Richard Simonetti
Há, na atualidade, grande quantidade de médiuns que recebem informações sobre a vida espiritual. São, não raro, surpreendentes e assustadoras. Como lidar com essa situação?
A Terra é morada da opinião. O mesmo ocorre com o mundo espiritual, nas esferas próximas à Terra. Espíritos falam da vida-além túmulo, conforme sua visão, sua maneira de ser, suas fantasias.
Não têm todos os Espíritos acesso à realidade espiritual?
Em planos mais altos, no infinito, sim. Nas vizinhanças do planeta, os Espíritos guardam uma visão compatível com sua cultura e discernimento. Imaginemos uma pirâmide. Perto da base, há espaço para a diversidade. No topo, atinge-se a unidade.
Isso explica porque vemos Espí-ritos que continuam ligados a movimentos religiosos e ideias que caracterizaram sua atividade, quando encarnados?
Exatamente. Sempre imaginamos que todos os Espíritos convertem-se, automaticamente, aos princípios espíritas, ao desencarnar. Não é o que vemos, no processo mediúnico, com católicos que continuam católicos, evangélicos que continuam evangélicos, muçulmanos que continuam muçulmanos, vinculados às suas igrejas.
E, quanto ao Espiritismo? Não confirmam, “in loco”, os desencarnados, princípios como a Reencar-nação, a Lei de Causa e Efeito, a Mediunidade?
Depende de seu estágio de entendimento e dos condicionamentos a que se submeteram na Terra. Na Inglaterra, por exemplo, temos grupos que cultivam o intercâmbio com o Além e não aceitam a reencarnação, o mesmo acontecendo com os Espí-ritos que ali se manifestam.
É surpreendente!
Lembro a história hindu sobre os seis cegos, examinando um elefante. Cada qual teve uma ideia, segundo a parte apalpada. O que tocou na tromba imaginou ser uma serpente; o que tocou nas orelhas concebeu imensas ventarolas; o que tocou no corpo pensou numa montanha a se mover. Cada Espírito vê a dimensão espiritual, conforme seu “tato”, quando não tenha evolução suficiente, olhos de ver, como diria Jesus, para encarar a realidade.
O médium pode exercer influência nesse processo?
Sem dúvida. Se, por exemplo, o médium não aceita a reencarnação, um Espírito que queira explicar como se processa o retorno à carne terá grande dificuldade, esbarrando nas suas concepções. Esse problema só seria resolvido com um médium psicógrafo mecânico. Neste tipo de mediunidade, a interferência do médium é praticamente nula.
E quanto à possibilidade de mistificação? Pode um médium fazer “revelações”, a partir de um Espírito mistificador?
Acontece com frequência. Por isso o Espírito Erasto, um dos mentores da Codificação Espírita, adverte, em O Livro dos Médiuns, que é preferível negar dez verdades a aceitar uma só mentira. Há, ainda, algo mais grave: o próprio médium mistificar, para adquirir notoriedade com “revelações”.
Considerando os “cegos a descreverem o elefante”, como podemos apreciar as informações que chegam da espiritualidade, buscando separar a realidade da fantasia?
Em princípio, cotejando-as com a Codificação. Não obstante o caráter progressista da Doutrina, desdobramentos não podem colidir com elementares princípios doutrinários. Paralelamente, observando a universalidade dos ensinos, como propõe o próprio Codificador. Se vários mentores espirituais, manifestando-se por intermédio de médiuns respeitáveis que não têm contato entre si, informam que há muitas cidades no plano espiritual, tipo Nosso Lar, é bem provável que estejam reportando-se a uma realidade. Atendendo a esse mesmo princípio, informações solitárias sobre a vida espiritual pedem prudência em sua apreciação e aceitação.
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