Rogério Coelho
“Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas.” (Jo, 10:16.)
Não existe sofisma capaz de substituir a verdade... Aparecem, da noite para o dia, inúmeras seitas adornadas de lentejoulas filosóficas, mascarando a verdade, mas, indubitavelmente, a soldo de interesses subalternos, dos quais podemos facilmente destacar o poder temporal e o de ordem financeira.
Como no pretérito de triste lembrança, as religiões hodiernas, com honrosas exceções, lançam anátemas aos fundamentos umas das outras, na incontida ânsia do proselitismo de arrastão, seguindo na infeliz e perseverante sequência da mútua ação detrativa.
Esquecidas de que os discípulos de Jesus só serão reconhecidos por muito se amarem, vão certos profitentes agindo como impiedosos gladiadores, semeando, na arena do mundo, a cizânia, a desordem e o fanatismo, prosseguindo, sem medir consequências, a sua luta inglória sob o pálio de imensa presunção e vaidade de pseudointelectuais. E, num absoluto oposto a tudo que Jesus ensinou, exemplificou e seguiu, perseveram, obstinadamente, na contramão do amor, embaladas pela cegueira.
Mas Jesus foi muito claro: “Haverá um rebanho e um Pastor”; “Toda árvore que meu Pai não plantou será queimada”; “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
O Espírito de Verdade assim se exprime1: “Cumpre se tenha em conta a prudência de que, em geral, os Espíritos usam na promulgação da verdade, vez que uma luz muito viva e subitânea ofusca e não esclarece. Podem eles, pois, em certos casos, julgar conveniente não a espalharem senão gradativamente, de acordo com os tempos, os lugares e as pessoas. Moisés não ensinou tudo o que o Cristo ensinou, e o próprio Cristo muitas coisas disse, cuja inteligência ficou reservada às gerações futuras.
As doutrinas errôneas são uma consequência da inferioridade do vosso mundo. Se os homens fossem perfeitos, só aceitariam o que é verdadeiro. Os erros são como as pedras falsas, que só um olhar experiente pode distinguir. Precisais, portanto, de um aprendizado, para distinguirdes o verdadeiro do falso. As falsas doutrinas têm a utilidade de vos exercitarem em fazerdes a distinção entre o erro e a verdade.
Nenhuma nuvem obscurece a luz mais pura; o diamante sem mácula é o que tem mais valor; julgai, pois, os Espíritos pela pureza de seus ensinos. A unidade se fará do lado onde ao bem jamais se haja misturado o mal; desse lado é que os homens se ligarão, pela força mesma das coisas, porquanto considerarão que aí está a verdade.”
Continua o Espírito de Verdade2: “Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel senão a Caridade! Seus dias serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Felizes os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio às vossas rivalidades e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano à obra”. Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita!...”
Dirigindo-se a Erasto, pergunta Allan Kardec3: “Já que muitos dos chamados para o Espiritismo se desviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?”
Resposta:
– “Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão; pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal e pelo triunfo de seus princípios”.
1- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte, capítulo XXVII, questão 301, 9ª resposta e seguintes.
2- KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XX, item 5.
3- Idem, ibidem, cap. XX, item 4.
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