quinta-feira, 3 de junho de 2010

FENÔMENOS MEDIÚNICOS NA VIDA DOS SANTOS

Sylvio Ourique Fragoso



Parte X



Santa Liduína

Havíamos visto que Liduína apresentou por várias vezes fenômenos de premonição, que foram considerados como milagres. Entretanto, esta faculdade tem sido encontrada em muitas pessoas, e nos mais diversos graus. Croiset, por exemplo, era um sujet que havia demonstrado possuir uma alta sensibilidade para predição de coisas futuras. Com ele o Dr. Tenhaeff realizou o seguinte experimento:

Tratava-se de acertar, com três dias de antecedência, qual pessoa se sentaria numa, dentre trinta cadeiras de uma determinada sala de espetáculos públicos. Sorteou-se o número dezoito. Croiset responde que em relação àquela cadeira não recebia impressão alguma. Sorteou-se outra e o sensitivo, então declara que aquele assento seria ocupado por uma mulher que teria o rosto marcado em conseqüência de um acidente.

Na noite da reunião, seu prognóstico confirmou-se integralmente. Com relação à cadeira dezoito, sobre a qual Croiset nada sentira, foi a única, em toda a sala, a permanecer desocupada aquela noite.

Croiset chegou a prestar inestimáveis serviços à polícia, em virtude de seus dotes mediúnicos ou paranormais, se o preferirem. Edsall (O Mundo dos Fenômenos Psíquicos) nos brinda com este caso, particularmente curioso:

Em dezembro de 1946, em Wierden, uma jovem foi brutalmente agredida a marteladas por alguém que ela não chegou a ver. O agressor conseguiu fugir, deixando como pista apenas o martelo. Sendo baldos os esforços da polícia para identificar o assaltante, o prefeito de Wierden, conhecendo a fama de Croiset, pediu seu concurso. O médium apanhou o martelo, segurou-o por momentos e declarou, ao estilo de Sherlock Holmes:

- "O criminoso é um homem de quase trinta anos. É alto, escuro e tem uma orelha um tanto deformada. Usa um anel com uma pedra azul. Este martelo não lhe pertence. Seu dono é um homem de cinqüenta e cinco anos, que vive numa das três casas que são vizinhas umas das outras. São todas chalés com telheiros baixos".

Baseada nessas informações, a polícia não tardou a por as mãos no agressor, que acabou por confessar o crime.

As sociedades de pesquisas psíquicas andam com seus arquivos repletos de fatos dessa ordem. A premonição em casos de acidentes é bastante freqüente. A Society for Psychical Research de Londres, tem arquivada, entre muitas outras, a previsão do Sr. O’Connor sobre o naufrágio do Titanic, mediante a qual ele pôde se salvar, cancelando a tempo sua reserva de passagem.

Liduína foi canonizada, entre outras coisas, pelas suas faculdades precognitivas. Já vimos que a capacidade paranormal de antevisão nada tem de miraculosa. Ninguém pensaria em colocar os sensitivos com que Rhine fazia suas experiências de parapsicologia ao lado dos santos da Igreja. Ninguém pensaria, tampouco, em mandar queimar em praça pública o Sr. O’Connor por ter pressentido a tragédia marítima do famoso navio. Triste destino, contudo teriam essas pessoas se vivêssemos ainda no tempo da "Santa" Inquisição. Mas se O’Connor, entretanto, vivesse em ambiente monástico, certamente seus pressentimentos seriam tidos à conta de avisos que Deus, não se sabe por qual deferência, lhe teria enviado.

A precognição, bem como as demais faculdades paranormais, muito embora estejam demonstradas à farta, terão sua causa íntima, seu mecanismo, sua gênese, envoltas em trevas para a Ciência até que o homem se curve à realidade do Espírito imortal. Atribuir um fenômeno dessa natureza a alguma espécie de "talento" do inconsciente, é dar a algo que não se conhece uma origem que se conhece menos. E muitos "parapsicólogos" assim procedem, como se o simples fato de se batizar um fenômeno fosse o bastante para lhe explicar a origem, o mecanismo, o fim e a causa.

Kardec, porém, perguntara aos Espíritos qual a causa primária da inspiração, e obteve a seguinte resposta:

- "O Espírito que se comunica pelo pensamento".

É que, transpondo a barreira do tempo, o Espírito pode ter como presente aquilo que para o homem, preso ainda às limitações da veste física, é futuro.

Vejamos, entretanto, para terminar, o que pode ter ocorrido com a sensibilidade mediúnica de Liduína que, conforme foi dito, não mais lhe permitia as ocorrências fenomênicas que a celebrizaram, levando o eremita do Sinai a lamentar o fato de que com a santa já não mais se comunicava na "luz incriada".

Sobre a perda da mediunidade, diz Kardec (O Livro dos Médiuns) que ela está sujeita à intermitências e a suspensões momentâneas, muitas vezes porque os Espíritos não podem ou não querem mais servir-se daquele médium. Quase sempre, quando o sensitivo se vale de sua mediunidade para coisas frívolas, quando faz mau uso dos dotes mediúnicos que possua, quando já não mais corresponde aos fins que a Espiritualidade espera, os Espíritos bons se afastam dando lugar aos menos sérios. Porém ocorre igualmente que os Espíritos ao se afastarem temporariamente, privem o médium de suas aptidões, para que isto lhe sirva de lição e aprenda que a faculdade não depende dele, razão pela qual não deve envaidecer-se. Outras vezes a mediunidade desaparece para que o médium seja forçado a um repouso ou ainda para que lhe sejam testadas a paciência e a perseverança, ou para que o médium tenha tempo de meditar sobre as instruções que lhe foram dadas. Ensinaram os Espíritos ao Codificador que se pode distinguir a perda da mediunidade por efeito da censura, quando o médium interroga a sua consciência e pergunta que uso fez de seus dotes mediúnicos, que bem resultou daí para os outros e que proveito tirou dos conselhos que lhe foram dados.

Possivelmente o inconformismo de Liduína ante à morte de seu irmão tivesse concorrido para a suspensão de suas faculdades, como bem antevira o bispo da Inglaterra. Ela, que "podia ver o destino de muitas almas", entrava agora em desespero, porque a morte lhe arrebatara alguém que muito amava, e seu desconsolo deve ter levado seus protetores espirituais a se afastarem, até que maior serenidade e confiança em Deus permitissem a Liduína prosseguir gozando as graças da presença de seu tão querido Anjo da Guarda.

As forças físicas, porém, se lhe exauriram antes que recobrasse os dotes mediúnicos, consolo único que pôde ter em toda a sua vida.

abril/1980.

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