quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A inexorável lei de causa e efeito

Deus não tem preferências nem exclusões; Ele dá a cada filho segundo as suas obras


“A cada um será dado de acordo com as suas obras.”
- Jesus. (Mt., 16:27.)

A terrível explosão provocada pelas labaredas fez com que a temperatura na torre de lançamento de foguetes na Base de Alcântara, no Brasil, Estado do Maranhão, atingisse três mil graus centígrados em apenas alguns segundos, matando 21 engenheiros do programa espacial.

Resgatados todos os corpos, foi realizado o velório coletivo, no qual, através de reportagem do jornal “O Globo”, do dia 25.09.2003, pudemos ver a foto de duas meninas de menos de 6 anos de idade, tristemente abraçadas à urna mortuária do pai, fato que causou profunda quão pungente comoção nacional...

Para melhor compreensão de tão recente drama, podemos resgatar uma antiga página escrita pelo Dr. Bezerra de Menezes sob o pseudônimo de Max[1], no tempo que ainda existia a escravidão dos negros no Brasil, sob o título:

AS EXPIAÇÕES SÃO INDIVIDUAIS E COLETIVAS

“O mundo olha para tantos e tantos fatos com a indiferença com que olha para os campos cobertos de relva, para as montanhas, ensombradas de árvores, para os rios, em seu eterno rolar de águas, para o mar, com seus misteriosos abismos... O hábito mata a sensação e tira-lhe a curiosidade de penetrar o escrínio, que guarda, para aqueles fatos, as mais sublimes leis, cujo conhecimento será a Ciência da criação.

O mundo vê criaturas nascerem cegas, mudas, surdas, aleijadas, idiotas, e porque muito se veem destes fatos, o mundo não procura conhecer-lhes a lei determinativa. Vê uma criança, antes mesmo de ter consciência do seu livre­-arbítrio, manifestar fulgores intelectuais e morais, que se podem dizer, congênitos; ao passo que outras manifestam opostas disposições, e, ainda pela mesma razão, o mundo deixará de perguntar qual a causa de tão profunda antítese, no meio da natureza humana... Vê, finalmente, para não irmos ao infinito, o Bom sofrer torturas físicas e morais, como um excomungado fruir alegrias e felicidades da Terra, ao passo que o mau, o perverso, desfruta, em meio das grandezas e das honras mundanas, o que se chama: a felicidade da vida, e, sempre, por aquela razão, deixa passar, como coisa sem valor, esse fato, que encerra em si a chave de ouro daquele escrínio.

Os sábios, os pretendidos sábios, se julgam grandes, porque conhecem meia dúzia de verdades, que só lhes servem para afastá­los da verdade absoluta. Os sábios, que deviam saber que nada se apura no Universo sem razão de ser; sem causa suficiente, sem obedecer a leis eternas e imutáveis; ou participam do mal geral, nenhuma atenção dando àqueles fatos; ou lhes dão atenção, e, como eles nada dizem a seus sentidos como o apreciar da matéria, os atiram fora, como o cego atira o cascalho que encobre um brilhante; ou, dominados por ideias obsoletas, geradas no meio da Humanidade, em sua infância, os sábios, ainda, se satisfazem com explicações, que chamam ortodoxas, que, no fundo, são aríetes com que a razão humana, já em sua idade adulta, destrói os fundamentos da justiça e da misericórdia de um Deus, que eles tornam impossível de ser Deus. (...) Ensinam a vida eterna da alma, mas negam a expiação, que, em última expressão, significa preexistência corpórea, ou seja: vidas múltiplas da alma...

Explicam os sábios aquelas ordens de fatos como méritos e deméritos que fazemos, nesta vida única, para subirmos ao Céu, diretamente, ou com escala pelo purgatório, e para descermos ao inferno de penas eternas, mais depressa do que se chega ao Céu.

Não nos embrenhamos em discussão por mostrar que, mesmo em tese, isto é uma monstruosidade, é uma blasfêmia. Digamos, somente, o que encerram, contra tal modo de ver os fatos que escolhemos e apontamos. Como explicar, pela vida única, o nascimento de criaturas cegas, surdas, mudas, aleijadas, idiotas, com o estigma, enfim, de uma condenação?

São os privilegiados que não gozam os prazeres do mundo, para terem os do Céu? Então Deus tem preferências!.. Não distribui Seu amor igualmente por Seus filhos, dando a uns a chave do Céu, e deixando que os outros a descubram por entre as trevas que os envolvem na Terra!

Nós, os espíritas, os possessos do demônio, diremos: expiação! E temos explicado o fato a bel-prazer da razão e da consciência, em perfeita harmonia com a justiça indefectível e com a misericórdia e o amor do Pai, que não tem preferências nem exclusões, que dá a cada filho segundo as suas obras.

Este cego, ou mudo, ou surdo, cometeu em existências passadas grandes faltas, dessas que, segundo a Igreja, levam diretamente ao inferno; mas o Pai, que não quer a perda de nenhum de Seus filhos nem mesmo do ímpio, como disse Ezequiel, em vez de condená-lo sem remissão, como seria o gosto da Igreja, dá-lhe nova e novas existências; dá-lhe o tempo na Eternidade, para remir aquelas culpas, e dá-lhe, em cada vida, a moeda com que resgata sua dívida: o sofrimento.

O sofrimento, pois, nesta vida terrena, é o meio de expiação; é a moeda que o Pai nos oferece para resgatarmos nossa dívida; é a escada para subirmos aos mundos da felicidade, se recebermos o sofrimento com resignação. É claro que, sendo a pena proporcional ao crime, uns sofrerão mais do que outros, por terem feito maior mal; daí, sofrerem estes mais do que aqueles, e sofrendo menos, de certo tempo em diante, se se têm levado com resignação as dores que se tenham tido, pela simples razão de já se terem livrado de uma parte da carga que trouxeram.

E a expiação de cada um tem sempre uma relação, mais ou menos apreciável à nossa razão, com as faltas dos que a sofrem. Assim, o mudo fez o mal pela palavra (é hipótese); foi um homem de grande eloquência, que arrastou muitas pessoas à perdição, pregando ideias perniciosas para o alto fim da Humanidade, que é chegar até a Casa do Pai pelo saber e pela virtude... O juiz venal, que condenou o inocente a ser castigado na praça pública, virá pagar esta dívida, para com Deus e para com seu semelhante, na mesma espécie, sendo também, inocente, castigado na praça pública.

E este justo que sofre os horrores de uma sorte adversa? É um Espírito, que foi perverso, e felizmente aceitou a expiação de suas culpas, até fazer-se justo, ao contrário do mau, que possui as grandezas da Terra, e, usando do seu livre-arbítrio, repeliu a expiação, que veio fazer, sobrecarregando-se de mais culpas, que lhe exigirão maiores sofrimentos em posteriores reencarnações.

A expiação, ou antes a preexistência, explica, satisfatoriamente, a índole boa ou má, as disposições vantajosas ou desvantajosas, pelo lado intelectual, com que nascem as crianças, como explica a morte destas, dos recém-nascidos, e dos fetos...

As expiações são individuais ou coletivas, segundo o mal que foi praticado, isoladamente, ou em concomitância. Neste caso, os corréus se reúnem, na nova existência, para fazerem, juntos, a expiação, como fizeram o mal. É a razão de vermos uma família perseguida da sorte em todos os seus membros, e é a razão pela qual vemos um povo inteiro sofrer os rigores da adversidade, como o judeu, como o polaco, como tantos outros.

Ouvimos de Oseias: que o povo hebreu sofreu as torturas do cativeiro do Egito, sendo levado, a chicote, para trabalhar na elevação dos famosos monumentos dos Faraós, por expiação, porque era composto dos mesmos Espíritos que, voluntariamente, por orgulho, e para afrontar o poder de Deus, empreenderam levantar a grande torre, que se chamou de Babel, que deveria subir até o céu. Foi a expiação coletiva de um povo.

*

Outra torre se erguia em Alcântara, apontando os rumos do infinito na necessária conquista espacial, exigida pelo progresso da Humanidade...

Mas, no passado medieval, na velha Europa, quantas fogueiras acendidas queimando inocentes, criando, assim um carma – provavelmente – hoje resgatado!

É da lei a necessidade de se resgatar individual ou coletivamente, até o último ceitil para continuarmos, empós, desembaraçados dos equívocos pretéritos, no rumo da Grande Luz, na direção de nossa destinação feliz, ou seja: a perfeição relativa e a felicidade sem mescla.



[1] - Pseudônimo do Dr. Bezerra de Menezes (Vide: Estudos Filosóficos. Ed. FAE, vol. III, cap. 85.)


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