Caminhávamos, alguns amigos, admirando a paisagem do Wilshire Boulevard, em Hollywood, quando fizemos parada, ante a serenidade do “Memoriam Park Cemetery”, entre o nosso caminho e os jardins de Glendon Avenue.
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Texto extraído do livro “Estante da vida” (Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira), autoria do Espírito Irmão X, psicografado por Francisco Cândido Xavier.
O dia que Marilyn não morreu - Acordei cedo naquela manhã. O calendário marcava dia 5 de agosto de 1962. Adolescente, já trabalhava para ajudar meus pais. Morávamos na Zona Leste de São Paulo, no então aprazível Parque São Jorge, próximo do Esporte Clube Corinthians Paulista – que minha mãe, torcedora do mosqueteiro, chamava carinhosamente de “o forte”. Sem constrangimento, eu, que já era são-paulino, freqüentava as piscinas do clube sem identificar minha preferência futebolística, convivendo pacificamente com o adversário... Acompanhado por meu pai, por volta das 5h30, embarquei naquele dia no lendário “Penha-Lapa”, um valente ônibus Mercedes-Benz que não se atemorizava com as multidões que o aguardavam impacientes nos pontos de parada da congestionada e esburacada avenida Celso Garcia. Uma hora depois, desembarcamos. Estávamos próximos da avenida da Luz, onde eu trabalhava no jornal “Última Hora”, propriedade do jornalista Samuel Wainer: “Meu filho, nunca se esqueça. A receita de um jornal de sucesso: estampar, na primeira página, futebol, política, polícia e... mulher!” Naquele ano, João Gilberto, Tom Jobim e Carlos Lyra eram aplaudidos em Nova York. A bossa-nova invadia os Estados Unidos pela porta da frente, o Carnegie Hall. O cinema exibia “O pagador de promessas”, “007 contra o satânico doutor No”, “Lawrence da Arábia” – entre outros filmes inesquecíveis que eu conseguia assistir graças aos ingressos presenteados por Ignácio de Loyola Brandão – colunista de cinema da UH, como era conhecida a “Última Hora” – hoje um escritor consagrado (meu favorito: seu livro “Zero”). A manhã estava fria, o tempo nublado. Seguindo meu pai, que caminhava decidido, pronto para me acompanhar até a porta do jornal, nos deparamos – antes de atravessar a avenida – com uma multidão rodeando a banca de jornais. Sem uma palavra, meu pai aproximou-se do expositor azul, onde se abriam as páginas principais da “Última Hora”. Letras garrafais anunciavam singelamente: “Marilyn Morreu”, em caixa-alta – letras de imprensa. “Não é possível”, pensei. “Tão jovem e tão linda...” Uma profunda tristeza tomou conta do meu coração. Ao lado do aparelho Emerson preto e branco – orgulho da minha família – quantas noites passei em sua companhia, assistindo seus filmes no “Cinema em Casa” da extinta TV Excelsior... Enquanto todos dormiam, eu ligava a televisão, o som quase inaudível, para admirar aquela mulher maravilhosa, sempre alegre, bem-humorada e... fascinante. Presença constante daquelas sessões de cinema para adultos. Qualquer barulho no quarto de meus pais era suficiente para que eu desligasse a TV e simulasse um sono profundo... Sonhos de um adolescente. Vez por outra, substituía Monroe por Brigitte Bardot – “E Deus criou a mulher”, “Babette vai à guerra” – mas não era a mesma coisa. Bardot era linda, mas Marilyn era uma deusa... Surpreendido com a notícia de sua morte, meu pai comentou: “Meu Deus, que tristeza, filho”. Ao lado da foto da atriz, o motivo de sua partida: uma excessiva dose de barbitúricos. Muitos anos mais tarde, depois de ler “Estante da vida”, um livro do Irmão X – do nosso querido Humberto de Campos, psicografado por Francisco Cândido Xavier – descobri que Marilyn estava viva, em algum lugar do outro mundo. Alegria maior foi comprovar que ela não havia cometido o suicídio, mas reconhecia ter sido vítima de “um tremendo processo obsessivo”. Se eu já admirava Humberto de Campos – antes de conhecer seu trabalho mediúnico, na leitura de tantos contos e crônicas que também povoaram minha adolescência – depois dessa reportagem de além-túmulo passei a considerá-lo um grande amigo. Obrigado, Humberto, por resgatar, com tanta dignidade, a memória de Marilyn Monroe. Obrigado por nos libertar dos mitos criados por nós mesmos para fugir de uma realidade que o Espiritismo nos ajudou a entender ser, justamente, o motivo da nossa encarnação... (AFONSO MOREIRA JR.)
AFONSO MOREIRA JR. é expositor e colaborador na "Federação Espírita do Estado de São Paulo", diretor responsável pelo "Grupo Espírita Geam", Rua Força Pública, 24 (Santana), São Paulo, SP. Telefone (11) 2221-4028, autor de obras paradidáticas e editor do Jornal dos Espíritos, e-mail redacao@jornaldosespiritos.com
Um comentário:
Será que finalmente Marilyn reencarnou? será que seu espeírito está em paz? se esse encontro foi em 1969, já deve ter uma vida terrena agora. qual sua opinião sobre isso?
assinado: Marianne
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