientação do benfeitor espiritual e rogamos a Jesus para que nos ajude a viver dentro desses sábios princípios.
Um comentário:
Depois de ter esse momento de reflexão maravilhoso, propiciado pelo nosso amigo de caminhada, fico de certa forma triste por não notar nenhum tipo de comentário, nem mesmo de crítica. Não quero me delongar, até mesmo para não trazer rusga para algo tão edificante como a msg.
Registro meu Muito Obrigado e mantenhamo-nos firme, o bem é tímido, porém verdadeiro.
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