quarta-feira, 13 de junho de 2012

A prece, uma ótica espírita



 •  Postado por Rafael Gauche

A prece, ferramenta imprescindível de sintonia com Deus e com as Esferas Superiores, pode ser definida como “emanação do pensamento bem direcionado e rico de conteúdos vibratórios que se expandem até sincronizar com as ondas equivalentes, assim estabelecendo o intercâmbio entre a criatura e o Criador” (p. 220)2. Jesus, em seu ministério de amor, quando encarnado entre nós, não deixou de apresentar a prece como instrumento de comunhão com Deus, reiterando sua importância, aos nos dirigirmos humildemente a Deus, na realização de nossas necessidades espirituais.
Em “O Livro dos Espíritos”, memorável obra do Mestre de Lion, os espíritos nos apresentam a prece como “ato de adoração”5, e por meio desta, a possibilidade de louvar, pedir e agradecer. Louvar a Deus, como ato de enaltecimento e reconhecimento a Ele, nosso Pai amado, por tantas bênçãos que recebemos em cada dia de nossa existência; pedir a Deus, não pela satisfação de desejos que residem na horizontalidade das nossas aflições frívolas, mas pela força necessária ao enfrentamento digno dos nossos problemas, que não representam mais do que caminhos de ascensão, concedidos a nós pela Misericórdia Divina na proporção das nossas próprias necessidades; agradecer a Deus, pela comiseração em relação às nossas fraquezas, pelo carinho e amor extremados por parte d’Ele e dos nossos Mentores Espirituais, que se dedicam com tanto zelo pelo nosso processo de autoaprimoramento...
Entretanto, para melhor compreensão dos mecanismos de realização e eficácia da prece, devemos nos reportar à base dos fenômenos de relação entre as criaturas e destas com Deus: o pensamento. O pensamento, veículo sublimado de comunicação que se propaga através do fluido cósmico universal5, é força viva que nos situa em comunhão com aqueles que se nos afeiçoam ao modo de ver, pensar e agir. De acordo com Kardec, “a prece não tem valor senão pelo pensamento ao qual se liga” (p. 310)4. Esse ensinamento é complementado por André Luiz, em “Mecanismos da Mediunidade”, ao afirmar que o pensamento é “força sutil e inexaurível do Espírito, [...] corrente viva e exteriorizante, com faculdades de autoexcitação e autoplasticização inimagináveis” (p. 82-83)6.
Todos nós apresentamos uma onda mental específica. Essa onda mental é caracterizada pelo nosso próprio estágio evolutivo, sendo influenciada diretamente pelos valores que construímos, pelos defeitos de que ainda não nos livramos, por tudo que nos caracteriza como individualidade no cenário do universo. Por meio do processo de indução mental, “processo através do qual um corpo que detenha propriedades eletromagnéticas pode transmiti-las a outro corpo sem contato visível” (p. 51)6, estabelecem-se as relações de sintonia entre os Espíritos habitantes das esferas espiritual e corpórea, nos colocando em relação direta com aqueles que se nos afinam. Importa lembrar, também, que nossos pensamentos se expressam e corporificam com intensidade proporcional à nossa vontade e insistência em mantê-los.
Ainda em “Mecanismos da Mediunidade”, André Luiz nos esclarece que o pensamento se exterioriza através de diferentes tipos de onda, com suas gradações a se diferenciarem, via de regra, pela frequência que apresentam6. O número de ondas que passa por um ponto do espaço em um determinado tempo corresponde à frequência da radiação. Na lógica do pensamento, quanto maior a frequência das ondas emitidas por nossos pensamentos, maior o alcance e força das emissões – e maior a comunhão com o pensamento do Criador. Segundo o autor, o pensamento dos anjos se expressa em ondas de altíssima frequência, com os homens se situando em padrões de vibração representados por ondas de curto, médio e longo comprimento. Em reuniões públicas de centros religiosos, por exemplo, quando uma prece proferida é iniciada pelo apelo: “Vamos elevar nossos pensamentos”, literalmente devemos elevar a frequência das ondas que emitimos, mentalizando Jesus, pensando em coisas boas, oferecendo guarida ao cultivo dos bons sentimentos e aspirações.
Após a singela explicação dos mecanismos de funcionamento da prece, faz-se importante situar o ato de orar em um contexto prático. Assim sendo, ressaltamos a importância do hábito da prece. Em “Missionários da Luz”, de André Luiz, o Instrutor Alexandre situa a necessidade da oração no lar, templo abençoado em que habitam os corpos e sublimam-se as almas: o “santuário doméstico, que encontre criaturas amantes da oração e dos sentimentos elevados, converte-se em campo sublime das mais belas florações e colheitas espirituais” (p. 80)7. Um exemplo pontual pode ser consultado em “Nas fronteiras da loucura”3. Na obra, Angélica, após realizar uma prece sincera em favor de sua filha, atraiu a atenção e os cuidados do próprio Dr. Bezerra de Menezes... A fórmula nos foi transmitida por Jesus há muito tempo: “pedi e vos será dado” (Mateus, 7:7)1.
Kardec ensina-nos acerca da eficácia da prece realizada em conjunto, pois desta forma seu efeito é potencializado, o que se realiza por meio da harmonia de pensamentos, “porque é como se todos gritassem em conjunto e em uníssono” (p. 310)4. É digno de nota um fato descrito por André Luiz em “Os Mensageiros”. Quando em um posto de socorro, após uma prece realizada por grande benfeitora do Plano Espiritual, seguida mentalmente pelo grupo, frase por frase, em atendimento às instruções dispensadas pelo orientador de André Luiz, para “imprimir o máximo ritmo e harmonia ao verbo, ao som e à ideia, numa só vibração” (p. 152)8, o autor nos descreve a cena: “enxerguei, maravilhado, grande quantidade de flores esbranquiçadas, de tamanhos variadíssimos, a caírem copiosamente sobre nós que orávamos [...]” (p. 155)8. As flores em questão representam o que André Luiz denomina como “elementos-força”, que renovam o mundo íntimo dos que estão em prece ao atingi-los e, agregando-se às energias peculiares de cada receptor, se exteriorizam com as características inerentes a cada Espírito, na medida de sua elevação, como bênçãos em auxílio aos necessitados.
Kardec4,5 esclarece-nos que, por intermédio da oração, atraímos o concurso dos Espíritos amigos, que nos fortalecem, nos auxiliando a evitar acontecimentos lamentáveis que decorrem das nossas más tendências, e que poderiam nos comprometer o futuro de maneira significativa... Dá-nos, também, a compreensão de que a necessidade de nossas provas repousa nos Desígnios Divinos, em diversos lances da existência, para nosso próprio progresso. Assim sendo, a prece nos ajuda nas provações, para que consigamos carregar o mérito das nossas próprias conquistas, em vez de nos afastar de nossos problemas; formas sutis de auxílio, como uma palavra amiga ou uma leitura edificante, que costumam passar despercebidas, representam bênçãos que nos chegam de todos os lados, a todos os instantes. Kardec também nos ensina que podemos, ainda, orar por intermédio de outrem, auxiliando-os, efeito que se patenteia de maneira peculiar nos desencarnados sofredores, aliviando seus sofrimentos e angústias.
A prece, portanto, com sua capacidade sublime de nos colocar em contato com o Mais Alto, faz-se imprescindível em todos os lances de nossa existência. Mais ainda, é por meio da nossa conduta, e dos esforços que devemos realizar no sentido de retificá-la em harmonia com a Lei de Amor, que estaremos a caminho de atingir a plenitude de comunhão com Deus; é quando conseguiremos viver em prece, pois apenas por meio da vivência dos ensinamentos exarados por Jesus – que se consubstanciam na caridade, que é amor em ação –, manteremos nossos pensamentos elevados constantemente. Como nos ensinam os Espíritos, “as boas ações são a melhor prece, por isso que os atos valem mais que as palavras” (p. 268)5, fato reiterado por Santo Agostinho ao nos ensinar que o cumprimento fiel de nossos deveres, independente de quais sejam, representam a prece do dia5.
Amigos! Que nossos esforços se orientem para a consecução dos nossos verdadeiros objetivos, que devem estar sintonizados com as Verdades Divinas... Que os valores do Espírito, a bondade, a caridade, a alegria, o amor, representem a Luz a ser buscada na presente encarnação! Que a prece seja hábito religiosamente efetuado em todos os dias de nossas vidas, e que, mais ainda, nossa conduta nos permita estar em sintonia constante com Deus, na medida das nossas capacidades e dos valores conquistados a cada dia, pois “a oração é o divino movimento do espelho de nossa alma no rumo da Esfera Superior, para refletir-lhe a grandeza” (p. 109)9.
Paz de Deus seja conosco!
Referências
1. Bíblia. Português. O Novo testamento. Tradução de Haroldo Dutra Dias. Brasil: Conselho Espírita Internacional, 2010.
2. FRANCO, Divaldo Pereira. Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 1 ed. Salvador, BA: Leal, 2000.
3. idem. Nas Fronteiras da Loucura. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2 ed. Salvador, BA: Leal, 1982.
4. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentille. 231 ed. São Paulo: IDE, 1998.
5. idem. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentille. 101 ed. São Paulo: IDE, 1996.
6. XAVIER, Francisco Cândido. Mecanismos da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 42 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
7. idem. Missionários da Luz. Pelo Espírito André Luiz. 42 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap.VI.
8. idem. Os Mensageiros. Pelo Espírito André Luiz. 45 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap.XXIV.
9. idem. Pensamento e Vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap.XXVI.

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