"O Espírito assopra onde quer; e ouves a sua voz,
mas não sabes de onde vem, nem para onde vai."
(João, 3:)
O Fariseu Nicodemos vivia atormentado pela idéia de saber como seria possível alguém nascer de novo, Nicodemos estava habituado a ouvir falar em ressurreição dos morros e não concebia qual seria o "modus operandi" desse renascimento.
De idade um tanto avançada, estava em dificuldades, procurando um meio de equacionar esse problema tão angustiante: entretanto. era um homem considerado conhecedor das Escrituras, um doutor da lei; por isso, achando que não lhe ficaria bem procurar o filho de humilde carpinteiro, a fim de dirimir as dúvidas que o apoquentavam.
Mas, não conseguindo sopitar o seu anseio, resolveu fazer isso sorrateiramente; na calada da noite teve o seu primeiro encontro com Jesus Cristo, quando aventurou a indagação:
Como é possível a um homem, sendo já velho, nascer de novo? Poderá ele entrar, novamente, no ventre de sua mãe e renascer?
A resposta do Mestre veio peremptória: És Mestre em Israel e desconheces essas coisas? E, em seguida, deu-lhe a resposta desejada.
Eu vos digo em verdade que, quem não renascer da água e do Espírito, não verá o Reino de Deus!
Para compreender o sentido da palavra água, que não era empregada na acepção vulgar, torna-se necessário esclarecer que eram muito imperfeitos os conhecimentos dos antigos sobre ciências físicas. Eles supunham que a Terra saíra das águas e, por isso, consideravam a água como elemento gerador absoluto. Assim é que em A Gênese Mosaica, cap. XII", se lê: O Espírito de Deus era levado sobre as águas. Que o firmamento seja feito no meio das águas. Que as águas que estão debaixo do Céu se reúnam em um só lugar, e que apareça o elemento árido. Que as águas produzam animais vivos, que nadem na água, e pássaros que voem sobre a Terra e sob o firmamento. Portanto, água era sinônimo de matéria; daí, dizer Jesus que "Quem não renascer da água (corpo físico) e do Espírito, não verá o Reino de Deus".
Para poder ver o Reino de Deus não basta uma só vida, ou um só renascimento; torna-se necessário que o Espírito se torne puro, sublimado, e, para isso, é imperioso que reencarne muitas vezes, dezenas e dezenas de vezes, não se sabe quantas, pois depende da disposição do próprio Espírito em progredir em maior, ou menor lapso de tempo.
O Mestre deu a entender, claramente, que esses renascimentos representam uma multiplicidade de vidas, e se sucedem na pauta de um prolongado processo evolutivo.
O Espírito assopra onde quer, mas vós não sabeis de onde vem, nem para aonde vai. (Algumas traduções empregam o termo Vento, em vez de Espírito). Se houvesse uma só vida do Espírito na carne, ele saberia de onde veio e para aonde iria; entretanto com as vidas múltiplas, o quadro muda de figura. Em seu processo evolutivo o Espírito desfruta dos benefícios de vários renascimentos ou de vidas sucessivas, porque a alma não é criada no momento do nascimento do corpo, conforme o ensinam as teologias terrenas. A alma preexiste e persiste ao nascimento do corpo; por isso, ela não sabe ele onde veio nem para aonde vai, pois os renascimentos se processam em qualquer lugar, em qualquer país ou mesmo em qualquer Planeta. Quando o Espírito atingir um certo grau de perfeição, escolherá suas próprias missões, procurando sempre servir a Deus, em qualquer circunstância, em qualquer lugar, em qualquer situação, passando a saber de onde veio e para aonde vai. No entanto, na Terra, devido ao grande atraso moral e espiritual, existente entre os homens, o Espírito desconhece de onde veio e para aonde vai.
Acostumado a acreditar numa só vida e crendo num Céu beatífico, estático, inerte, ponto final do processo evolutivo do Espírito, onde permanecerá num estado de contemplação, cantando hosanas a Deus por toda a eternidade, geralmente desconhecendo a grandiosidade do Universo, e o fato de todos os Espíritos viverem num constante processo de trabalho e de vibração, o Espírito passa a acreditar numa eternidade ociosa, preguiçosa, sem critérios e sem discernimentos, na qual o Pai, o Criador de todas as coisas, se contentaria em ouvir o coro dos anjos e se ver adorado por todos os seus filhos, que obedeceram às suas leis, esquecido dos filhos que prevaricaram, que erraram por alguns minutos, os quais também estariam condenados eternamente a viverem num inferno de agruras, de tormentas, sob o guante de insensíveis demônios, eternos opositores da vontade de Deus.
No colóquio que manteve com Nicodemos, o Mestre deixou bem clara a autenticidade da Lei da Reencarnação, idéia que Ele, (Jesus), por mais de uma vez, deixou patenteada, quando sustentou ser João Batista a reencarnação do profeta Elias.
Paulo A. Godoy
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