O PRINCÍPIO INTELIGENTE
O    PRINCIPIO INTELIGENTE
 
  Desde tempos imemoriais o homem questiona a origem, a natureza e o destino do    ser. De onde teria surgido o Espírito? Qual sua consistência? Qual    sua destinação? A Doutrina Espírita responde a esses questionamentos    segundo o princípio das causas primeiras, ou seja, espírito e    matéria: as duas substâncias constituintes do Universo. Acima de    ambos, porém, está Deus, gerador de todas as coisas.
 
  Deus
  Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as    coisas (LÊ, 1). A limitação das faculdades do homem não    lhe permite compreender a natureza íntima de Deus; no entanto, segundo    o axioma espírita, todo efeito tem uma causa (LÊ. 4),é a    partir da observação dos efeitos, ou seja, da criação,    que se pode remontar a Deus. Ao lançar os olhos à natureza, percebe-se    em tudo uma manifestação de ordem e de harmonia, ou seja, de uma    inteligência ordenadora do Universo. É assim que Jesus pelas obras,    pelos prodígios que operava, dizia dar testemunho do Pai, e que, portanto,    pelo efeito, pela criação de seres inteligentes, percebe-se o    poder de uma inteligência causadora, e que permanece mantendo a harmonia    da criação.
 
  O Universo
  A razão diz que o Universo não poderia fazer-se por si só,    pois o acaso é inconcebível, deve, portanto, ser obra de Deus,    da inteligência suprema. O Universo compreende a infinidade dos mundos    que vemos e não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os    astros que se movem no espaço e os fluidos que o preenchem (LÊ,    Cap. III, item l, preâmbulo).
  As leis divinas ou naturais governam o Universo do micro ao macrocosmo, das    partículas intra-atômicas às colossais galáxias;    tudo revela combinações e fins determinados e por isso mesmo,    um poder inteligente.
 
  Elementos Gerais
  Em última análise, o Universo é formado por dois elementos    gerais: espírito e matéria. E acima de ambos encontra-se Deus.    Eis, então a chamada trindade universal. O que é matéria?    O que é espírito? Trata-se de duas substâncias heterogêneas,    que não se misturam nem se reduzem uma à outra; aquela, com suas    propriedades, e este, com seus atributos. E assim que no dizer de Jesus o que    é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito    é Espirito (Jo, 3:6), ficando evidente uma distinção positiva    entre espírito e matéria. Ao afirmar claramente que o corpo procede    do corpo, proclama que o Espírito é uma realidade independente    do corpo. Desta forma, a matéria em seu estado substancial é denominada    Princípio Material, e o espírito o Princípio Espiritual.
 
  Matéria
  Deve-se geralmente a matéria como aquilo que tem extensão e pode    impressionar os sentidos (LÊ, 22). Segundo seu estado de densidade ela    pode ser medida, pesada ou percebida, no entanto, a matéria enquanto    tal é inerte, passiva; ela não tem movimento próprio, não    se auto-organiza, não se transforma por si mesma. Ela necessita de um    agente inteligente que lhe dê sentido, forma, movimento e utilidade. É    assim que o Princípio Material se individualiza, gerando a miríade    de corpos que compõem o Universo, da estrutura atômica aos aglomerados    galácticos. Sem a ação de um princípio inteligente,    porém, a matéria permaneceria amorfa e perpetuamente dispersa    no espaço sem fim. É assim que se formaram os Reinos mineral,    vegetal, animal e nominal (1), todos por transformação do Princípio    Material.
  Nota:(l)—Encarados sob o aspecto material, não há senão    seres orgânicos e inorgânicos;
  do ponto de vista moral, há evidentemente, quatro graus (LÊ, 585).
 
  Espírito
  Como explicar o movimento dos átomos se a matéria é inerte?    Como entender a vida se a matéria é passiva? Como explicar este    poder de organização no Universo desde as partículas elementares?
  Nada se move por si só. Tudo é gerado, nasce, agita-se, cresce    e evolui porque existe uma inteligência criadora e mantenedora do dinamismo    e da ordem do Universo. É assim que por espírito entende-se esse    Princípio inteligente do Universo (LÊ 23), que tudo dinamiza.
 
  Ao criar o Universo Deus, a inteligência suprema, plasmou a matéria.    Nesse momento, quando já unida à matéria, a inteligência    divina passa agora a atuar no Universo em forma de Princípio inteligente    ou Princípio Espiritual. A inteligência permanece, portanto, na    criação de forma imanente, ou seja, como uma qualidade interior    que é permanente. Os seres não são gerados nem subsistem    senão pelo influxo contínuo do princípio inteligente. É    assim que esse princípio, de início incipiente, manifesta-se e    evolui gradativamente, manifestando-se então desde os reinos inferiores    da natureza, a partir do mineral, passando pêlos reinos vegetal e animal,    até alcançar o reino nominal, quando atinge a racionalidade. 
O    princípio inteligente manifesta-se assim, das seguintes formas:
  Reino Mineral: — Na fornia de movimento da matéria, pois o átomo    já se agita por si só.
  Reino Vegetal: — Através do germinar, nascer, crescer, enfim, em    forma de vida.
  Reino animal: — Manifesta-se através do instinto e das sensações.    Reino Hominal: — Sob a forma de consciência, de racionalidade.
 
  Espíritos
  Podemos dizer que os Espíritos são individualizações    do princípio inteligente, como os corpos são individualizações    do princípio material; a época e a maneira dessa formação    é que desconhecemos (LÊ 79). É assim que o Principio Inteligente,    já individualizado, vai absorvendo as experiências pelas várias    instâncias da natureza, para se constituir em Espírito, ao longo    dos milênios, sob os auspícios da Racionalidade. Agora o Espírito    toma consciência de si; conseqüentemente surge o livre-arbítrio    e inicia então o desenvolvimento de seus atributos essenciais, ou seja    a memória, a vontade, a inteligência, o pensamento contínuo,    o conhecimento do bem e do mal.
 
  Já na condição de Espírito, simples e ignorante,    iniciará suas encarnações como homem, nas circunstâncias    mais primitivas, até experimentar os benefícios da vida social    organizada. Desse estágio evolutivo partirá para a angelitude.    num processo longo em que desenvolverá as asas da sabedoria e do amor.    No caminho, libertar-se-á parcialmente do jugo da matéria e alcançará,    afinal, as culminâncias da vida espiritual, para conquistar a condição    de co-criador em grau maior. É assim que no Universo tudo se encadeia,    do átomo ao arcanjo... (LÊ, 540), os homens elevados à condição    de arcanjos, com a mente e o coração purificados, passam a ver    e a compreender a realidade não só pela razão, mas pela    intuição. 
Nesse    momento eles conhecem a perfeição do Universo, aquela perfeição    que desde o princípio já estava imanente no mais insipiente ser,    mas que na matéria não estava manifesta.
 
  Sendo o Espírito a nossa própria essência, o que somos realmente,    com toda a nossa personalidade, é evidente que o Espírito não    é sobrenatural, mas natural, um elemento vivo e dinâmico da natureza.    Quando tomamos consciência dessa concepção espírita    do mundo e do homem, a realidade se impõe à mente, afugentando    as confusas e incongruentes fabulações teológicas. E assim    que o Princípio Inteligente estagia nos vários reinos, de forma    a adquirir cada vez mais experiências, com vistas à evolução.
 
 
  Nota
  — Por espírito (e) entende-se o Princípio Inteligente Universal
  — Por Espírito (E) entende-se os seres inteligentes da Criação.
 
   As Leis Morais — As Leis de Deus
  Léon Denis explica esse fluxo do princípio inteligente na expressão    poética: Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só    no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente; a partir daí    o progresso, de alguma sorte fatal nas formas inferiores da natureza, só    se pode realizar pelo acordo da vontade humana com as leis Eternas. Temos assim    o aspecto imanente de Deus, que se projeta na Sua criação e a    ela se liga, fazendo-se espontaneamente a Sua alma e a Sua lei. Efetivamente    as Leis Morais — tema deste curso — consistem na própria    imanência do princípio divino na criação, cujo ápice    consiste na moralidade. É assim que a Lei Divina ou Natural permanece    na natureza, como expressão da essência divina a reger o Universo    material e moral.
 
  À medida que o Espírito evolui, ele tende a vivenciar mais plenamente    essas leis. É assim que o ser passa a viver a Lei da Adoração,    como necessidade de voltar sua consciência para Deus e para sua interioridade.    Nesse percurso revela-se a Lei do Trabalho como necessidade de o princípio    inteligente dinamizar seu potencial de criação. 
Na Lei da Conservação assegura-se a manifestação da vida, como tendência da essência divina a manter-se eternamente.
A Lei da Destruição, pela própria limitação que impõe aos seres, faculta a superação e evolução do princípio inteligente.
A Lei de Sociedade, a traduzir o mandamento de amor ao próximo, ao reger a relação dos homens entre si, permite no convívio social a integração dos seres na unidade da essência divina.
A Lei do Progresso revela-se como a perfeição do pensamento divino que está em potência em cada criatura. Caracteriza-se a Lei da Igualdade pela necessidade de expressar-se o princípio inteligente em sua universalidade, através da coletividade de consciências que comunguem entre si.
Revela-se a Lei da Liberdade como a autonomia que cada criatura possui de constituir-se a si mesmo, de revelar-se a si mesmo e de auto edificar-se no itinerário da perfectibilidade. Revela-se plenamente a Lei de Justiça, Amor e Caridade como expressão máxima da centelha divina, toda ela essência pura de amor, e que só satisfaz-se na exteriorização de si mesma em função do próximo. É assim que a Perfeição Moral incita cada ser a revelar-se pelo autoconhecimento da interioridade, quando os indivíduos passam a pautar sua conduta, sustentados pela autoridade moral que os caracteriza. Nesse momento pode-se dizer que houve o encontro do Filho com o Pai. pela glória de sua consciência no santuário de seu coração, e assim poderá dizer com Jesus: Eu e o Pai somos um (Jo 10:30).
Bibliografia:
LÊ, Livro Primeiro, Cap. III, item l
LÊ, questões l, 4, 17, 2, 27, 79, 540 e 585
6 comentários:
Gostei da interpretação. Facilitou meu entendimento.
Fiquei dias tentando entender até encontrar esse artigo. Muito pedagógico. Facilitou o entendimento. Obrigado.
Muito bom,gostei da interpretação!
De fato, explanação muito didática! Otimo, adorei! Obrigada!!
Obrigada🙏
Maravilhoso e inspirador por favor continue.
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