sexta-feira, 17 de junho de 2011

A cura verdadeira

Leda Maria Flaborea
ledaflaborea@uol.com.br

“E curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: é chegado a vós o reino de Deus”.
– Jesus. (Lucas, 10:9.)



Muito se fala das curas aos enfermos que Jesus realizou, e são inúmeras as passagens nas quais tais fatos são relatados. Todavia, é importante entendermos que não podemos dizer que estamos curados desta ou daquela doença – e que, por isso, temos saúde –, quando estamos apenas nos referindo ao corpo físico. Por essa razão, o tema que nos propomos tratar é o da cura legítima, e não apenas o da ausência de doenças. Estamos falando de saúde integral que significa condição de bem-estar.



No Evangelho de Lucas, capítulo 18, versículo 41, existe uma das mais belas figuras dos ensinamentos evangélicos: o cego de Jericó. Narra o apóstolo que o “infeliz andava pelo caminho mendigando e, sentindo a presença do Mestre, põe-se a gritar, implorando misericórdia. Irritavam-se os populares em face dos insistentes pedidos. Tentam impedi-lo, recomendando-lhe calar as solicitações. Contudo, Jesus ouve-lhe a súplica e, aproximando-se dele, interroga-o com amor: “Que queres que te faça?”, indaga o Mestre. E diante de tão grande liberdade, disse apenas: “Senhor, quero ver.”



O tema leva-nos a refletir sobre esse propósito do honesto e humilde cego, porque este deveria ser, também, o nosso propósito diante das circunstâncias da vida. Somos, muitas vezes, o cego de Jericó a esmolar a Jesus a misericórdia pelo nosso sofrimento. E somos atendidos. Todavia, lembra Emmanuel, de forma bastante oportuna, que, quando surge a oportunidade do nosso encontro com Cristo, além de sentirmos que o mundo se volta contra nós, colocamo-nos com indiferença diante do chamamento à tarefa renovadora. E esse posicionamento que temos diante da resposta divina está ligado à forma insensata com que pedimos ajuda.



A passagem evangélica lembra-nos, de maneira amorosa, que não é necessário pedirmos muito, mas apenas ver, com compreensão, a exata importância de cada momento do nosso processo evolutivo. Observar, com amor e justiça, todas as coisas, pessoas e situações, a fim de podermos sair desse labirinto que construímos ao nosso redor e que nos impede de chegarmos ao seu fim. Por essa razão, é preciso traduzir a palavra saúde em harmonia, equilíbrio e bem-estar do corpo e da alma. Em uma palavra: cura.



E as “doenças” persistem porque não sabemos receber o que pedimos. Senão, vejamos: a vida chama-nos ao trabalho de renovação e somos abençoados com a luz do conhecimento. O que fazemos? Permanecemos indecisos, sem coragem de caminhar para a realização da tarefa que nos elevaria. Somos conduzidos ao trabalho de ajuda ao próximo, para fortalecer nossos objetivos de crescimento, mas, por aguardarmos gratidão ou reconhecimento pelos nossos atos, afastamo-nos do serviço, quando isso não acontece. Companheiros difíceis são colocados a conviver conosco, seja no lar ou no trabalho, como atendimento de Jesus às nossas rogativas, e, no entanto, nos afligimos, revoltamo-nos, abandonando a luta redentora, afastando-nos deles.



A inércia, diante dessas respostas, aparece porque esperamos, muitas vezes, a resposta materializada de Jesus. Esperamos o dinheiro, a evidência social sem trabalho ou merecimento e, quase sempre, exigimos d`Ele a transformação das circunstâncias que nos trazem aflições e às quais estamos sujeitos no caminho evolutivo.



Em todas as curas que o Mestre realizou, uma constante pode ser observada, seja no cego de Jericó ou na mão ressequida do paralítico que se fez sã: é a de não lhes ter dado nada material, mas, sim, de lhes devolver os instrumentos para o trabalho de crescimento, na conquista de realizações pessoais.



As lições do Excelso Amigo são para todos, em todos os tempos e em qualquer lugar, não importando quais sejam os templos de oração aos quais estejamos ligados. Não basta, somente, estender a mão a Jesus, rogando curas, sejam físicas ou do Espírito. É imprescindível aprendermos a receber Suas bênçãos. Não basta, tão somente, o interesse pela recomposição do veículo carnal, porque, acima de tudo, necessitamos da cura do Espírito.



O Evangelho alerta-nos para que entendamos o valor da saúde. A moléstia do corpo é sempre difícil de ser compreendida e muito menos aceita, pois ainda sequer conseguimos entender porque o trabalho no bem nos traz equilíbrio orgânico! Quem de nós já percebe a lição oculta de Deus na moléstia que nos assalta? Certamente, nenhum de nós. Todavia, ela ali está, e, quando pedimos para que nossas forças sejam restauradas, esperamos, sempre, não precisar fazer qualquer esforço para que isso se concretize.



O problema nessa atitude imatura prende-se ao fato de desejarmos ser curados para continuarmos a cometer atos desequilibrantes, que nos levariam a quedas maiores. E como não conseguimos a cura desejada, segundo nossa vontade e caprichos, dizemos que Deus nos abandonou, e a fé que já não era firme, acaba-se. Infelizmente, existem doentes que lastimam a retenção no leito e choram aflitos, não porque desejam reformular seus conceitos de vida, voltando-se para princípios mais nobres, mas, sim, porque se sentem impossibilitados de continuarem na prática dos seus desregramentos.



Todo enfermo deseja curar-se, e isso é justo. Mas, é importante que ele conheça, também, o valor de todos os recursos colocados à sua disposição, para que sua experiência terrena seja coroada de benesses, benesses essas conquistadas em árdua luta contra a adversidade.



O Evangelho explica a todos nós que muitas das nossas doenças têm origem nas aflições que acumulamos e no nosso comportamento desregrado, seja ele qual for. Assim, se analisarmos nossos pensamentos e nossa conduta, vamos nos deparar com alimentações abusivas, consumo de álcool, fumo, abusos sexuais, pensamentos negativos, sentimentos inferiores como os de mágoa, ressentimentos, inveja, raiva, ciúme, medo e tantos outros que se refletem em nosso corpo físico, às vezes imediatamente, sob forma de enfermidades, que os médicos não conseguem diagnosticar.



Não importa que sejamos nós o doente ou outra pessoa: a cura só pode ser conquistada pela renovação mental, ainda que estejamos sob cuidados de médico da matéria. Quantos doentes recusam-se a tomar o remédio receitado, ou a seguir as recomendações médicas, para uma recuperação mais rápida, preferindo continuar com seus queixumes e, assim, sentirem-se vítimas e infelizes e, às vezes, até abandonados. Estão doentes e desejam continuar assim, a menos que não precisem realizar qualquer esforço para sua cura.



Jesus, O Médico divino, receitava a vigilância, a oração, o perdão e a prática da caridade como profilaxias. Recomendava, constantemente: “Buscai e achareis”, deixando claro a necessidade do nosso movimento em direção à cura, a fim de nos fazermos credores dos benefícios recebidos. Ao curar, explicava: “a tua fé te salvou”, “teus pecados te são perdoados”, “vai e não peques mais”. Em momento algum, Ele nos eximiu da responsabilidade sobre nossas doenças e sobre nossa cura.



Por isso, torna-se tão importante aprendermos a orar, sabendo agradecer, pedir e receber... Há imensa necessidade de modificarmos nosso interior pela transformação dos nossos sentimentos. Necessário faz-se que busquemos o conhecimento e o amparo do Evangelho Redentor, mas, sobretudo que aprendamos a praticar a caridade.



Os Amigos Espirituais estão sempre nos assistindo em nossas reais necessidades, seja através da ciência médica, seja através da assistência espiritual que buscamos nas casas de oração. O amparo de Deus ao homem faz-se através do próprio homem; mas, sem que queiramos nos curar, ninguém poderá nos ajudar.



Emmanuel recorda que é sempre útil curar os enfermos, quando haja permissão de ordem superior para isso. Todavia, diz ele, em face de semelhante concessão do Altíssimo, é razoável que o interessado reconsidere as questões que lhe dizem respeito, compreendendo que um novo dia chegou para a sua redenção. Aceitá-lo ou não será escolha de cada um de nós.



Estamos hoje encontrando ou reencontrando a palavra do Cristo, que perdemos em algum momento na nossa caminhada redentora. Já não é mais possível adiar o trabalho de renovação das nossas predisposições íntimas. E, por isso mesmo, sentimos o peso da nossa responsabilidade, dando-nos conta do tempo que permanecemos cegos, surdos e paralíticos ao chamamento à transformação. Estamos todos cansados de carregar o fardo das aflições e o peso da indecisão.



Talvez este seja o momento mais decisivo da nossa vida. Jesus nos amparará nas decisões mais acertadas e nos intuirá a retomar o caminho do bem, caso insistamos em nos desviar da rota, porque, somente na vivência do Evangelho, encontraremos a cura para todos os nossos males.



O “Vá e não peques mais” é certamente a chave para que isso ocorra.

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