sexta-feira, 17 de abril de 2009

NÃO VIM DESTRUIR A LEI

NÃO VIM DESTRUIR A LEI

A memória humana, registrada pela História, alcança muito pouco da longa jornada evolutiva da vida planetária. Vindo das insondáveis profundezas cósmicas, percorrendo incontáveis milênios, chega o homem ao estágio civilizado, recém-emergido das formas primitivas e brutalizadas das paixões e dos instintos. Admirável progresso se considerarmos os rasgos sublimes de que já capaz, terrível crueza quando vemos a maldade que o egoísmo atrasado espalha por toda a parte. Eis o homem contemporâneo, dividido entre a treva e a luz, a se debater no que deve ser o fim de uma era de transição planetária. Mas não está ele abandonado à sua própria sorte nem entregue ao acaso cego e cruel. O Criador, pois certamente sabemos no mais profundo do nosso ser que somos criaturas que têm um Pai, sinaliza o caminho evolutivo, embora sem retirar a necessidade do esforço individual do qual resulta a acumulação do amor e da sabedoria que são o patrimônio verdadeiro de cada um.

A sinalização da senda humana acontece conforme os desígnios do Alto, quando é chegado o momento próprio, sempre de acordo com o nível de compreensão alcançado a cada etapa. Assim aconteceu há três e meio milênios, quando coube ao povo hebreu a missão de receber e propagar o código da moral representado pelos dez mandamentos que Deus transmitiu a Moisés no contexto histórico da época, revestida da linguagem compreensível aos povos ainda imersos na barbárie politeísta, traduzia a Torá mosaica as verdades eternas, embora seu significado profundo ficasse encoberto pelo simbolismo compreensível aos homens de então.

Quando amadureceu o tempo, com a descida planetária de Jesus, abriu-se uma nova era no progresso humano. Ele disse: "Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruí-los mas cumpri-los"', revelando desse modo a continuidade da revelação divina mesmo visando sempre a alcançar níveis de evolução mais altos. A síntese sublime está contida nas palavras: "Amai a Deus sobre todas as coisas e a seu próximo como a si mesmo, toda a lei e os profetas". Jesus veio cumprir as profecias que haviam anunciado a sua vinda. Possuía autoridade pela natureza excepcional do seu Espírito e de sua missão divina, por isso veio ensinar os meios de alcançar o Reino dos Céus, que estará aqui mesmo quando se alcançar o cumprimento dos destinos humanos. Entretanto ele não disse tudo, limitando-se em muitos pontos a colocar o germe das verdades, usando parábolas e exemplos compreensíveis aos homens daquele tempo.

Conforme mensagem de um Espírito Israelita, transmitida em 1861, na França: "Deus é único e Moisés é o Espírito que Deus enviou em missão para dá-lo a conhecer, não somente aos hebreus mas também aos povos pagãos". "'Os mandamentos de Deus, dados por Moisés, trazem o germe da mais completa moral cristã". "O Cristo foi o iniciador da mais pura e sublime moral: da moral evangélica cristã que deverá renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los fraternos; que deverá fazer brotar em todos os corações humanos a caridade e o amor ao próximo e criar, entre todos os homens, uma solidariedade comum; uma moral, enfim, que deve transformar a Terra e torná-la a morada de Espíritos superiores para os que a habitam hoje.

"E conclui: "Foi Moisés que descerrou o véu; Jesus continuou a obra; Espiritismo a completará".

Surgiu, pois, no século passado, a Terceira Revelação, a Doutrina dos Espíritos, que veio revelar aos homens, por provas recusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal. Assinala-se que o Espiritismo não está personificado em nenhum indivíduo, porque é o produto do ensino dado não por um homem, mas pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra e por uma multidão incalculável de intermediários. É de certa forma um ser coletivo, compreendendo o conjunto dos seres do mundo espiritual, vindo cada um trazer aos homens o tributo de suas lutas.

A aparente incompatibilidade entre a ciência e a religião será superada e talvez a próxima etapa da evolução da Humanidade seja a síntese dos conhecimentos originados no campo propriamente científico com aqueles observados na esfera até agora considerada como dos fenômenos religiosos e espirituais. A fronteira entre matéria e energia não mais existe e muitos cérebros treinados nas Ciências exatas voltam-se para o estudo dos fenômenos psíquicos.

Essa nova etapa do progresso humano certamente será universalista e não sectária. O conhecimento da verdade libertadora extravasará os limites restritos de cada religião, no ocidente e no oriente, onde bilhões de seres humanos seguem suas próprias traições e conhecimentos. Cristãos e não cristãos, judeus e muçulmanos, hinduístas e budistas, xintoístas e animistas, cada qual sem precisar renunciar às suas crenças, formarão a nova Humanidade pois o ensino dos Espíritos é universal.

Baruch Ben Ari

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