Se os espíritas dizem que não cai uma folha sequer sem a vontade de Deus, quando alguém se suicida, também é atendendo à vontade do Criador?
Pergunta de Gilberto de Arruda Sampaio – Rio de Janeiro, por E-mail.
Não é tão fácil responder a essa pergunta, como pode parecer ao leitor acostumado aos estudos espíritas. Tirar a própria vida é uma infração à Lei Natural, isto é claro. Está lá no Evangelho segundo o espiritismo: “Em regra, o homem não tem o direito de dispor da vida, por isso que esta lhe foi dada visando deveres a cumprir na Terra, razão bastante para que não a abrevie voluntariamente, sob pretexto algum”. Mas a dúvida do Gilberto tem algumas particularidades. Vamos a elas.
“Não cai uma folha sequer sem a vontade de Deus” é uma frase forte. Mais do que forte, é de um absoluto determinismo. Se toda ocorrência estivesse determinada pela vontade de Deus, não haveria liberdade.
Embora comumente usada como dito popular, em livros, palestras, sermões, a frase referida não é citada em nenhuma obra de Allan Kardec. Geralmente dizem que está na Bíblia, mas não citam onde. Porque essa frase também não está na Bíblia! O ensinamento verdadeiro está presente no evangelho de Mateus, capítulo 10, e afirma: “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos passarinhos”.
Os Espíritos esclarecem, em O livro dos espíritos, pergunta 853, que a única fatalidade, “no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é”. Ou seja, mesmo para os homens o ensinamento vale.
Podemos dizer que Deus ‘sabe’ se vamos falhar ou não em nossas provas e expiações. Todavia, temos a plena liberdade de escolha e a responsabilidade é toda nossa. Allan Kardec também percebeu a importância dessa dúvida e questionou aos Espíritos: “Desde que Deus tudo sabe, também sabe se um homem deve ou não sucumbir numa prova. Nesse caso, qual a necessidade da prova, que nada pode revelar a Deus sobre aquele homem?”. E a resposta foi: “Podendo o homem escolher entre o bem e o mal, a prova tem por fim colocá-la ante a tentação do mal, deixando-lhe todo o mérito da resistência”.
Um suicida de outras vidas escolhe enfrentar as mesmas dificuldades em nova oportunidade para testar sua força em resistir à tentação de praticar outra vez a mesma falta. Resistindo, sai mais forte da prova e fica feliz por isso. A vida é um recurso pedagógico por meio da qual faremos nossas escolhas. Não pense em erros e castigos, mas em oportunidades e efeitos naturais de nossas escolhas. A morte não existe, e quem foge dos problemas pelo suicídio somente os amplia. Por isso, Jesus recomenda: vigiai e orai.
Administrador de empresas, autor do livro Mesmer, a ciência negada e os textos escondidos. Ed. Lachâtre. E-mail: paulo@mesmer.com.br
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