sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ler Matéria - Jornal O CLARIM


As asas do conhecimento e do amor
Fernanda Leite Bião

Embora o vazio existencial não possa ser preenchido, podemos alcançar a autorrealização ao compreendermos nossas dimensões interiores e crescermos diante da história escrita por nossas próprias mãos. Precisamos, entretanto, de coragem.
A coragem de aproveitar as oportunidades evolutivas para aperfeiçoar a nossa percepção dos fenômenos apresentados no cotidiano, já que tudo passa pelo crivo pessoal.
A coragem de compreender o valor educativo das provas e das adversidades, da dor e do sofrimento.
A coragem de sobrepujar a autopiedade e a crença de que o sofrimento é castigo da divindade, injustiça ou má sorte.
A coragem de abandonar a trilha da revolta e da resistência e, ao mesmo tempo, tornar-se humilde e receptivo ao aprendizado que surge com a compreensão do que determinada vivência cotidiana vem a acrescentar ao nosso melhoramento íntimo.
A coragem de amar a si mesmo, apesar das limitações e decepções consigo próprio, quedas e recomeços. A coragem de amar ao próximo, apesar das diferenças e desilusões, incompreensões e injustiças. A coragem de respeitar o momento evolutivo alheio, ainda que se discorde das escolhas e opiniões. A coragem de inaugurar novo ciclo de aprendizados, com bom ânimo e fé na humanidade, sem se perder nas teias da mágoa, da vingança e do pessimismo.
Que possamos nos dedicar ao autoconhecimento e ao trabalho de alquimia de nosso mundo interior, em benefício da alquimia do mundo coletivo, semeando as sementes de nosso futuro na humanidade, nesta e em novas jornadas evolutivas no plano físico. Que possamos visualizar as realizações que almejamos florescer e sedimentar no íntimo e no exterior, considerando a nossa realidade atual, em diálogo tanto com nossas vocações e aptidões, quanto com as oportunidades franqueadas pelo meio familiar, profissional e social de que fazemos parte.
Que tenhamos olhos para ver e ouvidos para ouvir. Mais do que isso, coração para sentir e não deixar a nossa alma se empobrecer pelas verdades parciais. Pensar, refletir, fazer escolhas, acertar, errar procurando acertar, caminhar e, principalmente, amar, cujo passo inicial implica aprender a amar a si mesmo e respeitar a centelha divina que molda e dita nossa consciência moral, nem sempre ouvida.
Quando desvelamos nossos potenciais, os desafios se tornam fontes de estímulos para a caminhada evolutiva e a autossuperação e o vazio existencial, válvula propulsora para saudáveis modificações nas relações internas e externas.
Cada ser humano é um livro que pertence à biblioteca universal. Cada página é a expressão dos movimentos articulados por cada singularidade. Somos responsáveis pelo conteúdo e manutenção da nossa história, suas modificações e transformações ao longo do tempo.
A tarefa de avaliar comportamentos presentes e passados, em prol de novas condutas e escolhas, apresenta-se como atividade necessária para a descoberta das potencialidades que contribuirão para as novas escolhas e a aquisição de aprendizagem de novas formas de ser-no-mundo, de acordo com cada fase do ciclo evolutivo do espírito.
Que possamos perceber os convites da vida para promover mudanças benéficas ao nosso crescimento íntimo. Compreender os motivos de nossa participação nas tarefas desempenhadas no dia a dia, no ambiente do lar, do trabalho e da sociedade em geral. Indagar a importância de estabelecer relações interpessoais e de conviver — ante as circunstâncias da vida — com quem temos afinidade ou falta de sintonia, antagonismo ou amizade. Em relação à vivência e convivência cotidianas, perguntar a nós mesmos: “O que tenho a aprender? O que tenho a ensinar?” A vida é uma via de mão dupla em que, de modo consciente ou não, recebemos e realizamos doações, aprendemos e ensinamos.
Hoje, na transição planetária de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração, nós, trabalhadores da última hora, somos convidados a ser iniciados pelos portais do coração.
Nestes dias conturbados, não permitamos que as energias exteriores possam encontrar sintonia com nossas energias internas. Quando nos sentirmos cansados do peso da existência, elevemos o pensamento ao Criador da Vida e mentalizemos a energia dourada a descer dos planos mais sutis e inundar a nossa alma-amor.
Os desafios de uma existência são inúmeros, cheios de atalhos e pedras, bem como de flores que iluminam e perfumam a nossa jornada evolutiva. A esperança caminha junto com o coração disposto a buscar os segredos guardados nos porões interiores, que precisam ser revelados e conhecidos, para que, então, a alma possa fluir e crescer rumo à evolução.
Que façamos das adversidades diárias oportunidades aproveitadas para edificar a verdadeira felicidade: a sintonia com as energias de paz, tranquilidade e amor, assim como a realização de escolhas em harmonia com as leis que regem o universo e possibilitam a nossos pés começarem a caminhar não tão pesados e vacilantes, mas confiantes e seguros, de forma que, não mais reféns de modismos e sofrimentos, sejamos co-criadores da nossa própria vida.
Tenhamos, pois, fé. Fidelidade à luz que habita em nosso íntimo. Consciência de que, a fim de sermos anjos, necessitamos de duas asas de proporções similares. A asa do conhecimento (sem o conhecimento somos cegos na imensidão da nossa existência) e a asa do amor (fonte irradiadora de sensibilidade e aproximação de nós mesmos e do outro que nos visita).

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