Desprezo à fé
Ricardo Orestes Forni
“O desprezo à fé, antes de significar preciosa conquista da inteligência que se supõe superdotada, revela pobreza de percepção como riqueza da vã cultura, que não enxuga as lágrimas do coração, nem acalma as inquietações que somente a fé consegue dulcificar, apaziguar.” – Joanna de Ângelis.
A revista VEJA em sua edição 2173, de 14 de julho de 2010, entrevista, nas páginas amarelas o cientista americano, Craig Venter que há dez anos conseguiu o mapeamento do genoma humano, ou seja, o arquivo bioquímico hereditário em 23 pares de cromossomas que cada pessoa traz ao nascer.
Quando perguntado se tinha alguma coisa contra Deus, o cientista afirma que não acredita Nele.
Diante da citação que o geneticista Francis Collins que também é responsável pelo mapeamento do genoma humano e que é cristão fervoroso, perguntam a Craig Venter se é possível conciliar religião e ciência. A resposta é categórica: “Não. É muito difícil ser um cientista de verdade e acreditar em Deus. Se um pesquisador supõe que algo ocorreu por intervenção divina, ele deixa de fazer a pergunta certa. Sem perguntas certas, sem questionamentos, não há ciência. O ser humano sempre tenta achar uma força misteriosa para explicar suas falhas, fraquezas e dúvidas. Mas a vida começa com o nascimento e termina com a morte. Se todas as pessoas aceitassem isso, aproveitariam mais sua vida, exigiriam mais de si mesmas e não desperdiçariam chances.” (destaques do autor)
Discordamos totalmente do eminente cientista. Exatamente por crermos em Deus é que fazemos as perguntas certas. Por que o deficiente mental ao lado do gênio? Por que o deficiente físico ao lado do atleta? Por que existe o que recolhe o alimento do lixo ao lado daquele que vive a fartura? Por que encontramos os que são capazes de amar convivendo com os cultuadores do ódio? Por que o milionário ao lado do miserável? Quem não crê nesse Ser, origem de tudo, é que não têm razão para indagar.
Se a vida começasse no berço e se encerrasse no túmulo como acredita o eminente cientista, aí sim não haveria o que perguntar, o que buscar. Deus é o norte eterno a nos convidar para a perfeição possível de ser atingida. Não há uma força misteriosa como declara o cientista para explicar nossas falhas, nossas fraquezas, nossas dúvidas. Ela é bem visível, bem palpável, quando nos abre o convite à perfeição.
Afirma Craig Venter que se todas as pessoas aceitassem o nascimento e a morte como uma realidade compreendida nesse espaço muito curto aproveitariam melhor a vida, exigiriam mais de si mesmas e não desperdiçariam chances. E aqueles que morrem minutos após o nascimento, como aproveitariam esses segundos de existência se a morte fosse o fim? Exigir mais de si mesmo para quê se o túmulo fosse o reduto final de toda uma luta? Exatamente por crer na imortalidade é que os espiritualistas procuram aproveitar as chances, porque sabem que elas representam um investimento seguro numa vida que não cessa na destruição de um túmulo vazio.
Ensina Joanna de Ângelis no livro Após A Tempestade, na página que tem o mesmo título desse artigo, o seguinte: “O homem transferiu-se, então, do totalitarismo da fé para o servilismo da descrença. Das argutas ciladas do enigmático aceitar sem perquirir, surgiu o indagar sem fim, para raramente aceitar. A “razão” depôs a fé ancestral e irrigou as mentes com exigências superlativas, como realizando um desforço suposto necessário, tentando padronizar todas as coisas e leis, e submetendo-as às apaixonadas dimensões dos seus cálculos, conceitos e caprichos, novos na forma e antigos na imposição.”
Como também ensina Joanna, aos múltiplos séculos de obscurantismo e prepotência da “fé cega”, somam-se as graves transformações que ora se verificam no comportamento humano, embora as exuberantes conquistas da inteligência que parece haver solucionado os magnos problemas da vida. Será que resolveu mesmo? Na revista Seleções READER´S DIGEST, edição de julho de 2010, página 19, um jovem e promissor astrofísico brasileiro que trabalha no deserto de Atacama, no Chile, procura no céu as respostas para as perguntas de onde viemos e para onde vamos. Esse engano nos é esclarecido por Emmanuel na página Fazer Luz quando ensina “Diz o Apóstolo Paulo: acolhei o que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões.” É que para chegar à cultura, filha do trabalho e da verdade, o homem é naturalmente compelido a indagar, examinar, experimentar, e teorizar, mas, para atingir a fé viva, filha da compreensão e do amor é forçoso servir. E servir é fazer luz.”
Talvez a luz dos cientistas que descrêem da existência de Deus brilhe por fora se preparando, pacienciosamente, para um dia iluminar o interior de cada um deles...
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