Entrevista coletiva – 14º Congresso Estadual de Espiritismo
Luis Hu Rivas – TVCEI – No Congresso da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo – USE foi lançada a TVCEI para o satélite, o grande acontecimento espírita do ano. Como este instrumento pode ajudar na educação dos espíritas em geral e como pode contribuir para a Humanidade?
Divaldo: Jesus teve ocasião de dizer que no momento que os Seus discípulos calassem, as pedras falariam. E, oportunamente, Ele afirmou que a Sua mensagem entraria pelos telhados das casas. Do ponto de vista da lógica, isso parece um absurdo. Na simbologia do cristianismo, no entanto, as duas frases são de uma profundidade significativa. Mesmo porque os judeus eram sepultados na intimidade das rochas, em cavernas, em sepulturas abertas na rocha viva, e quando houve o silêncio na mensagem libertadora, pela imposição do império de César, aqueles o arrebentaram. E os Espíritos, saindo da sepultura, vieram anunciar a Era Nova.
No período do rádio, tivemos a oportunidade de averiguar que a mensagem espírita entrava pelas antenas, colocadas sobre os telhados. Hoje, através das telecomunicações, constatamos que a palavra do Mestre também é atual porquanto no caso da TVCEI e outras, a mensagem entra pelo telhado para poder despertar as criaturas para o significado profundo da Era Nova. Esse passo, dado pela TVCEI, precedido de outras iniciativas em momentos inováveis e audaciosas para a época, tem um sentido muito profundo, porque os espíritas estão em condições de competir, no bom sentido da palavra, com os órgãos que disseminam o crime, a violência, a aberração, estimulando o despautério e a loucura. Por essa razão, saudamos a TVCEI, neste momento, da era nova das comunicações entrando pelos telhados das nossas casas para iluminar as nossas consciências.
Aparecido Belvedere – Revista Internacional de Espiritismo e O Clarim – Matão – SP: Lembramos de um fato histórico, quando em 1936, Cairbar Schutel fez o programa “Conferências Radiofônicas”, talvez já pensando no futuro, com a grande diversidade da comunicação em massa, para que não só os espíritas, mas que o povo em geral, tomasse conhecimento dessa Doutrina consoladora e esclarecedora. Gostaria que o irmão tecesse um comentário desse fato histórico.
Divaldo: Cairbar Schutel, sem a menor dúvida, é um desses missionários do Consolador que, no momento próprio, veio quebrar a intolerância e o obscurantismo propostos pelas doutrinas ortodoxas. Quando começou as suas conferências radiofônicas, em Araraquara, naquele período de audácia, o insigne inspirado pelos Espíritos, além de abrir nobres espaços no período novo, tornava-se um bandeirante na telecomunicação, porque teve a coragem de abordar os temas espíritas com toda a clareza, combatendo a falsidade, a prepotência e ao mesmo tempo revelando a dúlcida figura de Jesus, que ele havia esculpido no altar da sua conduta como dos seus embaixadores. É profundamente comovedor constatar que daquele pioneirismo, transcorridos 73 anos, já podemos ter a comunicação para os países latino americanos. O início de uma telecomunicação para todo o planeta terrestre. A tarefa de um missionário pioneiro é das mais ingratas, porquanto deve constar a sua sequência de atos nobres: padecer na cruz da incompreensão, audácia de amar e sofrer nas garras da alma o despotismo dos dominadores, abrindo clareira na terrível mata tradicional para imprimir o ideal da verdade que um dia se expanda sobre a Terra. Não podemos deixar de saudar esse homem notável, que através da Revista Internacional de Espiritismo trazia os conhecimentos espíritas da Europa e as suas realizações na área da ciência para publicar no Brasil, onde eles encontravam resistência. E como isso não bastasse, através das páginas de “O Clarim” ele emitia o som grandioso da revelação, através de uma redundância, “As clarinadas de luz”, e hoje repercutem na imensa divulgação que os espíritas realizamos utilizando todos os veículos da mídia, para alcançar a meta da divulgação da Doutrina.
Alamar Régis – SP: Divaldo, gostaria que você tecesse algum comentário acerca de outro bandeirante, nosso pioneiro no Brasil, cujo nome é tão pouco conhecido pelo nosso Movimento Espírita, o inesquecível Luiz Olímpio Teles de Menezes.
Divaldo: O insigne baiano, no mês de julho de 1865, criou o Grupo Familiar de Espiritismo. Sem qualquer dúvida, grande pioneiro da divulgação espírita no Brasil, com a publicação de “O Eco de Além Túmulo”. Na sua época governava a Província da Bahia o Conde Bispo dos Arcos, que ao receber a solicitação para que um núcleo familiar de Espiritismo pudesse ser instalado, deu um parecer dos mais notáveis, que nós temos a felicidade de possuir o original, no qual ele dizia que o Espiritismo é um doutrina respeitada na Europa e no mundo, mas que lamentavelmente a Igreja proibia, portanto a sua instalação do Grupo Familiar de Espiritismo.
E “O Eco de Além Túmulo”, o seu jornal, sobreviveu ainda 16 números demonstrando a integridade deste grande homem. Ademais, ele teve a oportunidade de manter correspondência com Allan Kardec, que se encontrava encarnado, e mandar para o mestre de Lyon uma mensagem ditada pelo Espírito Verdade, em Salvador e que foi confirmada em Paris, através de um dos médiuns da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas como sendo autêntica. Esses missionários reencarnam periodicamente para preparar o advento das nobres conquistas da ciência, da filosofia, da ética moral e da religião, alargando os horizontes para predominar um dia na Terra a misericórdia de Deus e a luz inabalável do Evangelho de Jesus.
Alamar Régis – SP: E o Pacto Áureo?
Divaldo: Encontro memorável na sede da Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro, no dia 5 de outubro de 1949, daqueles estóicos vanguardeiros da Era Nova, dentro dos quais destacamos Leopoldo Machado, Arthur Lins de Vasconcelos, um dedicado médium do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, Ary Casadio, Francisco Spinelli, do Rio Grande do Sul, Carlos Jordão da Silva, que ontem havia sido elegido pelos Bons Espíritos para ser um dos patrocinadores deste congresso,e contava-se presente o Dr. Luiz Monteiro de Barros. Esses homens admiráveis realizaram a Caravana da Fraternidade e saíram pelo Brasil divulgando os ideais da unificação. Como disse Allan Kardec, um dos maiores obstáculos da divulgação da Doutrina seria, sem dúvida, a sua falta de unidade. Foram eles que corajosamente percorreram todo o Nordeste brasileiro e também visitaram algumas cidades, as nossas capitais do Centro do País e do Sul, divulgando o Pacto Áureo, quando o então Presidente da Federação Espírita do Estado de Santa Catarina havia sido o instrumento da mensagem do guia espiritual do Brasil apoiando este ideal fantástico, que é unificação dos espíritas.
Sem unificação, não teremos êxito, porquanto, a parábola do feixe de varas assim nos dá as características da nossa necessidade. O venerável Apóstolo do Espiritismo, Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcante, em mensagem que recebemos na Federação Espírita Brasileira, no Conselho Federativo Nacional, oportunamente disse: primeiro a união dos espíritas. Que tenhamos a coragem de esquecer as nossas diferenças. Afinal as diferenças não são negativas. Os dedos da mão nasceram no mesmo momento, são todos diferentes. Graças a essas diferenças é que eles podem curvar-se para produzir a igualdade e podermos pegar. Desta maneira, é justo que esqueçamos as nossas pequenas diferenças, a maneira de interpretarmos determinados textos do pensamento kardequiano. Que nos unamos em torno do ideal que deve estar acima das nossas pequenezes. Que olvidemos essas questões do ego, personalismo, que deveremos abandonar para que fulgure através do nosso exemplo a Doutrina codificada por Allan Kardec, restauradora do Evangelho de Jesus, na sua nobre colocação de Terceira Revelação para contribuir em favor de um novo mundo.
Nilson Torres – Jornal Verdade e Luz – Ribeirão Preto – SP: Pesquisa recente afirma que 1,4% dos universitários se declaram espíritas e 4% se declaram ateus. Com todos os meios de comunicação que temos hoje e o trabalho magnífico que o senhor faz pelo mundo todo, quando lembramos da questão 798 de O Livro dos Espíritos, onde os Espíritos Superiores dizem que um dia o Espiritismo será uma posição íntima de todas as pessoas, quando vemos esses números, confesso uma certa ansiedade. O que o senhor diria?
Divaldo: Estamos no momento da grande transformação. Lentamente, o Espiritismo adquire cidadania. Frederick Nietsche, apesar do seu pessimismo, disse que toda ideia nova deve passar por três fases. A.primeira delas é a da negação. A negação total por ela vir abalar o alicerce do comodismo. Mas quando a negação não consegue destruir, vem a segunda fase: a do ridículo. Aqueles que não a conhecem procuram ridicularizá-la. E se ela prossegue termina por ser aceita. Exatamente isso ocorreu com o Espiritismo:combatido tenazmente pelo materialismo mecanicista e dialético do século XIX, no seu último quartel, ele sobreviveu. Logo depois vieram as ironias acadêmicas, as perseguições teológicas e a ignorância popular. E o Espiritismo resistiu, porque ele não é fundado pela opinião de um homem, mas é resultado da mensagem dos embaixadores de Jesus na Terra. E hoje, lentamente ele vai sendo aceito, inclusive por aqueles que o negavam, porque a sua força não está no fenômeno, mas na sua filosofia, como asseverou Allan Kardec.
Mas a transformação da sociedade é lenta, porque ela ocorre em cada indivíduo, não na massa. Quando ocorre uma revolução da massa e uma mudança coletiva, nós observamos que estamos na porta do perigo, porque toda vez que adquirimos a liberdade após um largo período escravagista, zombamos na libertinagem. Foi o que ocorreu na Revolução Francesa, com todas as revoluções filosóficas, sociológicas e econômicas, que a última veio desaguar nesta grande crise, que abala hoje o mundo.
O Espiritismo, portanto, segue a linha da racionalidade e da ética, modificando cada indivíduo para que ele modifique o mundo,. Por essa razão, quando alguém perguntou se o Espiritismo seria a religião do futuro, Allan Kardec com propriedade disse não, o Espiritismo será o futuro das religiões, porque as religiões adotarão os seus postulados e modificar-se-ão, conforme já vem ocorrendo desde quando, no Vaticano, o Papa João Paulo II teve a oportunidade de confirmar que os mortos voltam e se comunicam e um cardeal confirmou em periódico na Santa Sé, Conservatório Romano, as palavras do Papa e caracterizou aqueles que deveriam receber os “santos”, como ocorre em “O Livro dos médiuns”, com as características dos médiuns.
Temos, portanto, confiança e a certeza em que em futuro não muito distante, a Doutrina Espírita estará dominando as consciências, como futuro filosófico da Humanidade.
Fábio – Folha – Araxá: Emmanuel, no livro “O Consolador”, psicografia de Chico Xavier, fez menção ao movimento feminista, como sendo aquele do retorno da mulher ao lar. Comente sobre a mulher de hoje no mercado de trabalho em detrimento da educação.
Confirma a tese que expusemos na pergunta anterior. Escravizada e submetida às paixões machistas, durante milênios, a partir dos anos 1960, quando surgiram as grandes lidadoras do ideal de liberdade da mulher, eis que pouco a pouco foram sendo rompidos os laços da submissão, e hoje vemos a mulher novamente transformada num objeto de uso, transformando em linha geral o seu corpo num instrumento de prazer. Um grande desrespeito à finalidade da reencarnação. É óbvio que se trata de exceções.
Lembro-me de um dado que me impressionou muito. Em abril de 1857, em Manhattan, as tecelãs das indústrias têxteis de New York fizeram uma passeata para solicitarem às autoridades que reduzissem o número de horas de trabalho. Elas trabalhavam dezesseis horas. A intolerância dos homens e da Polícia Montada fez com que elas recuassem até uma fábrica, cujas portas foram trancadas por fora e atiraram fogo, morrendo todas elas. A partir daí, as mulheres insurgem-se. Começam a lutar a favor do voto, do seu direito de reivindicação.
No último Encontro Mundial das Mulheres, estavam presentes 184 nações. Mas é natural que, com isso, da liberdade, haja ocorrido algum momento em desequilíbrio e da afirmação da mulher no mercado de trabalho, como sendo essencial, com esquecimento da santificação da maternidade. Teríamos aqui um adágio popular: nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
A maternidade exige da mulher, como do homem, uma contribuição valiosa na construção da família, da educação da prole. Os pais não devem ser fornecedores de coisas, porque quando eles dão coisas negam-se a dar-se. É muito mais importante. mas a mulher já está percebendo exatamente isto, e muitas estão procurando atender o seu compromisso de autorrealização pelo trabalho, pela arte, pela ciência, pela tecnologia, reservando as suas horas, também, para a santificação doméstica. A volta ao lar vem se dando naturalmente, de maneira nobre, mas sem nenhuma propaganda, porque o bem dispensa o alargamento das suas ideias.
Luis Hu Rivas – TVCEI: Hoje existe uma expansão das mídias espíritas: internet, cinema, televisão, rádio e jornais. Qual deve ser o cuidado que o divulgador espírita deve ter com esta proposta e como os Espíritos estão vendo essa expansão?
Os bons Espíritos inspiram essa expansão e alguns deles reencarnaram-se com essa finalidade específica. No entanto, vale bem o comedimento. A ausência do desgaste exacerbado, porque esses veículos que nos facilitam muito a divulgação podem transformar-se em instrumento de grave perturbação. Como ocorre, por exemplo, na internet, em que as notícias perderam a autenticidade, a validade do respeito graças à interferência de personalidades psicopatas de indivíduos interessados na divulgação do mal e nós, os espíritas, atraídos por essa nova fase, devemos ter muito cuidado.Ouçamo-nos, consultemo-nos e procuremos divulgar aquilo que pode ser multiplicador do bem, porque do contrário estaremos fazendo o trabalho da intolerância e da perturbação.
Helena - Correio Fraterno – São Bernardo do Campo – SP: O tema do congresso “Vivência no Amor pelos caminhos da educação” nos dá a ideia de que estamos mudando o rumo do discurso espírita. Você acha que está havendo um retorno à filosofia espírita?
Toda vez quando uma idéia se expande, à medida que cresce descaracteriza-se. Tudo aquilo que cresce em superfície, perde em profundidade. Nós, espíritas, vivemos um período em que a educação pelos caminhos do amor e o amor pelas vias da educação constituem os melhores instrumentos para a divulgação do Espiritismo. Desde que o lábaro que ostentamos, como diz Allan Kardec, que repetiu em todas as suas viagens pelos países francófonos que era esta a nossa bandeira, a bandeira que erguemos: “Fora da caridade não há salvação”. A educação é a caridade mais profunda, porque educar o caráter moral é erradicar a causa da miséria moral a fim de diminuir as consequências das outras expressões da debilidade humana. O amor é a alma de Deus iluminando o mundo, porque fora do amor não existe criação, porque Deus é amor.
Entrevista coletiva de imprensa concedida por Divaldo Pereira Franco durante o 14º Congresso Estadual de Espiritismo, promovido pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo – USE, entre os dias 19 e 21 de junho, em Serra Negra – SP.
Fonte: Jornal Verdade e Luz
Dezembro de 2009.
Em 22.12.2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário