Richard Simonetti
O que dizer de dirigentes espíritas que estão substituindo a expressão doutrinar por esclarecer, quanto aos Espíritos que se manifestam nas reuniões mediúnicas?
É uma tentativa de definir melhor o papel daqueles que conversam com Espíritos perturbados ou perturbadores, embora não tenha nenhuma implicação quanto à eficiência desse trabalho, que depende, essencialmente, da capacidade do doutrinador ou esclarecedor.
Diante de um Espírito inconsciente de sua condição de desencarnado, qual seria a iniciativa ideal?
Em primeiro lugar evitar o erro crasso de dizer-lhe que “morreu”, o que tende a confundi-lo. Imaginemos como reagiríamos a uma informação dessa natureza, principalmente se vinculados a religiões que fantasiam a vida além-túmulo. Obviamente encararíamos como alienado o informante.
Qual seria, então, o objetivo da manifestação dos sofredores do Além?
Espíritos presos às impressões da matéria, vinculados aos seus interesses, vícios e ambições, situam-se como sonâmbulos na Espiritualidade, não raro em estado catatônico. Em contato com as energias do médium e do ambiente, o manifestante experimenta um despertar. É um momento delicado em que é preciso agir com prudência, evitando iniciativas que possam confundi-lo.
Dizendo-lhe que desencarnou não estaremos agilizando esse processo?
No livro E a Vida Continua, psicografia de Chico Xavier, o Espírito André Luiz reporta-se a Espíritos num hospital da Espiritualidade, tratados com todo carinho durante meses, mas sem serem informados de sua posição de desencarnados. Em dado momento, ante a estranheza de outros pacientes, que não sabem o que está acontecendo, Fantini, um dos internados, especula: Concluo, salvo melhor juízo, que estivemos, claramente sem o sabermos, na condição de alienados mentais, e decerto emergimos, agora, com muito vagar das trevas psíquicas para o estado normal de consciência. Os médicos e enfermeiros que nos rodeiam estão plenamente justificados, quanto ao propósito de resguardar-nos contra quaisquer tipos de preocupação com a vida exterior.
Haverá prejuízo para o Espírito ao receber, extemporaneamente, essa informação?
Quem responde é o próprio Fantini, na obra citada, procurando definir porque não era informado sobre o que estava acontecendo: O menor vinco de aflição na tela mental de nossas impressões do momento, assim penso, nos traria talvez grande prejuízo às emoções e ideias, qual ocorre à pequena distorção que desfigura a simetria das ondas elétricas.
Como explicar o fato de que, frequentemente, na doutrinação, o Espírito recebe bem a informação?
O Espírito ou o médium? Se este participa de uma reunião onde a regra e a base do trabalho é passar essa informação ao Espírito, ele tenderá a incorporar não as impressões do manifestante, mas as tendências do próprio grupo.
Não informar o Espírito sofredor quanto à sua condição seria, então, uma regra?
Sim, embora considerando que toda regra tem sua exceção. Se o Espírito já está percebendo que desencarnou, guardando relativa lucidez, não há por que ocultar-lhe. Em média, a cada dez Espíritos sofredores que se manifestam há um nessa condição.
Qual seria a postura do dirigente e do grupo, diante de um Espírito sofredor, inconsciente de sua situação?
Percebe-se que, em grande maioria, Espíritos perturbados não estão habituados à oração verdadeira, aquela conversa íntima com Deus, com Jesus, em processo de reflexão, buscando não os favores da espiritualidade, mas uma orientação de vida. Se conseguirmos induzi-lo a orar, assim teremos dado uma grande passo para mudar seu padrão vibratório, habilitando-o a ver e receber decisivo apoio de mentores e familiares desencarnados. O grupo pode ajudá-lo nesse mister, envolvendo-o nas mesmas bênçãos da oração. Kardec situa esse esforço como o que de melhor podemos fazer por esses Espíritos.
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