SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. As Trevas: 4.1. Trevas-luz; 4.2. Pensamentos Sombrios; 4.3. Desvio de Rumos. 5. A Luz: 5.1. A Simbologia da Luz; 5.2. A Dificuldade de Concepção da Luz; 5.3. A Retomada do Caminho da Luz; 6. Recomendações Espirituais: 6.1. Quem Me Segue não Anda nas Trevas; 6.2. Quem Me Segue, Siga-Me; 6.3. Vós Sois a Luz do Mundo. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
Uma análise das palavras de Jesus, anotadas pelo apóstolo João, em João, 8,12. O que significa a palavra trevas? E luz? Devemos imitar a vida de Cristo e seus costumes para sermos verdadeiramente iluminados e livres de toda a cegueira de coração?
2. CONCEITO
Trevas. Escuridão absoluta. Fig. Estupidez, ignorância. Rel. Quarta-feira da semana santa. O Oficio divino celebrado nesse dia e nos seguintes, no qual se comemoram as trevas que caíram sobre Jerusalém, quando da morte de Cristo na cruz.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Na Bíblia há várias citações da palavra trevas. Quando Deus criou as trevas, elas não representavam um poder antidivino. Nesse caso, elas louvavam o Criador como a própria luz. Com o passar do tempo, contudo, esta palavra tomou outro significado. Diz-se que no céu, junto de Deus, tudo é luz. Por isso, quem não está unido com Deus, está nas trevas. Esta é a condição em que vive o homem quando não conhece a Deus. Este pensamento já é encontrado no Velho Testamento. A passagem para fé cristã é uma passagem das trevas para a luz e imitar Cristo é andar na luz e não nas trevas. As trevas são o estado do homem que não quer seguir a Deus. Por isso, os pecados são chamados obras das trevas, os maus espíritos, os poderes das trevas e satanás, o príncipe das trevas. (Born, 1987)
4. AS TREVAS
4.1. TREVAS-LUZ
O par de termos guerra-paz, treva-luz, vício-virtude, mal-bem, gordo-magro está presente em nosso relacionamento diário. A palavra que é colocada em primeiro lugar tem mais importância, mais ênfase que aquela colocada em segundo lugar. Nesse sentido, a treva tem um peso maior do que a luz, a guerra um peso maior do que a paz. Este par de termos é visto nas teogonias, nas fábulas, nos contos populares. Quer-se daí tirar conclusões morais para a nossa conduta em sociedade. Vivemos no meio das trevas, mas a luz do Cristo é o farol de nossa iluminação interior. Vivemos no meio do sofrimento, mas a expectativa de salvação é o nosso apoio moral.
4.2. PENSAMENTOS SOMBRIOS
Os pensamentos sombrios são pensamentos fracos, pensamentos que não captam a totalidade do conhecimento. Muitos deles formam uma espécie de monoideísmo, ou seja, idéia fixa nas coisas negativas. Jungido a esse estado de espírito, o ser humano pode ser facilmente atingido pela obsessão, pela fascinação e pela possessão. Nesse caso, os Espíritos menos avisados se aproveitam de nossa fraqueza mental e passam a nos influenciar de modo permanente. Os trabalhos de desobsessão, em Centros Espíritas, retratam bem o que estamos falando. Há casos de pessoas que chegam completamente desfiguradas pela influência desses Espíritos. Depois de algumas sessões de orientação às entidades ignorantes, o indivíduo já está remoçado, mais cônscio de si e de sua conduta perante a sociedade.
4.3. DESVIO DE RUMOS
Jesus Cristo trouxe-nos as verdades imorredouras do Evangelho. Em termos históricos, o seu ensinamento teve atuação verdadeira somente no primeiro século de nossa era. Depois, perdeu-se, desviou de rumo. Basta lembrarmos, em 64, da perseguição do Imperador Nero aos cristãos. Em 313, Constantino mudou de tática: proclamou a liberdade do cristianismo e o fez religião oficial do Império Romano, desfigurando os ensinamentos de Cristo. Nessa mesma linha de pensamento, temos a Inquisição.
A Santa Inquisição foi um período nefasto da nossa história. Foi instituída pelo papado no século XII e abolida por Napoleão no século XIX. Criada para combater os cátaros albigenses, tachados de heréticos, transformou-se no tribunal eclesiástico da Idade Média, com fogueiras, forcas e pelotões de fuzilamento. Os cárceres da Inquisição andavam cheios de bichos. Os confitentes, os réus que confessavam suas culpas perante a Mesa do Santo Ofício, eram submetidos aos mais altos desatinos, inclusive com o confisco de seus bens. (Lipiner, 1977)
O episódio Galileu é digno de nota. Pela observação das fases de Vênus, Galileu passou a confiar na visão heliocêntrica de Copérnico, ou seja, o Sol como centro do Universo e não na de Ptolomeu, onde a Terra era vista como o centro do Universo. Por sua visão heliocêntrica, o astrônomo italiano teve que ir a Roma em 1611, pois estava sendo acusado de herege. Condenado, foi obrigado a assinar um decreto do Tribunal da Inquisição, onde declarava que o sistema heliocêntrico era apenas uma hipótese. Contudo, em 1632, ele voltou a defender o sistema heliocêntrico e deu continuidade aos seus estudos.
A desconfiguração de Cristo era tamanha. Observe que Tomás de Aquino, o maior teólogo eclesiástico da época, declarou oficialmente na sua volumosa Summa Theologiae, que em quatro casos o Cristo permite, e até aconselha a matança de seres humanos, a saber: 1) em caso de justa defesa; 2) em caso de guerra justa; 3) a autoridade civil pode matar os grandes criminosos; 4) a autoridade eclesiástica pode decretar a morte dos hereges impenitentes. (Rohden, 1972)
5. A Luz
5.1. A SIMBOLOGIA DA LUZ
A luz é o símbolo multimilenar do desenvolvimento espiritual. É a herança de Deus para as trevas. É a substância divina gerada nas fontes superiores da esfera espiritual. É a mais elevada, potente e veloz das expressões do movimento, suscetível de acrisolar-se ao infinito. A luz, vista como símbolo, teve várias ocorrências ao longo do tempo. Na Antigüidade, Platão, no seu famoso Mito da Caverna, compara, metaforicamente, a luz ao brilho do Sol. Deus, no livro Gênesis do Velho Testamento, separa a luz das trevas. Jesus, no Novo Testamento, é a luz do mundo. Santo Agostinho, na Idade Média, compara o conhecimento à luz e dedica a Deus a fonte que ilumina a tudo. Descartes associa luz à razão. Locke chama luz de lamparina ao débil conhecimento do ser humano.
5.2. A DIFICULDADE DE CONCEPÇÃO DA LUZ
Falar das trevas é fácil; da luz, um pouco mais difícil. É que a nossa visão de mundo ainda está chafurdada na superficialidade da vida. Para que possamos penetrar em outras esferas do pensamento, precisamos, muitas vezes, do beneplácito dos Espíritos de luz, que nos inspiram idéias renovadoras. Contudo, como estamos imersos nas trevas, nem sempre nos deixamos acordar para a luz. Observe o que é relatado em Memórias de um Suicida. O Espírito fica recluso, por vários anos, no mundo espiritual. Muitos deles são despertados pelas preces dos seus familiares e amigos encarnados. Só depois é que, paulatinamente, irão adquirir uma visão mais acurada da realidade que os absorve.
5.3. A RETOMADA DO CAMINHO DA LUZ
Se hoje estamos nas trevas, nem sempre será assim. A vida nos oferece oportunidades mil para sairmos do nosso status quo e adquirirmos outros de maior valor moral e intelectual. Acontece que isso não é feito de maneira suave, sem solavancos. Há, muitas vezes, a necessidade da dor, da doença e do sofrimento. Por isso, diz-se que o caminho da perfeição pode ser comparado ao homem andando no meio de dois elásticos. Quando se desvia do rumo da perfeição é jogado para o elástico, que lhe imputa certa dor e devolve-o ao caminho da retidão. E assim vai indo até atingir a perfeição. Caso estejamos sofrendo dores atrozes, em vez de reclamarmos, deveríamos agradecer a Deus, pois Ele está nos conduzindo no caminho da perfeição. Esses desvios podem ser apontados como as trevas do nosso caminho. A realidade, porém, é a luz do Cristo. Assim, quando estivermos chafurdados na lama, lembremo-nos de pedir humildemente a proteção dos Espíritos de luz.
6. RECOMENDAÇÕES ESPIRITUAIS
6.1. QUEM ME SEGUE NÃO ANDA NAS TREVAS
São estas as palavras de Cristo pelas quais somos advertidos que meditemos sobre sua vida e seus costumes se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda a cegueira de coração. A doutrina do Cristo tem um maná escondido. O problema é que são poucos os que se dispõem a andar conforme os ensinamentos de Cristo. Temos mais facilidade em comunicá-los aos outros do que colocá-los em prática. É a história do orador, que expunha a sua matéria, e do ouvinte, que ficava na última fileira do auditório. Desencarnados, encontram-se no mundo espiritual. O orador, recebido pelo ouvinte, pergunta-lhe: você não era aquela pessoa que ficava no fundo do salão, ouvindo-me? Sim. E como você veio me receber? É que eu punha em prática o que você falava.
6.2. QUEM ME SEGUE, SIGA-ME
Certa feita, disse o divino mestre: "Quem me segue, siga-me", e, noutra circunstância, afirmou: "Quem me segue não anda em trevas". Reconhecemos, assim, que não basta admirar o Cristo e divulgar-lhe os preceitos. É imprescindível acompanhá-lo para que estejamos na bênção da luz. De igual modo temos que fazer com a Doutrina Espírita, que lhe revive o apostolado. Uma pergunta: se louva o Espiritismo como doutrina de luz, por que se demora na sombra das aflições?
6.3. VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO
O Espírito Emmanuel, comentando esta passagem, fala-nos que quando Cristo designou os seus discípulos como sendo a luz do mundo, assinalou-lhes tremenda responsabilidade na Terra. É que a chama da candeia gasta o óleo do pavio. Nesse sentido, o Cristão sem espírito de sacrifício é lâmpada morta no santuário do Evangelho. Recomenda-nos, assim, não nos determos em conflitos ou perquirições sem proveito, visto que a luz não argumenta, mas sim esclarece e socorre, ajuda e ilumina (Xavier, s.d.p., cap. 105)
Mas, em meio à responsabilidade de seguir o Mestre, deparamo-nos com algumas perguntas de ordem pessoal: Por que esses esforços se não ganho nada financeiramente? Por que doar a minha saúde em prol do Evangelho? Por que perder horas de sono ajudando um necessitado? Contudo, mesmo no meio desses conflitos íntimos, os amigos do além vêm nos dizer para esquecermos de nós mesmos, tomarmos a nossa cruz e caminharmos mesmo com os pés sangrando e os joelhos desconjuntados.
7. CONCLUSÃO
Verifiquemos se nossa pretensa luz não seja senão trevas. Muitas vezes imaginamo-nos mais iluminados do que os outros e não passamos de simples velas diante da luz elétrica. Se estivermos constantemente pensando no mal, nas injustiças que foram cometidas contra nós, ficaremos presos às trevas. A prática do perdão, que é lançar luz sobre os acontecimentos, contudo, pode libertar o nosso pensamento para áreas mais úteis ao nosso desenvolvimento moral e espiritual.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BORN, Adrianus van den. Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Rio de Janeiro: Vozes, 1987.
LIPINER, Elias. Santa Inquisição: Terror e Linguagem. Rio de Janeiro: Editora Documentário, 1977.
ROHDEN, Huberto. O Drama Milenar do Cristo e do Anticristo. São Paulo: Alvorada, 1972.
XAVIER, F. C. Fonte Viva, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro, FEB, s.d.p.
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