Octávio Caúmo Serrano
Dar de graça o que de graça receber – ESE Cap XXVI
A que se referia Jesus quando nos recomendou que deveríamos distribuir gratuitamente o que de graça também recebemos?
Evidentemente que a muitas coisas. Um donativo que se recebe numa instituição deve ser distribuído ou utilizado sem proveito pessoal para quem recebeu, mas em favor da comunidade assistida pelo agrupamento.
Dizemos isto porque já vimos pessoas em casas espíritas que, após receber uma roupa de melhor qualidade ou em melhor estado, em vez de encaminhar aos assistidos, guardaram para si, sob a argumentação de que também são necessitadas. E, afinal, dizem, são colaboradoras sem remuneração e julgam ter também direito a algum benefício... É o argumento.
Parece-nos errado! Tudo o que é recebido pelo Centro Espírita é para ser encaminhado. É evidente que se entre os trabalhadores da casa houver alguém que passa por real dificuldade, socorrê-lo é uma louvável exceção. Mas que não seja hábito entre os colaboradores que na verdade não necessitam. Caso o doador venha a saber, a instituição ficará desacreditada. E nas doações para bazares beneficentes, os da casa devem ter acesso a ele em igualdade de condições com as outras pessoas.
Acreditamos, todavia, como Jesus ensinava – Mateus X – 8 –, que curassem os enfermos, limpassem os leprosos e expulsassem os demônios, recomendando dar de graça o que haviam de graça recebido, que Ele se referia principalmente à mediunidade e mesmo ao magnetismo que muitos têm e que são utilizados pelos seus fluidos de cura física.
Essa capacidade – um recurso a mais de crescimento espiritual e que muitos chamam de “dom” – não foi conquistado pelo homem pelo estudo ou esforço, mas veio com ele para que a usasse em benefício dos mais carentes. Ofertada por Deus, gratuitamente.
Por isso, no mesmo capítulo, atrás mencionado, Kardec fala de preces pagas. Refere-se aos que cobram para orar pelos outros, deixando claro que os resultados independem de quem fez a oração. Antes que o benefício chegue àquele que sofre, é preciso verificar se ele está no momento de receber a ajuda e se já acumulou merecimento para livrar-se do mal que está vivendo. Sabemos que as dificuldades nos impelem ao progresso e tirá-las de nós antes do tempo elimina a finalidade da encarnação.
A argumentação é bastante lúcida. Se não somos nós que vamos favorecer o suplicante com nossos rogos, mas os Espíritos – incluindo Jesus e os Santos – como cobrar por um trabalho que não realizamos?
Pergunta também se a prece deve ser longa ou curta e se ela é remunerada pelo tamanho que é proferida. Se é necessária uma prece longa e a pessoa só pode pagar pouco, esta seria uma prece sem qualidade. Se não é necessária tanta ladainha, porque o Plano Divino é bom entendedor e para este bastam poucas palavras, por que orar tão cumprido?
Se prestássemos mais atenção e tivéssemos bom-senso, aprenderíamos que não se compra Deus com favores. Nem com dízimos, nem com velas, nem com promessas, fitas, bebidas ou galinha preta. A única moeda que Deus aprecia chama-se Amor. Se destinarmos o valor de uma vela para a compra de pão para um pobre, seremos mais recompensados pelo Plano Divino. Tudo o que fizermos de bom reflete em nós também como algo favorável. É a conhecida lei de ação e reação. Portanto tudo o que é pago é de resultado duvidoso. A bola de cristal, as cartas ou as pedras coloridas, vão sempre nos dizer o que queremos ouvir. Nunca o que é real, porque os que mercadejam com a fé não têm acesso aos planos da verdade. E, como são espertos, saberão sempre lidar com o nosso orgulho!
Quem cobra pelas preces que faz, tem de garantir o êxito do trabalho. Quem vende uma mercadoria tem de entregar. Se a responsabilidade da ajuda é do Espírito invocado como o intermediário pode garantir o resultado?
Ninguém entregue seus problemas para que outros resolvam. Cada um é o responsável, de forma individual e intransferível, pelo seu crescimento e, portanto, cada um deve fazer suas próprias orações e pedir ajuda diretamente a Deus, para que Ele lhe dê força, discernimento e destemor para enfrentar as dificuldades e delas tirar o conhecimento e a experiência que o problema sempre traz com ele.
Se cada um tem sua própria dívida e somente o Plano de Deus conhece a extensão do débito, as preces feitas podem ser insuficientes para solucionar o problema. Mas se cada um se entender diretamente com Deus, demonstrando esforço e interesse na rua renovação, a parcela de misericórdia é grande e muita coisa pode ser atenuada. Não esqueçamos que, conforme a primeira epístola de Pedro (I Pedro, 4:8), se “o Amor cobre uma multidão de pecados”, podemos resgatar pela prática do Bem o mal praticado em outras instâncias.
Nunca desprezemos o valor da oração diária, mas nunca percamos uma oportunidade de ajudar quem quer que seja, porque é dando que se recebe, já nos ensinou o lúcido Francisco de Assis. A oração deve descer das mentes e da boca para as mãos e o coração. Uma oração materializada no serviço é eficiente antídoto contra a inferioridade. Se encarregarmos outros de orarem por nós, além de negligenciarmos no cuidado da nossa própria vida, não podemos ter certeza de que ele fará o trabalho com interesse e seriedade. Só nós conhecemos realmente o que pedir e saberemos se fomos atendidos.
Distribua o bem e colha os frutos do que espalhar. Tenha fé e siga em frente! Tudo o mais virá por acréscimo!
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