O instinto é uma espécie de inteligência. É uma inteligência sem raciocínio. Por ele é que todos os seres provêm às suas necessidades. (L.E. 73)
Não se pode estabelecer uma linha de separação entre o instinto e a inteligência, porque muitas vezes se confundem. Mas, muito bem se pode distinguir os atos que decorrem do instinto dos que são da inteligência. (L.E. 74)
Não é acertado dizer-se que as faculdades instintivas diminuem à medida que crescem as intelectuais. O instinto existe sempre, mas o homem o despreza. O instinto também pode conduzir ao bem. Ele quase sempre nos guia e algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca se transvia. (L.E. 75)
Por que nem sempre é guia infalível a razão?
– Seria infalível se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio. (L.E. 75 – a)
O instinto é uma inteligência rudimentar, que difere da inteligência propriamente dita, em que suas manifestações são quase sempre espontâneas, ao passo que as da inteligência resultam de uma combinação e de um ato deliberado. O instinto varia em suas manifestações, conforme as espécies e as suas necessidades. Nos seres que têm a consciência e a percepção das coisas exteriores, ele se alia à inteligência, isto é, à vontade e à liberdade. (L.E. 75, nota de Kardec)
Pode dizer-se que há duas espécies de instintos: o animal e o moral. O primeiro é orgânico; é dado aos seres vivos para a sua conservação e a de sua progênie; é cego, quase inconsciente, porque a Providência quis dar um contrapeso à sua indiferença e à sua negligência. Já o mesmo não se dá com o instinto moral, que é privilégio do homem. Pode assim ser definido: propensão inata para fazer o bem ou o mal. Ora, essa propensão é devida ao estado de maior ou menor avanço do Espírito. O homem cujo Espírito já é depurado faz o bem sem premeditação e, como uma coisa muito natural, pelo que admira de ser louvado. Os que são instintivamente bons e devotados denotam um progresso realizado; nos que o são intencionalmente, o progresso está por se realizar; por isso há trabalho e luta entre os dois sentimentos. No primeiro, a dificuldade está vencida; no segundo, deve ser vencida. O primeiro é como o homem que sabe ler, e lê sem esforço, quase sem se aperceber; o segundo é como o que soletra. (R.E. 1862, pág. 59)
O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e extingue as misérias sociais. Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos em sofrimento: ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria da alma, nem a do corpo. Tem ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina palavra amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo. (Ev. XI 8)
O homem também tem instintos, que o fazem agir de maneira inconsciente, no interesse de sua conservação. Mas à medida que nele se desenvolvem a inteligência e o livre-arbítrio, o instinto se enfraquece, para dar lugar à razão, porque o guia cego lhe é menos necessário. O instinto, que tem toda a sua força no animal, perpetuando-se no homem, onde se perde pouco a pouco, certamente é um traço de união entre as duas espécies. (R.E. 1865, pág. 265)
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