Rogério Coelho
O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo.
A intolerância – em várias oportunidades – marcou presença até mesmo no seio do Colégio Apostólico. Certa feita, voltando de uma viagem, João disse a Jesus:
– “Mestre, eis que encontramos um homem pelo caminho que curava em Teu nome, expulsando Espíritos infelizes.”
– “E que fizestes?” – inquiriu Jesus.
– “Repreendemo-lo”, disse o discípulo inexperiente. “Expusemos que ele não tinha o direito de usar o Teu nome, pois não privava contigo; não era um dos nossos...”
Amélia Rodrigues1 narra, em belíssima linguagem, a réplica de Jesus:
“Fizestes mal; pois todo aquele que não é contra nós é por nós. Se alguém em meu nome expulsa Espíritos maus, asserenando obsessos e acalmando obsessores, cultivando nas almas o pólen da saúde que se converte em pomar de tranquilidade, não poderá voltar-se contra nós, depois, assacando calúnias e, no futuro, erguendo-nos acusações. A palavra de amor é moeda de paz para aquisição do continente das almas.
O servidor do Evangelho deve fiscalizar, com sincera acuidade, as nascentes íntimas dos sentimentos, de modo a cercear, no começo, os adversários cruéis, que são o egoísmo e o orgulho, a inveja e o ciúme com toda a corte de nefandos sequazes...”
Explica Allan Kardec2 que a “questão da mediunidade curadora foi esboçada em O Livro dos Médiuns e em muitos artigos da Revue Spirite, a propósito de fatos de curas e de obsessões; ela está resumida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a propósito das preces para os doentes e para os médiuns curadores. O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo; mas o Espiritismo, que começa, não pode ainda haver dito tudo; não pode – de um só golpe –, mostrar-nos todos os fatos que ele abarca; cada dia, deles desenvolve novos aspectos, de onde decorrem novos princípios que vêm corroborar ou completar aqueles que já se conheciam, mas é preciso o tempo material para tudo; qualquer parte integrante do Espiritismo é, por si mesma, toda uma ciência, porque se liga ao magnetismo, e abarca não só as doenças propriamente ditas, mas todas as variedades, tão numerosas e tão complicadas de obsessões que, elas mesmas, influem sobre o organismo. Eis alguns dos princípios fundamentais que a experiência consagrou:
1. Quem diz médium diz intermediário. Há esta diferença entre o Magnetizador e o médium curador, que o primeiro magnetiza com o seu fluido pessoal, e o segundo, com o fluido dos Espíritos, ao qual serve de condutor. O magnetismo produzido pelo fluido do homem é o magnetismo humano; aquele que provém do fluido dos Espíritos é o magnetismo espiritual.
2. O fluido magnético tem, pois, duas fontes muito distintas: os Espíritos encarnados e os Espíritos desencarnados. Essa diferença de origem produz uma diferença muito grande na qualidade do fluido e em seus efeitos. O fluido humano é sempre mais ou menos impregnado das impurezas físicas e morais do encarnado; o dos bons Espíritos é, necessariamente, mais puro e, por isto mesmo, tem propriedades mais ativas que levam a uma cura mais rápida. Mas, passando por intermédio do encarnado, pode-se alterar, como uma água límpida passando por um vaso impuro, como todo remédio se altera, se permanece em um vaso impróprio, e perde, em parte, suas propriedades benfazejas. Daí, para todo verdadeiro médium curador, a necessidade absoluta de trabalhar em sua depuração, quer dizer, em sua melhoria moral, segundo este princípio vulgar: Limpai o vaso, antes de vos servir dele, se quereis ter alguma coisa de bom.
3. O fluido espiritual é tanto mais depurado e benfazejo quanto o Espírito que o fornece é, ele mesmo, mais puro e mais desligado da matéria. (...) As qualidades morais do magnetizador, quer dizer, a pureza de intenção e de sentimento, o desejo ardente e desinteressado de aliviar seu semelhante, unido à saúde do corpo, dão ao fluido um poder reparador que pode, em certos indivíduos, aproximar-se das qualidades do fluido espiritual.
4. O Espírito pode agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, assim como se pôde constatar em muitas ocasiões, seja para aliviá-lo, curá-lo, se isto se pode, ou para produzir o sono sonambúlico. Quando se age por intermediário, é o caso da mediunidade curadora.
5. O médium curador recebe o influxo fluídico do Espírito, ao passo que o magnetizador haure tudo em si mesmo. O orgulho e o egoísmo sendo as principais fontes das imperfeições humanas, disso resulta que aqueles que se gabam de possuir esse dom, que vão por toda a parte enaltecendo as curas maravilhosas que fizeram, ou que dizem ter feito, que procuram a glória, a reputação ou o proveito, estão nas piores condições para obtê-la, porque esta faculdade é o privilégio exclusivo da modéstia, da humildade, do devotamento e do desinteresse. Jesus dizia àqueles que tinha curado: Ide dar graças a Deus, e não o digais a ninguém.
6. Todo magnetizador pode se tornar médium curador, se sabe se fazer assistir pelos bons Espíritos; neste caso, os Espíritos lhe vêm em ajuda, derramando sobre ele seu próprio fluido que pode decuplicar ou centuplicar a ação do fluido puramente humano.
7. Os Espíritos vão para onde querem; nenhuma vontade pode constrangê-los; eles se rendem à prece, se é fervorosa, sincera, mas jamais à injunção. Disso resulta que a vontade não pode dar a mediunidade curadora, e que ninguém pode ser médium curador de
desejo premeditado. Reconhece-se o médium curador pelos resultados que obtém, e não pela sua pretensão de sê-lo.
8. A prece, que é um pensamento, quando é fervorosa, ardente, feita com fé, produz o efeito de uma magnetização, não só chamando o concurso dos bons Espíritos, mas em dirigindo sobre o doente uma corrente fluídica salutar.
9. Se a mediunidade curadora pura é o privilégio das almas de elite, a possibilidade de abrandar certos sofrimentos, de curar mesmo, embora de maneira não instantânea, certas doenças, é dada a todo o mundo, sem que seja necessário ser magnetizador.
10. Mas do fato de que se tenha obtido uma vez, ou mesmo várias vezes, resultados satisfatórios, seria temerário se dar como médium curador, e disso concluir que se pode vencer toda espécie de mal. Tal terá devolvido a saúde a um doente, que não produzirá nada sobre um outro; tal terá curado um mal num indivíduo, que não curará o mesmo mal uma outra vez, sobre a mesma pessoa ou sobre uma outra; tal, enfim, terá a faculdade hoje, que não terá mais amanhã, e poderá recobrá-la mais tarde, segundo as afinidades ou as condições fluídicas em que se encontrem.
11. A mediunidade curadora é uma aptidão, como todos os gêneros de mediunidade, inerente ao indivíduo, mas o resultado efetivo dessa aptidão é independente de sua vontade. Ela se desenvolve, incontestavelmente, pelo exercício, e, sobretudo, pela prática do bem e da caridade.
12. É um erro crer que aqueles que não partilham nossas crenças, não teriam nenhuma repugnância em tentar essa faculdade. A mediunidade curadora racional é intimamente ligada ao Espiritismo, uma vez que repousa essencialmente sobre o concurso dos Espíritos; ora, aqueles que não crêem nem nos Espíritos, nem em sua alma, e ainda menos na eficácia da prece, não saberiam colocar-se nas condições desejadas, porque isso não é uma coisa que se possa tentar maquinalmente. Isto não será sempre assim, sem dúvida, mas se passará muito tempo, antes que a luz penetre em certos cérebros. À espera disto, façamos o maior bem possível com a ajuda do Espiritismo; façamo-lo mesmo aos nossos inimigos, aceitemos ser pagos com a ingratidão, é o melhor meio de vencer certas resistências, e de provar que o Espiritismo não é tão negro quanto alguns o pretendem.
1 - FRANCO, Divaldo. Luz do Mundo. 8.ed. Salvador: LEAL, 2008, cap. 10.
2 - KARDEC, Allan. Revista Espírita. Agosto de 1865. 2.ed.Araras: IDE, 2000, p.p. 259-264.
Para saber mais vide:
KARDEC, Allan. Revue Spirite. Outubro de 1866. Araras: IDE, 1993, p.p. 312-320 e 345-352.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte, cap. XIV, item 175.
O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo.
A intolerância – em várias oportunidades – marcou presença até mesmo no seio do Colégio Apostólico. Certa feita, voltando de uma viagem, João disse a Jesus:
– “Mestre, eis que encontramos um homem pelo caminho que curava em Teu nome, expulsando Espíritos infelizes.”
– “E que fizestes?” – inquiriu Jesus.
– “Repreendemo-lo”, disse o discípulo inexperiente. “Expusemos que ele não tinha o direito de usar o Teu nome, pois não privava contigo; não era um dos nossos...”
Amélia Rodrigues1 narra, em belíssima linguagem, a réplica de Jesus:
“Fizestes mal; pois todo aquele que não é contra nós é por nós. Se alguém em meu nome expulsa Espíritos maus, asserenando obsessos e acalmando obsessores, cultivando nas almas o pólen da saúde que se converte em pomar de tranquilidade, não poderá voltar-se contra nós, depois, assacando calúnias e, no futuro, erguendo-nos acusações. A palavra de amor é moeda de paz para aquisição do continente das almas.
O servidor do Evangelho deve fiscalizar, com sincera acuidade, as nascentes íntimas dos sentimentos, de modo a cercear, no começo, os adversários cruéis, que são o egoísmo e o orgulho, a inveja e o ciúme com toda a corte de nefandos sequazes...”
Explica Allan Kardec2 que a “questão da mediunidade curadora foi esboçada em O Livro dos Médiuns e em muitos artigos da Revue Spirite, a propósito de fatos de curas e de obsessões; ela está resumida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a propósito das preces para os doentes e para os médiuns curadores. O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo; mas o Espiritismo, que começa, não pode ainda haver dito tudo; não pode – de um só golpe –, mostrar-nos todos os fatos que ele abarca; cada dia, deles desenvolve novos aspectos, de onde decorrem novos princípios que vêm corroborar ou completar aqueles que já se conheciam, mas é preciso o tempo material para tudo; qualquer parte integrante do Espiritismo é, por si mesma, toda uma ciência, porque se liga ao magnetismo, e abarca não só as doenças propriamente ditas, mas todas as variedades, tão numerosas e tão complicadas de obsessões que, elas mesmas, influem sobre o organismo. Eis alguns dos princípios fundamentais que a experiência consagrou:
1. Quem diz médium diz intermediário. Há esta diferença entre o Magnetizador e o médium curador, que o primeiro magnetiza com o seu fluido pessoal, e o segundo, com o fluido dos Espíritos, ao qual serve de condutor. O magnetismo produzido pelo fluido do homem é o magnetismo humano; aquele que provém do fluido dos Espíritos é o magnetismo espiritual.
2. O fluido magnético tem, pois, duas fontes muito distintas: os Espíritos encarnados e os Espíritos desencarnados. Essa diferença de origem produz uma diferença muito grande na qualidade do fluido e em seus efeitos. O fluido humano é sempre mais ou menos impregnado das impurezas físicas e morais do encarnado; o dos bons Espíritos é, necessariamente, mais puro e, por isto mesmo, tem propriedades mais ativas que levam a uma cura mais rápida. Mas, passando por intermédio do encarnado, pode-se alterar, como uma água límpida passando por um vaso impuro, como todo remédio se altera, se permanece em um vaso impróprio, e perde, em parte, suas propriedades benfazejas. Daí, para todo verdadeiro médium curador, a necessidade absoluta de trabalhar em sua depuração, quer dizer, em sua melhoria moral, segundo este princípio vulgar: Limpai o vaso, antes de vos servir dele, se quereis ter alguma coisa de bom.
3. O fluido espiritual é tanto mais depurado e benfazejo quanto o Espírito que o fornece é, ele mesmo, mais puro e mais desligado da matéria. (...) As qualidades morais do magnetizador, quer dizer, a pureza de intenção e de sentimento, o desejo ardente e desinteressado de aliviar seu semelhante, unido à saúde do corpo, dão ao fluido um poder reparador que pode, em certos indivíduos, aproximar-se das qualidades do fluido espiritual.
4. O Espírito pode agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, assim como se pôde constatar em muitas ocasiões, seja para aliviá-lo, curá-lo, se isto se pode, ou para produzir o sono sonambúlico. Quando se age por intermediário, é o caso da mediunidade curadora.
5. O médium curador recebe o influxo fluídico do Espírito, ao passo que o magnetizador haure tudo em si mesmo. O orgulho e o egoísmo sendo as principais fontes das imperfeições humanas, disso resulta que aqueles que se gabam de possuir esse dom, que vão por toda a parte enaltecendo as curas maravilhosas que fizeram, ou que dizem ter feito, que procuram a glória, a reputação ou o proveito, estão nas piores condições para obtê-la, porque esta faculdade é o privilégio exclusivo da modéstia, da humildade, do devotamento e do desinteresse. Jesus dizia àqueles que tinha curado: Ide dar graças a Deus, e não o digais a ninguém.
6. Todo magnetizador pode se tornar médium curador, se sabe se fazer assistir pelos bons Espíritos; neste caso, os Espíritos lhe vêm em ajuda, derramando sobre ele seu próprio fluido que pode decuplicar ou centuplicar a ação do fluido puramente humano.
7. Os Espíritos vão para onde querem; nenhuma vontade pode constrangê-los; eles se rendem à prece, se é fervorosa, sincera, mas jamais à injunção. Disso resulta que a vontade não pode dar a mediunidade curadora, e que ninguém pode ser médium curador de
desejo premeditado. Reconhece-se o médium curador pelos resultados que obtém, e não pela sua pretensão de sê-lo.
8. A prece, que é um pensamento, quando é fervorosa, ardente, feita com fé, produz o efeito de uma magnetização, não só chamando o concurso dos bons Espíritos, mas em dirigindo sobre o doente uma corrente fluídica salutar.
9. Se a mediunidade curadora pura é o privilégio das almas de elite, a possibilidade de abrandar certos sofrimentos, de curar mesmo, embora de maneira não instantânea, certas doenças, é dada a todo o mundo, sem que seja necessário ser magnetizador.
10. Mas do fato de que se tenha obtido uma vez, ou mesmo várias vezes, resultados satisfatórios, seria temerário se dar como médium curador, e disso concluir que se pode vencer toda espécie de mal. Tal terá devolvido a saúde a um doente, que não produzirá nada sobre um outro; tal terá curado um mal num indivíduo, que não curará o mesmo mal uma outra vez, sobre a mesma pessoa ou sobre uma outra; tal, enfim, terá a faculdade hoje, que não terá mais amanhã, e poderá recobrá-la mais tarde, segundo as afinidades ou as condições fluídicas em que se encontrem.
11. A mediunidade curadora é uma aptidão, como todos os gêneros de mediunidade, inerente ao indivíduo, mas o resultado efetivo dessa aptidão é independente de sua vontade. Ela se desenvolve, incontestavelmente, pelo exercício, e, sobretudo, pela prática do bem e da caridade.
12. É um erro crer que aqueles que não partilham nossas crenças, não teriam nenhuma repugnância em tentar essa faculdade. A mediunidade curadora racional é intimamente ligada ao Espiritismo, uma vez que repousa essencialmente sobre o concurso dos Espíritos; ora, aqueles que não crêem nem nos Espíritos, nem em sua alma, e ainda menos na eficácia da prece, não saberiam colocar-se nas condições desejadas, porque isso não é uma coisa que se possa tentar maquinalmente. Isto não será sempre assim, sem dúvida, mas se passará muito tempo, antes que a luz penetre em certos cérebros. À espera disto, façamos o maior bem possível com a ajuda do Espiritismo; façamo-lo mesmo aos nossos inimigos, aceitemos ser pagos com a ingratidão, é o melhor meio de vencer certas resistências, e de provar que o Espiritismo não é tão negro quanto alguns o pretendem.
1 - FRANCO, Divaldo. Luz do Mundo. 8.ed. Salvador: LEAL, 2008, cap. 10.
2 - KARDEC, Allan. Revista Espírita. Agosto de 1865. 2.ed.Araras: IDE, 2000, p.p. 259-264.
Para saber mais vide:
KARDEC, Allan. Revue Spirite. Outubro de 1866. Araras: IDE, 1993, p.p. 312-320 e 345-352.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 71.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte, cap. XIV, item 175.
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