Estranha contradição
Cairbar Schutel
Publicado em 01 de agosto de 1936
Parece paradoxal que o Espiritismo conte dentre os seus maiores adversários os sacerdotes da Igreja de Roma e os mais entusiastas prosélitos da Religião Católica. Se a nossa Doutrina não faz outra coisa senão proclamar a existência de Um Deus bom, amoroso, indulgente e sábio; se ela apresenta esse Deus cheio de carícias para com seus filhos, e nos recomenda que O adoremos, em espírito e verdade, e em toda parte, com todas as forças do nosso entendimento, do nosso coração, da nossa alma, por que motivo a Igreja nos apoda e assaca injúrias, quando deveria unir-se a nós para extinguir a incredulidade que lavra pelo mundo, ainda mesmo entre aqueles que se intitulam católicos porque os pais o foram?
Se o Espiritismo preceitua, como o Cristo, o amor ao próximo, sem exclusão de católicos, de judeus e de gentios, se ele ordena a caridade para com todos, como meio de salvação, por que razão o sacerdotalismo o impugna, taxando-o de herético e pagão?
Se a Doutrina Espírita, sancionando a Comunicação dos Espíritos, vem nos demostrar a imortalidade da alma, o prosseguimento da vida, portanto, dos que indevidamente chamamos de “mortos”, os nossos parentes e amigos, conhecidos e desconhecidos, sendo esses fatos a base fundamental da Religião, a rocha inamovível da Fé, por que repele a Igreja esta Verdade, preferindo substituí-la por manifestações diabólicas, que nada edificam e vão de encontro com a bondade e justiça de Deus, vão de encontro com a Doutrina da imortalidade e da Esperança do futuro dos nossos entes caros e do nosso próprio futuro além do túmulo?
Se o Espiritismo tem como base dos seus estudos o Novo Testamento, a Palavra de Jesus Cristo e reproduz a mesma Doutrina do Mestre num maravilhoso fac-símile, a ponto de proclamar como Jesus fazia, a excelsa recomendação: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos perseguem e caluniam; orai pelos que vos maltratam”, qual é a razão da Igreja execrar o Espiritismo e excomungar aos que dão obediência às suas recomendações?
Se nós, com o Espiritismo, fazemos muita questão de recomendar aos estudiosos o cumprimento dos preceitos de Jesus, exarados nas parábolas do Bom Samaritano (S. Lucas, X, 25-37); do Juízo Final (Mateus, XXV, 31-46); das Dez Virgens (Mateus, XXV, 1-13); Dos Talentos (Mateus, XXV, 14-30); e todas as mais: do Joio e do Trigo, da rede, do grão de mostarda, do fermento, da pérola, do tesouro escondido, do cego que guia cegos; se, enfim, a nossa recomendação é o estudo do Evangelho, em espírito e verdade, por que o sacerdotalismo, que se diz representante de Deus, nos renega e afirma que não temos parte com Jesus?
Se, com conclusão, recomendamos a oração como um preceito de submissão ao Senhor do Céu e da Terra, e a “Prece Dominical”, que foi a que Jesus ensinou aos seus discípulos como a regra áurea para nos dirigirmos a Deus e obtermos perdão das nossas faltas, como ousa o clero afirmar que somos irreligiosos, descrentes e partícipes das instruções do Satanás?
Uma das duas: ou a Igreja de Roma não conhece a Doutrina de Jesus, ou então ela constitui-se sua legítima inimiga.
Estranha contradição!
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