quinta-feira, 18 de junho de 2009

OBSESSÃO e DESOBSESSÃO

A) OBSESSÃO e DESOBSESSÃO

Na primeira linha das dificuldades práticas do Espiritismo deve-se colocar necessariamente a obsessão, que é o “domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas pessoas”, como bem o conceituou Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, Cap. XXIII, item 237. Trata-se, portanto, de problema crucial no campo da fenomenologia espírita, no que diz respeito à influência oculta dos Espíritos sobre os nossos pensamentos e as nossas ações, produzindo um conjunto de fenômenos designado genericamente por obsessão. Ela consiste na tenacidade de um Espírito do qual não se consegue desembaraçar (idem, n. 238).

Esse domínio parte sempre de Espíritos inferiores, já que os bons nunca exercem nenhum tipo de constrangimento sobre os demais: “Os bons aconselham, combatem a influência dos maus e, se não os escutam, preferem retirar-se. Os maus, pelo contrário, agarram-se aos que conseguem prender. Se chegam a dominar alguém, identificam-se com o Espírito da vítima e a conduzem como se faz com uma criança”. Não se trata de um problema novo, visto que a Bíblia, no Velho e no Novo Testamentos, registra casos dessa natureza em seus livros.

Em virtude do grau de constrangimento e da natureza dos efeitos que este produz, podemos classificar esse conjunto de fenômenos como: obsessão simples, fascinação e subjugação. No primeiro caso, o Espírito malfazejo impõe-se a um médium, de forma desagradável, dificultando as comunicações com os Espíritos sérios ou com os de nossa afeição. Na fascinação, as conseqüências são muito mais graves, levando a vítima a aceitar as doutrinas mais absurdas e as teorias mais falsas, como sendo as únicas expressões da verdade.

Além disso, pode arrastá-la a ações ridículas, comprometedoras e até mesmo bastante perigosas (L.M., Cap. XXIII, item 239). Finalmente, na subjugação ocorre “um envolvimento que produz a paralisação da vontade da vítima, fazendo-a agir malgrado seu. Esta se encontra, numa palavra, sob um verdadeiro jugo”, que pode ser moral ou corpóreo, levando o médium a atitudes absurdas ou aos atos mais ridículos que se possa imaginar, bem como a movimentos involuntários.

Trata-se, portanto, de um dos maiores escolhos da mediunidade, e um dos mais freqüentes, constituindo-se “um obstáculo absoluto à pureza e veracidade das comunicações”. A obsessão, via de regra, tem como causas gerais: problemas reencarnatórios; tendências viciosas; egoísmo excessivo; ambições desmedidas; aversão a certas pessoas; ódio; sentimentos de vingança; discussões e irritações; futilidades; apego ao dinheiro, etc...

Apesar do perigo da obsessão, que pode ser reconhecida por várias características, Kardec observa que não há nenhum inconveniente em ser médium, de vez que o Espiritismo pode servir de controle e preservar o médium do risco incessante a que se expõe. É preciso, para tanto, estudo e observação de certos cuidados para evitá-la ou tratá-la convenientemente, conforme o caso.

Assim é que, uma vez verificado o problema, há diversos meios de combatê-lo, variando de acordo com as características de que se revista a obsessão. Para a obsessão simples, que não passa de um fato desagradável para o médium, Kardec aponta duas medidas essenciais: provar ao Espírito que não foi enganado por ele e que será impossível deixar-se enganar. Deve-se, além disso, “apelar fervorosamente ao seu bom anjo e aos bons Espíritos que lhes são simpáticos, suplicando-lhes assistência” (L.M., Cap. XXIII, item 249).

Na fascinação, há uma só coisa a fazer: convencer a vítima de que foi enganada e reverter a sua obsessão ao grau de obsessão simples, o que nem sempre é fácil, senão impossível, dada a própria postura do obsedado, refratário a qualquer conselho ou orientação. Quanto à subjugação corpórea, não se trata senão mediante a intervenção de uma terceira pessoa, por meio de magnetismo ou pela força da sua própria vontade.

Em todos os casos, as imperfeições morais do obsedado é que são freqüentemente um obstáculo à sua libertação. São elas que dão acesso aos Espíritos obsessores. “O meio mais seguro de livrar-se deles é atrair os bons pela prática do bem”. (L.M.,Cap. XXIII, item 252). A cura da obsessão, assim revela-se uma autocura, que implica: confiança em Deus e nas forças naturais; vigilância dos pensamentos, sentimentos e palavras; reformulação do conceito de si mesmo, mudança na maneira de encarar os semelhantes; manter a mente arejada e o pensamento sempre elevado; desenvolver a fé.

Jesus, no Evangelho, ao proceder a uma cura, advertia o beneficiado: “Vá e não peques mais, para que te não suceda coisa pior”(Lc 5:14). Está aí a necessidade de cada um de reforma interior e de evangelização de suas atitudes. Nossas provas não podem ser suprimidas pelos Espíritos, mas, na medida das oportunidades, devemos invocar o auxílio da Espiritualidade Superior: “Buscai e achareis; pedi e obtereis; batei e abrir-vos-á”, enfatizava o Divino Mestre (Mt 7:7), sintetizando nossa absoluta necessidade de oração e de vigilância permanentes.

BIBLIOGRAFIA:

Kardec, Allan - O Livro dos Médiuns


B) PERDÃO DAS OFENSAS

Os ensinamentos de Jesus tinham um endereço certo: o coração humano. Mais do que à inteligência, o Divino Mestre falava ao sentimento. A resposta do Cristo a Pedro deve aplicar-se a cada um de nós, indistintamente: “Perdoarás, mas sem limites; perdoarás cada ofensa, tantas vezes quantas elas vos for feita; ensinarás a teus irmãos esse esquecimento de si mesmos, o qual nos torna invulneráveis às agressões, aos maus tratos e às injúrias; serás doce e humilde de coração, não medindo jamais a mansuetude; e farás, enfim, para os outros, o que desejas que o Pai celeste faça por ti. Não tem Ele de te perdoar sempre, e acaso conta o número de vezes que o seu perdão vem apagar as tuas faltas”. (E.S.E.Cap. X, item 14).

É essencial a prática do perdão irrestrito, da indulgência sem limite, da caridade desinteressada, da renúncia de si mesmo; em última análise, o exercício do amor ao máximo que pudermos, para que estejamos em condição de receber o perdão a que Jesus se refere na oração dominical.

“Ide, meus bem-amados, estudai e comentai essas palavras que vos dirijo, da parte d’Aquele que, do alto dos esplendores celestes, tem sempre os olhos voltados para vós, e continua com amor a tarefa ingrata que começou há dezoito séculos. Perdoai, pois, aos vossos irmãos, como tende necessidade de ser perdoados. Se os seus atos vos prejudicaram pessoalmente, eis um motivo a mais para serdes indulgentes, porque o mérito do perdão é proporcional à gravidade do mal, e não haveria nenhum em passar por alto os erros de vossos irmãos, se estes apenas vos incomodassem de leve”. (E.S.E., Cap. X, item 14).

O perdão irrestrito ensinado por Jesus não, só se refere às vezes em que devemos exercitá-lo, mas também em relação a quem se deve externá-lo. De fato, o Cristo recomendou o perdão também aos nossos inimigos, o que representa uma superação das próprias imperfeições. Se desejamos que nossas ofensas sejam perdoadas, não podemos ser intransigentes, duros, exigentes. Mesmo porque se fizermos um exame sincero de consciência, talvez cheguemos à conclusão de que fomos nós mesmos que provocamos a ofensa. Muitas vezes, uma palavra mal empregada, uma opinião dada em momento inoportuno, uma reação mais ríspida, um gesto mal recebido, pode degenerar numa antipatia, numa inimizade, numa aversão ferrenha.

“Mas há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muito dizem do adversário: “Eu lhe perdôo”, enquanto, interiormente, experimentam um secreto prazer pelo mal que lhe acontece, dizendo-se a si mesmo que foi bem merecido. Quando dizem: “Perdôo”, e acrescentam: ‘mas jamais me reconciliarei; não quero vê-lo pelo resto da vida!’ É esse perdão segundo o Evangelho? Não.

O verdadeiro perdão, o perdão cristão, é aquele que lança um véu sobre o passado. É o único que vos será levado em conta, pois Deus não se contenta com as aparências; sonda o fundo dos corações e os mais secretos pensamentos e não se satisfaz com palavras e simples fingimentos. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é próprio das grandes almas; o rancor é sempre um sinal de baixeza e de inferioridade. Não esqueçais que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, muito mais do que pelas palavras.”, conforme a sábia mensagem do Apóstolo Paulo (E.S.E. Cap. X, item 15).

Portanto, é preciso saber perdoar, principalmente com a sinceridade e gestos largos, para que nenhum resíduo de mágoa possa resistir ao impulso de bondade do coração.

BIBLIOGRAFIA:

Kardec, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo

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