Quando todos os homens compreenderem o Espiritismo, compreenderão também a verdadeira solidariedade e, conseguintemente, a verdadeira fraternidade. Uma e outra então deixarão de ser simples deveres circunstanciais, que cada um prega as mais das vezes no seu próprio interesse e não no de outrem. O reinado da solidariedade e da fraternidade será forçosamente o da justiça para todos e o da justiça será o da paz e da harmonia entre os indivíduos, as famílias, os povos e as raças. Virá esse reinado? Duvidar do seu advento seria negar o progresso. Se compararmos a sociedade atual, nas nações civilizadas, com o que era na Idade Média, reconheceremos grande a diferença. Ora, se os homens avançaram até aqui, por que haveriam de parar? Observando-se o percurso que eles hão feito apenas de um século para cá, poder-se-á avaliar o que farão daqui a mais outro século.
As convulsões sociais são revoltas dos Espíritos encarnados contra o mal que os acicata, índice de suas aspirações a esse reino de justiça pelo qual anseiam, sem, todavia, se aperceberem claramente do que querem e dos meios de consegui-lo. Por isso é que se movimentam, agitam tudo subvertem a torto e a direito, criam sistemas, propõem remédios mais ou menos utópicos, cometem mesmo injustiças sem conta, por espírito, ao que dizem de justiça, esperando que desse movimento saia, porventura, alguma coisa. Mais tarde, definirão melhor suas aspirações e o caminho se lhes aclarará.
Quem quer que desça ao âmago dos princípios do Espiritismo filosófico, que considere os horizontes que ele desvenda as ideias a que dá origem e os sentimentos que desenvolve, não duvidará da parte preponderante que há de ter na regeneração, pois que, precisamente e pela força das coisas, ele conduz ao objetivo a que a Humanidade aspira: ao reino da justiça, pela extinção dos abusos que lhe hão obstado ao progresso e pela moralização das massas. Se os que sonham com a restauração do passado não entendessem assim, não se aferrariam tanto a esse sonho; deixá-lo-iam morrer tranquilamente, como há sucedido a muitas utopias. Isto, por si só, devera dar que pensar a certos zombadores, fazendo-os ponderar que talvez haja aí alguma coisa mais séria do que imaginam. Mas, há pessoas que de tudo riem, que ririam mesmo de Deus, se o vissem na Terra. Também há os que têm medo de que aos seus olhos se apresente a alma que se obstinam em negar.
Qualquer que seja a influência que um dia o Espiritismo chegue a exercer sobre as sociedades, não se suponha que ele venha a substituir uma aristocracia por outra, nem a impor leis; primeiramente, porque, proclamando o direito absoluto à liberdade de consciência e do livre-exame em matéria de fé, quer, como crença, ser livremente aceito, por convicção e não por meio de constrangimento. Pela sua natureza, não pode, nem deve exercer nenhuma pressão. Proscrevendo a fé cega, quer ser compreendido. Para ele, absolutamente não há mistérios, mas uma fé racional, que se baseia em fatos e que deseja a luz. Não repudia nenhuma descoberta da Ciência, dado que a Ciência é a coletânea das leis da Natureza e que, sendo de Deus essas leis, repudiar a Ciência fora repudiar a obra de Deus.
Em segundo lugar, estando a ação do Espiritismo no seu poder moralizador, não pode ele assumir nenhuma forma autocrática, porque então faria o que condena. Sua influência será preponderante, pelas modificações que trará às ideias, às opiniões, aos caracteres, aos costumes dos homens e às relações sociais. E maior será essa influência, pela circunstância de não ser imposta. Forte como filosofia, o Espiritismo só teria que perder, neste século de raciocínio, se se transformasse em poder temporal. Não será ele, portanto, que fará as instituições do mundo regenerado; os homens é que as farão, sob o império das ideias de justiça, de caridade, de fraternidade e de solidariedade, mais bem compreendidas, graças ao Espiritismo.
Essencialmente positivo em suas crenças, ele repele todo misticismo, desde que não se estenda esta denominação, como o fazem os que em nada creem, à crença em Deus, na alma e na vida futura. Induz, é certo, os homens a se ocuparem seriamente com a vida espiritual, mas porque essa é a vida normal, sendo nela que se têm de cumprir os nossos destinos, pois que a vida terrestre é transitória, passageira. Pelas provas que apresenta da realidade da vida espiritual, ensina aos homens a não atribuírem mais que relativa importância às coisas deste mundo, dando-lhes assim força e coragem para suportar com paciência as vicissitudes da vida terrena. Ensina-lhes que, morrendo, não deixam para sempre este mundo; que podem a ele voltar, a fim de aperfeiçoarem sua educação intelectual e moral, a menos que já estejam bastante adiantados para merecerem passar a um mundo melhor; que os trabalhos e progressos que realizem, ou para cuja realização contribuam, lhes aproveitarão, concorrendo para que melhorada se lhes torne a posição futura. Mostra-lhes dessa forma que é de todo o interesse deles não o desprezarem. Se lhes repugna voltar aqui, uma vez que possuem o livre-arbítrio, deles depende o fazerem o que é necessário a se tornarem habitantes de outros orbes; mas, que não se iludam sobre as condições que devem preencher para merecerem uma mudança de residência! Não será por meio de algumas fórmulas, expressas em palavras ou atos, que o conseguirão, sim por efeito de uma reforma séria e radical de suas imperfeições, modificando-se, despojando-se das paixões más, adquirindo dia a dia novas qualidades, ensinando a todos, pelo exemplo, a linha de proceder que levará solidariamente todos os homens à ventura, pela fraternidade, pela tolerância, pelo amor.
A Humanidade se compõe de personalidades, que constituem as existências individuais, e das gerações, que constituem as existências coletivas. Umas e outras avançam na senda do progresso, por variadas fases de provações que, portanto, são individuais para as pessoas e coletivas para as gerações. Do mesmo modo que, para o encarnado, cada existência é um passo à frente, cada geração marca um grau de progresso para o conjunto. É irresistível esse progresso do conjunto e arrasta as massas, ao mesmo tempo em que modifica e transforma em instrumento de regeneração os erros e prejuízos de um passado que tem de desaparecer. Ora, como as gerações se compõem dos indivíduos que já viveram nas gerações precedentes, segue-se que o progresso delas é a resultante do progresso dos indivíduos.
Mas, quem demonstrará, poderão dizer a existência de solidariedade entre a geração atual e as que a precederam, ou entre ela e as que lhe sucederão? Como se poderia provar que eu já vivi na Idade Média, por exemplo, e que voltarei a tomar parte nos acontecimentos que se produzirão na sucessão dos tempos?
Nas obras fundamentais da Doutrina e na Revista, o princípio da pluralidade das existências já foi exaustivamente demonstrado, para que ainda nos detivéssemos aqui a demonstrá-lo. Nos fatos da vida cotidiana fervilham provas e uma demonstração quase matemática. Limitamo-nos, pois, a concitar os pensadores a que atentem nas provas morais que decorrem do raciocínio e da indução.
Será, porventura, necessário vejamos uma coisa, para que nela acreditemos? Observando efeitos, não se pode adquirir a certeza material da causa?
Afora a da experiência, a única senda legítima que se abre para essa investigação consiste em remontar do efeito à causa. A justiça nos oferece notabilíssimo exemplo desse princípio, quando empreende descobrir os indícios dos meios que serviram à perpetração de um crime, as intenções que se agregam à culpabilidade do malfeitor. Este não foi apanhado em flagrante e, contudo, é condenado por esses indícios.
A Ciência, que pretende caminhar tão-só pela via da experiência, afirma todos os dias princípios que mais não são do que induções das causas por meio unicamente da observação dos efeitos.
Em geologia, determina-se a idade das montanhas. Porventura assistiram os geólogos ao surto delas? Viram formarem-se as camadas de sedimento que lhes determinam a idade?
Os conhecimentos astronômicos, físicos e químicos permitem se avalie o peso dos planetas, suas densidades, seus volumes, a velocidade que os anima, a natureza dos elementos que os compõem; entretanto, os sábios não fizeram experiências diretas e é à analogia e à indução que devemos tão belas e preciosas descobertas.
Os homens de antanho, baseados nos testemunhos de seus sentidos, afirmavam ser o Sol que gira em torno da Terra. No entanto, esse testemunho os enganava e prevaleceu o raciocínio.
O mesmo se dará com os princípios que o Espiritismo sustenta desde que se disponha a estudá-los, sem prevenções, e, então, a Humanidade entrará, real e rapidamente, numa era de progresso e de regeneração, porque, já não se sentindo isolados entre dois abismos, o desconhecido do passado e a incerteza do porvir, os indivíduos trabalharão com energia por aperfeiçoar e multiplicar os elementos da felicidade que tem de ser obra deles, porque reconhecerão que não é devida ao acaso a posição que ocupam no mundo e que eles próprios gozarão, no futuro e em melhores condições, do fruto de seus labores e de suas vigílias. É que o Espiritismo lhes ensinará que, se as faltas coletivamente cometidas são expiadas solidariamente, os progressos realizados em comum são igualmente solidários, princípio em virtude do qual desaparecerão as dissensões de raças, de famílias e de indivíduos e a Humanidade, livre das faixas da infância, avançará, célere e virilmente, para a conquista de seus verdadeiros destinos.
As convulsões sociais são revoltas dos Espíritos encarnados contra o mal que os acicata, índice de suas aspirações a esse reino de justiça pelo qual anseiam, sem, todavia, se aperceberem claramente do que querem e dos meios de consegui-lo. Por isso é que se movimentam, agitam tudo subvertem a torto e a direito, criam sistemas, propõem remédios mais ou menos utópicos, cometem mesmo injustiças sem conta, por espírito, ao que dizem de justiça, esperando que desse movimento saia, porventura, alguma coisa. Mais tarde, definirão melhor suas aspirações e o caminho se lhes aclarará.
Quem quer que desça ao âmago dos princípios do Espiritismo filosófico, que considere os horizontes que ele desvenda as ideias a que dá origem e os sentimentos que desenvolve, não duvidará da parte preponderante que há de ter na regeneração, pois que, precisamente e pela força das coisas, ele conduz ao objetivo a que a Humanidade aspira: ao reino da justiça, pela extinção dos abusos que lhe hão obstado ao progresso e pela moralização das massas. Se os que sonham com a restauração do passado não entendessem assim, não se aferrariam tanto a esse sonho; deixá-lo-iam morrer tranquilamente, como há sucedido a muitas utopias. Isto, por si só, devera dar que pensar a certos zombadores, fazendo-os ponderar que talvez haja aí alguma coisa mais séria do que imaginam. Mas, há pessoas que de tudo riem, que ririam mesmo de Deus, se o vissem na Terra. Também há os que têm medo de que aos seus olhos se apresente a alma que se obstinam em negar.
Qualquer que seja a influência que um dia o Espiritismo chegue a exercer sobre as sociedades, não se suponha que ele venha a substituir uma aristocracia por outra, nem a impor leis; primeiramente, porque, proclamando o direito absoluto à liberdade de consciência e do livre-exame em matéria de fé, quer, como crença, ser livremente aceito, por convicção e não por meio de constrangimento. Pela sua natureza, não pode, nem deve exercer nenhuma pressão. Proscrevendo a fé cega, quer ser compreendido. Para ele, absolutamente não há mistérios, mas uma fé racional, que se baseia em fatos e que deseja a luz. Não repudia nenhuma descoberta da Ciência, dado que a Ciência é a coletânea das leis da Natureza e que, sendo de Deus essas leis, repudiar a Ciência fora repudiar a obra de Deus.
Em segundo lugar, estando a ação do Espiritismo no seu poder moralizador, não pode ele assumir nenhuma forma autocrática, porque então faria o que condena. Sua influência será preponderante, pelas modificações que trará às ideias, às opiniões, aos caracteres, aos costumes dos homens e às relações sociais. E maior será essa influência, pela circunstância de não ser imposta. Forte como filosofia, o Espiritismo só teria que perder, neste século de raciocínio, se se transformasse em poder temporal. Não será ele, portanto, que fará as instituições do mundo regenerado; os homens é que as farão, sob o império das ideias de justiça, de caridade, de fraternidade e de solidariedade, mais bem compreendidas, graças ao Espiritismo.
Essencialmente positivo em suas crenças, ele repele todo misticismo, desde que não se estenda esta denominação, como o fazem os que em nada creem, à crença em Deus, na alma e na vida futura. Induz, é certo, os homens a se ocuparem seriamente com a vida espiritual, mas porque essa é a vida normal, sendo nela que se têm de cumprir os nossos destinos, pois que a vida terrestre é transitória, passageira. Pelas provas que apresenta da realidade da vida espiritual, ensina aos homens a não atribuírem mais que relativa importância às coisas deste mundo, dando-lhes assim força e coragem para suportar com paciência as vicissitudes da vida terrena. Ensina-lhes que, morrendo, não deixam para sempre este mundo; que podem a ele voltar, a fim de aperfeiçoarem sua educação intelectual e moral, a menos que já estejam bastante adiantados para merecerem passar a um mundo melhor; que os trabalhos e progressos que realizem, ou para cuja realização contribuam, lhes aproveitarão, concorrendo para que melhorada se lhes torne a posição futura. Mostra-lhes dessa forma que é de todo o interesse deles não o desprezarem. Se lhes repugna voltar aqui, uma vez que possuem o livre-arbítrio, deles depende o fazerem o que é necessário a se tornarem habitantes de outros orbes; mas, que não se iludam sobre as condições que devem preencher para merecerem uma mudança de residência! Não será por meio de algumas fórmulas, expressas em palavras ou atos, que o conseguirão, sim por efeito de uma reforma séria e radical de suas imperfeições, modificando-se, despojando-se das paixões más, adquirindo dia a dia novas qualidades, ensinando a todos, pelo exemplo, a linha de proceder que levará solidariamente todos os homens à ventura, pela fraternidade, pela tolerância, pelo amor.
A Humanidade se compõe de personalidades, que constituem as existências individuais, e das gerações, que constituem as existências coletivas. Umas e outras avançam na senda do progresso, por variadas fases de provações que, portanto, são individuais para as pessoas e coletivas para as gerações. Do mesmo modo que, para o encarnado, cada existência é um passo à frente, cada geração marca um grau de progresso para o conjunto. É irresistível esse progresso do conjunto e arrasta as massas, ao mesmo tempo em que modifica e transforma em instrumento de regeneração os erros e prejuízos de um passado que tem de desaparecer. Ora, como as gerações se compõem dos indivíduos que já viveram nas gerações precedentes, segue-se que o progresso delas é a resultante do progresso dos indivíduos.
Mas, quem demonstrará, poderão dizer a existência de solidariedade entre a geração atual e as que a precederam, ou entre ela e as que lhe sucederão? Como se poderia provar que eu já vivi na Idade Média, por exemplo, e que voltarei a tomar parte nos acontecimentos que se produzirão na sucessão dos tempos?
Nas obras fundamentais da Doutrina e na Revista, o princípio da pluralidade das existências já foi exaustivamente demonstrado, para que ainda nos detivéssemos aqui a demonstrá-lo. Nos fatos da vida cotidiana fervilham provas e uma demonstração quase matemática. Limitamo-nos, pois, a concitar os pensadores a que atentem nas provas morais que decorrem do raciocínio e da indução.
Será, porventura, necessário vejamos uma coisa, para que nela acreditemos? Observando efeitos, não se pode adquirir a certeza material da causa?
Afora a da experiência, a única senda legítima que se abre para essa investigação consiste em remontar do efeito à causa. A justiça nos oferece notabilíssimo exemplo desse princípio, quando empreende descobrir os indícios dos meios que serviram à perpetração de um crime, as intenções que se agregam à culpabilidade do malfeitor. Este não foi apanhado em flagrante e, contudo, é condenado por esses indícios.
A Ciência, que pretende caminhar tão-só pela via da experiência, afirma todos os dias princípios que mais não são do que induções das causas por meio unicamente da observação dos efeitos.
Em geologia, determina-se a idade das montanhas. Porventura assistiram os geólogos ao surto delas? Viram formarem-se as camadas de sedimento que lhes determinam a idade?
Os conhecimentos astronômicos, físicos e químicos permitem se avalie o peso dos planetas, suas densidades, seus volumes, a velocidade que os anima, a natureza dos elementos que os compõem; entretanto, os sábios não fizeram experiências diretas e é à analogia e à indução que devemos tão belas e preciosas descobertas.
Os homens de antanho, baseados nos testemunhos de seus sentidos, afirmavam ser o Sol que gira em torno da Terra. No entanto, esse testemunho os enganava e prevaleceu o raciocínio.
O mesmo se dará com os princípios que o Espiritismo sustenta desde que se disponha a estudá-los, sem prevenções, e, então, a Humanidade entrará, real e rapidamente, numa era de progresso e de regeneração, porque, já não se sentindo isolados entre dois abismos, o desconhecido do passado e a incerteza do porvir, os indivíduos trabalharão com energia por aperfeiçoar e multiplicar os elementos da felicidade que tem de ser obra deles, porque reconhecerão que não é devida ao acaso a posição que ocupam no mundo e que eles próprios gozarão, no futuro e em melhores condições, do fruto de seus labores e de suas vigílias. É que o Espiritismo lhes ensinará que, se as faltas coletivamente cometidas são expiadas solidariamente, os progressos realizados em comum são igualmente solidários, princípio em virtude do qual desaparecerão as dissensões de raças, de famílias e de indivíduos e a Humanidade, livre das faixas da infância, avançará, célere e virilmente, para a conquista de seus verdadeiros destinos.
Autor: Allan Kardec
Fonte: Obras Póstumas - Questões e Problemas - As Expiações Coletivas; Vade Mecum Espírita (http://www.vademecumespirita.com.br)
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