Cairbar Schutel
Publicado na RIE em novembro de 1928
A Verdade não se impõe arbitrariamente.
Ela só se apresenta com os fatos, que constituem os princípios básicos das ideias sãs.
Pelo mesmo motivo não se pode transviar a natureza dos fatos com uma explicação bastarda que, à guisa de teoria, desorienta as inteligências em vez de prepará-las para uma orientação racional da causa por que se produzem esses fatos.
Em todos os ramos do conhecimento humano são os fatos que têm conduzido os pesquisadores à descoberta da verdade.
Haja vista o movimento da Terra, cujas consequências científicas ninguém desconhece o valor. Ela não surgiu de um princípio dogmático, mas sim do fato observado meticulosamente por Galileu.
O novo continente não se fez por uma ideia visionária de Colombo, mas só depois de grande luta e acerbas provações o grande genovês pôde descobrir a existência das duas Américas.
O sangue, desde que o mundo existe, circula nos organismos humanos e animais, entretanto foram necessários os longos e pacientes trabalhos de Harvey para que a ciência ficasse de posse da “circulação do sangue”.
Leblanc não pôs a soda no sal marinho, entretanto seu nome figura no panteão dos descobridores por haver encontrado a soda no sal e descoberto o processo da extração daquela, deste.
Assim são todas as descobertas de que se ufana o nosso mundo, e cujos estudos sondando a natureza dos fenômenos levaram os pesquisadores ao conhecimento das causas.
Não é a nossa vontade, nem a nossa ciência, nem a nossa arte que criam os fatos. Eles existem de toda a eternidade. As vibrações existiam antes da descoberta de Young, assim como a eletricidade antes de Galvani e Franklin, Edison etc.
O magnetismo sempre existiu antes de Charcot e Mesmer, assim como o vapor antes de Arago. As descobertas destes e sua aplicação é que lhes dá o valor.
Os fatos, em todos os ramos da ciência, são insistentes, produzem-se sempre, porque eles são oriundos da Sabedoria Universal e Eterna, cuja fonte não cessa de jorrar para instruir os homens na verdade. Daí a grande autoridade dos fatos que aparecem mesmo contra as vontades mais potentes do mundo.
As ciências têm sempre se originado dos fatos e a sua estabilização consiste em haverem adaptado aos fatos as teorias que deles decorrem. Se o contrário tivesse sucedido, por exemplo se aplicado as teorias da eletricidade ao magnetismo, ou do magnetismo à eletricidade, as atividades se consumiriam no estudo e nas pesquisas, as convicções tornar-se-iam incompreendidas, e as ciências andariam numa confusão impossível de se manterem.
Este critério foi que levou Allan Kardec a descobrir o Mundo dos Espíritos e as relações que os seus habitantes podem manter conosco.
Cientificado pelo magnetizador Forstier que o magnetismo, segundo experiência que esse magnetizador fizera, tinha ação sobre as mesas, fazendo-as mover, julgou muito natural esse fato “porque o fluido magnético podia muito bem atuar sobre corpos inertes”.
Mas não achou natural que o “fluido magnético fizesse as mesas falarem”, visto como este não pode senão exercer efeitos mecânicos, sendo que os efeitos intelectuais exigem uma natureza inteligente para produzi-los.
Foi então que tomando a sério o estudo desses fatos, que chamamos espíritas, entreviu neles, além das futilidades aparentes e dos fenômenos que se procurava por passatempo, a revelação de uma nova lei, que descobriu, aplicando à nova ciência que fundou, o método experimental, não aceitando teorias preconcebidas, e dos efeitos remontando às causas.
Diversos outros investigadores seguiram o critério do Mestre.
Varley, o antigo Diretor da Companhia de Cabos Submarinos, que lançou o primeiro cabo transatlântico, ao ouvir falar dos fenômenos psíquicos não escondeu o seu cepticismo, mas, premido pelos fatos, depois de inteligentes experiências feitas em sua própria casa e com sua esposa, afirmou categoricamente a realidade dos fatos e, ainda mais, não terem esses fenômenos parte alguma com a eletricidade.
O depoimento de Varley é um documento importante, pois o seu testemunho foi dado perante o comitê da Sociedade Dialética de Londres.
Assim como todos os fatos que fundamentam as ciências, os fatos espíritas são evidentes e ninguém poderá negá-los sem fazer jus do diploma de presumido e ignorante.
William Crooks, que estudou o espírito de Katie King, por espaço de três anos, em companhia de cientistas do mais alto valor, como o Dr. Gregory, Sergeant Cox, o Prof. Challis, de Cambridge, Adolfo Tropelle, Augusto Mongau e outros, chegando a medir e pesar a “entidade espírita” para comparar com os pesos e medidas do médium; ele examina a aparição, exerce o controle da fotografia, conversa com ela, obtém dela um escrito do próprio punho, e, em seu relatório de sábio, conclui a respeito dos fatos: “Não digo que sejam possíveis, mas sim que são reais”.
Lombroso, o genial psiquiatra, que também se eternizou pelos trabalhos clínicos sobre a patogênesis da pelagra, deixou na sua obra “Il Fenomeni Ipnotici e Spiritici” a bela profissão de fé que conscientemente pode fazer um espírita de sua estatura.
E quantos homens de ciência que examinaram os fenômenos de Eusapia Paladino afirmaram a veracidade dos fatos! O Prof. Felipe Bottazi, Diretor do Instituto de Fisiologia da Universidade de Nápoles; Dr. Galeoti, Prof. de Patologia geral; Tomas de Amicis, encarregado da cátedra de Dermatologia e Sifilografia; Oscar Scarpa, físico, professor de Eletroquímica da Escola Superior Politécnica de Nápoles; Senador Cardarelli, prof. de clínica médica e outros muitos que seria fastidioso enumerar. Estes escolheram o local das experiências, para afastarem todas as dúvidas, fizeram-se acompanhar de um arsernal de aparelhos, manômetros, tímpanos registradores de Marey, metrônomos, e apesar de todas as precauções e exigências experimentais viram mãos diáfanas vagando no ar, cabeças nitidamente formadas; os móveis se moviam sem contato, e fenômenos transcendentais foram verificados e testemunhados.
O que dizer do livro do Professor Morselli onde abundam relatos de fatos que esse professor verificou! Sua convicção na existência dos fatos é tão grande que ele diz: “Os fenômenos psíquicos devem ser observados como o são os fenômenos celestes”.
O Dr. Lapponi, médico de Leão XIII, examina, por ordem deste e com intuito de combate, os fatos espíritas, e publica, com a sanção do Vaticano, um livro em apoio dos fatos, embora desnaturando suas causas.
Os verdadeiros homens de ciência não podem negar os fatos, porque, como dizia o Professor Chiaia a Lombroso, citando Dante: “A verdade é obrigada pela lei da honra a se opor sempre contra a falsidade”.
A crença nos fatos espíritas, chamada antigamente “aparição dos fantasmas dos mortos”, perde-se na noite dos tempos, porque os fatos sempre existiram como sempre existiu o movimento da Terra, a circulação do sangue, a soda no sal marinho.
Nas páginas das Escrituras e dos Livros Sagrados ela figura até como artigo de fé, chegando até a se apresentar como atributos de entidades bem-aventuradas.
D. José Ramon Savedra, o sábio e virtuoso autor da “Demonstração da Divindade da Religião”, e que é insuspeito por ser católico, como insuspeita é a sua obra que mereceu a aprovação eclesiástica, inseriu em seu livro os belos trechos que se vai ler e que confirmam peremptoriamente os fatos espíritas.
— “A respeito da imortalidade da alma, pode-se dar uma PROVA NATURAL DO FATO: as relações com os mortos, ou a evocação e aparição das almas dos mortos.
— É um fato que a alma dos mortos entra em relação com a alma dos vivos e se dá a conhecer a estes. Judeus, gentios e cristãos têm acreditado nesses fatos. Sucessos tão gerais não se podem fingir, tanto mais que são atestados por pessoas ilustradas e respeitáveis. No livro 1º dos Reis, encontra-se a evocação da alma de Samuel pela pitonisa do Endor. Santo Agostinho relata uma aparição de almas que teve S. Cirillo de Jerusalém, e as vidas dos santos apresentam inumeráveis casos deste gênero. Há também uma multidão de fatos recentes que confirmam esta verdade. A alma de Benjamin Franklin pronunciou um pequeno discurso em 20 de fevereiro de 1850, que se acha registrado. Consta de um documento firmado por todos os assistentes (Table parl. Jun., 1854). Nessa mesma época fazia muito ruído nos Estados Unidos o que dizia o espírito de Calhoun. Na presença dos generais Hamilton, Waddi Thompson, Robert Campbell, M. Tallamadge e outros, íntimos amigos de Calhoun, e na presença também de um dos seus filhos, pediu-se ao espírito de Calhoun que escrevesse de modo que se conhecesse a letra, e escreveu I’m with you still (todavia estou convosco). Todos reconheceram sua própria letra, e Hamilton observou que Calhoun costumava escrever I’m, em vez de I am.
“Em 1853 o espírito de Calhoun disse em Washington, a M. Tallamadge, que o fim das manifestações espíritas era o de reconciliar os homens, convencendo-os da imortalidade da alma. M. Tallamadge disse que o espírito de Channing deu, em Bridge Port, igual resposta em 1850. Por estes e outros muitos fatos análogos, M. Tallamadge julga que se encontra nesses fatos a prova irrefragável da imortalidade da alma.
“Um sábio belga, M. Jobard, a quem a ciência e a indústria devem notáveis descobertas, convencido das comunicações dos espíritos, disse: “É um fato atualmente tão difundido que ainda que seja dotado de uma lógica não vulgar é impossível contestá-lo, salvo se se pretender que todo o mundo é louco e só o que nega é que é sábio e se acha isento da epidemia geral, a maior que a humanidade tem visto: a comunicação direta com os mortos, a realidade das suas aparições. (La table parlante, abril 1854)
“Vários autores franceses dizem que são puramente diabólicas as evocações dos espíritos humanos, e por conseguinte nada provam a favor da imortalidade da alma. Mas esta opinião me parece inaceitável por estas razões: 1ª) Todo o contexto da aparição de Samuel demonstra que não foi obra do demônio: aquele espírito inspirou a Saul o temor ao poder de Deus e predisse sua morte e de seus filhos para o dia seguinte, e a vitória dos filisteus sobre Israel; 2ª) Se as evocações modernas fossem obra do espírito do mal, este trabalharia para a glória de Deus e salvação das almas? A negação da ordem sobrenatural foi vitoriosamente confundida por estes fatos, pois há, evidentemente, sempre neles um agente sobrenatural.
“É provável que satanás se ufane por inocular nos homens a crença na ordem sobrenatural e prepará-los assim para o céu?”
Finalmente, a autoridade dos fatos não pode ser sonegada, nem ceder o seu lugar a princípios arbitrários que contradizem a lógica e o raciocínio.
A verdade não se impõe abruptamente, mas exige estudo e livre-exame, favorecendo os investigadores com os fatos que dela se originam. Ela não representa um expoente de princípios imperiosos, de juízos preconcebidos, mas o resultado de estudos feitos por suas manifestações positivas; daí a autoridade dos fatos espíritas, cuja única doutrina regenerará a humanidade, impondo a todos os deveres de fraternidade e progresso.
A Verdade não se impõe arbitrariamente.
Ela só se apresenta com os fatos, que constituem os princípios básicos das ideias sãs.
Pelo mesmo motivo não se pode transviar a natureza dos fatos com uma explicação bastarda que, à guisa de teoria, desorienta as inteligências em vez de prepará-las para uma orientação racional da causa por que se produzem esses fatos.
Em todos os ramos do conhecimento humano são os fatos que têm conduzido os pesquisadores à descoberta da verdade.
Haja vista o movimento da Terra, cujas consequências científicas ninguém desconhece o valor. Ela não surgiu de um princípio dogmático, mas sim do fato observado meticulosamente por Galileu.
O novo continente não se fez por uma ideia visionária de Colombo, mas só depois de grande luta e acerbas provações o grande genovês pôde descobrir a existência das duas Américas.
O sangue, desde que o mundo existe, circula nos organismos humanos e animais, entretanto foram necessários os longos e pacientes trabalhos de Harvey para que a ciência ficasse de posse da “circulação do sangue”.
Leblanc não pôs a soda no sal marinho, entretanto seu nome figura no panteão dos descobridores por haver encontrado a soda no sal e descoberto o processo da extração daquela, deste.
Assim são todas as descobertas de que se ufana o nosso mundo, e cujos estudos sondando a natureza dos fenômenos levaram os pesquisadores ao conhecimento das causas.
Não é a nossa vontade, nem a nossa ciência, nem a nossa arte que criam os fatos. Eles existem de toda a eternidade. As vibrações existiam antes da descoberta de Young, assim como a eletricidade antes de Galvani e Franklin, Edison etc.
O magnetismo sempre existiu antes de Charcot e Mesmer, assim como o vapor antes de Arago. As descobertas destes e sua aplicação é que lhes dá o valor.
Os fatos, em todos os ramos da ciência, são insistentes, produzem-se sempre, porque eles são oriundos da Sabedoria Universal e Eterna, cuja fonte não cessa de jorrar para instruir os homens na verdade. Daí a grande autoridade dos fatos que aparecem mesmo contra as vontades mais potentes do mundo.
As ciências têm sempre se originado dos fatos e a sua estabilização consiste em haverem adaptado aos fatos as teorias que deles decorrem. Se o contrário tivesse sucedido, por exemplo se aplicado as teorias da eletricidade ao magnetismo, ou do magnetismo à eletricidade, as atividades se consumiriam no estudo e nas pesquisas, as convicções tornar-se-iam incompreendidas, e as ciências andariam numa confusão impossível de se manterem.
Este critério foi que levou Allan Kardec a descobrir o Mundo dos Espíritos e as relações que os seus habitantes podem manter conosco.
Cientificado pelo magnetizador Forstier que o magnetismo, segundo experiência que esse magnetizador fizera, tinha ação sobre as mesas, fazendo-as mover, julgou muito natural esse fato “porque o fluido magnético podia muito bem atuar sobre corpos inertes”.
Mas não achou natural que o “fluido magnético fizesse as mesas falarem”, visto como este não pode senão exercer efeitos mecânicos, sendo que os efeitos intelectuais exigem uma natureza inteligente para produzi-los.
Foi então que tomando a sério o estudo desses fatos, que chamamos espíritas, entreviu neles, além das futilidades aparentes e dos fenômenos que se procurava por passatempo, a revelação de uma nova lei, que descobriu, aplicando à nova ciência que fundou, o método experimental, não aceitando teorias preconcebidas, e dos efeitos remontando às causas.
Diversos outros investigadores seguiram o critério do Mestre.
Varley, o antigo Diretor da Companhia de Cabos Submarinos, que lançou o primeiro cabo transatlântico, ao ouvir falar dos fenômenos psíquicos não escondeu o seu cepticismo, mas, premido pelos fatos, depois de inteligentes experiências feitas em sua própria casa e com sua esposa, afirmou categoricamente a realidade dos fatos e, ainda mais, não terem esses fenômenos parte alguma com a eletricidade.
O depoimento de Varley é um documento importante, pois o seu testemunho foi dado perante o comitê da Sociedade Dialética de Londres.
Assim como todos os fatos que fundamentam as ciências, os fatos espíritas são evidentes e ninguém poderá negá-los sem fazer jus do diploma de presumido e ignorante.
William Crooks, que estudou o espírito de Katie King, por espaço de três anos, em companhia de cientistas do mais alto valor, como o Dr. Gregory, Sergeant Cox, o Prof. Challis, de Cambridge, Adolfo Tropelle, Augusto Mongau e outros, chegando a medir e pesar a “entidade espírita” para comparar com os pesos e medidas do médium; ele examina a aparição, exerce o controle da fotografia, conversa com ela, obtém dela um escrito do próprio punho, e, em seu relatório de sábio, conclui a respeito dos fatos: “Não digo que sejam possíveis, mas sim que são reais”.
Lombroso, o genial psiquiatra, que também se eternizou pelos trabalhos clínicos sobre a patogênesis da pelagra, deixou na sua obra “Il Fenomeni Ipnotici e Spiritici” a bela profissão de fé que conscientemente pode fazer um espírita de sua estatura.
E quantos homens de ciência que examinaram os fenômenos de Eusapia Paladino afirmaram a veracidade dos fatos! O Prof. Felipe Bottazi, Diretor do Instituto de Fisiologia da Universidade de Nápoles; Dr. Galeoti, Prof. de Patologia geral; Tomas de Amicis, encarregado da cátedra de Dermatologia e Sifilografia; Oscar Scarpa, físico, professor de Eletroquímica da Escola Superior Politécnica de Nápoles; Senador Cardarelli, prof. de clínica médica e outros muitos que seria fastidioso enumerar. Estes escolheram o local das experiências, para afastarem todas as dúvidas, fizeram-se acompanhar de um arsernal de aparelhos, manômetros, tímpanos registradores de Marey, metrônomos, e apesar de todas as precauções e exigências experimentais viram mãos diáfanas vagando no ar, cabeças nitidamente formadas; os móveis se moviam sem contato, e fenômenos transcendentais foram verificados e testemunhados.
O que dizer do livro do Professor Morselli onde abundam relatos de fatos que esse professor verificou! Sua convicção na existência dos fatos é tão grande que ele diz: “Os fenômenos psíquicos devem ser observados como o são os fenômenos celestes”.
O Dr. Lapponi, médico de Leão XIII, examina, por ordem deste e com intuito de combate, os fatos espíritas, e publica, com a sanção do Vaticano, um livro em apoio dos fatos, embora desnaturando suas causas.
Os verdadeiros homens de ciência não podem negar os fatos, porque, como dizia o Professor Chiaia a Lombroso, citando Dante: “A verdade é obrigada pela lei da honra a se opor sempre contra a falsidade”.
A crença nos fatos espíritas, chamada antigamente “aparição dos fantasmas dos mortos”, perde-se na noite dos tempos, porque os fatos sempre existiram como sempre existiu o movimento da Terra, a circulação do sangue, a soda no sal marinho.
Nas páginas das Escrituras e dos Livros Sagrados ela figura até como artigo de fé, chegando até a se apresentar como atributos de entidades bem-aventuradas.
D. José Ramon Savedra, o sábio e virtuoso autor da “Demonstração da Divindade da Religião”, e que é insuspeito por ser católico, como insuspeita é a sua obra que mereceu a aprovação eclesiástica, inseriu em seu livro os belos trechos que se vai ler e que confirmam peremptoriamente os fatos espíritas.
— “A respeito da imortalidade da alma, pode-se dar uma PROVA NATURAL DO FATO: as relações com os mortos, ou a evocação e aparição das almas dos mortos.
— É um fato que a alma dos mortos entra em relação com a alma dos vivos e se dá a conhecer a estes. Judeus, gentios e cristãos têm acreditado nesses fatos. Sucessos tão gerais não se podem fingir, tanto mais que são atestados por pessoas ilustradas e respeitáveis. No livro 1º dos Reis, encontra-se a evocação da alma de Samuel pela pitonisa do Endor. Santo Agostinho relata uma aparição de almas que teve S. Cirillo de Jerusalém, e as vidas dos santos apresentam inumeráveis casos deste gênero. Há também uma multidão de fatos recentes que confirmam esta verdade. A alma de Benjamin Franklin pronunciou um pequeno discurso em 20 de fevereiro de 1850, que se acha registrado. Consta de um documento firmado por todos os assistentes (Table parl. Jun., 1854). Nessa mesma época fazia muito ruído nos Estados Unidos o que dizia o espírito de Calhoun. Na presença dos generais Hamilton, Waddi Thompson, Robert Campbell, M. Tallamadge e outros, íntimos amigos de Calhoun, e na presença também de um dos seus filhos, pediu-se ao espírito de Calhoun que escrevesse de modo que se conhecesse a letra, e escreveu I’m with you still (todavia estou convosco). Todos reconheceram sua própria letra, e Hamilton observou que Calhoun costumava escrever I’m, em vez de I am.
“Em 1853 o espírito de Calhoun disse em Washington, a M. Tallamadge, que o fim das manifestações espíritas era o de reconciliar os homens, convencendo-os da imortalidade da alma. M. Tallamadge disse que o espírito de Channing deu, em Bridge Port, igual resposta em 1850. Por estes e outros muitos fatos análogos, M. Tallamadge julga que se encontra nesses fatos a prova irrefragável da imortalidade da alma.
“Um sábio belga, M. Jobard, a quem a ciência e a indústria devem notáveis descobertas, convencido das comunicações dos espíritos, disse: “É um fato atualmente tão difundido que ainda que seja dotado de uma lógica não vulgar é impossível contestá-lo, salvo se se pretender que todo o mundo é louco e só o que nega é que é sábio e se acha isento da epidemia geral, a maior que a humanidade tem visto: a comunicação direta com os mortos, a realidade das suas aparições. (La table parlante, abril 1854)
“Vários autores franceses dizem que são puramente diabólicas as evocações dos espíritos humanos, e por conseguinte nada provam a favor da imortalidade da alma. Mas esta opinião me parece inaceitável por estas razões: 1ª) Todo o contexto da aparição de Samuel demonstra que não foi obra do demônio: aquele espírito inspirou a Saul o temor ao poder de Deus e predisse sua morte e de seus filhos para o dia seguinte, e a vitória dos filisteus sobre Israel; 2ª) Se as evocações modernas fossem obra do espírito do mal, este trabalharia para a glória de Deus e salvação das almas? A negação da ordem sobrenatural foi vitoriosamente confundida por estes fatos, pois há, evidentemente, sempre neles um agente sobrenatural.
“É provável que satanás se ufane por inocular nos homens a crença na ordem sobrenatural e prepará-los assim para o céu?”
Finalmente, a autoridade dos fatos não pode ser sonegada, nem ceder o seu lugar a princípios arbitrários que contradizem a lógica e o raciocínio.
A verdade não se impõe abruptamente, mas exige estudo e livre-exame, favorecendo os investigadores com os fatos que dela se originam. Ela não representa um expoente de princípios imperiosos, de juízos preconcebidos, mas o resultado de estudos feitos por suas manifestações positivas; daí a autoridade dos fatos espíritas, cuja única doutrina regenerará a humanidade, impondo a todos os deveres de fraternidade e progresso.
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