|
CHICO E A BANDEIRA DO DIVINO
Carlos A Baccelli
Chico, naqueles dias, encontrava-se amargurado. Idéias negativas não lhe davam trégua ao cérebro habitualmente sereno. Andava triste, saudoso da paz que impera em outras esferas... Sentia-se sozinho dentro de imensa luta. Dificuldades financeiras. Incompreensão no trabalho com a mediunidade.
Por vários meses, experimentava o assédio de estranhos pensamentos, embora continuasse firme no cumprimento do dever. Os espíritos amigos não o haviam abandonado, mas o fardo lhe parecia excessivamente pesado...
Na estação ferroviária de Pedro Leopoldo, esperava, a sós, sentado num banco, o comboio para Belo Horizonte, onde tinha consulta marcada com oftalmologista. O problema em seu olho esquerdo agravara-se sensivelmente.
Absorto, discretas lágrimas a lhe escorreram na face; Chico tinha a cabeça a ponto de estourar, quando pequeno grupo de pessoas caminha em sua direção...
Era uma folia-de-reis, tão comum nas cidades do interior mineiro. Os seus integrantes eram gente humilde, homens de mão calejadas pelo serviço rude. Um deles, adiantando-se, apresenta-lhe a bandeira do Divino e pede uma esmola para os Santos Reis. Enfiando a mão no bolso, Chico separa alguns níqueis, o pouco que estava levando, além do necessário para as passagens de ida e volta. Católica fervorosa, sua mãe, D. Maria João de Deus, ensinara-lhe respeito por todas manifestações de fé, mesmo as populares, e, naquele instante, recordava-se dela que, infelizmente, o havia deixado tão cedo.
Humilde, Chico entrega àquele homem tudo quanto no momento podia despender. Então, os integrantes da folia dele se acercam, quais emissários do Alto que, de súbito, ali tivessem se materializado e pedem-lhe que se coloque de joelhos para que a bandeira do Divino o abençoe... Entoando, baixinho, os seus cânticos característicos, narrando trechos inesquecíveis da vida de Jesus sobre a Terra, por diversas vezes, de um lado para o outro, o estandarte lhe roça a cabeça e, segundo as suas próprias palavras, foi como se uma mão invisível, penetrando em seu cérebro, dele arrancasse para sempre as idéias pessimistas contra as quais lutava desde muito, sem remédio.
Quando a “maria-fumaça” encostou, Chico era já outro homem e nunca mais, ao longo de toda a sua trajetória, voltaria a sentir-se tão desalentado.
Evangelho e Ação - Julho/1996
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário