Eliseu Mota Júnior
A descoberta da existência do inconsciente foi certamente uma das importantes façanhas intelectuais de Sigmund Freud, o célebre criador da psicanálise, ciência que estuda e procura solucionar os problemas emocionais que aturdem as pessoas, especialmente as neuroses e psicoses.
Para fins didáticos, Freud comparou a mente humana com um iceberg, um grande bloco de gelo flutuante onde o montículo superficial seria a consciência, enquanto que a imensa porção submersa representaria o inconsciente, contendo os traumas, frustrações, vontades reprimidas e desejos inconfessáveis. Esse material reprimido não consegue acessar diretamente o consciente, mas acaba emergindo na figura de sintomas neuróticos, sonhos e chistes ou atos falhos, presentes no que ele chamou de psicopatologia da vida cotidiana.
Desse modo, na visão freudiana, o inconsciente é um enorme subterrâneo de forças vitais invisíveis, motivando a maior parte dos pensamentos e ações conscientes do homem, além de ser o responsável por grande parte dos distúrbios psíquicos. Para ilustrar o processo de repressão e a necessária relação deste com a resistência, na sua segunda lição de psicanálise, Freud comparou o trauma psíquico a um sujeito presente numa sala onde ocorre uma conferência (consciente) e que passa a perturbar o ambiente. Por isso, a segurança o leva para o vestíbulo (inconsciente), de onde continua a perturbação, que só tem fim pela diplomacia do presidente da sessão, que o admite de volta à sala mediante compromisso de silêncio (papel do médico).
O trabalho de Freud é excelente. Mas, ignorando a realidade das vidas sucessivas, ele achava que todo o conteúdo do inconsciente ali foi alojado ao longo de uma única vida humana. Com isso, o inconsciente freudiano é unidimensional e insuficiente para tratar os transtornos rebeldes ou de difícil reconhecimento.
Diante dessa lacuna na teoria de seu antigo mestre, Carl Gustav Jung criou, além do inconsciente individual, o conceito de inconsciente coletivo ou transpessoal, depósito dos traços psíquicos evolutivos não apenas do homem, mas também incluindo resíduos de seus ancestrais pré-humanos e animais, denominados arquétipos ou imagens mitológicas, como os de um Ser Supremo, símbolos, mitos, lendas e narrativas religiosas.
Jung estava no caminho certo, porém, certamente temeroso de danos à sua reputação científica, não admitiu expressamente a reencarnação na sua estrutura do inconsciente, que ficou bidimensional e padece de muitas das insuficiências notadas na teoria freudiana.
Bem mais coerente, a teoria espírita do inconsciente é tridimensional, pois considera que o espírito humano, depois de estagiar como princípio inteligente nos reinos inferiores, formando o estrato pré-anímico do inconsciente, empreende uma longa caminhada a partir dos primatas, passando por incontáveis experiências em diversificadas condições de ordem pessoal, familiar, profissional e social, armazenando o conteúdo anímico do inconsciente, até chegar à personalidade atual, que teve início a partir da concepção e pode prosseguir até a mais longeva idade, reforçando o inconsciente com o seu material personímico.
Todo esse conteúdo se acha em estado latente no inconsciente humano e, nos casos de traumas psíquicos mais profundos, somente podem ser acessados pela análise da alma em sua plenitude (almanálise) e tratados através de métodos próprios, sobretudo da terapia de experiências passadas, além de possibilitar aos pais e educadores a observância das tendências instintivas e da conduta das crianças, a fim de educá-las com maior eficiência e encaminhá-las para as vocações que trouxeram de vidas anteriores.
Em conclusão, sob o ponto de vista espírita, todo o passado da pessoa humana, contido no imenso oceano do seu inconsciente tridimensional, deve servir como material de estudo e de terapia e não como instrumento de tortura.
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