Padre Nóbrega
12/01/1949
Meus amigos, muita paz. Também, de nossa parte, associamo-nos, prazerosamente, aos votos do nosso amigo e irmão Professor Joviano, formulando preces ao Altíssimo para que o aniversário1 , ontem assinalado, se reproduza infinitamente com a alegria de todos. É o que desejamos, de coração!
Estimo as considerações em torno do livro espiritista que expendestes há poucos minutos. O trabalho de cristianização, irradiando, sob novos aspectos, do Brasil, não é novidade para nós. Eu havia abandonado o corpo físico em dolorosos compromissos, no século XV, na Península, onde nos devotáramos ao “crê ou morre”, quando compreendi a grandeza do país que nos acolhe agora. Tinha meu espírito entendiado de mandar e querer sem o Cristo. As experiências do dinheiro e da autoridade me haviam deixado a alma em profunda exaustão. Quinze séculos haviam decorrido, sem que eu pudesse imolar-me por amor ao Cordeiro divino, como o fizera, um dia, em Roma, a companheira do coração2 .
Vi a floresta a perder-se de vista e o patrimônio extenso entregue ao desperdício, exigindo retorno à humanidade civilizada e, entendendo as dificuldades do selvícola, relegado à própria sorte nos azares e aventuras da terra dadivosa, que parecia sem fim, aceitei a sotaina, de novo, e por Padre Nóbrega conheci, de perto, as angústias dos simples e as aflições dos degredados3.
Intentava o sacrifício pessoal para esquecer o fastígio mundano e o desencanto de mim mesmo, todavia, quis o Senhor que, desde então, o serviço americano e, muito particularmente, o serviço ao Brasil não me saísse do coração. A tarefa evangelizadora continua. A permuta de nomes não importa. Cremos no reino divino e pugnamos pela ordem cristã. Desde que reconhecemos a governança e a tutela do Cristo, o nome de quem ensina ou de quem faz não altera o programa. Vale, acima de tudo, a execução. A bandeira da cruz prossegue por quanto tempo? Não sabemos. Em torno de nós há um povo que tem fome do Salvador. Ainda que nos devorem as possibilidades, quanto nos consumiam as forças orgânicas noutro tempo, sentir-nos-emos felizes de encontrar, com ele e junto dele, a paz do Príncipe dos Séculos, que nos acena à frente, convocando-nos à era de fraternidade e de paz, talvez em breve porvir. Vosso amigo e servo humilde de sempre,
Emmanuel
Nota da Organizadora:
1 Em referindo-se ao aniversário de Maria, minha mãe, ocorrido na véspera, dia 11.
2 Em referindo-se à sua vida como senador romano, no século I, na figura de Públio Lentulus, unido em matrimônio com Lívia. Vide maiores detalhes no romance Há 2000 Anos...
3 O benfeitor se refere à personalidade de Manoel da Nóbrega, padre jesuíta com missão evangelizadora no Brasil, conforme mencionado em “As vidas sucessivas de Emmanuel”, à página 37 deste volume. Como Padre Manoel da Nóbrega, veio para o Brasil também intencionando redimir-se face à morte de Lívia na arena romana, nos idos do século I, interpretando os selvagens, com quem escolheu conviver em terras brasileiras, como as feras que destroçaram a companheira inesquecível.
(Texto extraído do livro Deus Conosco, páginas 434 e 435)
Edição Vinha de Luz-Serviço Editorial
Fraternidade Espírita Cristã Francisco de Assis
Belo Horizonte-MG
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