DE GRAÇA
Pode a mediunidade ser exercida como profissão?
Como considerar o pagamento aos "intermediários assalariados" que fazem preces por pessoas que acreditam na eficácia dessa intermediação?
Desde tempos imemoriais, quando os seres humanos começaram a olhar para o alto, em busca de um poder superior que explicasse e desse um sentido ao mundo complexo que os cercava, existiram pessoas que se revestiam de uma condição especial. Eram os feiticeiros, os xamãs, os sacerdotes, que, possuindo ou aparentando possuir dons diferenciados, colocavam-se na posição de elos entre os homens e as esferas superiores. Provavelmente detendo poderes psíquicos mais acentuados, cumpriam um papel na sociedade, que variou ao longo dos tempos, mas que certamente lhes dava condições sociais, econômicas e até políticas muito favoráveis.
Com o aperfeiçoamento humano, chegada a hora de esclarecer melhor o funcionamento da sociedade em todas as suas formas, disse Jesus que os intermediários entre o céu e a terra não podiam receber dinheiro por essa tarefa. Embora sem usar a palavra "médium", não existente à época, descreveu ele de modo preciso a sua missão: a faculdade de curar os doentes e de expulsar os demônios, ou seja, os maus Espiritos. Esse dom lhes é conferido gratuitamente por Deus, para alívio dos que sofrem e para ajudar a propagação da fé, não podendo pois ser usado para fazer comércio nem meio de vida. Advertiu também para os que,"sob pretexto de orações longas. devoram as casas das viúvas".
A prece é um ato de caridade e Deus não vende os benefícios que concede. A justiça de Deus é como o sol: ela é para todos, para o pobre como para o rico, não dependendo de qualquer soma de dinheiro. Além disso, as preces pagas podem levar aquele que as compra a crer que ele próprio está dispensado de orar. Os Espíritos sentem-se tocados pelas demonstrações de amor contidas no pensamento que se dirige a eles, ficando evidente a inutilidade de encarregar um terceiro de orar sob pagamento. Condenação também recai sobre o comércio das coisas santas, sob qualquer forma, que se revela na figura da expulsão dos vendedores que se assentavam no recinto sagrado do Templo.
Nos tempos atuais, alastram-se por toda a face do planeta os fenômenos mediúnicos. Por toda a parte, encontram-se pessoas investidas de capacidade psiquica especial muitas delas conscientes de que esse dom lhes confere obrigações diferenciadas. Muitos pensam que essa verdadeira explosão de psiquismo é acentuada apenas no Brasil mas ela ocorre também pelo mundo afora. Nos Estados Unidos, de acordo com sondagem realizada pelo Conselho de Pesquisa de Opinião da Universidade de Chicago, 29% dos americanos já tiveram alguma espécie de visão. 42% já tiveram contato com os mortos e 67 % já experimentaram percepção extra-sensorial. É a confirmação de que é chegada a hora do Espírito de verdade manifestar-se por toda parte.
Os médiuns modernos, sucessores dos missionários e apóstolos que também tinham mediunidade, igualmente recebem de Deus um dom gratuito, o de ser intérpretes dos Espíritos para instruírem os homens, mostrar-lhes o caminho do bem e conduzi-los à fé. Não podem, pois, vender-lhes as palavras que não lhes pertencem, porque elas não são o produto da sua concepção, nem de suas pesquisas, nem de seu trabalho pessoal. É diferente do trabalho, por exemplo, do médico, que oferece o fruto dos seus estudos, dos seus esforços e até dos seus sacrifícios e daí poder cobrar um preço. Já o médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos e assim não pode vendê-lo.
Observação importante é a de que a mediunidade é uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e variável não dependendo da vontade dos que quisessem explorá-la. Jamais poderíamos admitir que os Espíritos superiores ficassem à disposição do primeiro que os chamasse a tanto por sessão. Foi o risco desse comércio que motivou a proibição de Moisés de invocar os mortos. O Espiritismo moderno compreendeu o lado sério da mediunidade, lançando o descrédito sobre a exploração e elevando a prática mediúnica à categoria de missão .
A mediunidade assim exercida é uma coisa santa. Os que assim a encaram receberão o reconhecimento dos Espíritos elevados, que através deles espalharão o bem e a caridade.
Baruch Ben Ari
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